segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Museu de Arte da Pampulha: apenas um ponto turístico? [Função Social dos Museus 2018]

Disciplina: Função Social dos Museus
Prof. Luiz H. Garcia
Grupo: Isabela Caroline, Leticia Castro, Lucília Miranda, Maria Raquel Diamante, Miguel de Araújo Costa, Paula Cury Bragança, Carina Rafaela de Camargos e Layla Merli


O Museu de Arte da Pampulha (MAP) recebe exposições de curta duração durante todo o ano, além de ser também um dos pontos turísticos da cidade de Belo Horizonte. Foi pensando no público que frequenta o MAP, que decidimos propor uma intervenção no museu, visando o mesmo e o seu entorno. Realizada no dia 15 de setembro de 2018, em uma tarde nublada e chuvosa, a roda de conversa teve como intuito promover um diálogo entre o visitante e o espaço, um local que, um dia, já foi restrito a elite de Belo Horizonte, agora aberto ao público em geral. O edifício projetado para ser um cassino, foi construído no início da década de 40, durante o governo de Juscelino Kubitschek, época em que a arquitetura brasileira foi mais evidenciada no mundo. No mandato de Gaspar Dutra devido a proibição dos jogos de azar, acabou sendo fechado em 1946. O cassino era a edificação mais emblemática de todo o conjunto, do lado oposto das demais construções além do espelho d'água. Fechado por dez anos, somente em 1957 foi reaberto, inaugurando-se o atual MAP. Seu acervo constituído por doações de grandes artistas e também dos salões de arte, conta com obras de artistas como Portinari, Guignard, Di Cavalcanti, entres outros; totalizando um acervo de 1500 obras, desde pinturas, esculturas e livros. O conjunto arquitetônico conta com a Igreja de São Francisco de Assis, Iate Tênis Clube, Casa do Baile e o MAP; além dos jardins, calçada e o espelho d'água. 

Em 2013 a prefeitura de Belo Horizonte demonstrou o interesse pelo tombamento da Pampulha em âmbito mundial, porém em 2015 quando representantes da UNESCO vieram para analisar a proposta, foi apontado a necessidade de reforma do MAP e a revitalização dos projetos paisagísticos. O conjunto modernista que uniu a arquitetura de Niemeyer, paisagismo de Burle Marx, painéis de Portinari, esculturas de Alfredo Ceschiatti, foi considerado patrimônio mundial da humanidade em 2016, durante conferência da UNESCO em Istambul. Hoje sua importância é reconhecida em todo o mundo, pela junção de arquitetura, artes, paisagismo e é um dos maiores ícones do movimento modernista brasileiro.

Tendo o museu como um espaço de relações sociais, inserção e participação cultural, e compreendendo o complexo da Pampulha como um importante símbolo do patrimônio cultural da cidade de BH, abordando a sua recente classificação como patrimônio da humanidade pela UNESCO, fomos levados a pensar em uma proposta de intervenção que buscasse promover a discussão e reflexão acerca desse tema, de forma que não desviássemos da tipologia do museu. Contribuindo para a salvaguarda e extroversão desse importante patrimônio cultural. Sendo assim, a proposta de intervenção elaborada pelo grupo teve como objetivo promover o diálogo entre o MAP e o público por meio de uma roda de conversa, tendo como plano de fundo a ação Museu por dentro. A ação Museu por Dentro se deu com o intuito de convidar o visitante a (re)descobrir o MAP e a contemplar o conjunto arquitetônico da Pampulha, com várias cápsulas informativas espalhadas por todo o espaço, o público tem a oportunidade de conhecer alguns aspectos e informações sobre o prédio. Toda em função da arquitetura do museu, dos materiais utilizados no seu acabamento e do complexo arquitetônico da Pampulha, ocorre para ocupar o espaço do museu no período entre exposições, para que o mesmo não fique com seu interior vazio durante determinados períodos.

Deste modo, buscou-se de forma mais específica abordar a contextualização histórica e artística do conjunto moderno da Pampulha e o processo de titularização como um patrimônio da humanidade. Abordando principalmente a relação do complexo com o patrimônio cultural da cidade de Belo Horizonte e explorando as várias formas de apropriação do espaço e os recursos utilizados pelo museu para promover o diálogo entre público, patrimônio e arte dentro de uma visão de identidade, reconhecimento e proximidade do público. 

