sábado, 28 de dezembro de 2013

Como se avalia a produção científica: publicar ou perecer

Um assunto que vira e mexe surge por aqui. Vale uma lida na íntegra do artigo do prof. Simon Schwartzman aqui.

Resumo:
Na medida em que aumenta a importância do conhecimento, em sua produção, transmissão e uso, também aumenta a preocupação com a maneira pela qual a produção de conhecimento e a educação são avaliados. Este tema foi objeto de matéria recente no Suplemento Sobre Cultura da revista Ciência Hoje, para o qual colaborei com uma nota que reproduzo abaixo.  Recentemente foi publicada uma importante “Declaração de São Francisco” sobre a avaliação da pesquisa, criticando o uso indiscriminado do chamado “fator de impacto” das revistas científicas como critério de avaliação, que pode ser assinada por pessoas que concordem com o seu teor. Para quem se interessar, publiquei também um artigo meses atrás sobre os usos e abusos  da avaliação  educacional no Brasil, que está disponível em inglês. Transcrevo abaixo a nota da revista Ciência Hoje e uma tradução do texto introdutório da Declaração de São Francisco (DORA),

Um pequeno trecho da Declaração de São Francisco:

"O fator de impacto, calculado pela Thomson Reuters, foi originalmente criado como uma ferramenta para ajudar os bibliotecários a identificar revistas para comprar, e não como uma medida da qualidade científica da pesquisa em um artigo. Com isso em mente, é fundamental entender que o fator de impacto tem  inúmeras deficiências bem documentadas que afetam seu uso como ferramenta para a avaliação da pesquisa. Estes limitações incluem: A)  as distribuições de citações dentro das revistas são altamente enviesadas; B) a propriedades do fator de impacto são específicas de cada campo, sendo compostos de diferentes tipos de artigos, incluindo trabalhos de pesquisa originais e resenhas da literatura; C) Os fatores de impacto podem ser manipulados (“gamed”) pelas práticas editoriais das revistas; e D) dados utilizados para calcular os fatores de impacto não são transparentes nem abertamente disponíveis para o público."

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Maldito "outro" ou o problema da relevância

... a pós-modernidade nos condena... não tem como evitar a gargalhada depois de mais um trecho de ironia e aguda crítica do certeiro Marshall Sahlins em "Esperando Foucault, ainda", sobremesa (como ele logo anuncia no começo do livro) para ser devorada o quanto antes. Relevância "(...) nos Estados Unidos muitos estudantes de antropologia não tem o menor interesse em outros tempos e lugares (...) qualquer outra etnografia (...) não passaria de uma "construção do outro" de nossa parte.  Assim, se conseguirem o que querem  e isso se converter em princípio da pesquisa antropológica, daqui a cinquenta anos ninguém vai prestar a menor atenção ao trabalho que eles vêm fazendo agora. Bem, talvez eles tenham sacado alguma coisa.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Em dia com a museologia - dossiê Patrimônio cultural e museus da revista Vibrant

Dossiê Patrimônio cultural e museus da revista Vibrant

"VIBRANT – Virtual Brazilian Anthropology foi criada pela Associação Brasileira de Antropologia com o propósito de dissiminar a antropologia brasileira para além das fronteiras da língua portuguesa. Publica artigos e audiovisuais em inglês, francês e espanhol de antropólogos vinculados a instituições brasileiras, de modo a promover um maior intercâmbio transnacional de idéias e ampliar a diversidade antropológica."

"VIBRANT – Virtual Brazilian Anthropology was conceived by the Brazilian Anthropological Association (ABA) as a medium for disseminating Brazilian anthropology beyond the Portuguese-speaking world. The presentation in English, French and Spanish of articles and audiovisual materials produced by anthropologists working in Brazil is intended, therefore, to promote greater transnational interchange of ideas and to further awareness of the diversity within anthropology."

