A contribuição germânica para a formação das coleções na Europa no século XX
Grupo: Diego Almeida, Giovanni Augusto, Moisés Silva, Samara Silva, Wesley John.*
Este trabalho foi desenvolvido em Novembro de 2013 como critérios de
avaliação parcial na disciplina Tipologia de Museus, ofertada no Curso de
Museologia pela Escola de Ciência da Informação (ECI), na Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG), ministrada pelo Profº Luiz Henrique Garcia.
Como se deu a
formação das coleções artísticas na Europa no século XX? Essa pergunta pode ser
respondida voltando aos anos entre guerras e durante a Segunda Guerra Mundial.
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha tinha, sob sua posse, inúmeras
pinturas e esculturas de Braque, Van Gogh [figura 1], Picasso, Klee, Matisse,
Kokoschka e muitos outros. O partido nazista, prestes a tomar poder, subjugando
a nova república liberalista, que permitia que estas pinturas e esculturas
fossem chamadas de arte, consideradas modernistas, começa a fazer sua
revolução. A revolução do partido nazista era muito mais do que apenas política
e econômica. Era uma revolução cultural também.
A Igreja Auvers-sur-Oise, Van Gogh. Junho de 1890, óleo sobre tela.Musée D'Orsay, Paris, França - Figura 1
Em 1939 foi
organizado, pelos alemães, um leilão em Lucerna, para leiloar 126 quadros e
esculturas de 36 diferentes artistas. Estes quadros e esculturas não eram de
baixo valor ou demonstrativos e sim grandes, alguns era obras primas de alguns
dos artistas. Essas obras vinham de vários museus públicos da Alemanha.
Frequentando o leilão estava vários Marchands de todas as partes da Europa e
até dos Estados Unidos. Porém, muitos Marchands não compareceram por medo de o
leilão ser uma fachada para o financiamento do partido nazista. Apesar de o
leiloeiro garantir que os museus receberiam todo o lucro do leilão, o medo dos
Marchands se tornou realidade. O partido nazista foi financiado com a venda das
obras de arte deste leilão.
Hitler bania
todo e qualquer tipo de obra modernista, judia, que não fosse alemã, que não
tratasse fielmente a natureza, que tratasse os eventos da guerra, obras
inacabadas, obras polonesas entre muitas outras. Só aceitava o que ele
considerava arte. Com esse princípio, Hitler começa uma jornada em “cortar o
mal pela raiz”, em tirar todas estas obras de arte da Alemanha. Começou com o
confisco de obras começando pelos museus alemães, impediu muitos artistas de
pintar o que não fosse aprovado por ele, que não tratasse a natureza realmente
como era, ou eventos das guerras, ou ainda artes inacabadas. Estes artistas não
poderiam nem comprar suprimentos artísticos como telas, pincéis, tintas.
Rosenberg afirmava que a raça nórdica ariana (de onde vinham os alemães)
produzira não somente as catedrais alemãs, mas a escultura grega e as
obras-primas da Renascença italiana. Hitler concordava com essa ideia. Este era
um dos motivos para essa revolução cultural
Hitler começa a
construção do Haus der Deutchen Kunst, um museu que representasse toda a
cultura alemã com pinturas e esculturas produzidas pelos alemães e que fosse
considerada verdadeiramente alemã. Nesse trajeto de confisco das obras de artes
proibidas, Hitler também selecionava aquelas que ele queria que fosse colocadas
dentro do Haus der Deutschen Kunst [figura 2]. Criaram também um concurso onde
artistas poderiam levar suas obras para serem avaliadas e se entrariam no
museu. As condições para participar era você deveria ser alemão puro e não
retratar, em suas pinturas, o que Hitler descartava e odiava. Um grande esforço
do partido nazista de se posicionar como a cultura superior na Europa. Foi
criada a Câmara de Cultura do Reich. Todos artistas, seja pintor, escultor,
músico, escritor, arquitetos, poeta, tinham que ser membros desta câmara para
poderem trabalhar.
München, Goebbels na Casa da Arte alemã, 27 de
fevereiro de 1938, fotografo desconhecido - Figura 2
Houve varias
tentativas de introduzir o expressionismo e o modernismo dentro da Alemanha,
por alguns alemães que eram fascinados por estes movimentos, como uma tradição
alemã aceitável. Schardt, montando uma exposição com obras deste caráter, foi
despedido e chamado de “mula” pelo ministro da cultura. Todas as obras que
foram confiscadas e que era odiadas por Hitler foram se amontoando em um
armazém levantando o questionamento: o que fazer com este “lixo”? Os oficiais e
as pessoas que detinham altos cargos no governo começam a vender este “lixo”
para os países a sua volta. Vendiam por que rendia dinheiro para eles e ajudava
a financiar o partido nazista. É daí que veio o leilão de Lucerna.
Com a invasão da
Polônia pelos alemães, Hitler se apossou de muitas pinturas, esculturas, jóias
e muitos despojos. Mandou as jóias para a Alemanha para serem derretidas e
disponibilizou os quadros para “quem quisesse e quem pudesse”. Hitler não
considerava os poloneses como raça, assim como os judeus e negros e não
considerava seus quadros como arte.
Europa Saqueada, de Lynn H. Nicholas - Figura 3 |
Olhando por esta
perspectiva, temos uma noção de como se deu a formação das coleções artísticas
em toda a Europa. Com o partido nazista vendendo tudo, os países da Europa
passaram a comprar tudo, formando as coleções de artísticas das outras nações.
Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos criaram uma equipe de elite
para voltar a Europa e resgatar todas as obras de arte que encontrarem, sendo
pinturas ou esculturas, e levar de volta para os Estados Unidos. Há muitas
obras em vários museus americanos. Sendo assim, o período das guerras foi de
grande importância para a formação das coleções artísticas e para os museus de
artes também, onde estas obras foram colocadas e se encontram até hoje. Recomendamos a
leitura do livro de Lynn Nicholas Europa saqueada: o destino dos tesouros
artísticos europeus no Terceiro Reich e na Segunda Guerra Mundial [Figura 3]
para quem se interessar por maiores informações sobre o assunto.
* Discentes do
curso de Museologia pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG.
Referência:
NICHOLAS, Lynn H. Europa saqueada: o destino dos tesouros artísticos europeus
no Terceiro Reich e na Segunda Guerra Mundial. São Paulo: Companhia das Letras,
1996. 538p.
Links para as imagens:
Figura 1: http://www.musee-orsay.fr/en/visit/ (acesso em 22/11/2013)
Figura 2: http://www.bundesarchiv.de/index.html. (acesso em 22/11/2013)
Figura 3: googleimages.com (acesso em 22/11/2013)
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