segunda-feira, 28 de abril de 2014

Conhecimento, espaço e poder no Brasil

Reflexos n°2 - Conhecimento, política e instituições no Brasil (1889-1934)

Paulo Teixeira Iumatti
Professor Livre-Docente  - Instituto de Estudos Brasileiros – Universidade de São Paulo
Julio César De Oliveira Vellozo
Professor - Universidade Mackenzie – São Paulo

O artigo procura apresentar um novo quadro interpretativo para o estudo da produção intelectual brasileira de 1889 até os anos 1930, propondo um esboço do modo de articulação entre instituições, política e produção do conhecimento no Brasil a partir da proclamação da República, e, particularmente, das transformações deflagradas pela fórmula federativa da Constituição de 1891. Argumenta-se que tais transformações definiram uma nova configuração para as disputas inter-regionais e suas relações com o poder central – configuração que repercutiu profundamente nos mais diversos ramos da produção do saber e da arte. Compreender tal produção à luz dessas transformações implica trilhar uma vertente pouco explorada pela bibliografia, qual seja a da recuperação das mediações entre espaço público, política, vida intelectual e epistemologia, o que, por sua vez, ajuda a lançar luz sobre aspectos importantes relativos à vida intelectual, institucional e política a partir dos anos 1930, marcada, por exemplo, pelo surgimento das universidades.

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Um trecho:

"Era fundamental à República manter certo controle sobre os conflitos descritos acima – e, sobretudo, procurar construir sua legitimidade em face dos mesmos. Para isto, valia-se do fato de que a dinâmica dos confrontos tornava ainda mais necessária uma esfera superior reconhecidamente legítima, em que o verdadeiro e o falso pudessem ser discernidos em face de provas, ou em que os argumentos fossem suficientemente fortes para desencadear ações oficiais e processos de ordem jurídica. Essa esfera não era formada apenas por instituições como o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, mas dizia respeito à própria imprensa, a instituições culturais de abrangência nacional, como a Biblioteca Nacional, a Sociedade de Geografia, a Liga de Defesa Nacional e o IHGB (Instituto Historico e Geografico Brasileiro), e fóruns de discussões e negociações como os Congressos de História Nacional ou de Geografia. Nessa esfera, tornava-se urgente produzir e veicular um conhecimento que estivesse à altura da necessidade de argumentos fortes, reconhecidos em situações de conflito, tudo parte da emergência de um paradigma modernizador.
Destarte, a assimilação do modo “moderno” e realista de produzir ciência e técnica passa a ser imprescindível à consolidação da República e dos grupos que procuram se reequilibrar no poder, nos Estados e na União. Ora, esse movimento está na base do momento de renovação metodológica que inspira figuras-chave da produção intelectual do período, provocada por movimentos gerais que se faziam sentir no mundo e pelas demandas da nova situação jurídico-política aberta com a Constituinte de 1891."

Outro:

"Observamos que a demanda convergente por um espaço de legitimidade colaborou de forma decisiva para que se processasse uma mudança no paradigma predominante do que era tido como um conhecimento legitimamente reconhecido como verdadeiro. Tratava-se de modernizá-lo, de colocá-lo em consonância com métodos desenvolvidos na Europa e nos Estados Unidos. Com efeito, é possível constatar (e o fato tem sido constatado, mas não explicado pela bibliografia pertinente) que, em face das necessidades práticas, concepções deterministas e grandes sistemas biológicos, filosóficos ou sociológicos, que interpretavam a evolução total da humanidade ou fatos específicos a partir de prismas mais ou menos inflexíveis, dando pouca margem para o diálogo com o empírico, perderam espaço em todas as áreas: na medicina, na engenharia, nos estudos geográficos e geológicos, nos estudos lingüísticos e etnológicos, na história etc. [27] Assim, por exemplo, a discussão de novas teorias, como a bacteriologia, que explicava a origem das doenças, colocava em xeque representações consolidadas sobre o peso do fator climático e/ou racial. Na etnologia o mesmo acontecia a partir de estudos como os de Franz Boas, que combatiam os esquemas dos antropólogos evolucionistas, de um lado sustentando a necessidade de estudos monográficos, parciais, e menos ambiciosos, e de outro criticando os determinismos de raça e meio [28]."

museologando: Públicos de cultura no Brasil

museologando: Públicos de cultura no Brasil: Na última quarta-feira (9/4), o Sesc e a Fundação Perseu Abramo apresentaram os números preliminares da pesquisa Públicos de Cultura – Háb...

sábado, 12 de abril de 2014

Patrimônio e conflito

"Conferencia internacional Patrimonio Cultural y Conflicto, Heritage and Conflict. La Universidad de Cantabria (Instituto de Prehistoria, IIIPC), la ONG Heritage for Peace (H4P) y el CSIC (IMF Barcelona) organizan en Santander una Conferencia Internacional sobre el Patrimonio Cultural en situaciones de conflicto y guerra. La Conferencia reunirá los próximos 23 y 25 de abril en el Paraninfo de la Universidad a expertos  procedentes de Egipto, Libia, Siria, Líbano, Iraq y Bosnia-Hercegovina, entre otros países. Los expertos presentarán las experiencias vividas en países que han sufrido recientemente conflictos que han asolado sus patrimonios culturales. La reunión servirá además para examinar, de la mano de algunos de sus protagonistas, la  situación actual que se produce en Siria tras varios años de grave inestabilidad y para proponer medidas que permitan salvaguardar su ingente patrimonio ahora en peligro. En particular, la Conferencia estudiará el desarrollo del tráfico ilícito de antigüedades y la práctica de excavaciones clandestinas que está expoliando el patrimonio arqueológico de la región." [ler documento completo]

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Questões que certamente irão fazer parte das discussões da disciplina Museu, Espaço e Poder a partir da próxima aula, quando adentraremos a última unidade.