Dossier: Cultural heritage and museums

Editors : Antonio Arantes & Antonio Motta

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Um museu cultural focado na história da medicina



"Beate Kunst, pesquisadora associada e curadora do Berlin Museum Of Medical History [visite a página do museu] , (...) participou de um seminário sobre acervos científicos e museológicos promovido em parceria com o Instituto Oswaldo Cruz (IOC). O evento integrou a programação do Ano Alemanha + Brasil 2013-2014.

Localizado na capital alemã, o museu é vinculado ao Charité - Universitätsmedizin Berlin, hospital universitário da Universidade Humboldt e da Universidade Livre de Berlim. A instituição pública tem em seu acervo permanente cerca de 750 objetos, compreendendo espécimes anatômico-patológicos, entre outros. Em suas exposições temporárias, o museu utiliza-se frequentemente da arte para falar da história da medicina. Em entrevista ao portal da COC, Beate falou sobre as atividades do museu. Confira os principais trechos." [via Casa de Oswaldo Cruz].

Separei aqui um trecho de interesse que evidencia a importância da pesquisa na montagem de exposições e na realização de várias das funções de um museu: 

Havia um projeto para trabalhar com os registros escritos de oito consultórios médicos diferentes do século 17 ao 19. Esses registros não foram procurados antes porque os pesquisadores não imaginavam a riqueza que poderia haver neles. Mas, com esse projeto, os pesquisadores encontraram e acessaram esse material, o que foi difícil, pois alguns escritos estavam em latim ou tinham uma caligrafia muito antiga. Depois, estudaram os casos contidos nesses registros. Uma constatação interessante é que, naquela época, pacientes que eram mais pobres pagavam menos aos médicos do que alguém que tinha mais dinheiro. Esse lado social já existia nesses consultórios. Outro resultado é que, nos séculos 17 e 18, médicos e pacientes conversavam em pé de igualdade. No século 19, com a especialização crescente dos médicos, começou a haver uma hierarquia na relação entre médico e paciente, O projeto durou três anos. Depois [de concluído o trabalho], pagou-se um outro grupo de pesquisadores, que teve acesso aos resultados da pesquisa e organizou uma exposição. A mostra aborda o trabalho de pesquisa, informando sobre médicos, alguns pacientes, os problemas daquela época, mas também sobre como os pesquisadores trabalharam no projeto.



 

sábado, 14 de dezembro de 2013

Museu, espaço e poder

No próximo semestre irei lecionar, às sextas-feiras pela manhã, a disciplina optativa Museu, espaço e poder.
Apenas para dar um aperitivo de como será, compartilho aqui a ementa, os objetivos e um primeiro esboço da bibliografia. Deixo desde já espaço aberto para comentários, sugestões e demandas de quem se interessar em cursá-la. 
Abraço
Prof. Luiz H. Garcia

Ementa:
O papel dos museus modernos na constituição das identidades nacionais; A representação do Outro nos museus etnográficos; Museu, cultura e imperialismo: tempo, espaço e relações de poder; A construção do cenário museológico internacionalizado: redes, fluxos e intercâmbios; Formas de encenar o nacional e o regional nos museus brasileiros; Identidades e transculturações; Museus, globalização e hibridações culturais; Megaeventos e transformações na cidade globalizada: o lugar dos museus.


Objetivos:  
Refletir sobre papel histórico dos museus na constituição das identidades e na produção de representações sobre o tempo, o espaço e os grupos sociais. Discutir os museus como espaços em que estão imbricadas diferentes relações de poder. Compreender a emergência do cenário museológico internacionalizado e sua articulação com as hierarquias postas no espaço-tempo da modernidade. Aprofundar a discussão sobre Identidade e Cultura a partir dos estudos culturais e dos debates contemporâneos.  Debater o lugar dos museus no contexto de realização dos megaeventos e das transformações na cidade globalizada.

Bibliografia Básica

ARANTES, Antônio (org.) O espaço da diferença. Campinas: Papirus, 2000.

