terça-feira, 10 de dezembro de 2024

A Escola de Ciências da Informação como objeto de memória

 

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Graduação em Museologia
Função social dos Museus.
Prof. Luiz Henrique Assis


Alunos: Frederico Augusto João B.M.S.
Gabriela Guerra Fortunato
Lorena Eduarda da Silva Luz
Lorena Gonçalves Moreira




A Escola de Ciências da Informação como objeto de memória





Belo Horizonte, 13 de Novembro de 2024


Introdução

A Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) possui uma rica história de 75 anos, marcada por transformações e memórias que refletem não apenas o desenvolvimento da instituição, mas também a experiência coletiva dos que a frequentam. Nosso grupo propõe uma intervenção focada em preservar e destacar as memórias afetivas ligadas ao prédio, reconhecendo seu valor como patrimônio tombado e seu potencial como objeto de memória coletiva.


Ao utilizarmos o prédio da Escola de Ciência da Informação como objeto de memória, buscamos enfatizar a função social da museologia de resgatar e valorizar as experiências e narrativas da comunidade. Ao criar uma intervenção de memória afetiva, queremos promover o engajamento da comunidade acadêmica com o espaço e ressignificar o prédio como um ‘museu vivo’ que abriga lembranças e histórias coletivas, transformando o prédio em um "objeto de memória", refletindo sobre seu passado e as mudanças que sofreu ao longo do tempo


As etapas consistiram em:


Coleta de depoimentos: Conduzir entrevistas presenciais ou virtuais com membros da comunidade acadêmica (alunos, professores, funcionários, ex-alunos) para capturar histórias e experiências afetivas relacionadas ao prédio.


Mapeamento Temático: Organizar os depoimentos em categorias como “Primeiras Impressões”, “Mudanças ao Longo do Tempo”, “Eventos Marcantes” e “Lugares Memoráveis”.


Seleção dos Espaços: Identificar locais específicos do prédio para a instalação dos relatos de acordo com o conteúdo de cada um, criando uma ligação entre a memória e o espaço físico.


Montagem: Posicionamos os murais de memória e interativos para que os visitantes pudessem interagir adicionando suas próprias memórias.

A intervenção foi organizada em pontos estratégicos das escolas, com cada relato sendo feito em locais relevantes e simbólicos, criando uma conexão entre a memória relatada e o espaço onde ocorreu. Os depoimentos foram disponibilizados em murais colaborativos nos corredores da ECI e FAFICH nos dias 04 e 11 de Novembro. O público alvo foram os servidores que atuam trabalhando diariamente no prédio da Escola de Ciências da Informação, alunos graduandos (prioritariamente museologia) e frequentadores diários que passam pelo local selecionado.


As perguntas para a intervenção:


1- Que sensação o prédio da ECI te passa?

2- Me fala uma memória, uma história que ficou marcada pra você que aconteceu no prédio da ECI?

3- O que você pensou quando pisou a primeira vez no prédio da ECI?

4- Porque você gosta do Prédio da ECI?

5- O que o Prédio da ECI te faz refletir?


Respostas obtidas


Um exemplo das respostas obtidas foi do seguinte estudante da UFMG do prédio Belas Artes:


1- Sensação de calma;

2- O dia que fui ver os gatinhos;

3- Gostei das plantinhas descendo nos andares;

4- Porque é bem arborizado e ventilado;

5- O convívio com a natureza.


Outra resposta obtida de um estudante da Faculdade de Letras foi:


1- Paz e quietude.

2- Eu ter ficado lendo no ECI até dar o horário de ir embora.

3- Que ele parece um cenário de ficção científica.

4- Porque ele não tem poluição visual e é pouco movimentado.

5- Que os outros prédios deveriam ser como ele.


Conclusão

Após entrevistar profissionais da ECI, estudantes da Belas Artes, Faculdade de Letras, Instituto de ciências exatas, Faculdade de veterinária, Faculdade de Ciências Humanas e demais departamentos concluímos que a divulgação e a lembranças das memórias afetivas em relação ao prédio da ECI são latentes. Grande parte do público se sente acolhida e deseja compartilhar o sentimento de calma com os outros alunos, servidores e transeuntes da ECI, tornando um ambiente que é ideal para criar novas memórias e descansar no tempo livre.

O edifício da ECI, portanto, não é apenas um espaço físico destinado ao aprendizado ou ao trabalho acadêmico; ele carrega uma carga simbólica e afetiva que, ao longo do tempo, vai se transformando e se fortalecendo. Para muitos, esse é um local que transcende a função estritamente institucional e vínculo com a UFMG. Ele se tornou um lugar de convivência, de pausas para o descanso mental, mas também de partilha e interação, criando uma rede de relações que ultrapassa as fronteiras do campus. Portanto, é fundamental que a universidade, os responsáveis pela gestão dos espaços acadêmicos e os alunos reconheçam essa relação afetiva com o prédio da ECI, não apenas como um símbolo de história e tradição, mas como um ativo que promove o bem-estar e a coesão social.

A ECI não é apenas um prédio: ela é um lugar de vivência, de expressão e de reflexão, onde as memórias construídas são parte de uma história maior que se renova constantemente, mantendo viva a identidade do campus e a conexão entre as pessoas que o habitam.