Portanto, após as atividades de elaboração concluídas, a roda de conversa se realizou no dia 15 de setembro de 2018. A abordagem do público ocorreu de forma espontânea; primeiramente identificando o perfil do público que visitava a instituição, e a partir disso, era apresentado a proposta da ação que estávamos desenvolvendo. As reações dos visitantes foram diversas, pois alguns estavam lá apenas para se abrigarem da chuva, outros estavam fazendo um city tour em BH e não tinham tempo para ficar para a roda, outros ficavam interessados.

Com o intuito de tornar a conversa mais dinâmica, foram elaboradas questões que seriam levantadas, como: o que o público espera ao entrar no museu? Qual era a sua relação com o MAP? Como eles se sentiam ao visitar o MAP e o que esperavam ao visitá-lo? Dentre essas percepções ouvimos indagações e posições, dentre elas a questão da história da criação do Complexo Moderno da Pampulha, espaço onde está situado o MAP; relação do entorno com do museu; o turismo local, entre outras.[1]


Ouvir a fala dos visitantes de forma espontânea, onde além das questões propostas pelo grupo, os próprios visitantes também levantaram questionamentos, foi muito enriquecedor. Perceber às suas expectativas e até mesmo frustrações, não apenas em relação ao MAP, mas em relação aos museus, nos mostra como é importante o diálogo entre as instituições culturais e os seus visitantes. Os museus precisam estar atentos para compreender que por mais que o público leigo não tenha conhecimento dos conceitos que giram em torno do fazer museológico, eles compreendem a importância do museu está aberto a contemplação e ao diálogo. A apropriação dos espaços públicos é uma via de mão dupla, é necessário que o público se aproprie desses espaços, mas é preciso que os museus ofereçam muito mais do que informações pontuais. Os museus têm o papel de tornar a relação do público com o acervo mais concreta, por meio de suas ações, pois a relação do sujeito com o seu patrimônio cultural é o ponto central de atuação dos museus.



Bibliografia: 


CHAGAS, M. S. Educação, museu e patrimônio: tensão, devoração e adjetivação. Em: Átila Bezerra Tolentino. (Org.) Educação Patrimonial - educação, memórias e identidades. Caderno Temático 3 .. 1a.ed.João Pessoa: Iphan, 2013, v. 3, p. 27-31. Disponível em: 

Conjunto Moderno da Pampulha. Dossiê de candidatura do Conjunto Moderno da Pampulha para inclusão na Lista do Patrimônio Mundial. Portal IPHAN. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/FMC_dossie_conjunto_moderno_%20da_pampulha.pdf

Fundação Municipal de Cultura. Ação Museu por dentro. Disponível em: <http://www.bhfazcultura.pbh.gov.br/?q=node/28184>

Notas:

[1] Roda de conversa realizada no dia 15 de setembro de 2018. Fonte: Lucília Miranda (2018)

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Museu Cortejo - MUMO [Função Social dos Museus 2018]

Disciplina: FUNÇÃO SOCIAL DOS MUSEUS

PROFESSOR: LUIZ HENRIQUE GARCÍA DE ASSIS
ALUN@S: Bruno Diniz, Heloísa Hashimoto, Lorena Brandão,
      Nathália Marques, Raphael Casimiro, Rita Carvalho

HISTÓRIA E PESQUISA
                O Museu escolhido foi o Museu da Moda, que fica localizado na Rua da Bahia e que, muitas vezes, o prédio é confundido com uma igreja. É popularmente conhecido com o nome de “Castelinho da Bahia”. Nos situamos historicamente sobre a formação do MUMO e vimos que o prédio já foi diversos outros espaços, lá já se fez presente Conselho Deliberativo e Biblioteca Municipal, Sede do Sindicato Ferroviário da Central do Brasil, Museu de Mineralogia, Museu das Forças Expedicionárias Brasileira (FEB), Centro de Referência da Moda. No entanto, só fazer essa pesquisa, não satisfez os nossos anseios e marcamos uma entrevista com o museólogo do MUMO Victor Louvisi. A nossa principal pauta a ser compreendida era sobre como a instabilidade institucional afetava a fixação do MUMO no imaginário da população belo horizontina.

Formulamos perguntas que seriam direcionadas aos trabalhadores específicos do Museu, sendo eles: faxineira, porteiro, bibliotecária e museólogo. As perguntas foram pensadas e elaboradas para que a resposta fosse neutra e não comprometesse o relacionamento do entrevistado com o museu. À seguir estão alguns exemplos das perguntas realizadas: “É comum que os visitantes te façam perguntas especificamente sobre o edifício?”, “Como você informa o visitante sobre o Museu?”, “Você sabe das exposições e o objetivo delas?”, “Você frequenta o museu fora do horário de expediente?”.

