sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Tipologia de Museus - Refazendo a história, perpetuando sentimentos


Refazendo a história, perpetuando sentimentos. Com vocês...

 O Museu Histórico

 

 Este trabalho foi desenvolvido em Novembro de 2013 como critério de 
avaliação parcial da disciplina Tipologia de Museus, ofertada no Curso de 
Museologia pela Escola de Ciência da Informação (ECI), na Universidade
 Federal de Minas Gerais (UFMG), ministrada pelo Profº Luiz Henrique Garcia.


Grupo: Camila Luiza Aparecida Lopes, Cristiane de Lima Caputu Abreu, Flávia Maria Skau de Souza, Glaúcia Magda Alves dos Santos, Isabela Trópia, Marly de Fátima Franklin Ferreira, Rháyza Morgana Hortêncio de Lima. 

“Eu vejo o futuro repetir o passado.
Eu vejo um museu de grandes novidades.
O tempo não para. Não para, não, não para”.


Já dizia Cazuza em uma de suas mais famosas canções.
Podemos olhar para o trecho dessa música assim como olhamos para os museus históricos que vivem em um limbo tentando não ser repetitivos. Isso é inevitável pelo fato da história se repetir, como diria Karl Marx, “primeiro como tragédia e depois como farsa”. Será que é isso que os museus históricos estão passando para a sociedade, uma farsa?
Ao visitarmos um museu histórico nos deparamos com um discurso ultrapassado de celebração de datas comemorativas, que foram criadas por visões parciais e rígidas de seus mentores. No início do século XX esta postura foi adotada para se construir a ideia de uma nação moderna e de identidade para um povo. Atualmente seus acervos ainda estão impregnados de objetos que nos remetem a este heroísmo tão marcante para a população e que, ao serem expostos, nos instigam a imaginar um tempo romântico da realeza, de príncipes e heróis.
 Os Museus Históricos, em datas comemorativas, recebem um número de visitantes que expressam, nesses momentos, maior interesse pela história oficial. Não se muda 500 anos de história. A história que se ensina nas escolas ainda hoje retrata a mesma visão que está representada nos museus. Vemos, portanto, o futuro repetir o passado quando a história oficial de construção da nação e da modernidade é reforçada. É essencial que o museu histórico deixe de ser o sujeito alienante a todo processo social, político, cultural que acontece a sua volta tornado-se o sujeito participativo da comunidade.
E o que continua a atrair o público a visitar estes museus em outras ocasiões? Como estes locais lidam com estas contradições? Suas exposições são raramente modificadas fazendo o discurso muitas vezes se distanciar da história, como explicar que o que está exposto não condiz com o viés histórico. As pessoas nem se questionam ao entrar no museu tamanho é o respeito que este local representa:  posto de guardião de representações e no caso do museu histórico, local onde a história da nação está seguramente guardada.
Após a década de 80 alguns estudiosos vem questionando a distância entre a historicidade e a história oficial apresentada no museu,sacralizada e imutável. Educados com estes ideais, o público nos museus reconhecem este discurso proposto e sem criticar aquilo que vê o repete e o tornando-se  a única verdade.
O reflexo destas ações ainda ecoam nos dias atuais. Como fazer uma crítica se não é dado ao visitante as duas visões da história? Santos (2006) aborda a questão da memória nos museus dizendo o que considera como representatividade intelectual, dialética, mágica e que os Museus memória deveriam então buscar a autenticidade, a alteridade e hierarquização. “Tudo o que um museu retira da vida e guarda entre suas paredes, tal qual os zoológicos ou as bibliotecas, muda de sentido. A história apresentada pelos museus é o refazer da história.” (Santos, 2006 - p.127). O museu que trabalha com o passado não esta  impossibilitado de novas produções e criações culturais.


