UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS – UFMG
ESCOLA DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
CONSERVAÇÃO E MUSEUS II
PROFESSORA: Luiz Henrique Garcia
ALUNA: Alice Rodrigues, Elison Vitor, Flávia Torres, Daise Garcia, Evelyn
Todos os dias, a gente acorda, se conecta à internet e se informa, informa e opina sobre o lugar que mora. Posta fotos, vídeos e faz outras infinidades de coisas que nos dizem sobre hábitos cotidianos dessa cidade. São coisas que dizem sobre o lugar e suas dinâmicas. Quando pensamos a cidade como geografia das experiências, os lugares adquirem identidades tão diversas quanto as subjetividades que os ocupam, sejam para construir experiências significativas, sejam como espaços de fluxo.
Nesse espectro das dinâmicas sociais (especialmente na modernidade e todo o seu aparato contemporâneo), o espaço acresce a elas o sentido do novo. Os lugares se movimentam dentre os espaços da cidade e a cidade se transforma a cada demanda da especulação imobiliária, tendências econômicas, políticas, demográficas e ideológicas. Ver imagens da Belo Horizonte dos anos 1970, nós, 90's e 00's kids, é como avistar o desconhecido e reconstruir imagens de um cotidiano desconhecido. E esse cotidiano está além da objetividade daquele lugar. O cotidiano dos anos 1970 está repleto de uma forma de se vestir, de falar, de uma estética material, ideologias e pessoas que minimamente compartilhamos o fundamental nos dias de hoje. Não porque se perde, mas porque a cidade é esse lugar rotativo e transformador a cada geração, a cada demanda de pensamento.
Durante a pesquisa que empreendemos sobre os espaços de sociabilidade LGBTQIA+ em Belo Horizonte dos anos 1970 e 1980, nós nos deparamos com um universo social totalmente adverso ao de 2022. Durante o levantamento dos dados, encontramos muitas saunas e boates inauguradas na cidade, primordialmente nos anos 1980 (e essa abertura advém do fortalecimento das lutas LGBTQIA+ ao longo do século XX). Ao filtrarmos os metadados de pesquisa, nós nos deparamos com vários artigos de opiniões, peças teatrais, entrevistas em jornais de grande circulação na cidade dedicadas ao tema. Isso demonstra a significância da cidade e seus lugares para as subjetividades que nela habitam, que os lugares não são espaços neutros e a sua edificação, especialmente os lugares de sociabilidade, expressam as lutas daqueles que dedicam as suas vidas pelo direito de ocupá-los. Falar de cidade é falar de direitos, e assim cartografamos alguns desses lugares e os apresentamos tal qual são hoje mediados pela seguinte pergunta: o que a imagem do presente permite narrar sobre o passado? Nessa pesquisa, ao fotografarmos o hoje com o intento de sabermos que há naqueles endereços hoje, questionamos como seria? Quem frequentaria? Quais vivências ocorreram ali? Essa a intrigante pergunta sobre o lugar; para além do que era, quais memórias se constituíram ali? Qual o significado desses lugares quando se pensa a sociabilização? Dentre esses lugares há saunas dedicadas ao público masculino. Qual a importância desse espaço para a promoção de encontros, o conforto e segurança para a expressão da sexualidade, afetos e dos encontros? Quando se pensa em bares ou nas festas LGBTQIA+ em que havia um círculo principal de amigos e se estendia à agregados e pessoas recém conhecidas que encontravam ali um ambiente seguro para experienciar o universo queer ou até mesmo as festas panfletadas entre os membros da comunidade… há tudo nisso uma dinâmica social e a rotatividade ou, melhor dizendo, a revitalização, a reinvenção e as novas significações desses lugares e do espaço urbano em si. Isso diz sobre as nossas lutas diárias enquanto pessoas, enquanto coletivos, independente das classificações das nossas identidades e dos interesses que sustentam as nossas ocupações.
0 - Cartografia de Belo Horizonte: locais visitados |
01 - SOHO: Rua Santa Rita Durão, 674. Funcionários |
02 - TOCA: Rua Aimorés, 1855. Lourdes |
03 - ALIÁS: Rua Gonçalves Dias, 2217. Lourdes |
04 - ZUUM: Av. Bias Fortes, 541; esquina com Bernardo Guimarães. Lourdes |
05 - LULU: Rua Leopoldina, 415. St. Antônio |
06 - CARBONARA RESTAURANTE: Praça Raul Soares, 350. Centro |
07 - VAPORE - Rua Timbiras, 2523. Lourdes |
08 - SAUNA NETURNO: Rua Guajajaras, 2099. Barro Preto |
09 - PHSYQUE AND BODY THERMAS: Rua Timbiras, 2040. Lourdes |
10 - EROS MIX CLUB: Rua Aimorés, 1840. Lourdes |
11 - JOSEFINE: Rua Antônio Albuquerque, 729. Savassi |
12 - RAINBOW: Rua Goitacazes, 1361. Barro Preto |
13 - BELAS ARTES, ESPAÇO URBANO: Rua Gonçalves Dias, 1581. Lourdes |
14 - CINE SHOPPING ROMA: Av. Santos Dumont, 477. Centro |
15 - CAFÉ BELAS ARTES: Rua Aimorés, 1840. Lourdes |
16 - CAFÉ COM LETRAS: Rua Antônio Albuquerque, 718. Lourdes |
17 - CAFÉ DO CASTELO: Rua da Bahia, 1149. Centro |
18 - GIZ BAR: Av. Contorno, 2395. St. Tereza |
REFERÊNCIAS
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MAGNANI, José Guilherme Cantor. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais [online]. 2002, v. 17, n. 49 [Acessado 13 Abril 2022] , pp. 11-29.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. A era da informação: economia, sociedade e cultura. Volume 1. São Paulo: Editora Terra e Paz S.A, 1999. Pp. 571
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PERET, Luiz Eduardo Neves. Pegação, Cidadania e Violência: as Territorialidades do Imaginário da População LGBT do Rio de Janeiro. Revista Contemporânea ed.14, vol.8, n1, 2010. p. 63 - 76.
QUEIROZ, Luiz Gonzaga Morando. Vestígios de proativismo LGBTQIA em Belo Horizonte (1950-1996). Revista Unilab. vol 1, n. 4, 2008.
SANTOS, Leonel Cardoso dos. Gradientes Hierárquicos ‘na Balada’: Etnografia, Corpos e Sociabilidades nas Boates GLS de Belo Horizonte. 2012. 116 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012.
MIÈGE, Bernard. Sete considerações fundamentais sobre o espaço público contemporâneo. 2014
Scott, J. (2017). Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade. V. 20 n. 2. Porto Alegre, 1995
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