quinta-feira, 8 de março de 2018

MUSEUS COMO LUGAR DE ENCONTRO [Tipologia 2017]

UFMG - ECI - Museologia

Aluna: Luísa Franco Guimarães Domingues

Geralmente quando se pensa em museu, automaticamente espera-se encontrar uma coleção e sua história, localizados em uma construção bela e charmosa. Podemos acreditar que nos tempos passados era realmente assim, estabelecimentos, sejam eles de qualquer natureza, também eram lugares de encontro, elaboração de conhecimento, glamour e poder, como charutarias, livrarias, praças, e os museus não ficavam de fora. Com a globalização, a sociedade vive praticamente em uma eterna discussão de como produzir conhecimento, a maneira de como a informação chega até as pessoas passou por uma mutação assim como o mundo afora, a cada segundo uma transformação. Com o tempo os espaços museológicos foram perdendo sua notoriedade, justamente por conta da mudança continua dos indivíduos perante o mundo. As novas relações e interpretações sociais não enxergam mais o museu como um espaço de encontro e realizações intelectuais e sim, talvez, como uma mera extensão da escola, onde o interpretam como um dever escolar e não um espaço para novas discussões e conceitos.
Os debates a respeito de como modificar essa onda de rejeição para com os museus, pairam sobre todas as áreas da educação e cultura, principalmente a Museologia. Por esse motivo não tão distante, em 1972 houve uma Mesa Redonda em Santiago no Chile, para discutir os novos caminhos que tomariam a Museologia. Foi entendido que as transformações sociais, econômicas e culturais que se produzem no mundo, e, sobretudo em um grande número de regiões em via de desenvolvimento, são um desafio para o campo museológico. Dessa forma os problemas colocados pelo progresso das sociedades no mundo contemporâneo devem ser pensados globalmente e solucionados em seus múltiplos aspectos, em pleno engajamento de todos os setores da sociedade. Essas adversidades não podem ser resolvidas por uma única ciência ou por uma única disciplina, afinal a nossa sociedade possui infinitas distintas características. Esse encontro definiu que o museu terá de exercer uma função social, para possibilitar novas interpretações sobre esses espaços “guardiões da memória”. Surgem então novas formas de pensar museu, em lugares não tão glamourosos, mas ricos em abrigar uma história nem sempre representada em grandes coleções de objetos peculiares. A iniciativa de pensar lugares de memória, inserindo uma determinada região e/ou comunidade como os principais atores desse projeto, enriquece o povo local.

Gerando um sentimento de pertencimento a respeito da identidade regional e orgulho pela valorização e reconhecimento de uma memória não material. Atualmente, na maioria das vezes, não são porcelanas e pratarias que representam um determinado grupo social, mas sim seus costumes respeitados e perpetuados por anos, muitas vezes cantigas antigas, receitas culinárias ou o processo de manufaturar algo e não o produto final necessariamente. São essas memórias que vagam pelo medo do esquecimento em determinadas comunidades. E portanto precisam ser valorizadas e reconhecidas, pois são elas o bem mais precioso de um corpo social. Mas o que acontece com os museus que já existem em grande quantidade pelo mundo afora? Como criar um diálogo entre esses espaços já existentes com toda a população?

São essas questões que a museologia tem de enfrentar em tempos com os atuais. O caso de muitos confundirem os museus apenas como uma extensão escolar, talvez venha do fato de que ambos têm muito o que ensinar, porém de maneiras distintas. O significado da palavra ensinar paira por dois sentidos, o de doutrinar, repassar um determinado conhecimento ou o ato de instruir, transmitir alguma experiência. Portanto a diferença entre museu e escola está representada através do próprio significado da palavra. A escola, de certa forma, doutrina e repassa um determinado conhecimento, totalmente diferente do papel dos museus, que seria instruir sem impor absolutamente nada para qualquer visitante, seja ele aluno ou não. Esse paradigma tem de se quebrado com novas soluções para colocar a sociedade ligada diretamente ao que ocorre dentro dos museus, para que eles sejam vistos novamente como espaços de memória, onde todos são proprietários de toda a história ali representada e que não existem limites para os pensamentos gerados a partir desses espaços.

Os museus têm muito o que transmitir, através do passado é possível se pensar um novo futuro. Fazer os museus se tornarem novamente grandes pontos de encontros de discussões variadas, é um caminho para uma sociedade produtora de questionamentos a respeito da vida e do cotidiano. Para que não hajam mais perguntas como “para que servem os museus?”, e se tornem espaço comuns de encontro, felicidade e produções de conhecimentos nesse mundo contemporâneo.