Capa da Publicação do Museu Histórico

 A cultura autêntica, legítima deu lugar a cultura de movimento, híbrida dentro de um espaço globalizado, dessa maneira houve um distanciamento do individuo em relação ao passado histórico, suas raízes e origens e com isso a falta de referentes de identidades. Como englobar tudo isso num país de proporções continentais e culturas tão diversificadas?
Inovar, para não se tornarem obsoletos, preservando os reais motivos da sua existência. Podemos considerar os museus como um lugar de mudanças e de recursos culturais, capazes de  adaptar-se às formas de ocupação, sem se desviar do viés histórico,  implementando ações tais como uso do espaço para eventos sociais, biblioteca virtual, entretenimento, mantendo sua arquitetura preservada numa infra-estrutura moderna, o acervo, as salas representativas, os pátios, as exposições, entre outros, fazendo com que haja interação entre os museus e a sociedade e fazendo com que a população se veja nesta construção e eleja sempre memórias que possam ser compartilhadas. Ao se pensar o museu histórico temos o dever de apresentar aos diversos públicos as mais diferentes formações para que possamos fazer deste país uma verdadeira pátria.

Palavras-chave: museu  / museu histórico  /  memória  /  nação

Bibliografia:
SANTOS, Myrian Sepulveda dos. A escrita do passado em museus históricos.Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2006. 142 p.

MARX, Karl. O 18 brumário de Louis Bonaparte. Coimbra: Oficinas Gráficas, 1971.161p.














Tipologia de Museus - Por que colecionamos?

Coleção Particular: Maria Alice Faria

? POR QUE COLECIONAMOS ?

Este trabalho foi desenvolvido em Novembro de 2013 como critérios 
de  avaliação parcial na disciplina Tipologia de Museus, ofertada no 
Curso de Museologia pela Escola de Ciência da Informação (ECI),  na
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ministrada pelo 
Profº Luiz Henrique Garcia.

Grupo: Amélia, Maria Ângela, Thelma, Vivien

flâmulas I frascos de perfumes I bolas de gude I tickets de metrô I xícaras I tampinhas I sapatos I rolhas I carrinhos I licoreiras I imaginária barroca I figurinhas I fósseis I latas I cartões de telefone I papéis de bala I chaveiros I pinturas I  selos postais I esculturas I rótulos I chaveiros I artefatos I miniaturas I
Segundo Pomian, entende-se por coleção, qualquer conjunto de objetos naturais ou artificiais, mantidos temporária ou definitivamente fora do circuito das atividades econômicas, sujeitos a uma proteção especial num local fechado preparado para esse fim, e expostos ao olhar público.
Algumas pessoas possuem um “museu particular”, quase sempre subprodutos da sociedade de consumo, como latas, cartões de telefone, tickets de metrô, papéis de bala, rótulos, tampinhas de refrigerantes, entre outros. Não existe um fator determinante para este fenômeno, mas, parece corresponder, em certos indivíduos, a um instinto, um impulso.
Segundo estudiosos, dos sete aos doze anos, a criança coleciona os mais variados objetos - bolas de gude, miniaturas, chaveiros, selos postais. Residiria, nesse fato, a necessidade de classificação do mundo exterior que a ajudaria a fixar as suas idéias. 
Durante a puberdade, ela pára de colecionar. Outro período ocorre entre os quinze e vinte e cinco anos e se afirma entre os que possuem uma vocação, às vezes hereditária.
Nesse universo, existem os diferentes graus de colecionadores: curiosos, que juntam coisas raras, exóticas, novidades; o simples amador, que coleciona pelo simples prazer ou sedução em juntar coisas ou determinado objeto; ou o colecionador especializado cuja coleção tem uma razão de ser e segue critérios específicos.
Entre os motivos da paixão colecionadora, relacionam-se algumas causas habituais: sentimento à tradição, respeito ao passado e por coisas antigas, culto às relíquias. Mas, a razão de uma coleção pode ser somente pelo amor à arte.
Mas, e da coleção ao Museu?
A palavra museu, do grego mouséion, foi dado na Antiguidade aos santuários dos templos dedicados às musas, construído sobre a colina de Helicon em Atenas (Grécia) e recebia, como doações, oferendas destinadas aos deuses inspiradores dos artistas – relíquias, vasos, coroas, jóias, esculturas.
No século III a.C, Ptolémée Philadelphe previu no centro de seu pakácio de Alexandria (Egito) um mouseión que compreendia, entre outros, uma biblioteca, um anfiteatro, um refeitório, um observatório, salas de trabalho, jardim botânico e zoológico, um conjunto que agregava a Universidade, a academia e um templo sob autoridade de um padre. Os primeiros museus foram estabelecimentos religiosos como os próprios objetos de arte e o ensinamento tradicional. Eles agrupavam tesouros depositados nos templos em testemunho de reconhecimento aos deuses.
Vale salientar , que o Louvre  antes de se tornar museu, foi residência da nobreza francesa, assim como outros que serviram de depósito para colecionar objetos de saques durante a Revolução Francesa .
 Segundo F.H. Taylor, os museus constituem “um mal necessário”, são “asilos póstumos”, dizia Thoré. Na realidade, são locais destinados a receberem objetos, que muitas vezes não estavam destinados a permanecerem juntos e que se encontram num local que não foi feito para acolhê-los. São fragmentos de uma época, testemunhos de um passado morto, de relíquias de antigos cultos. Eles testemunham o desgaste das coisas, as mudanças de hábito.
Somente há algumas décadas os responsáveis por museus começaram a discutir e reformular conceitos para que esses deixassem de ser privilégio de poucos, depósito de obras primas, para se tornarem polivalentes, atuantes, inseridos em comunidades, sedutores...
Mas, afinal, Por que Colecionamos? Para que servem os museus? Para Luc Benoist, um dos papéis do museu, e talvez o mais belo, seja o de se tornar galeria daqueles que não podem ter a sua própria coleção, o seu próprio museu. Para quem gosta e freqüenta, os museus teriam ainda uma outra função: emprestariam a esses “habitués”, uma coleção, tornando-os, colecionadores sem coleção.

