terça-feira, 22 de novembro de 2022

Visita ao Intituto Tomie Ohtake - Exposição "O Rinoceronte: 5 séculos de gravuras do Museu Albertina"

No último dia de uma recente visita a São Paulo, aproveitei a dica do colega Amilcar Almeida Bezerra e fui conferir a exposição de gravuras da coleção do Museu Albertina no Instituto Tomie Ohtake. Obras de tirar o fôlego, inclusive a que dá título à mostra, da lavra de Albrecht Dürer, que ilustra um incontável número de livros, em campos tão diferentes quanto a biologia, a história e as artes. Entre outros trabalhos de artistas que admiro, me emocionou muito o "Modo de voar" de Goya, pela minha paixão de infância pela aviação, e por ilustrar a capa de um dos livros mais marcantes pra mim em toda a historiografia, "A noite dos proletários" de Jacques Rancière. Encontrei claro outros favoritos, como Klimt, Klee, Munch e Toulouse-Lautrec - evidente a preferência pela passagem século XIX-XX do coração... A disposição é essencialmente cronológica e não há maiores discussões ou criatividades expográficas. Depois de ter passado por exposições inovadoras no Museu do Ipiranga e na Pinacoteca, ficou uma certa sensação de acomodação, com seus prós e contras. Certamente que seria possível ir além da narrativa óbvia e valorizar mais o esforço de trazer uma coleção de valia como essa, e ainda precisamos insistir mais para que exposições de arte, mesmo canônicas, ambicionem ser mais efetivas em alcançar um público menos acostumado e familiarizado com tal linguagem e seus lugares-comuns, como já foi provado em outras ocasiões e instituições. Isso dito, é perfeitamente possível reconhecer a maestria dos traços de grandes artistas que atravessam os séculos.

Do site: https://www.institutotomieohtake.org.br/exposicoes/interna/gravuras-do-museu-albertina

"Os trabalhos reunidos em O Rinoceronte: 5 Séculos de Gravuras do Museu ALBERTINA são provenientes do maior acervo de desenhos e gravuras do mundo, o The ALBERTINA Museum Vienna, fundado em 1776, em Viena, que conta com mais de um milhão de obras gráficas. A seleção das 154 peças para esta mostra, organizada pelo curador chefe do museu austríaco, Christof Metzger, em diálogo com a equipe de curadoria do Instituto Tomie Ohtake, é mais um esforço da instituição paulistana de dar acesso ao público brasileiro a uma coleção de história da arte, não disponível em acervos do país.

Com trabalhos de 41 mestres, do Renascimento à contemporaneidade, a exposição, que tem patrocínio da CNP Seguros Holding Brasil, chega a reunir mais de dez trabalhos de artistas célebres, para que o espectador tenha uma visão abrangente de suas respectivas produções em série sobre papel. “A exposição constrói uma ponte desde as primeiras experiências de gravura no início do século XV, pelos períodos renascentista, barroco e romântico, até o modernismo e à arte contemporânea, com gravuras mundialmente famosas”, afirma o curador.

O recorte apresentado traça um arco, com obras de 1466 a 1991, desenhado por artistas marcantes em suas respectivas épocas, por meio de um suporte que, por sua capacidade de reprodução, desenvolvido a partir do final da Idade Média, democratizou ao longo de cinco séculos o acesso à arte. O conjunto, além de apontar o aprimoramento das técnicas, consegue refletir parte do pensamento, das conquistas e conflitos que atravessaram a humanidade no período.

Do Renascimento, cenas camponesas, paisagens, a expansão do novo mundo pautado pela razão e precisão técnica desatacam-se nas calcogravuras (sobre placa de cobre) de Andrea Mantegna (1431–1506), as mais antigas da mostra, e de Pieter Bruegel (1525–1569), e nas xilogravuras de Albrecht Dürer (1471 - 1528), pioneiro na criação artística nesta técnica, cuja obra “Rinoceronte” (1515) dá nome à exposição. O artista, sem conhecer o animal, concebeu sua figura somente por meio de descrições. O processo, que ecoou em Veneza, fez com que Ticiano (1488 – 1576) fosse o primeiro a permitir reprodução de suas obras em xilogravura por gravadores profissionais. Já a gravura em ponta seca, trabalho direto com o pincel mergulhado nas substâncias corrosivas, possibilitava distinções no desenho e atingiu o ápice nas obras de Rembrandt (1606–1669), que acrescentou aos valores da razão renascentista a sua particular fascinação pelas sombras.

Nos séculos XVII e XVIII, possibilitou-se com a meia tinta, o efeito sfumato, e com a água tinta, a impressão de diversos tons de cinza sobre superfícies maiores. Francisco José de Goya y Lucientes (1746–1828) foi um dos mestres desta técnica, aprofundando a questão da sombra em temas voltados à peste e à loucura. Enquanto Giovanni Battista Piranesi (1720–1778) tem a arquitetura como tônica de suas gravuras em água forte, na mesma técnica Canaletto (1697–1768) constrói panoramas de Veneza.

No século XIX com a descoberta da litografia, com o clichê e a autotipia foi possível realizar a impressão em grandes tiragens sem desgaste da chapa de impressão e a consequente perda de qualidade associada ao processo. Diante disso, artistas tiveram disponível um amplo espectro de técnicas, a exemplo de Henri de Toulouse-Lautrec (1864–1901), o primeiro pintor importante a se dedicar também ao movimento artístico dos cartazes. A metrópole, sua face boêmia e libertina foram amplamente reproduzidas pelo francês, um dos pós-impressionistas, como Édouard Vuillard (1868–1940), que revolucionaram a cromolitografia e influenciaram artistas do final do século XIX e começo do XX, como Edvard Munch (1863–1944), precursor do Expressionismo, movimento no qual notabilizaram-se Ernst Ludwig Kirchner (1880–1938), Max Beckmann (1884–1950) e Käthe Kollwitz (1867–1945). Das joias da coroa austríaca estão dois de seus principais representantes: Gustav Klimt (1862–1918) e Egon Schiele (1890–1918). Como reação ao expressionismo, encontra-se George Grosz (1893–1959), um dos fundadores da Nova Objetividade, corrente de acento realista e figurativo que respondeu ao febril Período entreguerras.

A exposição, realizada com a colaboração da Embaixada da Áustria no Brasil, reúne outros nomes seminais da história da arte moderna como Paul Klee (1879–1940), um conjunto de várias fases de Pablo Picasso (1881–1973), Henri Matisse (1869–1954), Marc Chagall (1887–1985); alcança ainda artistas pop, que se utilizaram particularmente da serigrafia a partir de 1960, como Andy Warhol (1928–1987), até chegar nos mais contemporâneos como Kiki Smith (1954–), além de outros mestres do século XX."

 

Francisco Goya, Os provérbios: modo de voar. 1810-1815

Jacopo Barbari, Vista de Veneza. 1500
Pieter Brugel, o velho. A tentação de St. Antônio, 1556

Paul Klee, Virgem na árvore. 1903

Gustav Klimt, põster da 1ª Exposição de Arte da Associação dos Artistas Plásticos de Sucessão Austríaca (após a censura). 1898 

Albrechet Dürer, O monstro marinho. 1493  
Marc Chagall, Os Pintores. 1923-1927 


Edvard Munch, Madonna. 1895-1902




Algumas obras pela Folha de São Paulo

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