No último dia de uma recente visita a São Paulo, aproveitei a dica do colega Amilcar Almeida Bezerra e fui conferir a exposição de gravuras da coleção do Museu Albertina no Instituto Tomie Ohtake. Obras de tirar o fôlego, inclusive a que dá título à mostra, da lavra de Albrecht Dürer, que ilustra um incontável número de livros, em campos tão diferentes quanto a biologia, a história e as artes. Entre outros trabalhos de artistas que admiro, me emocionou muito o "Modo de voar" de Goya, pela minha paixão de infância pela aviação, e por ilustrar a capa de um dos livros mais marcantes pra mim em toda a historiografia, "A noite dos proletários" de Jacques Rancière. Encontrei claro outros favoritos, como Klimt, Klee, Munch e Toulouse-Lautrec - evidente a preferência pela passagem século XIX-XX do coração... A disposição é essencialmente cronológica e não há maiores discussões ou criatividades expográficas. Depois de ter passado por exposições inovadoras no Museu do Ipiranga e na Pinacoteca, ficou uma certa sensação de acomodação, com seus prós e contras. Certamente que seria possível ir além da narrativa óbvia e valorizar mais o esforço de trazer uma coleção de valia como essa, e ainda precisamos insistir mais para que exposições de arte, mesmo canônicas, ambicionem ser mais efetivas em alcançar um público menos acostumado e familiarizado com tal linguagem e seus lugares-comuns, como já foi provado em outras ocasiões e instituições. Isso dito, é perfeitamente possível reconhecer a maestria dos traços de grandes artistas que atravessam os séculos.
Do site: https://www.institutotomieohtake.org.br/exposicoes/interna/gravuras-do-museu-albertina
"Os
trabalhos reunidos em O Rinoceronte: 5 Séculos de Gravuras do Museu
ALBERTINA são provenientes do maior acervo de desenhos e gravuras do
mundo, o The ALBERTINA Museum Vienna, fundado em 1776, em Viena, que conta com
mais de um milhão de obras gráficas. A seleção das 154 peças para esta mostra,
organizada pelo curador chefe do museu austríaco, Christof Metzger, em diálogo
com a equipe de curadoria do Instituto Tomie Ohtake, é mais um esforço da
instituição paulistana de dar acesso ao público brasileiro a uma coleção de
história da arte, não disponível em acervos do país.
Com
trabalhos de 41 mestres, do Renascimento à contemporaneidade, a exposição, que
tem patrocínio da CNP Seguros Holding Brasil, chega a reunir mais de dez
trabalhos de artistas célebres, para que o espectador tenha uma visão
abrangente de suas respectivas produções em série sobre papel. “A exposição
constrói uma ponte desde as primeiras experiências de gravura no início do
século XV, pelos períodos renascentista, barroco e romântico, até o modernismo
e à arte contemporânea, com gravuras mundialmente famosas”, afirma o curador.
O
recorte apresentado traça um arco, com obras de 1466 a 1991, desenhado por
artistas marcantes em suas respectivas épocas, por meio de um suporte que, por
sua capacidade de reprodução, desenvolvido a partir do final da Idade Média, democratizou
ao longo de cinco séculos o acesso à arte. O conjunto, além de apontar o
aprimoramento das técnicas, consegue refletir parte do pensamento, das
conquistas e conflitos que atravessaram a humanidade no período.
Do
Renascimento, cenas camponesas, paisagens, a expansão do novo mundo pautado
pela razão e precisão técnica desatacam-se nas calcogravuras (sobre placa de
cobre) de Andrea Mantegna (1431–1506), as mais antigas da mostra, e de Pieter
Bruegel (1525–1569), e nas xilogravuras de Albrecht Dürer (1471 - 1528),
pioneiro na criação artística nesta técnica, cuja obra “Rinoceronte” (1515) dá
nome à exposição. O artista, sem conhecer o animal, concebeu sua figura somente
por meio de descrições. O processo, que ecoou em Veneza, fez com que Ticiano (1488
– 1576) fosse o primeiro a permitir reprodução de suas obras em xilogravura por
gravadores profissionais. Já a gravura em ponta seca, trabalho direto com o
pincel mergulhado nas substâncias corrosivas, possibilitava distinções no
desenho e atingiu o ápice nas obras de Rembrandt (1606–1669), que acrescentou
aos valores da razão renascentista a sua particular fascinação pelas sombras.
Nos
séculos XVII e XVIII, possibilitou-se com a meia tinta, o efeito sfumato, e com
a água tinta, a impressão de diversos tons de cinza sobre superfícies maiores.
Francisco José de Goya y Lucientes (1746–1828) foi um dos mestres desta
técnica, aprofundando a questão da sombra em temas voltados à peste e à
loucura. Enquanto Giovanni Battista Piranesi (1720–1778) tem a arquitetura como
tônica de suas gravuras em água forte, na mesma técnica Canaletto (1697–1768)
constrói panoramas de Veneza.
No
século XIX com a descoberta da litografia, com o clichê e a autotipia foi
possível realizar a impressão em grandes tiragens sem desgaste da chapa de
impressão e a consequente perda de qualidade associada ao processo. Diante
disso, artistas tiveram disponível um amplo espectro de técnicas, a exemplo de
Henri de Toulouse-Lautrec (1864–1901), o primeiro pintor importante a se
dedicar também ao movimento artístico dos cartazes. A metrópole, sua face
boêmia e libertina foram amplamente reproduzidas pelo francês, um dos
pós-impressionistas, como Édouard Vuillard (1868–1940), que revolucionaram a
cromolitografia e influenciaram artistas do final do século XIX e começo do XX,
como Edvard Munch (1863–1944), precursor do Expressionismo, movimento no qual
notabilizaram-se Ernst Ludwig Kirchner (1880–1938), Max Beckmann (1884–1950) e
Käthe Kollwitz (1867–1945). Das joias da coroa austríaca estão dois de seus
principais representantes: Gustav Klimt (1862–1918) e Egon Schiele (1890–1918).
Como reação ao expressionismo, encontra-se George Grosz (1893–1959), um dos
fundadores da Nova Objetividade, corrente de acento realista e figurativo que
respondeu ao febril Período entreguerras.
A exposição, realizada com a colaboração da Embaixada da Áustria no Brasil, reúne outros nomes seminais da história da arte moderna como Paul Klee (1879–1940), um conjunto de várias fases de Pablo Picasso (1881–1973), Henri Matisse (1869–1954), Marc Chagall (1887–1985); alcança ainda artistas pop, que se utilizaram particularmente da serigrafia a partir de 1960, como Andy Warhol (1928–1987), até chegar nos mais contemporâneos como Kiki Smith (1954–), além de outros mestres do século XX."
Francisco Goya, Os provérbios: modo de voar. 1810-1815 |
Jacopo Barbari, Vista de Veneza. 1500 |
Pieter Brugel, o velho. A tentação de St. Antônio, 1556 |
Paul Klee, Virgem na árvore. 1903 |
Gustav Klimt, põster da 1ª Exposição de Arte da Associação dos Artistas Plásticos de Sucessão Austríaca (após a censura). 1898 |
Albrechet Dürer, O monstro marinho. 1493 |
Marc Chagall, Os Pintores. 1923-1927 |
Edvard Munch, Madonna. 1895-1902 |
Nenhum comentário:
Postar um comentário