Bordado Livre


Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Museologia
Função Social dos Museus
Docente: Luiz Henrique Assis Garcia
Discentes: Aparecida Milena Rocha, Kamila Ferreira, Monaliza Melo, Sofia de Carvalho, Vitor Santos


Bordado Livre



Belo Horizonte, 21 de novembro de 2024


Introdução

A oficina “Bordado Livre”, que ocorreu no dia 01 de Novembro de 2024, se desenvolveu a partir de uma exposição realizada pelo Centro de Memória da Educação de Contagem baseada no projeto da professora Rosana Araújo, que tinha como objetivo ensinar mulheres idosas a bordar. A exposição em si mantinha o foco na história e percurso da professora, do projeto, além da ancestralidade e o saber-fazer do bordado.

Professora Rosana durante a oficina - Fotografia: Kamilla Ferreira



Para a realização da oficina, foi mantido a ideia principal de tentar manter a intimidade trazida nas aulas do projeto, onde as alunas sentavam em círculo e podiam compartilhar histórias e experiências sobre a prática, e pelo ato de bordar em si, pois, sabendo que os participantes da oficina seriam trabalhadores da Secretaria de Educação de Contagem, onde o Centro de Memória se encontra, a intervenção surge como uma nova forma de interação com o espaço, que também é um ambiente de trabalho, com o Centro de Memória e com a exposição.


Desenvolvimento

Dessa forma, a oficina ocorreu durante aproximadamente 2 horas no refeitório da Secretaria, sendo organizada em conjunto com o Centro de Memória da Educação de Contagem, com o limite de 20 participantes. A professora Rosana disponibilizou material próprio para o desenvolvimento da oficina, com intuito de ensinar dois pontos básicos de bordados aos participantes. Como resultado da oficina, seria produzida uma manta de “retalhos” com as obras feitas pelos participantes.

Por fim, a oficina ocorreu de forma onde foi possível manter uma energia intimista com bastante conversa entre os participantes e a professora, sendo estas mais focadas na relação das mesmas com o bordado, resgatando memórias de parentes que também bordavam e outros aspectos.

Posteriormente à oficina, foi realizada uma pequena entrevista com alguns dos participantes a fim de saber qual foi o impacto da oficina. Uma das participantes comentou como seria difícil, em seu dia a dia, conseguir tempo para aprender algo na área e que essa teria sido uma ótima oportunidade para isso. Isso pode mostrar uma ressignificação do espaço de exposição que, por estar dentro da Secretaria, acaba recebendo mais visitas de seus próprios trabalhadores e, através da oficina, pode servir como um tipo de escapatória para arriscar um tipo de arte nova ou apenas ter um momento bom, como apontado por algumas, mesmo em ambiente de trabalho.

 

Participantes da oficina - Fotografia: Kamilla Ferreira


Conclusão


A arte da costura e bordado são íntimas e todo, desde as mãos ao material usado, assim como o lugar e companhia que é feito significam muito no processo. Ertzogue, em seu texto “Quando o Bordado e a Memória se Entrelaçam”, nos diz sobre o processo de produção de arpilleras feitas por mulheres durante o regime de Pinochet que “é no modo de costurar que a memórias e a oralidade se entrelaça, pois nas oficinas onde produziam uma peça coletiva, elas compartilhavam histórias de vida” (p.106), uma situação que também pode ser observada no caso apresentado, porém em situação bem mais feliz.


Referencias:

ERTZOGUE, M. H. Quando o bordado e a memória se entrelaçam: imagem e oralidade em Arpilleras amazônicas. História Revista, Goiânia, v. 23, n. 3, p. 104–120, 2019. DOI: 10.5216/hr.v23i3.51464. Disponível em:https://revistas.ufg.br/historia/article/view/51464. Acesso em: 20 nov. 2024.

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM CENTROS DE MEMÓRIA DA JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS PARA DISCUTIR A DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO À JUSTIÇA

 
Universidade Federal de Minas Gerais

Escola da Ciência e da Informação

Disciplina: Função Social dos Museus

Professor: Luiz Henrique Assis Garcia

Aluno(a): Alessandro De Oliveira Rezende, Camila Amanda Moreira Baldassini, Isabela Taylor Santos, Luciana Almeida Tonholli, Maria Moreira Rodrigues


RODA DE CONVERSA


PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM CENTROS DE MEMÓRIA DA JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS PARA DISCUTIR A DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO À JUSTIÇA


Os museus e centros de memória possuem uma função social fundamental: preservar o patrimônio cultural e histórico, além de promover a democratização do conhecimento. No âmbito das instituições de Justiça, esses espaços se tornam ferramentas valiosas para conscientizar a sociedade sobre seus direitos e aproximá-la do sistema judiciário.




No contexto de um projeto acadêmico da disciplina Função Social dos Museus, do curso de Museologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foi proposta uma intervenção educativa nos centros de memória das instituições de Justiça de Minas Gerais. O objetivo foi discutir como esses espaços podem contribuir para a democratização do acesso à justiça e aproximar a população dos valores e práticas judiciais.