BIBLIOGRAFIA

BARBUY, Heloísa. A conformação dos ecomuseus: elementos para compreensão e análise. Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Ser. v.3 p.209.236 jan./dez. 1995.

PRIOSTI, Odalice Miranda. A dimensão político - cultural dos processos museológicos gestados por comunidades e populações autóctones. SEMINÁRIO DE IMPLANTAÇÃO DO ECOMUSEU DA AMAZÔNIA E DO PÓLO MUSEOLÓGICO DE BELÉM/ PA, 8-10 de junho de 2007, 26p.

Coleções inusitadas: Herança dos Gabinetes de Curiosidades [Tipologia 2017]

Universidade Federal de Minas Gerais Escola de Ciência da Informação 
Disciplina Tipologia de Museus Curso Museologia 

Prof. Luiz Henrique Assis Garcia 
Alunos: Rita Carvalho e Raphael Oliveira 


Existe diferença entre colecionador e acumulador? O dicionário Aurélio da língua portuguesa define coleção como a “Reunião de objetos da mesma natureza.” e colecionador
como “Indivíduo que coleciona.” O colecionador é aquele indivíduo que ao longo de sua vida incorpora bens com valor atribuído por ele ao seu patrimônio, bens esses que se encaixam nos seus interesses pessoais e assim são incorporados e cuidados  por ele. Ele seleciona os objetos que vão fazer parte da sua coleção, diferente do acumulador que no geral agrupa objetos sem um tratamento ou organização e muitas vezes espera que este ainda tenha alguma função para desempenhar. No campo da museologia de acordo com a definição do ICOM (Conselho Internacional de Museus) para evitar banalização do uso do termo “coleção” no contexto dos museus, é entendida como “um conjunto de objetos materiais ou imateriais que um indivíduo, ou um estabelecimento, se responsabilizou por reunir, classificar, selecionar e conservar seja
está uma coleção pública ou privada.”
Nos séculos XVI e XIX existiam colecionadores que mantinham coleções com uma variedade de objetos organizados em grandes salas, como no Museum Wormianum de propriedade do nobre dinamarquês Ole Worm. Esse acervo era composto por elementos de várias culturas, o qual ficou conhecido como um exemplo de gabinetes de curiosidades.
Os gabinetes de curiosidade eram grandes coleções de fósseis, plantas, objetos e animais empalhados que eram exibidos para outros nobres como troféus e representavam o poder do conhecimento daqueles que o possuíam.

Atualmente temos grandes colecionadores que a partir de seus acervos pessoais fundam museus como o colecionador Antônio Carlos Figueiredo que fundou o Museu do Cotidiano, em uma área de mais de 600 metros quadrados, próximo do Circuito Liberdade. Sua coleção possui milhares de itens que vão desde primeiros carros vendidos no Brasil a brinquedos do Parque Municipal de Belo Horizonte.

Seu idealizador acumula objetos relacionados ao cotidiano da cidade como placas de lojas e objetos que narram a evolução tecnológica no Brasil como a chegada da televisão e dos celulares. Um colecionador peculiar com interesse nos mais diversos temas e que tem a missão de transformar os objetos que recebeu de doadores ou foram comprados em acervo documentado e identificado de forma que atenda às exigências do instituto brasileiro de museus.

Links:
Museu do cotidiano-BH  https://www.youtube.com/watch?v=RTFnXYmWb4o

Referências bibliográficas:

BRIGOLA, João Carlos Pires. Coleções, gabinetes e museus em Portugal no século XVIII. Textos universitários de Ciências sociais e humanas 2003

Facta

Dicionário Aurélio
Disponível em: ‹https://dicionariodoaurelio.com Acesso em: 26 nov. 2017

Gabinete de curiosidade
Disponível em http://gabinetedecuriosidades.org/o-gabinete/ Acesso em: 26 nov. 2017

Conceitos Chaves de Museologia Disponível em

Museu Do Cotidiano


Entre o nu e a assinatura: o papel da mulher nos museus de arte [Tipologia 2017]

ECI - UFMG - Museologia
Grupo: Beatriz, Bruno, Carina, Renata, Ronaldo.


“As mulheres precisam estar nuas para entrar no Museu de Arte de São Paulo? Apenas 6% dos artistas em exibição são mulheres, mas 68% dos nus são femininos”

Quase sempre, o primeiro contato que temos com a arte é na escola, seja visitando um museu, seja frequentando as aulas de arte que fazem parte da grade escolar. Nessas classes, o indivíduo começa a ter as primeiras noções sobre os artistas, as coleções, os espaços culturais e museus. Por isso é tão importante que esse contato inicial com a arte seja estimulado de maneira prazerosa, instrutiva, preocupada com os conceitos que são ensinados, sem nunca esquecer de levar em conta o universo imenso e diverso que temos na área artística.

