segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Proposta para o Museu de Artes e Ofícios - Legendas expandidas como intervenção

Grupo responsável pelo trabalho de intervenção museal proposta dentro da disciplina Função Social dos Museus :

Evelyn Martins
Juliane Martins
Kézia Miguel
Vitú de Souza

Museu de Artes e Ofícios (MAO)

O Museu de Artes e Ofícios é constituído pela coleção de objetos industriais e pré-industriais, que pautam as narrativas dos trabalhos exercidos na região de Minas Gerais.

Sua composição enquanto museu, partiu de uma frente de trabalho que envolveu diversos pesquisadores da Museologia, oriundos de perspectivas diferentes tanto sobre o acervo e exposição do museu, quanto a narrativa central do museu em si.

A assinatura da Expografia por Maria Ignez, dentro do projeto museográfico de Pierre Catel, apontou para uma perspectiva rasa e conivente do que foram os trabalhos forçados no Brasil, ponto este que inaugura uma ruptura na curadoria do museu já no início do projeto. O historiador Nicolau Sevcenko entendia que o Museu de Artes e Ofícios tinha o dever de contextualizar o trabalho escravo no Brasil, em seu texto de consultoria.

O Acervo Flávio Gutierrez

Dentre o acervo com diversos objetos (de aspecto) tecnológico sobre a evolução do trabalho humano no Brasil, observamos uma divisão de objetos de comércios, objetos de saberes específicos e de uso doméstico.

Todos recolhidos durante a acumulação de pertences matérias da Coleção Flávio Gutierrez, durante sua composição no Museu, muito se reflete no remanejamento desse acervo, entretanto nos relatórios e nas pesquisas pós composição do Museu, não surge o questionamento de o que leva um colecionador de objetos reunir em seu entendimento pessoal de patrimônio próprio, objetos que são vinculados ao
trabalho escravo no Brasil.

Afinal, porque expor uma balança de escravizados de uma coleção privada, numa
cidade republicana?
 

 

A Balança de Escravizados

A Balança de Escravizados, presente na exposição do MAO, está disposta sem qualquer reflexão e problematização, pois corrobora com o processo de espetacularização da memória colonial, revivendo imageticamente o poder e tirania de uma elite colonial, que pautou e subjugou a produção industrial sob o trabalho forçado.

Tanto a comissão curatorial do museu quanto diversos pesquisadores, entram em dissenso sobre a efetividade daquele objeto, bem como sua contribuição com o restante do acervo. Ciente disso, e em respeito a sua expografia original e restritamente inalterada, realiza um processo de apagamento de sua existência, agindo tal qual a sociedade brasileira, prática com o racismo todos os dias.

Ao expor a Balança é necessário refletir que o Tráfico de Africanos pelo oceano Atlântico, escravizou, estuprou e torturou mais de 4 milhões de pessoas, por um período de tempo de 3 séculos (XVI ao XIX). Sendo desta maneira, a representação de uma memória traumática, para diversos dos descendentes (africanos em diáspora) deste processo. Expor sobre a perspectiva de remontar ou pautar uma história que em específico é falsa, uma vez que esta balança não possui históricos concretos, de utilização em território brasileiro, corroborando assim somente na manutenção e horror visual da austeridade branca hegemônica, racista que age de formas subconscientes nas sequelas e mazelas de diversos brasileiros, todos os dias.

O exercício de apologia a regimes políticos genocidas é crime comum em diversos países, pouco se faz na violência conceitual aplicada aos usos de objetos dessa natureza e tipologia em diversos museus do Brasil, e nesse sentido o Grilhão e a Suástica, possuem pesos diferentes e contextos diferentes, mas atuam em funções similares na perpetuação da memória e soberba de eurodescendentes.

Referência

GONÇALEZ, Sofia. O Trabalhador Negro no Museu de Artes e Ofícios:
Representação e Silenciamento. Programa de Pós-Graduação Interunidades em
Museologia da Universidade de São Paulo (PPGMus-USP). 3° Sebramus. Pará.
2021. p.1-22.

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