A pesquisa abrangeu várias instituições da Justiça de Minas Gerais. Destacam-se:


Centro de Memória da Justiça Eleitoral: Focado em processos eleitorais e sua evolução. Contato: smemo@tre-mg.jus.br.

Centro de Memória do Tribunal Regional do Trabalho: Resgata a história de conflitos trabalhistas e sua resolução. Contato: memoria@trt3.jus.br.


Embora esses espaços tenham grande potencial, foram identificadas dificuldades, como falta de organização e limitações no acesso, que impactam negativamente sua capacidade de engajamento público.


Roda de Conversa com Estudantes


Como parte da intervenção, foram organizadas rodas de conversa com estudantes de Direito, visando discutir a relevância dos centros de memória para a democratização do acesso à justiça. O diálogo foi enriquecido por visitas a centros de memória, onde se analisaram os seguintes pontos:


Importância dos espaços de memória para a formação cidadã.
Desafios para torná-los mais acessíveis e participativos.
Contribuições para o aprendizado sobre o sistema judiciário e seus serviços.





Resultados da Intervenção


As atividades mostraram que os centros de memória podem ser efetivos na educação sobre direitos e no fortalecimento da cidadania, especialmente ao informar sobre:


O papel da Defensoria Pública e dos juizados especiais no acesso à justiça.
Caminhos para acessar serviços jurídicos e compreender os processos judiciais.
No entanto, os estudantes ressaltaram que a falta de divulgação e algumas dificuldades estruturais prejudicam a visibilidade e o impacto desses espaços.


Conclusão

Os centros de memória das instituições de Justiça possuem um enorme potencial para promover o acesso à justiça e à educação cidadã. No entanto, é essencial superar desafios organizacionais e ampliar ações educativas, garantindo que esses espaços cumpram plenamente sua função social.


Sugestões de melhoria:

Aumentar a divulgação dos centros de memória.
Oferecer mais atividades interativas, como rodas de conversa e oficinas.
Estimular parcerias com instituições de ensino para engajar novos públicos.


Referências bibliográficas


A importância dos centros de memória para as instituições e para a sociedade. Disponível em: <https://www.itaucultural.org.br/a-importancia-dos-centros-de-memoria-para-as-instituicoes-e-para-a-sociedade>. Acesso em: 20 nov. 2024.

Acesso à Informação. Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/transparencia-cnj/acesso-a-informacao>. Acesso em: 20 nov. 2024.

Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais. Disponível em: <https://www.tre-mg.jus.br/institucional/memoria-eleitoral/centro-de-memoria-TRE-MG>. Acesso em: 20 nov. 2024.

Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais. Disponível em: <https://portal.trt3.jus.br/escola/institucional/centro-de-memoria>. Acesso em: 20 nov. 2024.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Democratizando o acesso à Justiça: 2022. Brasília: CNJ, 2022. Acesso em: 20 nov. 2024.

O Acervo Artístico da UFMG e sua função social



Universidade Federal de Minas Gerais - Escola de Ciências da Informação

Bacharelado em Museologia - Função Social dos Museus

Docente: Luiz Henrique Assis Garcia
 
 
Discentes: Alice Martins; Clarissa Tomasi; Helen Batista; Letícia Albuquerque; Rafael Pereira Santos e Suzane Rodrigues Brito

O Acervo Artístico da UFMG e sua função social

O intuito dessa atividade é traçar uma discussão com um grupo de pessoas que frequentam o campus Pampulha da UFMG, e que, em teoria, têm contato com as obras do Acervo Artístico da UFMG (AAUFMG) que estão em espaços externos. A proposta está em abordar os usos e percepções atuais dessas obras, como ocorre o contato do público com esse acervo, sobre as dificuldades atuais e necessidades de acessibilidade, e quais seriam as propostas ideais de usos e atividades para esses objetos, em consonância com uma visão social do patrimônio e da arte, onde estes, em conjunto com os museus e demais instituições culturais, devem atuar de forma ativa e conjunta com a sociedade. Para isso, foram selecionadas 15 obras, entre painéis e esculturas, e suas imagens foram impressas, juntamente com um mapa do campus Pampulha, para facilitar a identificação do local ao qual cada obra pertence. Foi proposto aplicar essa dinâmica com os discentes do 1º período do curso de museologia da UFMG, intencionando por adiantar uma abordagem social da museologia com esses estudantes.

Sobre o Acervo Artístico da UFMG

Trata-se de um acervo que se constituiu desde a formação da UFMG, em 1927, sendo composto por aproximadamente 1500 obras de arte de diferentes tipologias, datadas desde o século XVI até a atualidade. Foram adquiridas, em sua maioria, por meio de doação e se encontram espalhadas entre 33 prédios dos diferentes campi da UFMG e em locais externos aos prédios, no campus Pampulha.