paixão I conhecimento I curiosidade I prazer I hobie I poder I sedução I vaidade I nacionalidade I fantasia I prestígio I ostentação



Bibliografia:
POMIAN K. COLEÇÃO. In enciclopedia einaudi. Lisboa: Imprensa Nacional/ Casa da Moed, 1994. V.1: Memória- História. pg. 51-86

CHAUMIER, Serge. L’object de musée. Dijon: Mousée de la vie bourgüignome: 23 avril a 20 septembre 2010 ( tout garder? tout jeter? et reiventer?)

BENOIST, Luc. Musées et muséologie, Paris, Presses universitaires de France, coll. « Que sais-je? », 1960.

Link de acesso ao site do Museu do Louvre: 
www.louvre.fr  


Tipologia de Museus - O Diorama e a Taxidermia nos Museus

O Diorama e a Taxidermia nos Museus



Este trabalho foi desenvolvido em Novembro de 2013 como critérios de
avaliação parcial na disciplina Tipologia de Museus, ofertada no Curso 
de Museologia pela Escola de Ciência da Informação (ECI), na
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ministrada pelo
Profº Luiz Henrique Garcia.

Grupo: Camila Figueiredo, Carlos  Roberto, Eliane Rocha, Francisco de Assis, José Fernando, Lívia Pereira.


A exposição é uma ferramenta fundamental, para que haja comunicação entre o museu e o visitante. A expografia no museu funciona como um elemento essencial de divulgação do conhecimento. Se tratando de museus de história natural, os dioramas e os animais taxidermizados são fundamentais para que o museu possa desenvolver exposições didáticas.
A palavra diorama vem do grego: dia, que significa “através”, e horama, que significa “para ver”. Podemos dizer que diorama significa “para ver através”.  Os dioramas são cenários que buscam representar em uma escala reduzida, formas de vida, ambientes naturais e etc; numa representação simbólica, sendo um modo de apresentação artística, de maneira muito realista, com finalidades de instrução ou entretenimento. 