Quando o aluno é incentivado a expandir seu modo de ver, de se expressar e de se comunicar através do que está sendo apresentado a ele, tanto nos museus quanto dentro da sala de aula, ele se torna um cidadão capaz de se conhecer e se reconhecer dentro da sociedade de uma forma muito melhor.

A arte é uma construção social, por isso, definir um conceito único de arte se torna praticamente impossível. Ela possibilita a percepção individual de cada ser humano e, por ser quase um sinônimo de expressão de sentimentos, cada um percebe a obra artística de acordo com as próprias experiências de vida, criando um diálogo único com o que está sendo visto, ouvido ou sentido. Essa conversa permite que a arte ganhe um significado singular para cada pessoa, e é por isso que estimular desde cedo o contato com o universo artístico é tão importante.

O lugar mais comum para a arte é o museu. Com a instituição museal surgiram e foram desenvolvidos seus conceito como a museologia social que trata de reflexões que instituem o museu integral, ao serviço da sociedade, e, por outro, vinculam os museus a novas funções sociais, como agentes de comunicação e de intervenção social, tendo como epicentro o indivíduo e a comunidade, deixando o museu de ser encarado como mero local de armazenamento de coleções ou de memórias.

A partir disso, a museologia de género pode ser também entendida também como a feminização das funções de direção e de curadoria de museus ou de instituições museológicas, bem como a sua representação no próprio espaço do museu, a qual é considerada indispensável à concretização de políticas de boas práticas. O conceito de museologia de género é relativamente recente, tendo surgido nos anos 1990. Resultou da convergência de diferentes fatores, provenientes tanto da área específica da museologia como do campo dos estudos das mulheres e do género.

“Ser artista para a mulher é resgatar o mito de Lilith, substantivando predicados de valor: ser disciplinada, criativa, inovadora, autônoma, ter o domínio da técnica. Ser artista é abrir possibilidades e atributos, construindo a si mesma como sujeito”

O destino biológico da mulher ao longo da história sempre ficou restrito à esfera doméstica, nos cuidados da casa, filhos e maridos. A esfera cultural, por outro lado, foi restrita aos homens, cidadãos, que tinham papel de grande importância dentro da comunidade.

Desde a pré história o corpo feminino foi mistificado através do poder da geração da vida. A preservação da espécie fica como responsabilidade da mulher, portadora dessa desse processo magico. O mais comum exemplo dessas representação é a Vênus, tão normalmente encontrada dentro das obras de artes. É a partir daí que” a mulher perde espaço cultural cooperativo na medida que o homem passa a dominar a sua função biológica.”

Na Grécia antiga o corpo idealizado era o masculino, enquanto a fisionomia feminina era mostrada em grande parte vestida. Já na Idade Média o corpo feminino passa a ser porta de entrada para o pecado, enquanto a imagem da virgem passa a ser a idealização do feminino. A exaltação da beleza feminina se dá somente a partir do Renascimento onde a mulher se torna objeto de admiração pela sua imaculada beleza. Durante o renascimento a beleza passa a ser exterior, e a mulher passa a ter importância social pelo seu poder de sedução.



A partir do século XV, com a efervescência de corte que busca uma individualidade, construída a partir das identidades, aparece o estilo na arte e aparece também a emergência de uma nova linguagem: o corpo nu. O corpo feminino passa a ser celebrado ao longo do século XV ao XVIII. “A sensualidade da mulher adquire valor social: a venenosa nudez, o despudor. A mudança no imaginário erótico é representado. Vemos nas representações da mulher a partir do renascimento o refinamento do flerte juvenil; a tentação servil; a erotização da esposa; a infidelidade conjugal; prostitutas mais adequadas e discretas - a representação das artistas (cantoras e dançarinas) A mulher além de segundo sexo, passa a ser o belo sexo.” Os temas mitológicos e bíblicos são pretexto para despi-las e a ocorre a predominância do nu feminino sobre o masculino.

O êxito estético da imagem da mulher sob a imagem masculina, no entanto, não eliminou de fato as relações hierárquicas presentes na ideologia social, podendo até ter contribuído para reforçar um estereótipo equivocado e que é se é presente até hoje ( a mulher como um ser frágil, dócil, passível, condenado à dependência). Nesse processo todo de idealização da imagem feminina ocorre o aprisionamento da própria essência da mulher, que até hoje não se vê representada por tais imagens, sejam elas em obras de artes, esculturas, à até mesmo capas de revistas e outdoors.