A proposta

Foram elaborados um cronograma e um roteiro com perguntas norteadoras das discussões, embasadas nos textos e discussões da disciplina Função Social dos Museus. A atividade se iniciou com uma apresentação da dinâmica; a divisão da turma em 3 grupos, cada um recebendo um kit de imagens e um mapa. Com isso foram propostas perguntas sobre o reconhecimento das obras, sua possível localização, como aconteceu a descoberta dessas obras, se estas estão bem localizadas e possuem uma relação evidente com os prédios próximos ou deveriam estar em outras localidades. Após essa etapa, foi realizada uma explanação sobre o Acervo Artístico da UFMG, sua formação, usos dos acervos e disponibilização de informações, visando fornecer insumos para as discussões seguintes. Na sequência, foi proposto que os grupos conversassem sobre as formas como as obras são expostas atualmente e quais pontos seriam essenciais para uma melhor apreensão dessas para o público, assim como possíveis novas abordagens, apresentações desses objetos e a composição atual e futura desse acervo, os alunos foram convidados a escolherem uma única palavra para definir suas ideias.

Como ocorreu a dinâmica e impressões do grupo

Durante o andamento da dinâmica, percebeu-se que a maioria dos estudantes teve contato com pelo menos alguma das obras selecionadas, ainda que não tivesse conhecimento de todas elas, e suas localizações. Como o grupo era bastante heterogêneo - daí a escolha pelo 1º período - foi possível colher percepções distintas sobre a composição desse acervo. A atividade evidenciou a necessidade da gestão do AAUFMG ter mais ações que permitam à comunidade uma melhor fruição desse acervo, seja disponibilizando-o na sua totalidade de forma virtual, inserindo mais informações sobre as obras nos seus locais de exibição e, talvez o ponto mais significativo, estabelecer diretrizes mais democráticas e plurais na aquisição de novas obras. Palavras como “acessível, disponível, diverso, valorizado e digitalizado” apareceram como mote de “como esse acervo deveria ser”, em contraponto a palavras como “inacessível, omisso, elitizado, restrito, estático” apareceram quando perguntamos como esse acervo aparenta ser atualmente. Ao fim, foi possível perceber que ações, de certa forma simples, como ofertar mais informações sobre as obras, ou mesmo ações de divulgação, pavimentam um caminho de maior aproximação com o acervo como um todo. Entretanto, como desdobramento dessas ações, fica claro que a percepção e desejo do público por um acervo diverso, que retrate questões contemporâneas da arte da sociedade, bem como a reflexão sobre como grafites podem fazer parte desse acervo, são prementes e devem ser incorporadas pela gestão de modo que a comunidade possa se apropriar e estabelecer outros vínculos com o acervo artístico da UFMG.

 


 

                Seleção de obras para a dinâmica                              Mapa do campus Pampulha

 


Aplicação da dinâmica com os alunos do 1º período de museologia.


Bibliografia

ARANTES, A. A. Revitalização da capela de São Miguel Paulista, in: Produzindo o passado: estratégias de construção do patrimônio cultural. São Paulo: Brasiliense: CONDEPHAAT, 1984. 255p.

CURY, Marília Xavier et al. Repensar o museu e a museologia a partir da prática colaborativa com os povos indígenas: Entrevista com Marília Xavier Cury. MIDAS, [S. l.], ano 2024, n. 18, p. 1-1, 13 jun. 2024. Disponível em: <http://journals.openedition.org/midas/5097>. Acesso em: 6 nov. 2024.

UFMG. Sobre o Acervo Artístico da UFMG. Belo Horizonte, 2024. Disponível em: <https://acervos.ufmg.br/inweb/acervoartistico/termosCondicoes.aspx?&Lang=BR&&c=sobre&IPR=2192>. Acesso em: 6 nov. 2024.


quarta-feira, 28 de junho de 2023

OBJETOS AFETIVOS COMO FONTE HISTÓRICA E A CULTURA MATERIAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - UFMG

ESCOLA DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO - ECI

CURSO DE GRADUAÇÃO EM MUSEOLOGIA

DISCIPLINA: METODOLOGIA DA PESQUISA HISTÓRICA EM MUSEUS

PROFESSOR: LUIZ HENRIQUE GARCIA

GRUPO: ADRIANA LAGE BORGES SOUZA, ALÉXIA THIMÓTEO DOMINGUES MATOS, ANSELMO REZENDE GUSMÃO, GABRIELLA MARIA DE ASSIS PEREIRA, NANA FERNANDES ALBUQUERQUE, NARA SANTANA DA SILVA.


“Pela sua própria materialidade, os objetos perpassam contextos culturais diversos e sucessivos, sofrendo reinserções que alteram sua biografia e fazem deles uma rica fonte de informação sobre a dinâmica da sociedade.” (REDE, 1996, p. 276).


INTRODUÇÃO

Partindo da proposta da exposição curricular “Incipit Vita Nova”, de 2023, da 11ª turma de alunos do curso de Museologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o presente trabalho buscou dedicar-se à temática da cultura material e dos objetos de afeto que estudantes que vêm de outras cidades para estudar na UFMG trazem para sua “nova morada” e, dessa forma, tentar traçar um paralelo entre os objetos de afeto e a memória a que eles remetem, bem como sua importância na construção da História Contemporânea. Nesse sentido, entendemos que os objetos, para além de sua função de uso e sua existência material, possuem também a face simbólica e subjetiva da afetividade, que se estabelece a partir da sua interação com o indivíduo. Assim, objetos do cotidiano, como pulseiras, travesseiros e fotografias, podem carregar um caráter sentimental e até mesmo biográfico (NERY, 2017), ajudando a traçar parte da história do indivíduo de quem o objeto um dia pertenceu.