Diorama sobre vertebrados do Museu Zoobotânico de Unochapecó. 



 O termo foi criado por Louis Daguerre em 1822, para um tipo de display rotativo no século XIX com o desenvolvimento da taxidermia, herborização e o uso de vitrines, possibilitou aos estudiosos da ciência a contemplar espécies de diversas partes do mundo.

Ornitorrinco taxidermizado no Natural History Museum, London.
Já a palavra taxidermia ou taxiodermia vem de termo grego que significa "dar forma à pele", é a arte de montar ou reproduzir animais para exibição ou estudo. Essa técnica é utilizada da mesma forma como diorama, ou seja, para representação e também, às vezes os dois são trabalhados juntos. É um procedimento exercido por biólogos, que envolve conhecimentos de diversas áreas além da biologia, como: química, anatomia, comportamento, ecologia, artes plásticas, entre outras. É uma técnica aplicada somente em animais vertebrados e seus registros mais antigos remontam ao império egípcio, a cerca de 2.500 a.C. 
 


Diorama
Com isso "(...) os zoólogos em seus museus de História Natural, (...) puderam viajar através de todos continentes. Muitos aspectos comuns que não podiam ser vistos em espécies perigosas distantes no tempo e no espaço passaram a aparecer facilmente entre o conteúdo de uma vitrina e o da próxima." (LOPES, Maria Margaret. O Brasil descobre a pesquisa cientifica: os museus e as ciências naturais no século XIX. São Paulo: Hucitec, 1997 p. 14).
Ash, D. apud Adriano Dias de Oliveira, diz que os dioramas “representam cenas reais das espécies de animais e de plantas no ambiente natural”. Diz ainda que eles “foram historicamente criados para evocar sentimentos, através e talvez da memória, e promover uma ética para preservação das espécies e dos seus habitats selvagens, incluindo a conservação dos animais e locais que a maioria das pessoas nunca viu”.
Os museus de história natural utilizam os dioramas como espaços educativos. Portanto, é necessário que sejam desenvolvidas com o objetivo de passar para os visitantes uma ideia do espaço em uma escala menor.
Chelini e Lopes no artigo Exposições em Museu de ciências: Reflexões e Critérios para Análise 2008 apresentam dados de uma pesquisa comparativa de diferentes displays de uma exposição do Milwaukee Public Museum, analisada por Asensio e Pol. A pesquisa apontou que os dioramas parecem ser o tipo de display com maior poder de atração e de retenção da atenção e o que provoca os maiores níveis de interação e envolvimento intelectual.
“A atividade científica é uma prática social que vem sendo cada vez mais ampliada e desenvolvida e, nesse aspecto, os museus ganham destaque como locais de comunicação e de educação não-formal”, segundo Chelini e Lopes. Os dioramas atuam nos museus expondo conhecimento científico e a biodiversidade do planeta.
Os dioramas funcionam como um meio de tornar a visita mais dinâmica e interativa. Mas apesar disso, eles não fogem às críticas. Podemos questionar se o ambiente que o diorama expõe é mesmo real ou foi recriado?
Van Praet apud Adriano, diz que “as concepções ecológicas que o público possa vir a ter ao observar um diorama estão mais próximas das de quem elaborou a exposição do que das dos cientistas”. Ou seja, os dioramas atendem as expectativas do público em geral, que deseja ter um conhecimento mais amplo sobre como se desenvolve a vida de animais em certa região, mas não correspondem ao objetivo de estudo dos naturalistas, onde é colocado em questão: o museu serve para educar ou entreter?
Chelini e Lopes apud Georges Henri Riviére, estabelece que o museu é um meio de comunicação e que, independente do tipo de exposição, a museografia deve proporcionar um aporte de prazer e conhecimento. Outro questionamento em relação aos dioramas é se o museu deve expor o desejo dos visitantes ou o desejo dos profissionais?
Os museus são espaços de produção de conhecimento, e tem como compromisso a disseminação do conhecimento, onde o museólogo é apenas o interlocutor e não pode influenciar no conhecimento passado pela ideia da exposição.
Diorama é um modo de apresentação artística, de maneira muito realista, de cenas da vida real para exposição com finalidades de instrução ou entretenimento. A cena pode ser de representação de uma paisagem, plantas, animais, eventos históricos, etc.
A taxidermia, é como falado no texto da segundo Chelini e Lopes, seria a representação dos objetos reais, como no museu de historia natural não possui um acervo grande de objetos, e esse mostram muitos animais o ideal é o animal taxidermizado, ou seja, o objeto real desse museu é o animal empalhado.
Chelini e Lopes apud Miles consideram: “... animais montados ou taxidermizados (...) se assemelham a o objeto real (...) o objeto real é muito frágil ou valioso para ser apresentado em exposição (...) a técnica das replicas é muito utilizada...” (pág. 221 – 223). 