CLIFFORD, James. Itinerarios transculturales. Barcelona: Gedisa, 1999. 493 p.

FEATHERSTONE, Mike (org.). Cultura global. Petrópolis: Vozes, 1999.

HALL, Stuart. Da diáspora. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2003.



 Bibliografia Complementar

BENNETT, Tony. The birth of the museum. London: Routledge. 1995.

BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.

BREFE, Ana Cláudia Fonseca. O Museu Paulista: Affonso de Taunay e a memória nacional 1917-1945 . São Paulo; Ed. da UNESP, 2005. 333 p.

DURAND, Jean-Yves. Este obscuro objecto do desejo etnográfico: o museu. in: Etnográfica, 2 (11). Revista do Centro de Estudos de Antropologia. Lisboa: CEAS / ISCTE. pp 373-385.

GARCIA Canclini, Néstor. A globalização imaginada. São Paulo: Iluminuras, 2003.

GARCÍA CANCLINI, Néstor. Diferentes, desiguais e desconectados: mapas da interculturalidade. 2.ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 2007 283 p.

GOLDSTEIN, Ilana. Reflexões sobre a arte "primitiva": o caso do Musée Branly. Horiz. antropol. [online]. 2008, vol.14, n.29 [cited  2013-08-27], pp. 279-314. HANNERZ, Ulf Fluxos, Fronteiras, Híbridos: Palavras-Chave da antropologia transnacional. MANA 3(1):7-39, 1997.

HARVEY, David. A condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

LOPES, Maria Margaret. O Brasil descobre a pesquisa cientifica: os museus e as ciências naturais no seculo XIX. São Paulo: Hucitec, 1997. 369 p.

MACKENZIE, John M. Museums and empire: natural history, human cultures and colonial identities . Manchester: Manchester University Press, New York: distributed exclusively in the USA by Palgrave Macmillan, 2009. xv, 286 p.

NACIONAL (BRASIL). Museus nacionais e os desafios do contemporâneo. Rio de Janeiro: Museu Historico Nacional, 2011. 295 p.

ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. São Paulo: Brasiliense, 2000.

SANTOS, Boaventura de Souza. Modernidade, identidade e a cultura de fronteira. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 5(1-2): 31-52, 1993 (editado em nov. 1994).

SANTOS, Myrian Sepulveda dos. A escrita do passado em museus históricos. Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2006. 142 p.

SARLO, Beatriz. Cenas da vida pós-moderna. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997.


WILLIAMS, Raymond. Cultura. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Vão livre?

O artigo "O MASP e a casa da sogra", de Raquel Rolnik, abordando a ocupação do vão livre do MASP, põe em discussão vários assuntos que foram abordados nas disciplinas que lecionei nesse semestre que se encerra: Tipologia de museus, Função social dos museus e Museu e cidade.Assim para marcar o encerramento das atividades reproduzo aqui alguns trechos, convidando que se interessar a ler o texto completo e deixar aqui algum comentário ou impressão. E boas férias! (Luiz H. Garcia)

"Há duas semanas o "Estadão" [aqui] defendeu em seu editorial o cercamento do vão livre do Masp como forma de proteger o museu da ameaça de "viciados", "traficantes", "moradores de rua" e "grupos de manifestantes" que tomaram conta do espaço.
O jornal reverberou declarações do curador do museu, Teixeira Coelho, que, diante da recusa do Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional em aceitar seu pedido de instalação de grades no vão livre, classificou tal posição como 'um atraso'."


"Não é à toa que o Masp se tornou um dos símbolos de São Paulo, além de um dos lugares mais apropriados pelos paulistanos. Poucos são os espaços da cidade que estabelecem uma relação tão bem-sucedida entre o público e o privado, a cultura, a arte e a vida cotidiana dos cidadãos.
Na contramão dos equipamentos culturais desenhados para serem monumentos de celebração a uma arte-mercadoria, glamourizada e identificada com as elites, o Masp nasceu para ser uma espécie de antimuseu, radicalmente aberto para a cidade."