PROCESSO INVESTIGATIVO

Com base nesta proposição, algumas questões foram trazidas, tais como: O que significa o início de uma nova vida para os estudantes que vêm de outras cidades ao ingressarem na UFMG? Como essa vida nova se inicia? O que essa cultura material diz sobre esses estudantes e a sociedade da qual fazem parte? Como esses objetos afetivos se tornam documentos para a historiografia? A nossa pesquisa procurou compreender essas questões e as relações que os objetos de afeto desempenham na construção da memória afetiva dos estudantes que vieram de outras cidades, estados ou países, para iniciar a vida acadêmica na UFMG, em Belo Horizonte. Sendo assim, iniciamos fichamentos de bibliografias para o embasamento teórico no estudo dos objetos afetivos como fonte de cultura material, sua relação com a memória afetiva individual e coletiva, no cenário contemporâneo. Após o levantamento bibliográfico e das hipóteses, o passo seguinte foi realizado em campo, utilizando de entrevistas semiestruturadas, realizadas com estudantes de diversos cursos da UFMG


PESQUISA DE CAMPO - OBJETO DE AFETO

Primeiramente, buscamos utilizar o formulário desenvolvido no Google Forms relacionado com a proposta temática da exposição curricular de Museologia de 2023, Incipit Vita Nova, enviado virtualmente aos estudantes, onde uma das perguntas era sobre os objetos de afeto que eles trouxeram de sua cidade natal para BH. No entanto, essa etapa não foi produtiva, uma vez que obtivemos poucos elementos materiais para sustentar nossa pesquisa. Após algumas reuniões entre os membros do grupo e nosso orientador, percebeu-se a necessidade de prover um trabalho de pesquisa em campo, sobre as relações de vínculos das pessoas com suas origens através dos objetos afetivos. Decidimos sair em três duplas pelo campus da UFMG, para melhor abrangência do espaço e dinâmica das entrevistas.
Roteiro utilizado nas pesquisas, p.1
Roteiro utilizado nas pesquisas, p.2

Conseguimos obter seis bons depoimentos, com suporte material para continuarmos a pesquisa e elementos para a exposição curricular. Buscamos reconhecer nas respostas dos entrevistados a base teórica que foi pesquisada pelo grupo, como, por exemplo, o indivíduo se utiliza do objeto afetivo “longe de ser uma mera fabricação do sujeito, o objeto faz parte da subjetividade" (RAMOS, 2020, p.9). As características físicas do objeto em questão, figuram em segundo plano e não passam mais a ter a mesma impotência ou significado principal para aquela pessoa. Dentro desse contexto de pesquisa, percebemos que esses novos atributos incorporados ou até mesmo perdidos, relativos ao objeto de afeto, carregam histórias que mostram traços comportamentais, de forma isolada ou no âmbito social, do indivíduo que influencia a cultura material. Assim,

"Os bens que conservamos durante décadas podem ser considerados espelhos de nossas experiências da passagem do tempo [...] lembranças de família e as histórias e possíveis estórias que trazem valores intangíveis para objetos, valores repassados de uma geração à outra.” (MOURÃO; OLIVEIRA, 2018, pg.3).


PARTES DE ALGUMAS ENTREVISTAS

“Meu nome é Maria Eduarda. Faço o 6º período de história na UFMG. Vim de Ilicínea, no sul de Minas, perto da cidade de Varginha. Eu trouxe de efetivo fotos reveladas com a minha afilhada. Aí eu trouxe e preguei na parede do meu quarto.[...] Eu acho que, eu não sei se acontece a mesma coisa com as outras pessoas que se mudaram assim, mas eu acho que essas lembranças elas me fazem lembrar que eu tenho um canto, sabe? Porque eu tenho um lugar que é meu. Que eu tenho uma base minha, uma base que fica um pouquinho longe, mas que eu tenho um lugar, então quando eu volta pra Ilicínea, isso me remete, sabe? É quando eu vejo as fotos, é isso me remete a essa questão de ter um lugar. Eu acho que morar longe é aceitar que você vai perder coisas igual perder momentos, perder é situações. Você vê fotos da sua família fazendo reuniões? Perder o Dia das Mães do lado da mãe. Perder vários momentos assim, formatura da escolinha [...].”
Imagem cedida por Maria Eduarda. Acervo pessoal.

Imagem cedida por Maria Eduarda. Acervo pessoal.




“Meu nome é Davi, sou de Brasília, tenho 20 anos, faço curso de Direito. Tô morando na casa de parentes em BH. Um objeto específico não, […] mas um cobertor pelo fato de minha mãe ter me dado que eu usei a vida inteira, é um cobertor de afeto.”

“Meu nome é Ludyelle. Eu sou de Sete Lagoas, tenho 24 anos. Eu curso Letras e estou no 10º período. A única coisa que eu trouxe, eu acho que é um pouco que me trazia a casa assim foi um cobertor que eu trouxe. Isso aí, quando eu dormia, eu me sentia em casa. Minha mãe me deu o cobertor. Até hoje. Uma relíquia. Ele representava lembrança de casa […]”
 
Ludyelle e sua mãe enroladas no cobertor. Acervo pessoal.