Diorama

Podemos observar que o museu pode se utilizar das ideias da taxidermia, ligada aos dioramas, como forte papel educativo nas exposições, e seu potencial enquanto objetos que fazem parte de um processo transpositivo ao se elaborar uma exposição.


Palavras-chave: Diorama - exposição - museu - taxidermia


Referências Bibliográficas:
OLIVEIRA, Adriano Dias de. Biodiversidade e museus de ciências: um estudo sobre transposição museográfica nos dioramas – São Paulo, 2010.
LOPES, Maria Margaret. O Brasil descobre a pesquisa cientifica: os museus e as ciências naturais no século XIX. São Paulo: Hucitec, 1997. 369 p.
CHELINI, Maria-Júlia Estefânia; LOPES, Sônia Godoy Bueno de Carvalho. Exposições em museus de ciências: reflexões e critérios para análise. Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Sér. v.16. n.2. p. 205-238. jul.- dez 2008.

Sites consultados: 

Tipologia de Museus - A contribuição germânica para a formação das coleções na Europa (século XX)



A contribuição germânica para a formação das coleções na Europa no século XX

 Grupo: Diego Almeida, Giovanni Augusto, Moisés Silva, Samara Silva, Wesley John.* 

Este trabalho foi desenvolvido em Novembro de 2013 como critérios de avaliação parcial na disciplina Tipologia de Museus, ofertada no Curso de Museologia pela Escola de Ciência da Informação (ECI), na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ministrada pelo Profº Luiz Henrique Garcia.

Como se deu a formação das coleções artísticas na Europa no século XX? Essa pergunta pode ser respondida voltando aos anos entre guerras e durante a Segunda Guerra Mundial. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha tinha, sob sua posse, inúmeras pinturas e esculturas de Braque, Van Gogh [figura 1], Picasso, Klee, Matisse, Kokoschka e muitos outros. O partido nazista, prestes a tomar poder, subjugando a nova república liberalista, que permitia que estas pinturas e esculturas fossem chamadas de arte, consideradas modernistas, começa a fazer sua revolução. A revolução do partido nazista era muito mais do que apenas política e econômica. Era uma revolução cultural também. 

  

A Igreja Auvers-sur-Oise, Van Gogh. Junho de 1890, óleo sobre tela.Musée D'Orsay, Paris, França - Figura 1 