É somente a partir da década de 70 que artistas, críticos e historiadores feministas começam a reivindicar o espaço da mulher artista dentro da história da arte, excluída pelo monopólio masculino, sendo que as qualidades femininas foram muito tempo vistas como negativas nas obras de arte e que, a história da arte tem construído um discurso do artista como herói (homem), o que descarta a mulher deste universo.

A conquista à alfabetização e escolaridade se deu de forma diferente entre homens e mulheres, assim como seus direitos como cidadão. Nascidas em famílias de alta condição social e de caráter mais libertário, de fato um pequeno número de mulheres obtiveram a oportunidade de se tornarem artistas. Mas a educação feminina sempre estava primordialmente relacionada aos hábitos domésticos.

“As lentas transformações se devem, provavelmente ao não reconhecimento da mulher como participante da sociedade no âmbito público e na cultura, não sendo necessário seus direitos a instrução”

Grandes mulheres passam a aparecer no meio das artes e protagonizam a luta pela assinatura até hoje. De forma representativa podemos citar Artemisia Gentilesch (1593) que sua história, como mulher e como artista, ganhou repercussão após sua temática agressiva contra homens. Artemisia, da Itália, é conhecida por influências de Caravaggio na sua pintura porém, ela a história que não se repercute e que realmente afetou diretamente o seu trabalho é de seu estupro. Após ser estuprada e, além disso, culpada por, momento, estar no lugar errado (um ateliê de arte), percebemos uma mudança brusca na sua forma de pintar. Artemisia Gentilesch não foi uma representante do barroco italiano apenas por admirar o trabalho de Caravaggio mas porque todo o horror e trauma que viveu e que só o barroco com suas cores fortes poderiam representar.

Além desta, podemos citar Berthe Morisot (1841) que é representante do impressionismo, apenas exaltado por assinaturas como a de Van Gogh e Manet. Kathe Kollwitz (1867), da Prussia, representante do expressionismo alemão tratava de questão sociais de seu tempo, entre duas guerras, além de dominar técnicas de gravura e litografia. Tamara Lempick (1898), fugida aos 14 anos com a família para paris para fugir dos horrores de Varsóvia, representa o art decó e a geometrização da pintura. Podemos citar também Frida Kahlo que, apesar de toda a sua maestria, ficou mais conhecida por sua relação perturbada com seu marido, o também pintor Diego Rivera. Além disso podemos citar ainda Anita Malfatti e Tarsila do Amaral além de Bertha Lutz pela sua influência tanto na briga por direitos feministas quando pelos museus de ciências naturais.

Um grupo de mulheres vem se destacando, mas elas já exercem suas atividades há pelo menos 32 anos, elas se auto intitulam Guerrilla Girls, usando máscaras de gorila para protestar de forma bem-humorada e ousada contra a desigualdade de gênero e de raça no mundo da arte – em inglês, a pronúncia das palavras guerrilha e gorila é semelhante. O questionamento central é: Por que há tão poucas artistas mulheres com obras em exposição nos museus e galerias de arte, se há tantas modelos nuas nas peças exibidas?

GUERRILLA GILRS: As mulheres, seus espaços da arte, todos os espaços da arte

Para exemplificar as possibilidades de expressão feminina no mundo da arte e confirmar os reflexos do mundo real no mundo da arte nasceu nos anos 1980 o grupo Guerrilla Girls. Formado por um grupo de mulheres buscou mostrar ao mundo que a desigualdade de gêneros também se refletia no campo das artes. O primeiro foco de atuação ocorreu em função da exposição “An international survey of recent painting and sculpture” (“Um panorama internacional da pintura e da escultura recente”) que ocorreu no Museu de Arte Moderna de Nova York, em 1984.

Qual a realidade da exposição de 1984?

A de apresentar um panorama artístico em que somente 13 dos 165 artistas de 17 países que expunham suas obras eram mulheres. Uma realidade no mundo das artes que refletia a desigualdade social entre homens e mulheres e que se intitulava como aquela que, à época, representava um conjunto dos mais importantes artistas do mundo.

O propósito do grupo é ter como foco as questões relativas à realidade das mulheres nos diferentes campos sociais, sejam pessoais ou profissionais, sejam privados ou públicos, sejam individuais ou coletivos. Iniciada com a exposição de uma situação diferenciada quanto ao gênero feminino no mundo das artes, as diferentes expressões do grupo buscaram expor questões sobre a participação das mulheres nos diferentes campos e uma relação com o mundo das artes.