“Meu nome é Gabriel, sou do 9º período do curso de Bacharelado de Violino e vim de Contagem. [...] Eu tenho uma pulseira, que tipo, foi no período que eu estava lá na minha cidade, no período que eu estava ligado à minha igreja, na minha cidade natal. Foi um período em que eu estava muito conectado com minha família, com a comunidade e com a igreja.”

Pulseira do Gabriel. Acervo pessoal.

Maraísa, estudante do 8° período de História, da cidade de Oliveira (MG) - “[...] é o meu computador. É uma coisa muito boba, mas é porque ele foi a primeira coisa [...] que eu comprei com meu salário. É a coisa que eu mais guardo, sabe? Eu tenho uma coisinha afetiva com ele [...] porque, apesar de tudo, ele é o que eu levei [...] depois usei para estudar para o Enem, o que eu levei para Divinópolis e o que eu trouxe pra cá. [...] ele tem um valor sentimental, foi a primeira coisa que eu consegui comprar com o meu salário [...]”.
Computador da Maraísa. Acervo pessoal.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da proposta investigativa, sobre a importância do objeto como fonte documental e, ainda, sobre relação entre o sujeito e o objeto, foi possível conceber, ao longo dessa pesquisa, considerações que confirmam ponto inicial da pesquisa, o de uma atuação do objeto que ultrapassa sua existência meramente material e adquire uma face subjetiva de afetividade, pois “[...] a materialidade é um atributo inerente, mas que, porém, não esgota o objeto culturalmente considerado [...]” (REDE, 1996, p.274).

Durante a realização do trabalho de campo, foi possível aprofundar nossa compreensão de como a pesquisa empírica contribui para reconhecer o objeto afetivo e suas relações com a memória pessoal, coletiva e a cultura material contemporânea. Nesse sentido, foi possível observar que todos os alunos entrevistados demonstraram grande apreço pelos itens, independente de seu valor material, sendo as memórias que estes remeteram o que era mais significativo. Por fim, diante do predomínio da relação do sujeito com o objeto, bem como o significado dessas relações para suas memórias e histórias, é possível reiterar que os objetos, como fonte de informação histórica, são fundamentais para a análise das relações, de características e comportamentos, tanto individuais quanto de grupos.

REFERÊNCIAS

BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças dos velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4504474/mod_resource/content/1/BOSI%2C%20E.%20Mem%C3%B3ria%20e%20sociedade.%20Introdu%C3%A7%C3%A3o.pdf Acesso em 17 de maio de 2023.

FERREIRA, JUNIOR, 2020, Patrimônio cultural no Brasil. Disponível em: https://diversitas.fflch.usp.br/files/patriminio%20cultural%20no%20brasil.pdf . Acesso em 17 de maio de 2023.

FUNARI, Pedro Paulo de Abreu. Memória Histórica e Cultura Material. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 13, nº25/26, p. 13-31, 1993.

MOURÃO, Nadja Maria, OLIVEIRA, Célia Carneiro. Design social: objetos biográficos do cotidiano, memória social. In.:Chapon. Linguagens do Design: comunicação, cultura e arte. Edição v. 1 n. 1 21-11-2018 . pg 02-15.

NERY, Olivia Silva. Objeto, memória e afeto: uma reflexão. Universidade Federal de Pelotas. Doutoranda em História pela PUCRS, bolsista CAPES. Revista Memória em Rede, Pelotas, v.10, n.17, Jul./Dez.2017 – ISSN- 2177-4129. Periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/Memoria. http://dx.doi.org/10.15210/rmr.v8i14.7485.

RAMOS, Francisco Régis Lopes. Em nome do objeto: museu, memória e ensino de história. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2020.

REDE, Marcelo. História a partir das coisas: tendências recentes nos estudos de cultura material. In.: Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Sér. v.4 p.265-82 jan./dez. 1996. Disponível em: https://www.scielo.br/j/anaismp/a/JNDbcs773QLQfh84cPBRyjH/?lang=pt&format=pdf . Acesso em 27 abr 2023.

XAVIER, Érica S. Ensino e História: O uso das fontes históricas como ferramentas na produção de conhecimento histórico. In: Revista Antíteses, vol.3. pag. 1097-1112. 2010. Disponível em: https://docplayer.com.br/68559304-Ensino-e-historia-o-uso-das-fontes-historicas-como-ferramentas-na-producao-de-conhecimento-historico.html. Acesso em 25 abr 2023.

Museu dos Brinquedos: A história da representação de pessoas pretas a partir de bonecas industrializadas

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

ESCOLA DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

METODOLOGIA DA PESQUISA HISTÓRICA EM MUSEUS

PROFESSOR: Luiz Henrique Assis Garcia

ALUNAS: Esther Pereira Inácio, Jéssica de Freitas Rabelo Amorim, Maria Beatriz de Moraes Silva, Maria Elisa Pereira Aguiar


A temática

É correto afirmar que, dentro do fazer histórico, o documento é um elemento importante para a compreensão acerca dos ideais, valores e comportamentos dos indivíduos pertencentes a uma sociedade. Neste sentido, é perceptível que os documentos históricos são elementos que “não focalizam os acontecimentos particulares por si sós, mas pelo que revelam sobre a cultura em que ocorreram” (BURKE, 1992). Com isso, o documento é capaz de revelar características sociais e culturais de uma sociedade, além de possibilitar a criação de narrativas que não possuem como foco somente o passado, como também a atualidade.