Em 1939 foi organizado, pelos alemães, um leilão em Lucerna, para leiloar 126 quadros e esculturas de 36 diferentes artistas. Estes quadros e esculturas não eram de baixo valor ou demonstrativos e sim grandes, alguns era obras primas de alguns dos artistas. Essas obras vinham de vários museus públicos da Alemanha. Frequentando o leilão estava vários Marchands de todas as partes da Europa e até dos Estados Unidos. Porém, muitos Marchands não compareceram por medo de o leilão ser uma fachada para o financiamento do partido nazista. Apesar de o leiloeiro garantir que os museus receberiam todo o lucro do leilão, o medo dos Marchands se tornou realidade. O partido nazista foi financiado com a venda das obras de arte deste leilão.
Hitler bania todo e qualquer tipo de obra modernista, judia, que não fosse alemã, que não tratasse fielmente a natureza, que tratasse os eventos da guerra, obras inacabadas, obras polonesas entre muitas outras. Só aceitava o que ele considerava arte. Com esse princípio, Hitler começa uma jornada em “cortar o mal pela raiz”, em tirar todas estas obras de arte da Alemanha. Começou com o confisco de obras começando pelos museus alemães, impediu muitos artistas de pintar o que não fosse aprovado por ele, que não tratasse a natureza realmente como era, ou eventos das guerras, ou ainda artes inacabadas. Estes artistas não poderiam nem comprar suprimentos artísticos como telas, pincéis, tintas. Rosenberg afirmava que a raça nórdica ariana (de onde vinham os alemães) produzira não somente as catedrais alemãs, mas a escultura grega e as obras-primas da Renascença italiana. Hitler concordava com essa ideia. Este era um dos motivos para essa revolução cultural
Hitler começa a construção do Haus der Deutchen Kunst, um museu que representasse toda a cultura alemã com pinturas e esculturas produzidas pelos alemães e que fosse considerada verdadeiramente alemã. Nesse trajeto de confisco das obras de artes proibidas, Hitler também selecionava aquelas que ele queria que fosse colocadas dentro do Haus der Deutschen Kunst [figura 2]. Criaram também um concurso onde artistas poderiam levar suas obras para serem avaliadas e se entrariam no museu. As condições para participar era você deveria ser alemão puro e não retratar, em suas pinturas, o que Hitler descartava e odiava. Um grande esforço do partido nazista de se posicionar como a cultura superior na Europa. Foi criada a Câmara de Cultura do Reich. Todos artistas, seja pintor, escultor, músico, escritor, arquitetos, poeta, tinham que ser membros desta câmara para poderem trabalhar. 

München, Goebbels na Casa da Arte alemã, 27 de fevereiro de 1938, fotografo desconhecido - Figura 2
 

Houve varias tentativas de introduzir o expressionismo e o modernismo dentro da Alemanha, por alguns alemães que eram fascinados por estes movimentos, como uma tradição alemã aceitável. Schardt, montando uma exposição com obras deste caráter, foi despedido e chamado de “mula” pelo ministro da cultura. Todas as obras que foram confiscadas e que era odiadas por Hitler foram se amontoando em um armazém levantando o questionamento: o que fazer com este “lixo”? Os oficiais e as pessoas que detinham altos cargos no governo começam a vender este “lixo” para os países a sua volta. Vendiam por que rendia dinheiro para eles e ajudava a financiar o partido nazista. É daí que veio o leilão de Lucerna.
Com a invasão da Polônia pelos alemães, Hitler se apossou de muitas pinturas, esculturas, jóias e muitos despojos. Mandou as jóias para a Alemanha para serem derretidas e disponibilizou os quadros para “quem quisesse e quem pudesse”. Hitler não considerava os poloneses como raça, assim como os judeus e negros e não considerava seus quadros como arte.
Europa Saqueada, de Lynn H. Nicholas - Figura 3
Olhando por esta perspectiva, temos uma noção de como se deu a formação das coleções artísticas em toda a Europa. Com o partido nazista vendendo tudo, os países da Europa passaram a comprar tudo, formando as coleções de artísticas das outras nações. Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos criaram uma equipe de elite para voltar a Europa e resgatar todas as obras de arte que encontrarem, sendo pinturas ou esculturas, e levar de volta para os Estados Unidos. Há muitas obras em vários museus americanos. Sendo assim, o período das guerras foi de grande importância para a formação das coleções artísticas e para os museus de artes também, onde estas obras foram colocadas e se encontram até hoje. Recomendamos a leitura do livro de Lynn Nicholas Europa saqueada: o destino dos tesouros artísticos europeus no Terceiro Reich e na Segunda Guerra Mundial [Figura 3] para quem se interessar por maiores informações sobre o assunto.

