ESCOLA DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO
Beatriz Queroz Figueiredo
Camila Bueno Marques Salera
Ingrid Ferreira das Dores Andrade
Isabelle Iennaco
Maíra Paula Gil
Raphaela Luiza Damato Lima
O trabalho “Espaços de socialização da comunidade LGBTQIA +” foi concebido por alunas no sexto período do curso de Museologia da Universidade Federal de Minas Gerais. O intuito do estudo consistiu na busca de uma maior compreensão do porque esses espaços são considerados LGBT friendly, bem como entender as pessoas LGBTs como sujeitos sociais que circulam ao mesmo tempo de forma livre, segundo a lei escrita e restrita, levando em conta os espaços que são de fato seguros para a existência queer.
https://www.guiagaybh.com.br/a-cidade
A escolha dos locais: Café Cultura Bar, Café com Letras, Café Cine Belas e o próprio Cine Belas ocorreu em virtude da presença desses espaços no Guia Gay BH. O fato de um encontrar-se relativamente perto dos demais foi fator fundamental na escolha. Outro ponto importante é a localização na região da Savassi, conhecido point LGBT da cidade onde andam, segundo as pessoas mais conservadoras,“pessoas estranhas” e com roupas igualmente estranhas. A presença dos locais supracitados no Roteiro GLBT BH do “Jornal Rainbow”, acervo do professor Luiz Morando foi essencial para a consolidação de nossa escolha. O trabalho do referido docente de coleta e seleção para a construção da coleção que foi ponto de partida para esse trabalho deu-se em virtude da ausência de um número significativo de publicações acerca da temática LGBT na atualidade, ao menos no que diz respeito à realidade brasileira.
Com a realização do trabalho, temos como objetivo a aplicação das metodologias para a realização de uma pesquisa histórica e a laboração da mesma baseada em bibliografia, trabalho de campo, análise e purificação das fontes para a construção de algo sólido acerca dos espaços de socialização da comunidade em questão. A metodologia aplicada foi: visita ao acervo do professor Luiz, pesquisa bibliográfica e realização de entrevistas. A efetivação das últimas foi primordial para entendermos a realidade desses estabelecimentos, suas relações com a população LGBT e a efetiva acolhida ou não da diversidade, tendo em vista duas negativas de entrevista quando o assunto foi revelado.
O Café Cultura Bar mudou de dono há onze anos e o local que antes era um café cultural atualmente apresenta a proposta de ser um bar. O público alvo aparentemente segue sendo, segundo a entrevista com um funcionário da casa “mais de esquerda”. A tentativa dupla de realização da entrevista com algum funcionário do Café com Letras foi frustrada, assim como ocorreu no Café Cine Belas. O Cine Belas Artes (atual Una Cine Belas Artes), que também fez parte de nossa pesquisa, foi inaugurado como cinema em 1992 e conta com um histórico cultural e de resistência que vai muito além de sua trajetória como cinema de arte. O local anteriormente era a sede do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFMG. Fomos bem recepcionadas quando em trabalho, contudo, tivemos que falar com várias pessoas até que alguém concedesse uma curta entrevista sobre os frequentadores LGBTs.
(...)os atuais grandes centros urbanos não podem ser considerados simplesmente como cidades que cresceram demais - daí suas mazelas e distorções. A própria escala de uma megacidade impõe uma modificação na distribuição e na forma de seus espaços públicos, nas suas relações com o espaço privado, no papel dos espaços coletivos e nas diferentes maneiras por meio das quais os agentes (moradores, visitantes, trabalhadores, funcionários, setores organizados, segmentos excluídos, “desviantes”, etc.) usam e se apropriam de cada uma dessas modalidades de relações espaciais. (MAGNANI, 2002, p.8)
Durante a realização da pesquisa foi possível constatar a presença senão de algum grau de preconceito, ao menos certo receio em tocar nesse “tema tabu” que é a população LGBT. Os espaços sociais podem, de acordo com Miége ser locais “ de resistência, uma auto-organização diante do espaço público burguês, no âmbito dos movimentos sociais”. Conseguimos constatar que mesmo sob uma represália muitas vezes sutil como “os olhares, as atitudes veladas, os comentários” descritos por Peret, a população LGBT segue frequentando os espaços e transformando ora um cinema de arte, ora um café em pontos de encontro relativamente seguros para a comunidade.
Uma questão que à primeira vista não ficou muito clara acerca dessas vivências tidas como “fora do normal” é o medo de simplesmente falar sobre a população LGBT. Após um exercício mental de ler nas entrelinhas à moda de Zadig no conto de Voltaire “O cão e o cavalo” - conseguimos perceber que a vida cor de rosa é apenas uma licença poética concedida à Édith Piaf, nem sempre as informações encontram-se claras o suficiente à primeira vista, logo, uma análise mais aprofundada pode acabar com construções utópicas. Sobre a prática da pesquisa em campo, nos conta Georges Duby que: “A distância entre essa verdade que o historiador persegue e que se esquiva sempre, e o que manifestam os testemunhos que está em condições de interrogar” é um processo inerente da purificação das fontes tão necessária para a construção de algo com alicerces sólidos.
Referências Bibliográficas
MAGNANI, José Guilherme Cantor. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista brasileira de ciências sociais, v. 17, p. 11-29, 2002.
MIÈGE, Bernard. Mutações no espaço público contemporâneo: Sete considerações fundamentais sobre o espaço público contemporâneo. In: SOUSA , Mauro Wilton de;
PERET, Luiz Eduardo Neves. Pegação, Cidadania e Violência: as Territorialidades do Imaginário da População LGBT do Rio de Janeiro. Revista Contemporânea ed.14, vol.8, n1, 2010. p. 63 - 76
GINSBURG, Carlo. Sinas: raízes de um paradigma indiciário. Mitos, emblemas, sinais. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p.143-179.
VOLTAIRE. O cão e o cavalo. In: CONTOS. São Paulo: Nova Cultural, 2003. cap. 3, p. 14-17.
DUBY, Georges. A História Continua. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1993, 162 p. (Caps. III, IV)
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