Em nossa entrevista, direcionada ao museólogo da instituição, Victor Louvisi, buscamos fazer perguntas que nos fizessem compreender melhor qual o público frequentador do espaço, quais garantias a instituição teria sobre a sua permanência no local atual e quais as pretensões para com o futuro do MUMO, além de entender melhor qual o papel que o museu quer promover na sociedade.

Grupo: “Pela história do edifício e a criação do MUMO, podemos notar que os dois passaram por constantes mudanças na sua função social.  Existe no plano museológico do museu ações que tenham como objetivo combater esta instabilidade? Que busquem promover sua fixação no imaginário da cidade?” e “qual é a função social do MUMO?”.  

Em suma Victor Louvisi nos trouxe algumas considerações, como o entendimento de moda como manifestação cultural. De acordo com ele, se pretende realizar uma criação de uma política de acervo e, no momento, está repensando o plano museológico da instituição. O MUMO, a partir da fala de Louvisi, ainda está pensando em estratégias, mas que acha essencial abrir espaços de discussões com a sociedade sobre a presença do MUMO na cidade.  

As respostas mostram que existe sim uma preocupação da atual gestão com todo o processo autoritário, que as instituições públicas enfrentam. As entrevistas foram fundamentais para a compreensão da relação da instituição e seus funcionários, dado isso, procuramos apresentar a ideia do cortejo aos representantes do Museu da Moda por meio do Victor Louvisi, que se mostrou bem-disposto a fazer o cortejo acontecer, mas também ressaltou as dificuldades que poderiam aparecer durante o processo. 

       Ao começar a elaborar o cortejo, mesmo com interesse dos funcionários, enfrentamos dificuldades na elaboração da atividade com questões como datas, uso da cidade e os músicos que fariam apresentações durante o trajeto e decidimos por realizá-lo mesmo sem os músicos e dançarinos.

O CORTEJO
 Baseando-se em nossa pesquisa de campo e na busca por uma proposta de intervenção que fosse capaz de despertar o olhar da população para o Museu, surgiu a ideia de fazer um Museu Cortejo inspirado no que aconteceu no Teia da Memória do ano de 2010, com a intenção de realizar uma mobilização museal diferenciada. Através do cortejo convidamos as pessoas a conhecerem o museu da moda e debater sua posição na cidade de Belo Horizonte. Assim, a intenção foi de levar o museu para rua para que o espaço público pudesse se apropriar desse cortejo. Além disso, criamos uma conta no instagram (@museucortejo) e um e-mail (museucortejo@gmail.com) para divulgar o cortejo e ter um meio para receber um feedback das pessoas que participaram e receberam o panfleto que foi distribuído durante o cortejo. Dessa forma, compreende-se que dentro do campo da museologia social as atuações levam sempre em consideração os sujeitos, espaços, e as transformações que a museologia pode oferecer na emancipação dos mesmos.

O trabalho possibilitou um maior contato com a rotina dos funcionários, suas percepções nas questões que envolvem o autoritarismo no setor público e maneira como isso impacta de forma negativa na relação do museu com o seu entorno. Mostrou como a população se comporta diante das abordagens externas dos museus e como foram receptivas com o grupo durante o trajeto. Nosso objetivo é que o alcance do museu seja o mais amplo possível e que  todo o público e, não somente seu entorno, se sinta parte das atividades oferecidas e das discussões que são consideradas pautas pelo  Museu, desenvolvendo, assim, uma vivência capaz de despertar ações educativas patrimoniais na consciência do seu entorno e dos transeuntes,  sempre trabalhando a preservação de bens culturais por meio de políticas de emancipação dos sujeitos que fazem parte da sociedade.


REFERÊNCIAS:
        Entrevista concedida pelos funcionários do Museu da Moda aos estudantes do curso de Museologia da UFMG no dia 4 de setembro de 2018.
        GONZÁLEZ, L. Los museos como herramientas de transformación...in:JUNIOR , José do Nascimento (org.) Economia de Museus. Brasilia : MinC/IBRAM , 2010.
        ROSAS MANTECON, Ana. Usos y desusos del patrimonio cultural: retos para la inclusión social en la ciudad de México. An. mus. paul. [online]. 2005, vol.13, n.2 [cited  2014-08-19], pp. 235-256 .
VÍDEO DO CORTEJO: https://www.youtube.com/watch?v=CFRLqhH8Qok&feature=youtu.be