* Discentes do curso de Museologia pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. 

Referência: NICHOLAS, Lynn H. Europa saqueada: o destino dos tesouros artísticos europeus no Terceiro Reich e na Segunda Guerra Mundial. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. 538p. 

Links para as imagens: 
Figura 1:  http://www.musee-orsay.fr/en/visit/ (acesso em 22/11/2013)
Figura 2: http://www.bundesarchiv.de/index.html. (acesso em 22/11/2013)
Figura 3:  googleimages.com (acesso em 22/11/2013)

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Tipologia de Museus - Ecomuseus



UMA NOVA MUSEOLOGIA: Os Ecomuseus




Este trabalho foi desenvolvido em Novembro de 2013 como critérios 
de avaliação parcial na disciplina Tipologia de Museus, ofertada no 
Curso de Museologia pela Escola de Ciência da Informação (ECI), 
na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ministrada pelo
Profº Luiz Henrique Garcia.


grupo: Allyson, Camila Mafalda, Kelvin, Leonardo, Morgana Bernardes, Pauline

Muitos questionamentos surgem em torno da proposta dos ecomuseus. Por se tratar de uma expressão da Nova Museologia – termo que surgiu no início dos anos 1980, designando um sistema de valores que retrata a mudança prática do papel social do museu - que caracteriza estudos recentes, os ecomuseus recebem críticas e interpretações distorcidas, assim como precisa de constantes reflexões para enfrentar seus desafios.
Geralmente estes museus são associados apenas a questão ambiental devido ao prefixo eco. No entanto, sua proposta vai além deste caráter ecológico, englobando as relações humanas e sociais – sobretudo da comunidade em que está inserido. Intimamente ligado a concepção de museu integral instituída na Mesa Redonda de Santiago do Chile em 1972, onde o papel social do museu foi repensado e a sociedade passou a ser o objeto de estudo e o sentido de patrimônio foi ampliado, englobam o patrimônio total[1] (entendido como total por agregar os aspectos imateriais e subjetivos como a paisagem e a memória coletiva). Assim, são ainda uma expressão da Nova Museologia ligados, sobretudo as reflexões acercadadessacralização dos museus e seus acervos, ressaltando por as questões de socialização e envolvimento com as comunidades.
A primeira geração destes ecomuseus de fato tem suas raízes entrelaçadas a outras inciativas como os museus a céu aberto escandinavos e os parques regionais expressivos na França, e nos Estados Unidos, eram ligados a preservação do meio ambiente. No entanto, as expressões que ressaltam o papel social tornaram-se mais evidentes durante a segunda geração, marcados pelo exemplo de Creusot-Montceau-Les Mines. Conheça a proposta deste museu, o primeiro ecomuseu instituído na área industrial em: LINK 1
Alvo das criticas, por ser uma concepção muito ampla e se desenvolver conforme as características de seu território, era considerado uma proposta de desenvolvimento sem critérios. Na tentativa de criar um direcionamento para estas muitas propostas de ecomuseus que eclodiram pelo mundo, Rivieré (FIGURA 1)– um dos conceptores desta tipologia, diretor do ICOM durante alguns anos. – em 1983 elaborou uma definição evolutiva que intitulava o Ecomuseu como um “instrumento que um poder e uma população concebem, fabricam e exploram juntos. O poder, com os especialistas, as facilidades e os recursos que fornece. A população, segundo suas aspirações, seus saberes, sua capacidade de análise”.
Cabe ressaltar nesta definição a relação com o poder, envolvendo o poder de conhecimento científico. Assim surgem outros direcionamentos de preceitos para o desenvolvimento destes museus, como a fórmula ideal, proposta pelo mesmo estudioso, onde três comitês trabalham conjuntamente para formação do ecomuseu: o de gestão (administradores municipais), o científico (acadêmicos e estudiosos) e de usuários (comunidade envolvida). Percebe-se que ainda que por mais que a concepção esteja ligada ao desenvolvimento da comunidade, há uma relação de dependência do poder, tanto político como intelectual para que a proposta seja mais bem desenvolvida. Esta proposta exige ainda, uma interdisciplinaridade acarretando a mudança no papel do museólogo – que passa a ser catalisador de ideias ao invés de detentor do conhecimento, este deve então, fomentar a ideia e aos poucos se distanciar da população deixando que a mesma trabalhe.
É um museu sem acervo?                   
O desconhecimento sobre a concepção deste tipo de museu gera questionamentos como este. Não, o ecomuseu não é um museu sem acervo, nem se opõe completamente ao mesmo. O que ocorre é uma mudança na concepção de objeto de estudo – acompanhando a tendência de dessacralização que a nova museologia prega – onde a cultura dominante é elevada ao estatuto de cultura oficial. Neste ‘novo museu’ a ênfase é dada ao território, ao patrimônio e a comunidade em vez do prédio institucional, a coleção e aos visitantes. Barbuy afirma em A conformação dos Ecomuseus: elementos para Compreensão e análise[2], que o verdadeiro patrimônio desta tipologia de museus é a memória coletiva que reforça uma identidade cultura. Tentando, portanto, assegurar os saberes e fazeres – englobando assim aspectos materiais e imateriais.
Há estruturas que não possuem acervo. É o caso dos centros de interpretação – como são chamados no Canadá – onde sua função é organizar exposições pedagógicas. Nestes não existe nestes um compromisso com a produção de informações acerca de acervos, são instrumentos didáticos. São exemplos destas estruturas, o Centro de Interpretação do Porto e o Centro de Interpretação da Cidade, em Québec no Canadá.
Utopia ou realidade?
Dentre as principais críticas que os ecomuseus recebem, está relacionada com o seu caráter utópico. Isso ocorre devido a carga teórica que vem sido trabalhada em oposição a práticas que encontram dificuldades para exercer esta teoria. Há dentro deste pressuposto, a discussão sobre as reconstituições museológicas que criam a representação da realidade por meio das técnicas museológicas, realizadas nestes museus. Recebem afirmações que tangem a artificialidade destes espaços bem como uma falsa representação do real.
No entanto, cabe ressaltar que o ecomuseu bem como a nova museologia estão em constante transformação, sobretudo por se tratar de estudos muito recentes. Apesar das contradições presentes na concepção e prática destes museus é importante enxerga-los como uma proposta de melhoria e ampliação da museologia, sendo no mínimo interessante acompanhar suas evoluções para um caminho diferente dentro desta ciência social aplicada. 