Desde a formação elas são incógnitas e anônimas e contam com mais de 55 membros ao longo do tempo em que atuam com máscaras de gorila como forma de expressão e para se manterem “desconhecidas”. Realizaram mais de 100 projetos com propostas que compõem desde projetos de rua, cartazes e adesivos a exposições em museus em que “desnudam” um universo em que se tem práticas discriminatórias exemplificadas pelas desigualdades recorrentes nas exposições e no campo das artes. As formas de expressão do grupo se fazem em cartazes provocativos e reflexivos cartaz acerca da quantidade de mulheres em exposições, de maneira cronológica e perspectiva nos Museus de Nova York: “Quantas mulheres tiveram exposições individuais em Museus de Nova York no ano passado? como abaixo apresentado.



Se percebe do movimento uma preocupação com as questões de gênero no mundo das artes, seus reflexos e suas intenções. Ainda assim se percebe um campo a ser explorado, de busca da participação e da identidade feminina de maneira igualitária e libertária. Um grupo que busca desconstruir o modelo social e histórico de visão do mundo feminino, do mundo da mulher.
Elas estão por diferentes locais, pelo mundo. De diferentes maneiras, em suas expressões, seja em cartazes, livros, adesivos, ações, conversas, apresentações, workshops e exposições. No ano de 2017 foram diferentes manifestações, na Marcha das Mulheres em Washington DC e em Los Angeles e na “Occupy Museums Statement and Protest” no MoMA em Nova York. Durante o meses de setembro a novembro de 2017 participam de uma mostra em São Paulo no MASP com sua primeira retrospectiva sob o título “Guerrilla Girls: Gráfica, 1985-2017” no período de 01/12/2017 a 14/02/2018 com cerca de 100 dos trabalhos mais importantes cartazes em 30 anos de carreira.
Se não por obrigação ou dever, os museus de arte têm por uma questão de consciência essa dívida com as mulheres. Eles devem repensar a forma em que as mulheres estão representadas em suas galerias, elas não somente devem ocupar o posto de “objetos museais”, mas também o de criadoras desses objetos, de expositoras, de curadoras ou qualquer outro que lhes convir. Vá ao museu mais perto de você e conte os trabalhos assinados por mulheres. O desafio lançado pelas Guerrilla Girls há alguns anos mantém-se atual: a relação das mulheres com os museus define-se pela ausência, sobretudo ao nível dos discursos expositivos.
Aliás, de um modo geral, o simbolismo e a metáfora têm, nos museus da mulher, um lugar cativo. Portanto, é perceber que todas essas mulheres, - seja ela de Willendorf, de Milo ou de Malta - ganharam vida e estão por aí criando sua própria visão do que venha a ser a Vênus Moderna. Sendo assim, os lugares de memória, devem introduzir pontos de vista tendentes à igualdade, de modo a que também reflitam o protagonismo feminino no processo da construção humana.

Referencias:

EXPOSIÇÃO EX AFRICA: UMA REFLEXÃO SOBRE A ARTE CONTEMPORÂNEA AFRICANA [Tipologia 2017]


Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Ciência da Informação
Museologia – 3º Período
Disciplina: Tipologia de Museus - Prof. Luiz Henrique Assis Garcia
Alunos: Cláudia Camelo, Cristina Fonseca e Polianna Santos.


           

Fonte: Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte - Inzilo, Mohau Modisakeng

            Ressignificar a história, transferindo o olhar para a outra margem do oceano, é a abertura para o diálogo entre o passado e o presente no atual mundo globalizado. A arte contemporânea se apresenta como o veículo portador de uma nova visão que está permitindo a arte não-ocidental penetrar e transcorrer pela cena artística mundial. No caminho da descolonização da arte, a exposição Ex Africa, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil em Belo Horizonte, é espaço de reflexão e enfrentamento dos moldes escravistas propagados. Em formato blockbuster, internacionalmente padronizada e inserida na conformidade da indústria cultural, a exposição intenta discorrer sobre realidades que vão ao encontro da arte africana, através da expressão de dezoito artistas vindos de oito países da África.


Fonte: Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte - Fragments from the City, Abdulrazaq Awofeso

Fica evidente a potencialidade dos temas abordados, ao passo que os processos de transformações radicais que a África passou nas últimas décadas e a globalização generalizada se mesclam às inscrições deixadas pela história em todo o continente. Esse tem sido um debate internacional que aborda um pensamento descolonial do século XXI no campo da arte não-ocidental e, que propõe o deslocamento da ideia eurocêntrica de uma arte tradicional, que carrega o selo do artesanato e das referências etnográficas, para uma dimensão contemporânea da produção artística africana, politicamente engajada, interativa, diversificada e marcada por processos de intercâmbios e aculturações.



