quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

SERIAM OS MUSEUS ATUAIS APENAS UMA CONTINUIDADE DOS GABINETES DE CURIOSIDADES?

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

DEPARTAMENTO DE TEORIA E GESTÃO DA INFORMAÇÃO

ESCOLA DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

BACHARELADO EM MUSEOLOGIA

DISCIPLINAS DA GRADUAÇÃO

TIPOLOGIA DE MUSEUS

 
Prof. Dr. Luiz Henrique Assis Garcia

Discentes: Beatriz Barbosa Cavalcanti; Bruna Ribeiro Diniz; Cecília Ferreira de Almeida e Silva; Ingrid Duboc Ferreira Dias do Santos Brandão; Yan Nicholas Sauâne De Benedetti

SERIAM OS MUSEUS ATUAIS APENAS UMA CONTINUIDADE DOS GABINETES DE CURIOSIDADES?

Entender os museus, mesmo que de contextos históricos, tipologias ou localidades diferentes, pode depender de conhecimentos prévios sobre os gabinetes de curiosidade, já que estes são compreendidos por alguns autores como uma forma embrionária da formulação dos museus - ou seja, um fenômeno que deu origem aos museus como conhecemos hoje.


Você sabe o que são gabinetes de curiosidade? Como esse fenômeno, que teve seu auge na Europa dos séculos XV ao XVII, pode influenciar os museus nos dias de hoje? Além disso, como os museus podem dialogar com estas raízes sem repetir suas problemáticas?


O “MICROCOSMOS” DO SÉCULO XV


Frequentemente, o colecionismo do século XV ao XVII é ilustrado em livros didáticos com as clássicas figuras dos gabinetes de curiosidades de grandes colecionadores, como Manfredo Settala e Ole Worm (Imagens 1 e 2). Essas ilustrações retratam efetivamente a elaboração conceitual de que os gabinetes de curiosidades funcionavam como “microcosmos”. Essa definição expõe que as coleções do período em questão tinham como objetivo principal a representação máxima do mundo e da natureza em um só cômodo.

 


 

 





Estas coleções pertenciam a aristocratas, que as reuniam através de relações comerciais, proporcionadas pelo avanço naval da época. Os diversos tipos de objetos se dividiam em: Naturalia (objetos da natureza); Artificialia (objetos produzidos por pessoas) e Mirabilia (Objetos “maravilhosos”, “miraculosos” e “misteriosos”).


Justamente por buscarem abranger o mundo todo em um cômodo, para nós, essas imagens podem se mostrar, em um primeiro momento, como espaços bagunçados e confusos. No entanto, os gabinetes de curiosidades tratavam-se de métodos extremamente didáticos e, portanto, organizados, acerca do funcionamento da natureza e das relações humanas. Os objetos seguiam uma linha de pensamento e uma ordem lógica em sua exposição, diferente do que o imaginário popular supõe.


É necessário abordar, também, as questões sociais envolvidas no universo dos gabinetes de curiosidade. Os gabinetes possuíam uma tendência recorrente a estabelecer relações hierárquicas entre povos culturalmente distintos, sustentando uma narrativa de superioridade Europeia. Estas narrativas interessavam muito aos Estados Nacionais que se formavam na época, que precisavam se sustentar, e utilizavam da estratégia do nacionalismo para isso.



QUESTIONANDO OS MUSEUS


Atualmente, é comum encontrarmos instituições museológicas que passaram por transformações em seu caráter administrativo que, no passado, representavam ideologias totalizadoras e, nos dias de hoje, buscam por um maior percentual de participação e/ou representação social. Se antes traziam narrativas unilaterais que contavam uma história única, agora buscam por encontrar um equilíbrio entre os estudos acadêmicos e as vivências daqueles que são abordados em suas exposições, investindo em atividades interativas e acessíveis para diferentes públicos.


Um desses casos clássicos é o Museu Paulista, recorrentemente referido pelo nome Museu do Ipiranga (até mesmo pela própria instituição). Ele teve sua criação pautada em uma visão generalista da nação brasileira. Inclusive, sua abertura teve foco em processos educativos para a própria população brasileira, como forma de moldar a ótica popular sobre a sua própria identidade. Ainda hoje, é possível observar resquícios dessas escolhas realizadas no passado, ressaltando ainda a apresentação mantida do saguão, das escadarias e salão nobre; desde as ânforas dos rios do país, até as esculturas de bronze dos “grandes ícones nacionais”.


Apesar disso, algumas das exposições buscam transformar esse acervo em algo mais dinâmico e com reflexões que buscam contar outras histórias além da tradicional, como por exemplo a “Territórios em disputa” e a “Passados imaginados”.


https://museudoipiranga.org.br/exposicoes/



Se as sociedades se transformam, se as discussões sociais avançam e se nossas visões se ampliam, porque os museus também não podem sofrer esta metamorfose? Ao refletir sobre os gabinetes de curiosidade e sua influência nos museus de hoje, é possível notar de onde alguns elementos museais vêm, mas isso não pode se tornar um determinismo sobre para onde os museus vão. O que, hoje, nos ajuda a escapar da narrativa unilateral dos gabinetes? O que podemos aprender com eles, em questão de catalogação de objetos?


Analisando algum museu ou espaço museal, o que podemos discutir?



REFERÊNCIAS

Imagem 1 (Disponível em: https://boudewijnhuijgens.getarchive.net/amp/topics/manfredo+settala+s+cabinet)


Imagem 2 (Disponível em: https://www.meisterdrucke.pt/impressoes-artisticas-sofisticadas/G.-Wingendorp/200866/Frontisp%C3%ADcio-do-gabinete-de-curiosidades-de-Ole-Worm-do-&39;Museum-Wormianum&39;-de-Ole-Worm,-publicado-em-1655.html)


BIBLIOGRAFIA


CHAGAS, Mário de Souza. Os museus e os sonhos: panorama museológico brasileiro no século XIX e início do século XX. In: Há uma gota de sangue em todo museu: a ótica museológica de Mário de Andrade/Mário de Souza Chagas. Chapecó: Argos, 2006. 135 p.

BLOM, Philipp. O dragão e o carneiro tártaro. In: Ter e Manter. Uma história íntima de coleções e colecionadores. Rio de Janeiro: Record, 2003. p. 29-42.

BREFE, Ana Cláudia Fonseca. O Museu Paulista: Affonso de Taunay e a memória nacional. São Paulo: UNESP; Museu Paulista, 2005.

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