Referências Bibliográficas
BARBUY, Heloísa. A conformação dos ecomuseus: elementos para compreensão e análise. Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Ser. v.3 p.209.236 jan./dez. 1995. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/anaismp/v3n1/a19v3n1.pdf>
RIVIERE, Georges Henri. La museologia: curso de museologia / textos y testimonios. Madrid: Akal, 1993 533 p.
SOARES, Bruno César Brulon. Entendendo o Ecomuseu: Uma nova forma de pensar a Museologia.Revista Eletrônico Jovem Museologia – Estudos sobre Museus, Museologia e Patrimônio. Ano 01, n°2, agosto de 2006.
VARINE, Hugues de. O Ecomuseu. Ciências e Letras: Revista da Faculdade Porto Alegrense de Educação, Ciências e Letras, Porto Alegre , n. 27, p.61-90, jan. 2000.


[1]Bellaigue, Mathilde. 1993:75 apput BARBUY, Heloísa. A conformação dos ecomuseus: elementos para compreensão e análise. Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Ser. v.3 p.209.236 jan./dez. 1995. P.211
[2]Querrien (1982: 62-63) citado porBARBUY, Heloisa. A conformação dos ecomuseus: elementos para compreensão e análise. Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Ser. v.3 p.209.236 jan./dez. 1995. P. 220