"Não são as grades nem a repressão policial que vão enfrentar a situação de vulnerabilidade em que se encontram muitos paulistanos. Se eles estão ali, expondo a precariedade e a situação limite de sua existência, é porque, simplesmente, não há nada nem ninguém que os acolha, propondo alternativas reais para essa situação.
A imagem das barracas armadas no Masp só afirma a urgência de implementação de políticas que avancem nesta direção. Uma boa gestão de cidade mantém a qualidade de seus espaços públicos cuidando tanto de seu estado físico de conservação quanto da vulnerabilidade de parte de seus cidadãos.
Se o vão livre do Masp tem sido cada vez mais palco de manifestações, é justamente por acolher de forma tão eloquente uma das reivindicações centrais dos protestos recentes: a necessidade de constituição de uma esfera verdadeiramente pública no Brasil"

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Tipologia de Museus - Refazendo a história, perpetuando sentimentos


Refazendo a história, perpetuando sentimentos. Com vocês...

 O Museu Histórico

 

 Este trabalho foi desenvolvido em Novembro de 2013 como critério de 
avaliação parcial da disciplina Tipologia de Museus, ofertada no Curso de 
Museologia pela Escola de Ciência da Informação (ECI), na Universidade
 Federal de Minas Gerais (UFMG), ministrada pelo Profº Luiz Henrique Garcia.


Grupo: Camila Luiza Aparecida Lopes, Cristiane de Lima Caputu Abreu, Flávia Maria Skau de Souza, Glaúcia Magda Alves dos Santos, Isabela Trópia, Marly de Fátima Franklin Ferreira, Rháyza Morgana Hortêncio de Lima. 

“Eu vejo o futuro repetir o passado.
Eu vejo um museu de grandes novidades.
O tempo não para. Não para, não, não para”.


Já dizia Cazuza em uma de suas mais famosas canções.
Podemos olhar para o trecho dessa música assim como olhamos para os museus históricos que vivem em um limbo tentando não ser repetitivos. Isso é inevitável pelo fato da história se repetir, como diria Karl Marx, “primeiro como tragédia e depois como farsa”. Será que é isso que os museus históricos estão passando para a sociedade, uma farsa?
Ao visitarmos um museu histórico nos deparamos com um discurso ultrapassado de celebração de datas comemorativas, que foram criadas por visões parciais e rígidas de seus mentores. No início do século XX esta postura foi adotada para se construir a ideia de uma nação moderna e de identidade para um povo. Atualmente seus acervos ainda estão impregnados de objetos que nos remetem a este heroísmo tão marcante para a população e que, ao serem expostos, nos instigam a imaginar um tempo romântico da realeza, de príncipes e heróis.
 Os Museus Históricos, em datas comemorativas, recebem um número de visitantes que expressam, nesses momentos, maior interesse pela história oficial. Não se muda 500 anos de história. A história que se ensina nas escolas ainda hoje retrata a mesma visão que está representada nos museus. Vemos, portanto, o futuro repetir o passado quando a história oficial de construção da nação e da modernidade é reforçada. É essencial que o museu histórico deixe de ser o sujeito alienante a todo processo social, político, cultural que acontece a sua volta tornado-se o sujeito participativo da comunidade.
E o que continua a atrair o público a visitar estes museus em outras ocasiões? Como estes locais lidam com estas contradições? Suas exposições são raramente modificadas fazendo o discurso muitas vezes se distanciar da história, como explicar que o que está exposto não condiz com o viés histórico. As pessoas nem se questionam ao entrar no museu tamanho é o respeito que este local representa:  posto de guardião de representações e no caso do museu histórico, local onde a história da nação está seguramente guardada.
Após a década de 80 alguns estudiosos vem questionando a distância entre a historicidade e a história oficial apresentada no museu,sacralizada e imutável. Educados com estes ideais, o público nos museus reconhecem este discurso proposto e sem criticar aquilo que vê o repete e o tornando-se  a única verdade.
O reflexo destas ações ainda ecoam nos dias atuais. Como fazer uma crítica se não é dado ao visitante as duas visões da história? Santos (2006) aborda a questão da memória nos museus dizendo o que considera como representatividade intelectual, dialética, mágica e que os Museus memória deveriam então buscar a autenticidade, a alteridade e hierarquização. “Tudo o que um museu retira da vida e guarda entre suas paredes, tal qual os zoológicos ou as bibliotecas, muda de sentido. A história apresentada pelos museus é o refazer da história.” (Santos, 2006 - p.127). O museu que trabalha com o passado não esta  impossibilitado de novas produções e criações culturais.


