terça-feira, 16 de outubro de 2018

Intervenção Urbana - Museu pra quê? [Função Social dos Museus 2018]

Disciplina: Função Social dos Museus
Prof.: Luiz H. Garcia

Alun@s: Claudia Beatriz Ribeiro de Souza Carneiro Rodrigues Camelo; Elizabeth Castro Moreno; Liziane Fernanda Silveira; Lucas Ferreira de Vasconcellos; Polianna Christina Dias Santos; Taynah Lilyane da Silva Carlos Perfeito e Vinicius Santos da Silva.

Introdução
O Projeto Museu Para Quê nasceu de uma investigação desenvolvida anteriormente por um grupo de alunos na disciplina “Museus e Cidade”, ofertada pelo prof. Luiz Henrique Garcia, no curso de Museologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O estudo de campo realizado nessa fase revelou que os principais fatores que limitam a visitação ao Museu de Arte da Pampulha (MAP) estavam relacionados com a falhas de comunicação entre a instituição e a população. Na época, foram identificados suportes de divulgação física instalados pelo Museu Abílio Barreto na Rua Rio de Janeiro (Praça Sete), que se mostravam desativados. Estava aí a oportunidade de utilizá-los para iniciar um diálogo com a população a respeito dos museus da cidade. No segundo semestre de 2018 demos continuidade a essa proposta, durante a disciplina “Função Social dos Museus”.


A intervenção
A proposta de levantar questionamentos sobre os museus da cidade foi realizada em três locais: Praça Sete de Setembro - que possui um fluxo intenso de transeuntes -, entorno do MAP - para chamar a atenção do público em potencial – e Escola de Ciência da Informação (ECI) da UFMG.

Nos três nichos expositores existentes na Rua Rio de Janeiro foram fixados cartazes tipo “lambe-lambes” com arte gráfica desenvolvida pelo grupo. As reflexões foram agrupadas, portanto, usando três módulos, com os respectivos questionamentos: (1) Museus e a cidade: “Museu pra quê?” e “Onde estão os museus na cidade?”; (2) MAP e arte: “Belo Horizonte tem museu de arte?” e “O que tem no Museu de Arte da Pampulha?”; (3) Museu e Público: “Quanto custa ir ao museu?” e “Quem quer, quem pode ir ao museu?”. Ao lado de cada um dos lambes foram instalados painéis em branco, como espaço para manifestação dos passantes (FIGURAS 1 e 2).

          FIGURA 1                                 FIGURA 2                               FIGURA 3




Foram produzidos cerca de 100 cartazes, em formato A4 e em impressão P&B, com questionamentos sobre os museus da cidade, que foram afixados tanto na Praça Sete (em tapumes, bancos e postes), quanto ao longo da orla da Lagoa da Pampulha - próximo ao MAP, Casa do Baile e Igreja de São Francisco de Assis. (FIGURA 3). Um lambe-lambe foi fixado na ECI, ficando como um espaço de diálogo dentro de um meio acadêmico habituado às vivências museais.


A escolha por lambes se deu porque a arte, a política e as disputas de poder, permeiam todos os espaços da cidade através dos lambes e stickers, ao “ocupar espaços fora dos campos institucionalizados da arte e tocar as realidades sociais de perto” (Campbell, 2015, p. 20). A cidade passa a servir de campo e contracampo, onde convivem no mesmo espaço pequenas lutas e resistências que dialogam, sobrepõem, alteram-se no mesmo espaço. São ações que refletem acerca do cotidiano, do que afeta na relação com a cidade e com o outro. Como expressa Brígida Campbell (2015), as obras que são colocadas na esfera pública buscam muitas vezes pequenas utopias de transformação do comum, tensionando as relações de poder. Também relacionado à questão territorial, as fronteiras são rompidas ao se estabelecer espaços coabitados através das intervenções realizadas por lambes e stickers, embaralhando imagens pelo processo colaborativo e desestabilizando as divisões que as cidades contemporâneas oferecem, produzindo espaços para vivências coletivas e lúdicas.

