segunda-feira, 13 de março de 2017

A INFLUÊNCIA DOS GABINETES DE CURIOSIDADES NO SÉCULO XXI [Tipologia 2016]

disciplina: Tipologia de Museus (2º semestre 2016)
professor: Luiz H. Garcia
Alunos responsáveis: Boris Christoff; Jéssica Tôrres; Letícia Zignago; Viviane Ferreira

A influência dos Gabinetes de Curiosidades no século XXI

Os Gabinetes de Curiosidades nos séculos XVI e XVII proporcionaram o encontro de mecenas, artistas, aprendizes, cientistas e colecionadores de uma forma nunca vista antes. Para estar no gabinete bastava ser um apreciador de peças como taxidermia, botânica, indumentária, instrumentos variados, obras de arte entre outros.

Apesar do caráter elitista, os gabinetes não eram apenas agentes da admiração estática: eram ateliês para jovens pintores e seus mestres, e uma ampla pesquisa de campo para cientistas das mais diversas áreas, espaços de produção de conhecimento. Para os proprietários de gabinetes de artes plásticas havia ainda o privilégio de serem presenteados com um quadro evocativo, elevando a sua posição a classe dos clérigos e nobres que eram sempre retratados. O homem confere significância diversa a objetos, com intuito de preservar a memória do seu caráter efêmero. Assim, ele proporciona o resgate da memória, que nos permite quitar as dívidas do presente com o passado, dando vida ao que estava condenado ao esquecimento e fornecendo subsídios para construir e aprofundar outras histórias esquecidas, trazendo à tona a imagem do que foi sepultado pela história, porém nunca pelos seus participantes.




“Musei Wormiani Historia”, gabinete retratado no Museu Wormianum, publicado no século XVII.

Ao embarcar nesse mundo, é difícil não mencionar a exposição “Gabinete de Obras Máximas e Singulares” na Biblioteca Nacional [site oficial aqui “https://www.bn.gov.br/”] no Rio de Janeiro, que aconteceu de 22 de agosto de 2016 a 30 de novembro do mesmo ano. A exposição possui cerca de 507 obras originais, distribuídas pelos corredores. O método utilizado para expor as peças foi inspirado nos Gabinetes de Curiosidades, com vitrines que remeteram as tradicionais expositoras horizontais, oriundas dos séculos XVI e XVII, confrontando o horizontal padronizado nos museus atualmente.



Parte da exposição “Gabinetes de Obras Máximas e Singulares”, Biblioteca Nacional.
O resgate desse modelo nos leva a refletir sobre a constante mutação dos museus. De um lugar exclusivo e com excesso de conteúdo não trabalhado, os museus se tornaram um espaço de convivência e aprendizado democrático. Com o surgimento da Nova Museologia e suas medidas sociais, além de novas tecnologias, os museus tiveram de abandonar antigos modelos e se assumirem também como espaço da memória das culturas. Desta forma, podemos refletir sobre a forma como o público busca e recupera a informação representada e organizada, bem como se apropria da memória, cultura e conhecimentos. Uma democratização desses espaços os torna laboratórios empíricos, culturalmente e didaticamente. Essa mediação cultural estaria a serviço de promover acessibilidade de grupos (muitas vezes, excluídos), recriando sua cultura e permitindo a criação e apropriação de bens simbólicos.

A museologia social se preocupa com o público visitante, oferecendo um espaço dinâmico, de interação entre ele e o objeto. Os museus atuais, para cumprir esta função interacional de forma ampla, aliam-se às tecnologias de informação e comunicação. Essas tecnologias estão ligadas intrinsecamente às práticas sociais, pois surgem a partir de uma necessidade da sociedade, refletindo sua realidade.

Os Museus enquanto organizações culturais geram e têm à sua guarda um manancial de informação vastíssimo (Kavakli&Bakogianni, n.d.), sendo aqueles, de todas as unidades documentais (bibliotecas, arquivos e museus), os que reúnem em simultâneo o tratamento de vários tipos de informação (Peset Mancebo, 2002).

Sobre a perspectiva museológica, dada a “malha” de informação que circula e o conhecimento necessário para a tratar, torna-se essencial identificar as diferentes tipologias e centros produtores de informação, para articular e gerir de forma integrada, estabelecendo as relações necessárias entre a mesma, quer se trate de informação sobre as coleções, sobre os visitantes ou sobre alguma tecnologia multimídia, uma vez que, toda ela tem um papel representativo, num todo que é o museu e nas suas metas e objetivos a alcançar (Orna &Pettit, 1998).
[acesse www.bad.pt/noticia/2013/04/17gestao-da-informacao-em-museus-uma-abordagem-pela-importancia-do-acesso-integrado-a-informacao/ ]


Considerando o museu como espaço de memória, comunicação, mediação e apropriação, ao invés de simplesmente contemplação, avançam as reflexões na Ciência da Informação (CI), assim com na Museologia. Os estudos nessas áreas permitem a perspectiva dos museus como produtores de informação. Na visão de Mario Chagas:

selecionar, reunir, guardar e expor coisas num determinado espaço, projetando-as de um tempo a outro, com o objetivo de evocar lembranças, exemplificar e inspirar comportamentos, realizar estudos e desenvolver determinadas narrativas parecem constituir as ações que, num primeiro momento, estariam nas raízes dessas práticas sociais chamadas, convencionalmente, de museus (CHAGAS, 2009, p. 22)
CONCLUSÃO

O museu além de um espaço de cultura, no sentido de informar o público sobre o acervo de bens culturais - material e imaterial, é também um espaço de memória que pode possibilitar a recriação de narrativas culturais. Assim, a coleção é em si um material rico de memória, uma forma de diálogo entre espaços e tempos diferentes.

Vale salientar que os objetos constantes nos acervos ganham certo valor a partir do discurso ideológico que o museu vai estabelecer e delimitar, segundo os seus próprios critérios e as suas tipologias. Entendendo as coleções como um testemunho de uma dada realidade, é inegável a sua importância enquanto elemento de registro e pesquisa do espaço e tempo histórico no qual foram produzidos.

Os museus possuem um papel relevante para a mudança social e desenvolvimento e devem cumprir sua missão educativa e transformadora, envolvendo e integrando a sociedade nesse processo. Essas instituições devem oferecer atrativos para o público, fazendo com que este se aproprie do conhecimento proporcionado pela proposta da exposição dos objetos nesses espaços.

REFERÊNCIAS:

CHAGAS, Mário de Souza. A imaginação museal: museu, memória e poder em Gustavo Barroso, Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro. Rio de Janeiro: MinC/ IBRAM, 2009. 258 p.
JANEIRA, Ana Luísa. “A configuração epistemológica do coleccionismo moderno (séculos XV-XVIII). Matriz da Conferência Inaugural do Colóquio Internacional O Espírito do Coleccionismo, Porto Alegre, Agosto de 2005.
LE GOFF, Jacques. História e memória: escrita e literatura. Campinas: Ed. Unicamp, 2003.
ORNA, E., & Pettit, C. (1998). Information management in museums (2nd ed.). Hampshire: Gower.


Sites (consultados entre novembro 2016 e fevereiro de 2017)

Nenhum comentário:

Postar um comentário