Capa da Publicação do Museu Histórico

 A cultura autêntica, legítima deu lugar a cultura de movimento, híbrida dentro de um espaço globalizado, dessa maneira houve um distanciamento do individuo em relação ao passado histórico, suas raízes e origens e com isso a falta de referentes de identidades. Como englobar tudo isso num país de proporções continentais e culturas tão diversificadas?
Inovar, para não se tornarem obsoletos, preservando os reais motivos da sua existência. Podemos considerar os museus como um lugar de mudanças e de recursos culturais, capazes de  adaptar-se às formas de ocupação, sem se desviar do viés histórico,  implementando ações tais como uso do espaço para eventos sociais, biblioteca virtual, entretenimento, mantendo sua arquitetura preservada numa infra-estrutura moderna, o acervo, as salas representativas, os pátios, as exposições, entre outros, fazendo com que haja interação entre os museus e a sociedade e fazendo com que a população se veja nesta construção e eleja sempre memórias que possam ser compartilhadas. Ao se pensar o museu histórico temos o dever de apresentar aos diversos públicos as mais diferentes formações para que possamos fazer deste país uma verdadeira pátria.

Palavras-chave: museu  / museu histórico  /  memória  /  nação

Bibliografia:
SANTOS, Myrian Sepulveda dos. A escrita do passado em museus históricos.Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2006. 142 p.

MARX, Karl. O 18 brumário de Louis Bonaparte. Coimbra: Oficinas Gráficas, 1971.161p.














Tipologia de Museus - Por que colecionamos?

Coleção Particular: Maria Alice Faria

? POR QUE COLECIONAMOS ?

Este trabalho foi desenvolvido em Novembro de 2013 como critérios 
de  avaliação parcial na disciplina Tipologia de Museus, ofertada no 
Curso de Museologia pela Escola de Ciência da Informação (ECI),  na
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ministrada pelo 
Profº Luiz Henrique Garcia.