Exposição “l’Art des Lega d’Afrique Centrale”© musée du quai Branly

        Nos gabinetes de curiosidades, as coleções funcionavam como emblema de poder e prestígio social do colecionador, nas quais a Europa se embasava para definir e subjugar as sociedades não ocidentais, assim como, ainda hoje, as coleções de arte “primitiva” nos museus etnográficos também são baseadas em  relações de disputas e poder. O que a arte contemporânea africana traz à tona são questionamentos sobre os museus tradicionais onde a arte africana, tida como estagnada historiograficamente, sofre uma resistência à sua integração em acervos diversos, produzindo assim um discurso que aborda as relações de poder incorporadas nesses acervos.

Fonte: Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte - Genesis [Je n'isi isi] III, Kudzanai Chiurai

            São inegáveis as considerações que se pode fazer ao visitar Ex Africa. Deixa-se para trás experiências vividas em museus etnográficos, muitos deles agora tipificados como museus de arte, a exemplo do museu do Quai Branly, em Paris, França, cuja abordagem hoje de suas coleções tradicionais é predominantemente estética. Fundado a partir dos acervos de dois museus etnográficos e pela parceria entre o presidente Jacques Chirac, que intencionava deixar a marca de sua gestão no patrimônio cultural francês, e pelo amigo e colecionador de arte africana Jacques Kerchache, o Museu Branly sentiu as pressões anti-colonialistas pelas quais passavam os museus etnográficos, acusados de reificação e caricaturização das culturas alheias. Viu-se, então, tensionado a deslocar o olhar sobre suas coleções para uma via estetizante, que se insere ao mercado de arte, sem entretanto aprofundar a discussão acerca dos movimentos artísticos pós-coloniais e tão pouco abrir-se a eles.

Percebe-se, no discurso institucional, uma certa preocupação de dar espaço ao Outro e de contextualizar os contatos interculturais entre europeus e não-ocidentais. Contudo, predomina a intenção de transformar a nova instituição em um ponto turístico nacional e internacional, voltado ao lazer e à diversão acessíveis ao grande público (GOLDSTEIN, 2008).
       
            Neste sentido, fica evidente na exposição Ex Africa uma abertura ocidental aos diversos estilos de arte que coexistem no continente africano, superando o estigma da arte primeira e também o poder por detrás de uma exposição internacional que traz conceitos e problematizações próprios das sociedades contemporâneas africanas, no que tange às relações antepassadas entre os continentes e seus desdobramentos globalizantes.

A ideia da arte “etnográfica” designada assim pela sociedade ocidental, onde os povos não-ocidentais seriam capazes apenas de produzir uma arte “primitiva”, um artesanato, como uma manifestação tradicional padrão e não uma produção individual, é refutada nesta mostra. A exposição Ex Africa apresenta justamente a individualidade na arte contemporânea africana, visto que já na apresentação da exposição os nomes de todos os artistas estão indicados na parede de entrada, mostrando que esta individualidade não ofusca o sincronismo e a coerência existentes entre as obras e os artistas. Para PRICE (1996),

(...) adaptações, inovações e reelaborações criativas configuram as formas, em constante evolução, da música e da dança, tanto quanto das artes plásticas (e visuais) ... não é nenhuma arte "tradicional" passivamente herdada da África, mas sim a soma total de uma corrente de inovações, através das quais os artistas jogam com as formas tradicionais sem jamais deixá-las inalteradas.

Tudo isso na ótica da arte contemporânea africana, com suportes e técnicas variados, que utilizam fotografia, instalação, vídeo, pintura, escultura e até Afrobeat, música pop de Lagos (Nigéria), que surge como um pertinente exemplo de aculturação. É o que pudemos sentir e compreender na exposição Ex Africa, um recorte cultural do mundo não-ocidental, em especial o africano, com sua própria narrativa acerca de questões históricas, da natureza da criação individual, da autoria desta criação, das relações entre arte, religião, poder, mercado e sobretudo das relações pós-coloniais regionais e intercontinentais. Todas essas obras estão repletas de histórias a contar e ressignificar, ecoadas da outra margem do oceano.