A partir disso, a temática escolhida utiliza como recorte um documento histórico presente no cotidiano de muitas pessoas, utilizado por diversas gerações: a boneca. Utilizando como recorte as bonecas industrializadas, a pesquisa realizada possui como objetivo analisar as relações entre as bonecas industrializadas e a representação de pessoas pretas por meio dessas bonecas. Desse modo, busca-se analisar, através de um recorte de raça, a relação entre essas bonecas, a representação de pessoas pretas por meio dessas bonecas ao decorrer da história e as narrativas que podem ser criadas através delas. Para isso, a instituição utilizada como base para a produção da pesquisa foi o Museu dos Brinquedos, localizado na Avenida Afonso Pena, no centro de Belo Horizonte.


A representação de pessoas pretas na indústria dentro da história do Brasil

Cechin e Da Silva (2012) explicam como, num contexto totalmente diferente, a boneca Barbie pode ser utilizada como um exemplo de documento ao passo que é a boneca mais famosa do mundo e possui características caucasianas e ‘descendência’ alemã. Ou seja, através dela, valores de supremacia são repassados para crianças desde a infância não só contribuindo com a manutenção de um status quo dominante mas também perpetuando-o e ensinando, além de incorporar objetos como roupas, acessórios, utensílios, artefatos de cultura para torná-la mais próxima de marcas da realidade e criar um molde de consumo não só em torno das bonecas, mas do que elas usavam e na difusão de tais marcas. Em outras palavras, a pressão midiática e de publicidade difundindo valores sociais conservadores. As imagens de feminilidade que a boneca Barbie demonstra e problematizam as narrativas e discursos reproduzidos através da mesma. Ademais, ela sustenta o argumento de universalidade feminina como se houvesse apenas uma referência e modelo específico. Elas explicam que “[a]rticular educação inclusiva e a diversidade no cotidiano escolar é um desafio, pois pressupõe a compreensão da alteridade. Para isso, é necessário desfazer as tramas da exclusão e abrir espaço para as múltiplas formas de ser sujeito dentro de uma cultura e um tempo histórico”. (CECHIN, DA SILVA, 2012, p. 624).

Os primeiros registros e objetos que se tem sobre a produção de bonecas pretas no Brasil com propósito explícito de representação de pessoas negras são as bonecas Abayomis, recriadas nos anos 80 pela artesã e socioeducadora Lena Martins, sendo uma reprodução das bonecas que eram feitas para crianças escravizadas em meio a diáspora negra no Brasil. Essas bonecas são feitas de pequenas tiras de pano que são amarradas para formar cabeça e membros de um corpo humano. As mães faziam bonecas com pedaços de suas roupas, sendo simples de fabricar e pequenas o suficiente para esconder dos escravagistas. A partir da análise realizadas sobre essas bonecas, é possível afirmar que, ainda que não fossem produtos industrializados, esses itens funcionavam como um instrumento de resistência para as comunidades africanas escravizadas. Dentro dessa perspectiva, as bonecas Abayomi revelam aspectos voltados a um recorte racial a respeito do documento histórico, mostrando que a boneca possui funções que não se limitam ao brincar.

Colocando essas bonecas dentro da perspectiva dos brinquedos industrializados do século XX, é possível citar como exemplo, a partir das imagens do Blog de Ana Caldatto, algumas bonecas dos anos 60 como a “ neguinha” da coleção Sapequinha da fábrica “ Estrela”. Dentro dessa conjuntura, deve ser considerada também a forma como os estereótipos são colocados na boneca, tanto fisicamente quanto em seus adornos e nome, fato que prova que mesmo com a comercialização das bonecas, a promoção e o reforço de clichês que contribuem para o racismo. Além disso, é possível citar as bonecas Susi negras, dos anos 70, com estilo mais fashionista e despojado. A partir dos anos 80, 90, há uma mescla na comercialização de bonecas pretas da Barbie e Susi transitando entre a moda praiana e referências a tendências de estilo da época. Hodiernamente, apesar da baixa produção de bonecas pretas, há uma maior variedade de estilos, como a boneca Nenequinha Clássica, lançada no início dos anos 2000, além do lançamento da Mattel de 2020 da boneca negra candidata a presidência.


Catálogo da Boneca Sapeca. Fonte: Arquivo pessoal de Ana Caldatto

Com o passar dos anos, a temática têm sido disseminada de forma ampla, ganhando espaço em variados contextos. Neste sentido, Oliveira e Amorim (2020) discorrem em seu artigo “Bonecas negras na formação de identidades positivas das crianças na educação infantil”, apresentado no VII CONEDU, em 2020, sobre como a introdução de outros formatos de boneca impactam positivamente no desenvolvimento e construção de um universo diverso e inclusivo. Dessa forma, é necessário reconhecer a potência de bonecas diversificadas e atividades lúdicas utilizando-as são importantes para sentimento de inclusão, acolhimento e representatividade de um grupo marginalizado por gênero, cor de pele e estrutura econômica, já que o Brasil vem de uma tradição escravocrata. Ao verificar a importância da brincadeira, foi percebido por Cechin e Da Silva (2012) como os dispositivos utilizados na brincadeira são importantes para o desenvolvimento de habilidades sociais como incentivo para as crianças refletirem e falarem sobre si mesmas. Dessa forma, a pesquisa aponta para a importância do empoderamento desse grupo social em vulnerabilidade há seculos devido ao passado escravagista do Brasil e fortalecimento de movimentos como o feminismo negro mediante narrativas e a existência de bonecas diversificadas.

