quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Zoológicos humanos e o império em exibição

Parte da estratégia de dominação dos espaços colonizados recaia na afirmação de superioridade das nações imperialistas e de seus respectivos integrantes sobre os povos e territórios conquistados. Caracterizar o Outro como selvagem e inferior servia ao propósito de controlá-lo eficazmente nos domínios imperiais, e simultaneamente de construir uma justificativa legitimadora que caracterizava o empreendimento como missão civilizadora digna de apoio e aceitação nos centros metropolitanos. É nesse contexto que surgem os "zoos de humanos", ou mais precisamente uma série de práticas expositivas, orientadas pelas perspectivas científicas vigentes, associadas especialmente às exposições universais e congêneres, em que guerreiros Zulus, hindus encantadores de cordas, tuaregues em seus camelos, ou mesmo reconstituições de vilas coloniais inteiras eram apresentadas, "encenando" os comportamentos típicos dos grupos étnicos arregimentados (em geral de forma degradante) para o espetáculo, dando ao público um vislumbre de seus primitivos modos de viver.
Entre novembro 2011 e junho 2012 o Museu do Quai Branly apresentou a exposição Human zoos: a invenção do selvagem,  que teve como curadores científicos Pascal Blanchard (associado ao grupo de pesquisa ACHAC) e Nanette Jacomijn Snoep, e como curador geral o ex-jogador da seleção francesa Lilian Thuram.  Como mostra a boa matéria da BBC, a proposta visa justamente compreender essa estratégia de dominação que fabricava a alteridade do colonizado combinando as teorias raciais e as formas de exibição em espetáculos para as massas. Segundo a própria exposição a última dessas reconstituições foi montada na Exposição Universal em Bruxelas (Bélgica) em 1958.

Clique na imagem para acessar o folder de apresentação.

Folder de apresentação

Algumas imagens referentes ao tema [fonte photo events]:



terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Imagens que inventam nações

"Com a proposta de recuperar a história fotográfica do país entre 1833 e 2003, a mostra itinerante “Um olhar sobre o Brasil – A fotografia na construção da Imagem da Nação” desembarca no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-BH) entre os dias 26 de fevereiro e 28 de abril. 
Dividida em sete grandes períodos, as mais de 300 imagens recuperam esses 170 anos da nossa história sob quatro principais eixos temáticos – política, sociedade, cultura/artes e cenários. A curadoria é do especialista em fotografia Boris Kossoy e da antropóloga Lilia Moritz Schwarcz.
A exposição reúne fotografias do império, início da urbanização, revoluções, ditaduras militares, industrialização, redemocratização do país e dias contemporâneos. O visitante também encontra uma micro-história ao lado de cada obra, com informações sobre o seu tema ou período. A proposta é destacar os elementos anônimos e cotidianos ocultos, além de provocar uma reflexão mais crítica sobre fotos já conhecidas."


Uma mostra de grande interesse  para as discussões que venho conduzindo na disciplina "Museu, espaço e poder" este semestre. Veremos como os museus, constituindo acervos, realizando exposições e financiando pesquisadores participam dessa construção das nações e dos impérios. O trabalho da Lilia Schwarcz, O Espetáculo das Raças, figura na bibliografia e será discutido em aula.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Um problema de pesquisa

http://maternar.blogfolha.uol.com.br/2014/02/15/mae-e-proibida-de-amamentar-no-mis-e-mulheres-fazem-mais-um-mamaco/                                         Crédito da imagem: Foto: Matrice/Fonte: Folha de São Paulo

Um trecho da matéria:
"No dia 5 de fevereiro, a modelo Priscila Navarro Bueno, 23, estava visitando a exposição do David Bowie com o marido e a filha Julieta, de sete meses. Ela conta que logo no início da exposição a menina quis mamar e ela retirou o seio para alimentar a filha. “Cinco minutos depois um monitor veio até mim e perguntou se eu queria amamentar num local mais reservado, eu disse que não pois queria ver a exposição e ele se retirou”, comenta.
Priscila conta que continuou vendo a exposição até que uma segurança a cutucou. “Quando virei, ela olhou diretamente para os meus seis dizendo ‘ah, você não está amamentando’ já que a minha filha estava dormindo e não mais mamando”, diz. Segundo a mãe, as pessoas no entorno ficaram olhando e em seguida chegou uma outra monitora recomendando que “fosse para uma sala mais reservada pois não era permitido amamentar no MIS.”
A mãe conta que ela e o marido questionaram e a funcionária voltou a dizer que era proibido e que ela poderia fazer uma queixa no site caso não concordasse. “Fiquei envergonhada e sem saber o que responder, fui embora por estar constrangida”, comenta. Segundo Priscila, ela e o marido tinham visto apenas a primeira parte da exposição." F.S.P., 15/02/14 



Saindo um pouco da rotina das postagens, dessa vez o blog Metamuseu vem propor um problema de pesquisa e convidar seus frequentadores a deixar posições e hipóteses nos comentários
Como entender as restrições quanto à amamentação no espaço das instituições museológicas? 








terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Barbearias revelam 'estilo da África'




"Uma exposição de fotos em Londres explora o visual de barbearias em várias cidades africanas para fazer um perfil social e estético do continente.
As imagens são do fotógrafo nigeriano Andrew Esiebo, que visitou barbearias em oito países da África Ocidental, entre eles Benim, Gana, Mali e Costa do Marfim.
Nos ensaios de Esiebo, as barbearias contam histórias e fazem comentários sobre a coexistência de tradição com modernidade, de 'estilo' social com expressão de identidade individual.
A exposição 'fica em cartaz em uma galeria voltada para arte contemporânea africana, a Tiwani Contemporary, até o dia 8 de fevereiro."

http://www.bbc.co.uk/portuguese/videos_e_fotos/2014/01/140114_galeria_barbearia_africa_fn.shtml



Exóticos selvagens

Enquanto preparo o início das aulas da disciplina optativa "Museu, espaço e poder" vou reunindo material e selecionando mais algumas leituras. 
Encontrei por exemplo essa boa matéria da BBC:
"Uma exposição no museu do Quai Branly, em Paris, mostra como seres humanos considerados "exóticos, selvagens ou monstros" foram exibidos durante séculos em feiras, circos e zoológicos no Ocidente." A matéria é ilustrada por imagens da exposição, vale a pena conferir completa, aqui
Também retomo a leitura do bem cuidado Victorian Cities, do historiador britânico Asa Briggs. Tanto na introdução quanto no capítulo sobre Londres, é notável a quantidade de referências citadas, na literatura e na análise social, em que os diferentes, os excluídos, os ameaçadores, estejam no espaço imperial, estejam nos becos da grande metrópole, são associados em analogias que os colocam "no mesmo saco". Assim, a África é o continente negro (dark) e o East end a região escura (dark) de Londres, e seus moradores frequentemente eram comparados a selvagens polinésios ou africanos.
Guillermo Antonio Farini posa com pigmeus no Royal Aquarium de Londres. Foto: Pitt Rivers Museum, Universidade de Oxford.


Pôster do Circo Robinson anuncia um espetáculo com 'povos selvagens', afirmando ser a maior exibição do século. Foto: grupo de pesquisas Achac, coleção particular