segunda-feira, 18 de julho de 2022

A Influência da imprensa no estigma da AIDS sobre a comunidade LGBTQIA+

Universidade Federal de Minas Gerais 

Escola de Ciência da Informação 

Disciplina: Metodologia de Pesquisa Histórica em Museus 

Professor: Luiz Henrique Garcia

Alunos: Bárbara Oliveira, Lorrayne Drumond, Natália Oliveira, Odirlei Almeida, Sâmara Rebeca, Thamires Caetano.

Data: 06/07/2022

 

A Influência da imprensa no estigma da AIDS sobre a comunidade LGBTQIA+

 

As informações sobre a Síndrome da Imunodeficiência Humana, mais conhecida como AIDS, no Brasil na década de 80, foi acompanhada pelos brasileiros principalmente pela mídia impressa. É possível notar ainda nos dias de hoje, o lugar privilegiado que a mídia e o acesso à informação têm sobre a formação da opinião pública. Não é de se espantar, portanto, que naquela época, sem internet e com poucos canais de informação, e com a influência do preconceito já existente contra LGBTQIA+, a ideia da AIDS como, informalmente chamada, de “peste gay” ou “castigo divino” fosse difundida e a aceita.

A comunidade LGBTQIA+ que vivia um período de muita luta por seus direitos básicos de existência aliados a falta de conhecimentos sobre a doença (até pela própria medicina) junto à moral cristã, que era uma vertente extremamente forte, e a forma que a imprensa brasileira simplesmente replicava o que a imprensa internacional difundia, davam seguimento e voz ao preconceito e discurso de ódio já presente na sociedade em relação a esse grupo. 

Mesmo antes do primeiro caso da doença ser confirmado no Brasil, os homossexuais foram apontados como principal “grupo de risco” de contaminação pelo HIV e isso fez a AIDS ser considerada por muitos como uma doença de gay, estigma que existe até os dias atuais. Como se não bastasse, a primeira morte confirmada de um brasileiro com a doença foi a do costureiro Markito, que era um homem gay. Os jornais noticiavam o medo, o preconceito e a moralização da epidemia. A comunidade médica, que não era livre de ideais individuais e que enfrentava uma doença desconhecida, influenciava em tais estigmas, quando todos que manifestavam a doença eram tratados como "gays ou drogados". Dessa forma, o estigma foi se concretizando sobre a comunidade LGBTQIA+ como sendo os grandes portadores da doença, e foi essa a ideia que perpetuou no imaginário brasileiro por algum tempo. 

Algumas reportagens em revistas de grande circulação (Veja, Istoé, …) expunham trechos que davam espaço a homossexuais com AIDS para falarem sobre sua vida, sobre a doença e suas relações, após a morte de Cazuza, sua mãe ficou conhecida como a "mãe dos aidéticos" e se preocupava em ajudar e a difundir informações. É possível notar a influência dos ideais de alguns jornais em suas reportagens, que no geral foram sendo suavizadas com o passar dos anos e com a evolução do conhecimento médico em relação à doença.

O tratamento pela imprensa, dava voz ao estigma já presente na sociedade em relação a esse grupo. Paulo Ricardo Diniz Filho (2014) apresenta como os ‘desvios sociais’, apresentados por Howard Becker e Erwing Goffman, foram estigmatizados pela sociedade, levando uma pessoa ou grupo a ser reconhecido apenas por uma característica e por seus estereótipos. Os conceitos e estigmas foram sendo construídos e difundidos pela sociedade, perpassando por questões morais, religiosas e sociais.

Com o passar do tempo é possível notar as mudanças em como a AIDS e esses estigmas eram tratados, até mesmo nas palavras usadas, as palavras "aidéticos" e "drogados" foram trocadas por "vítimas do HIV" e "usuários de drogas", termos homofóbicos foram banidos e o discurso foi sendo alterado. 

A imprensa, ainda é um grande difusor de opiniões e se mantém necessária como uma forma de promover campanhas de conscientização sobre HIV e AIDS e  da diminuição de estigmas, principalmente o de como a doença não está relacionada a homossexualidade, além de reduzir o preconceito sofrido por soro-positivos e em como se proteger do vírus. 


REFERÊNCIAS 

 

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FAUSTO NETO, Antônio. Comunicação e mídia impressa: Estudo sobre Aids. São Paulo: Hacker Editores, 1999. 

 

FILHO, Paulo Ricardo Diniz. Outsiders e Estigma: Duas perspectivas sobre o desvio social. 2014. 

 

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ZANATTA, Elaine Marques. Documento e identidade: o movimento homossexual no Brasil na década de 80. Cadernos AEL, 1996.



 


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