Várias bonecas pretas. Fonte: Arquivo pessoal de Ana Caldatto


O Museu dos Brinquedos e a representatividade de pessoas pretas

Aberto em 2006, o Museu dos Brinquedos foi inaugurado com a missão de promover a preservação e a valorização da infância no Brasil. Com uma coleção particular de brinquedos, construída pela mineira Luiza Meyer, conhecida como Vovó Luiza, o museu possui como maior foco o público infantil, sendo um local aberto a muitas famílias. Além da possibilidade de visualização da exposição, o museu conta com ações educativas que propõem a interação com o lúdico e com o ato de brincar, sendo possível interagir com algumas peças do acervo. Dessa forma, o acervo do museu conta com mais de 5.000 brinquedos dentro de seu acervo, estando cerca de 800 expostos para a observação do público. Dentre os itens, há uma coleção de Barbies, idealizada e cedida ao museu pelos colecionadores Marcelo Ferraz e Marta Alencar. Dentro da coleção, é possível ver uma grande variedade de bonecas, nas quais é possível encontrar bonecas de diferentes etnias, raças, vestimentas, tipos de corpo e gêneros, sendo uma coleção que chama a atenção pela diversidade de modelos entre as bonecas.

Fotografias da coleção de Barbies no Museu dos Brinquedos. Fotografia: Maria Elisa Pereira Aguiar.




Considerações finais

A partir das pesquisas feitas em relação à fabricação de bonecas pretas, bem como seus impactos sociais na questão da representatividade direcionada ao público alvo, percebe-se primeiramente as mudanças tanto físicas quanto ao seu estereótipo no passar das décadas. Neste sentido, é possível utilizar como exemplo as imagens do blog de Ana Caldatto “ Coleção Bonecas Negras Black Dolls”, onde há mudanças consideráveis nas bonecas dos anos 60, tendo como exemplo a boneca “ Neguinha”, fabricada e comercializada pela empresa “ Estrela”. Além desse modelo, é possível citar as bonecas Susi com tons de pele mais variados nos anos 70, além de variações de bonecas no estilo “ bebê”, fabricadas nos anos 2000 e das barbies, também fabricadas no início do mesmo ano, com estilo praiano e fashionista. o que corrobora com a citação de Burke, sobre a conexão entre os documentos e acontecimentos históricos. Há também os impactos sociais quando se reflete a temática da representatividade para com as minorias, onde indivíduos negros, ao se enxergar nas bonecas, também se enxergam nos espaços sociais como pessoas. Além de firmarem suas identidades como seres pertencentes a sua cultura, outros também o enxergam como seres humanos, tendo outras percepções acerca das múltiplas raças presentes. Existem consequências positivas em relação ao feminismo negro, que se alinham na questão da visibilidade como uma arma para reconhecimento e inserção de seus corpos de forma humanizada ( sem a hipersexualização, como podemos ver no lançamento da mattel em relação a boca candidata, ) e conquistando espaços de poder. Por fim, o Museu dos Brinquedos também expõe bonecas pretas, não somente com o intuito de preservar objetos da infância, mas também de expor tais bonecas com a intenção de promover a diversidade e a percepção do outro no que tange a questões raciais.

Referências bibliográficas


BURKE, Peter (org.). A história dos acontecimentos e o renascimento da narrativa In: A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992, p.327-348.


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SILVA , Maria Clara. Mulher Negra Hoje. In: SILVA , Maria Clara. Preta Pretinha: A história por trás da primeira loja de bonecas negras no Brasil. [S. l.]: Mundo Negro, 24 jul. 2020. Disponível em: https://mundonegro.inf.br/preta-pretinha-a-historia-por-tras-da-primeira-loja-de-bonecas-negras-do-brasil/#:~:text=Bonecas%20sem%20estere%C3%B3tipo%20que%20representassem,Pretinha%20Bonecas%20surgiu%20em%202000. Acesso em: 20 jun. 2023.


REIS, A. OFICINA DE BONECAS ABAYOMI - RELATO DE EXPERIÊNCIA DE ACADÊMICAS DA ÁREA DE SAÚDE. Revista Corixo de Extensão Universitária, Cuiabá, MT, v. 8, n. VIII, 2022. Disponível em: https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/corixo/article/view/12193. Acesso em: 31/05/2023.

OLIVEIRA, Ednalva Rodrigues De. Bonecas negras na formação de identidades positivas das crianças na educação infantil. VII CONEDU - Conedu em Casa... Campina Grande: Realize Editora, 2021. Disponível em: https://mail.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/81372. Acesso em: 31/05/2023