Grupo: Amélia, Maria Ângela, Thelma, Vivien

flâmulas I frascos de perfumes I bolas de gude I tickets de metrô I xícaras I tampinhas I sapatos I rolhas I carrinhos I licoreiras I imaginária barroca I figurinhas I fósseis I latas I cartões de telefone I papéis de bala I chaveiros I pinturas I  selos postais I esculturas I rótulos I chaveiros I artefatos I miniaturas I
Segundo Pomian, entende-se por coleção, qualquer conjunto de objetos naturais ou artificiais, mantidos temporária ou definitivamente fora do circuito das atividades econômicas, sujeitos a uma proteção especial num local fechado preparado para esse fim, e expostos ao olhar público.
Algumas pessoas possuem um “museu particular”, quase sempre subprodutos da sociedade de consumo, como latas, cartões de telefone, tickets de metrô, papéis de bala, rótulos, tampinhas de refrigerantes, entre outros. Não existe um fator determinante para este fenômeno, mas, parece corresponder, em certos indivíduos, a um instinto, um impulso.
Segundo estudiosos, dos sete aos doze anos, a criança coleciona os mais variados objetos - bolas de gude, miniaturas, chaveiros, selos postais. Residiria, nesse fato, a necessidade de classificação do mundo exterior que a ajudaria a fixar as suas idéias. 
Durante a puberdade, ela pára de colecionar. Outro período ocorre entre os quinze e vinte e cinco anos e se afirma entre os que possuem uma vocação, às vezes hereditária.
Nesse universo, existem os diferentes graus de colecionadores: curiosos, que juntam coisas raras, exóticas, novidades; o simples amador, que coleciona pelo simples prazer ou sedução em juntar coisas ou determinado objeto; ou o colecionador especializado cuja coleção tem uma razão de ser e segue critérios específicos.
Entre os motivos da paixão colecionadora, relacionam-se algumas causas habituais: sentimento à tradição, respeito ao passado e por coisas antigas, culto às relíquias. Mas, a razão de uma coleção pode ser somente pelo amor à arte.
Mas, e da coleção ao Museu?
A palavra museu, do grego mouséion, foi dado na Antiguidade aos santuários dos templos dedicados às musas, construído sobre a colina de Helicon em Atenas (Grécia) e recebia, como doações, oferendas destinadas aos deuses inspiradores dos artistas – relíquias, vasos, coroas, jóias, esculturas.
No século III a.C, Ptolémée Philadelphe previu no centro de seu pakácio de Alexandria (Egito) um mouseión que compreendia, entre outros, uma biblioteca, um anfiteatro, um refeitório, um observatório, salas de trabalho, jardim botânico e zoológico, um conjunto que agregava a Universidade, a academia e um templo sob autoridade de um padre. Os primeiros museus foram estabelecimentos religiosos como os próprios objetos de arte e o ensinamento tradicional. Eles agrupavam tesouros depositados nos templos em testemunho de reconhecimento aos deuses.
Vale salientar , que o Louvre  antes de se tornar museu, foi residência da nobreza francesa, assim como outros que serviram de depósito para colecionar objetos de saques durante a Revolução Francesa .
 Segundo F.H. Taylor, os museus constituem “um mal necessário”, são “asilos póstumos”, dizia Thoré. Na realidade, são locais destinados a receberem objetos, que muitas vezes não estavam destinados a permanecerem juntos e que se encontram num local que não foi feito para acolhê-los. São fragmentos de uma época, testemunhos de um passado morto, de relíquias de antigos cultos. Eles testemunham o desgaste das coisas, as mudanças de hábito.
Somente há algumas décadas os responsáveis por museus começaram a discutir e reformular conceitos para que esses deixassem de ser privilégio de poucos, depósito de obras primas, para se tornarem polivalentes, atuantes, inseridos em comunidades, sedutores...
Mas, afinal, Por que Colecionamos? Para que servem os museus? Para Luc Benoist, um dos papéis do museu, e talvez o mais belo, seja o de se tornar galeria daqueles que não podem ter a sua própria coleção, o seu próprio museu. Para quem gosta e freqüenta, os museus teriam ainda uma outra função: emprestariam a esses “habitués”, uma coleção, tornando-os, colecionadores sem coleção.

paixão I conhecimento I curiosidade I prazer I hobie I poder I sedução I vaidade I nacionalidade I fantasia I prestígio I ostentação



Bibliografia:
POMIAN K. COLEÇÃO. In enciclopedia einaudi. Lisboa: Imprensa Nacional/ Casa da Moed, 1994. V.1: Memória- História. pg. 51-86

CHAUMIER, Serge. L’object de musée. Dijon: Mousée de la vie bourgüignome: 23 avril a 20 septembre 2010 ( tout garder? tout jeter? et reiventer?)

BENOIST, Luc. Musées et muséologie, Paris, Presses universitaires de France, coll. « Que sais-je? », 1960.

Link de acesso ao site do Museu do Louvre: 
www.louvre.fr