quinta-feira, 16 de março de 2017

Função social e política de acervos em dois museus de Belo Horizonte



UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
ESCOLA DE CIÊNCIA D INFORMAÇÃO
MUSEOLOGIA

Monitoria: Função Social dos Museus
Bolsista: Julianne Paranhos
Orientador: Luiz Henrique Assis Garcia

Função social e política de acervos em dois museus de Belo Horizonte
Julianne Paranhos

Os museus são espaços que lidam diretamente com a percepção do tempo social e histórico a partir da organização de acervos e coleções, sejam eles tridimensionais, documentais, audiovisuais, dentre outros suportes. Por esta perspectiva, a ideia de que esta instituição se encarrega apenas do passado é uma falácia: os museus são espaços de encontro entre tempos. Com função social múltipla – seja para conservar, pesquisar, entreter e expor as culturas, as identidades e as memórias – os museus também devem atuar na busca de elementos potenciais para ampliar e completar suas coleções e dessa forma aprofundar sua atuação como espaços de representação simbólica.
Entender os museus, enquanto público ou como pesquisadores e profissionais, é ter em mente a necessidade de experimentá-los pela vivência. É preciso estar nos museus. Desta forma, os alunos da disciplina Função Social dos Museus, oferecida pelo curso de Museologia da UFMG e lecionada pelo Professor Luiz Henrique Assis Garcia, desenvolveram no segundo semestre de 2016 trabalhos de pesquisa através do contato direto com o Museu da Imagem e do Som (MIS) e o Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB), com o intuito de proporcionar uma experiência prática e de pesquisa. A partir de uma parceria entre o curso de Museologia (UFMG/ECI) e a Fundação Municipal de Cultura (FMC) - através da Diretoria de Museus – formalizada no projeto de extensão Concepção e implementação de protocolo de política de acervos – registro de doadores potenciais, os alunos da disciplina tiveram a oportunidade de conhecer e se aproximar da realidade destas instituições por meio de reuniões com profissionais destes museus e da FMC, visitações e realização de entrevistas.
A partir do contato mais direto com a natureza dos acervos destes museus, as atividades por eles desenvolvidas e da relação destas instituições com a cidade de Belo Horizonte, foram realizados breves diagnósticos. O passo seguinte foi a identificação de potenciais doadores habitantes da cidade de Belo Horizonte, como uma das formas pelas quais os museus podem preencher possíveis lacunas em seus acervos.
No caso do Museu da Imagem e do Som os alunos [Grupo: Bianca Ribeiro; Haelton Oliveira; Isac Santana; Larissa Oliveira; Letícia Carvalho / Grupo: Dayana Mesquita; Hudson Diaz; Luísa Lourenço; Thais Adriane; Thais Diaz; Thelma Palha] diagnosticaram a saturação de acervos tridimensionais e a necessidade de novas tipologias como acervos iconográficos e filmográficos assim como a necessidade de inserir a produção contemporânea. No primeiro, a busca pela lacuna em uma coleção nos leva a repensar o acervo e à necessidade de aplicar e desenvolver políticas de descarte. No segundo e terceiro itens encontram-se a chave pela qual serão planejados métodos de reconhecimento dos doadores. Neste caso os alunos identificaram dois doadores residentes da cidade e três instituições, sendo estas o Museu dos Militares Mineiros (acervo: audiovisual); Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Federais de Ensino (acervo: audiovisual); e Centro de Memória da Veterinária (acervo: audiovisual e tridimensional).
Já no caso do Museu Histórico Abílio Barreto as lacunas observadas referem-se, por exemplo, à ausência de um acervo que remeta à economia informal, as ocupações e assentamentos, grupos folclóricos e congados que atuam na cidade [Grupo: André Luiz Lara Lima; Daniel Xavier Henriques; Luana do Carmo Pirajá Ferraz Santos; Maria de Lourdes Oliveira e Silva / Grupo: Alessandra Guimarães, Amanda Marzano, Daniela Barbosa, Gabriela Gomes e Igor Costa]. Como proposta, foram identificados como possíveis doadores ao museu os colecionadores Jeferson Rios e Antônio Objeteiro. De outro lado, pensando que esta forma de trabalho proposta ao MIS e MHAB pode contribuir para uma representação da cidade em sua dinâmica - o estar na cidade e assim, suas apropriações e ocorrências culturais cotidianas - foram identificados, por exemplo, artistas e fotógrafos cujos trabalhas estão ou diretamente ligados à experiência urbana ou ao seu consumo e apropriação com é o caso do Duelo de MC’s, que motivou a apropriação do viaduto de Santa Teresa.
A identificação dos possíveis doadores, além de ser um meio pelo qual os museus podem ampliar seus acervos, diversificar os recortes curatoriais e ainda ampliar a compreensão sobre suas naturezas institucionais e finalidade enquanto espaços da representação simbólica do social e da memória possibilita, por meio da pesquisa de campo, sua aproximação com a sociedade e faz de sua função social para além da ideia de “lugar de coisa velha”. Como um lugar dinâmico e que transita entre tempos, esse tipo de ação museológica proporciona aos museus um meio de aproximação com a sociedade e a construção de seus espaços como lugares mais democráticos.




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