Links:




r/fr/
REFERÊNCIAS:

AREIA,  Manuel Laranjeira Rodrigues de . Patrimónios Culturais Africanos: 1 As Velhas colecções e a nova África  Africanologia - Revista Lusófona de Estudos Africanos n. 2 (2009): Africanologia

EXPOSIÇÃO EX ÁFRICA, 2017, Centro Cultural Banco do Brasil, Belo Horizonte, MG. Catálogo Ex África, Belo Horizonte, MG, Ministério da Cultura, 2017.

GOLDSTEIN, Ilana, 2008, Reflexões sobre a arte “primitiva”: o caso do Museé Branly, Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 279-314, jan.| jun. 2008.

PRICE, Sally, 1996, A arte dos povos sem história, Afro-Ásia 18 (1996), p. 205-224.

A censura como instrumento de poder [Tipologia 2017]



ECI - UFMG - Museologia


Grupo: Isabela Rocha, Victor Zanini, Luiza Fortes, Caroline Moraes, Rafaella Almeida, Heloísa Hashimoto, Edson Augusto. 

A arte tem como uma das suas funções a elaboração de discursos e diálogos que buscam a quebra de paradigmas culturais/sociais. A arte em si, que nada mais é do que uma expressão livre nunca buscou impor e sim levar a discussão. A censura está sim impositiva, leva a ignorância de todos uma vez que se limita a interpretação da expressão, encerrando o debate em função dos valores de alguns. Geralmente vinculada a visão conceitual de (des)governos e preconceitos sociais que buscam moldar a estrutura e o padrão de expressão da sociedade. Através da leitura do livro “Europa Saqueada” de Lynn H. Nicholas é possível construir um paralelo de ligação entre a repressão de movimentos artísticos e governos de cada época. A repressão ao que é diferente e a censura sempre existiram deixando como questionamento a forma como é definido o conceito do que é arte e os limites de sua expressão, esta que é uma expressão de liberdade, do cotidiano e da experiência do ser humano. 

Segundo Zygmunt Bauman, há grande cinismo na sociedade, principalmente daqueles que tentam impor seus gostos à multidão e podemos dar vários exemplos disso como Michelangelo e a sua obra “Juízo Final” que foi censurada por ser considerada profana e imoral para os valores da fé católica da época. Como sabemos, tempos depois os nus de Michelangelo já estavam sendo um pouco mais aceitos e devidamente reverenciados, o que não preveniu que muitas obras ainda fossem censuradas e escondidas por panos em exposições. No ano de 1865 o quadro “Olympia” de Manet foi considerado extremamente vulgar por trazer uma nudez realista, diferente dos padrões que traziam um nu idealista do corpo. 

Se a censura social de determinado tipo de arte já se configura como imposição de determinados setores da sociedade, a destruição permanente da mesma também é instrumento de poder como podemos ver desde as ações do Terceiro Reich alemão aos recentes atos de terrorismo na Síria e no norte do Iraque. A manifestação artística é uma das formas mais primordiais de comunicação e expressão humana (tendo como exemplo a arte pré-histórica) e através dela podemos perceber a construção da identidade de determinadas sociedades, grupos e nichos específicos independente de sua época. Enquanto que através da censura, podemos perceber quais grupos são dominantes e quais são os invisibilizados. 

O uso de censura é termômetro para avaliação de políticas fascistas e a ação de se censurar nada mais é do que um ato de intolerância e um desrespeito ao estado democrático pois não é possível a real expressão artística sem a liberdade de expressão, limitando a capacidade de entendimento e diálogo, em função da manutenção de valores e dogmas. 


Bibliografia: 

LOURENÇO, Maria Cecilia França. Museus acolhem moderno.São Paulo: EDUSP, 1999. 293p. 

NICHOLAS, Lynn H. Europa saqueada: o destino dos tesouros artísticos europeus no Terceiro Reich e na Segunda Guerra Mundial. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. 538p. 

BALDASSARRE, Maria Isabel. As origens do colecionismo de arte pública e privada em Buenos Aires. In: SOUZA, Eneida Maria de; MIRANDA, Wander Melo(Orgs.). Crítica e coleção. Belo Horizonte: UFMG, 2011. pp. 308-326. 

COSTA, Helouise. Da fotografia como arte à arte como fotografia: a experiência do Museu de Arte Contemporânea da USP na década de 1970. An. mus. paul. [online]. 2008, vol.16, n.2 [citado 2013-08-28], pp. 131-173 . 

MACHADO, Fernanda Tozzo. Os museus de arte no Brasil moderno: os acervos entre a formação e a preservação. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. 2009, 187 p. 