Para a promoção e registro da intervenção urbana, foi criado um suporte digital @museupraque na plataforma Instagram, com o uso da hashtag #museuemquestao. Sua coordenação, nessa ação, visa discutir sobre o Museu de Arte da Pampulha, além da reprodução do conteúdo nas ruas - prolongando a experiência da intervenção no que diz respeito ao espaço e à durabilidade do impacto e abrangendo o convite à reflexão. O endereço eletrônico foi divulgado em todos os painéis em branco e cartazes A4 espalhados pelos locais de intervenção.

Durante toda a semana foi realizado o acompanhamento, à distância, da intervenção na Praça Sete, algumas abordagens de passantes e o acompanhamento do Instagram com elaboração, em conjunto, das respostas aos comentários. 


Interações
A proposta da ação é a de instigar a reflexão. A ideia de proporcionar um espaço para a interação das pessoas, seja pelo Instagram ou pelos próprios painéis, consiste em uma das possibilidades, porém o fato do transeunte ler e, a partir disso refletir sobre as questões ali colocadas é o objetivo principal, provocar a curiosidade e um possível interesse.
A Galeria de Imagens apresenta uma mostra da participação do público na intervenção física e digital (1).

Lambe-lambe ECI; Cartaz Praça Sete; Instagram

Segundo JEUDY, 1990 “do ponto de vista dos princípios, conclui-se que a museologia popular não está dirigida aos objetos a conservar ou a exibir a um público, mas sim aos sujeitos sociais. São os modos de pensar, de fazer e de falar, além dos objetos e edifícios, que se tornam objetos de uma investigação museológica”.



Reflexões
Ao vivenciar o processo de criação das intervenções, além da observação direta dos espaços e conversas informais feitas nos locais, o grupo pode perceber que é necessário intervir, questionar a relação que os museus estão estabelecendo com o próprio entorno ou cidade. Se o museu é um lugar de memória, como podemos desconsiderar o território? Se a população não se apropria dos museus da cidade, não é simplesmente por não irem a museus, mas sim pela falta de relação com os primeiros. Acredita-se que uma continuidade dessa intervenção deverá questionar e dialogar, não só com o público mas também com a instituição museu, levando essas reflexões para dentro do espaço. O grupo envolvido já estuda parcerias com a setor educativo do MAP, buscando novas formas de concretizar o diálogo. Como estimular a consciência crítica, a reflexão sobre nossa realidade, patrimônio, memória, se o museu se encontra tão distanciado de seu público? Somente uma instituição inserida no contexto social em que vivemos poderá fortalecer a consciência cultural e levar à uma ação participativa da sociedade.


Associando aos estudos museológicos e a experiência vivenciada pelo grupo, abrem-se alguns questionamentos: como o diálogo do museu, como função social destes, pode ser ampliado ou problematizado a partir das tensões já existentes? Como estas tensões podem ser aproveitadas exatamente para produzir um espaço dialógico, dentro e fora dos museus? O projeto, infelizmente, teve como cenário a recém-tragédia do incêndio do Museu Nacional, e acreditamos que a ação obteve maior força interna e ímpeto de protesto por mudanças a partir justamente da exposição completa e incontestável do sucateamento e descaso em que os museus se encontram em nosso país. Esta intervenção, mesmo que em pequena escala de alcance, pode ser um dos caminhos para provocar reflexões e olhares diferentes do comum no dia-a-dia da cidade viva.


REFERÊNCIAS

CAMPBELL, Brígida. Arte para uma cidade sensível. São Paulo: Invisíveis Produções, 2015.
JEUDY, Henri Pierre. Memórias do social. Rio de Janeiro: Forense-Universitaria, 1990. 146p. (intro + cap.1)
NAVARRO, Luiz. Pele de propaganda: lambes e stickers em Belo Horizonte {2000-2010}. Belo Horizonte. Ed. do Autor, 2016. 



Nota:
(1) Transcrições do lambe-lambe, frases ao lado, de cima para baixo: “Para que a história de quem somos atravesse gerações”; “Para provar que existimos”; “Para compartilhar a história e o conhecimento para a próxima geração”; “Apoio isto”; Transcrição cartaz, comentário abaixo da pergunta, escrito em lápis: “Para a vida ter sentido”.

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