DEMARCHI, Rita de Cássia. Arte como conhecimento, patrimônio e identidade cultural 

Até onde pode ir a censura a obras de arte – REDE TVT: 


Um Império e dois Museus: Uma Breve História [Tipologia 2017]



UFMG - ECI - Museologia
Grupo: Letícia Castro, Miguel de Araújo, Paula Cury, Paschoal Colombini, Taynah Perfeito


Duas observações são correntes sobre Museus Históricos: são vinculados a formação dos Estados Nacionais e são construtores de uma Identidade Nacional. Nos domínios brasileiros, no período do Império, a História Nacional buscou se legitimar diante da visão do colonizador. Por essa perspectiva, os Museus Históricos foram criados sob um forte romantismo: a fantasia idílica dos indígenas e a celebração da natureza justificam a formação do acervo de grandes museus como de história natural. Os museus nacionais não eram, porém, aqueles detentores da flora e fauna, mas sim das riquezas culturais do Império.O primeiro grande museu foi criado em 1818, por D. João VI, com o nome de Museu Real, tendo o intuito de propagar o conhecimento e estudos das ciências naturais no Reino do Brasil.  Após a independência do Brasil, o Museu Real transformou-se no Museu Nacional.Anos mais tarde, o Imperador Dom Pedro II teve um interesse em colecionar tudo que fosse exótico e que lhe chamasse a atenção, mas vale ressaltar que, em sua coleção, não havia nenhuma referência às culturas de origem africana. Sua coleção particular era mantida no Palácio onde funciona o atual Museu Imperial, apesar disso ela foi doada por ele ao Museu Nacional do Rio de Janeiro, por conta do seu exílio imposto pelos republicanos.Ao transformar o palácio em museu, décadas depois, a coleção do imperador não foi mantida, preservando apenas os pertences da Família real como acervo. Antes, onde o acesso era privado, agora é um lugar público que nos possibilita a compreensão do que foi a vinda da família real para o Brasil, mostrando todas as suas regalias. Mesmo com o exílio, D. Pedro perpetuou-se sua imagem através do palácio, deixando-o como um lugar de memória nacional, repercutindo os resquícios da história real, tomada como soberana por tanto tempo.Tanto o Museu Imperial quanto o Museu Nacional do Rio de Janeiro possuem páginas online. No Museu Nacional, pode-se ver o grande número de peças de antigas civilizações e de história natural, representando a época em que o Brasil ainda se firmava através da tradição europeia  e imperialista, com um forte caráter cientificista que os museus primeiros carregavam.


Figura 1. CAIXÃO DE SHA-AMUN-EN-SU              Figura 2. BRAQUIÓPEDES FOSSILIZADOS
Acervo do Museu Nacional                                                             Acervo do Museu Nacional



Já no Museu Imperial, o site mais dinâmico nos permite fazer uma visita virtual completa. Nela, vemos os amplos cômodos  do Palácio Imperial e exemplos das vestimentas e dos costumes da família através tanto de um Tour Virtual quanto de Ambientes 360°. 


Figura 3. GABINETE DE ESTUDOS DO IMPERADOR D. PEDRO II


Figura 4. SALA DE MÚSICA E BAILE


Foi, então, com os Estados Nacionais, que os museus - qualquer que seja a tipologia - se estabeleceram, como donos de discursos universalizantes do imaginário nacional. De uma identidade que se consolida visando a metrópole, outras tantas são marginalizadas para ceder lugar a um teatro dominativo e normativo. Os museus históricos ainda se manifestam através das riquezas imperiais, mesmo que não mais aquelas naturais, mas agora construindo uma narrativa das elites brasileiras, deixando ainda pouco espaço para a representação de outros setores da sociedade.
Para os curiosos, fica, por fim, a indicação do episódio número 45 do canal Conhecendo Museu, da plataforma YouTube: Museu Imperial; e o episódio 13, do mesmo canal: Museu Nacional - UFRJ.


Referências:

Página Museu Nacional. Disponível em <http://www.museunacional.ufrj.br/index.html> Acesso em novembro 2017.

Página Museu Imperial. Disponível em <http://www.museuimperial.gov.br> Acesso em 2017.

SANTOS, Myrian Sepúlveda dos. Os museus brasileiros e a constituição do imaginário nacional. Revista Sociedade e Estado, XV (2), 2000.

SANTOS, Myrian Sepúlveda dos. Museus brasileiros e política cultural. Rev. bras. Ci. Soc. [online]. 2004, vol.19, n.55.

SCHWARCZ, Lilia Moritz e DANTAS, Regina. O Museu do Imperador: quando colecionar é representar a nação.Rev. Inst. Estud. Bras.. 2008, n.46.