quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Ecomuseus /museus comunitários: O Ecomuseu de Santa Cruz [Tipologia de Museus 2019]

Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Ciência da Informação – Graduação em Museologia
Disciplina: Função Social dos Museus - Atividade: Trabalho Final
Professor: Luiz Henrique Garcia de Assis

Autores:  Ana Feitosa, Mateus Portugal, Priscilla Lacerda, Rafaela Brandão



Fonte: http://www.ecomuseusantacruz.com.br/uploads/Home/41ea471efeabc2113e1b1c6b70ed77e2.jpg


     Ecomuseus são museus voltados para o ambiente nos quais estão inseridos. Os Ecomuseus dão grande ênfase ao seu papel social e propõem formas de interação com a comunidade, sendo conhecidos por essas características. Os criadores do Ecomuseu nunca negaram a importância do objeto como documento histórico ou como documento de memória, como alguns estudiosos crêem. Já os museus comunitários são como processos e tratam da relação do homem com a sociedade em que vive.

     A tipologia foi definida a partir de estudos realizados na França em três momentos: o primeiro, pensado na criação dos parques nacionais do fim do séc. XIX até a década de 1930; o segundo, pensado na construção dos museus ao ar livre e etnológicos até a década de 60; e, por fim, o terceiro momento, pensado nos museus e na questão social a partir da década de 1970, com amplo apoio governamental. Nos últimos anos nos países nórdicos e a América do Norte (incluindo o México) o assunto da relação dos museus com a comunidade vem sendo explorando e aprofundando por estudiosos.

     Dentro dessa dinâmica, destaca-se a transformação de suas funções, diferenciando-se dos museus clássicos: o museu comunitário como processo, ou seja, um museu que acompanha o desenvolvimento da sociedade; a museologia comunitária que envolve a reivindicação e a consciência dos indivíduos com relação aos seus direitos de propriedade sobre o seu patrimônio material e imaterial e, por fim, o Ecomuseu urbano onde ocorre o deslocamento dessa dinâmica etnológica e rural para o território das cidades.

     Dessa forma destaca-se o Ecomuseu do Quarteirão Cultural do Matadouro de Santa Cruz (1995) na cidade do Rio de Janeiro enquanto museu de território e o primeiro no Brasil. Criado em 1995, o ecomuseu possui 125km² de área, com objetivo de preservar e valorizar o patrimônio cultural e natural do bairro. Para além disso, desenvolve diversas atividades educativas, de comunicação e pesquisas realizadas à sua áreas descrita , sua história, seu território , seus habitantes e seu ecossistema. Coloca em prática uma nova museologia, inserida na vida cultural e nas lutas sociais da população em busca de educação de qualidade, saúde ambiental, cultura e lazer. Considerado um modelo de um museu ativo, educador-liberador, um museu processo.

     Toda a comunidade inserida dentro do espaço intercala a visitação às suas relações com o patrimônio, garantindo não só sua preservação, mas o diálogo com as demais partes da sociedade.




     Avaliando o caminho desses estudos e processos sobre os museus sociais e comunitários é necessário destacar que é preciso muito cuidado para que não haja uma espetacularização do Ecomuseu, fazendo com que este perca suas características essenciais, transmutando-se em aspectos próximos aos museus clássicos. Assim, após a implantação de um Ecomuseu é importante que se faça uma avaliação, contrabalanceando seus prós e contras. A comunidade deve pensar quanto à sua permanência: repensar suas ações e repercussão na sociedade, tarefa essa que será imcumbida à própria sociedade que o criou. Apenas quem participa ativamente do projeto pode dizer se o Ecomuseu ainda é porta-voz de suas reivindicações.

REFERÊNCIAS:

Ecomuseus de Santa Cruz, Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.ecomuseussantacruz.com.br> acesso em 23 de Nov. 2019.

BARBUY, Heloísa. A conformação dos ecomuseus: elementos para compreensão e análise. Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Ser. v.3 p.209.236 jan./dez. 1995.

RIVIERE, Georges Henri. La museologia: curso de museologia / textos y testimonios. Madrid: Akal, 1993 p. 195-220

VARINE, Hugues de. O museu comunitário como processo continuado. Cadernos do CEOM - Ano 27, n. 41, 2014, p.25-35.

PRIOSTI, Odalice Miranda. A dimensão político - cultural dos processos museológicos gestados por comunidades e populações autóctones. SEMINÁRIO DE IMPLANTAÇÃO DO ECOMUSEU DA AMAZÔNIA E DO PÓLO MUSEOLÓGICO DE BELÉM/ PA, 8-10 de junho de 2007, 26p.

Os processos de escolha, fala e silêncio: Relação de poder entre opressor e oprimido [Tipologia de Museus 2019]

Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Ciência da Informação – Graduação em Museologia
Disciplina: Função Social dos Museus - Atividade: Trabalho Final
Professor: Luiz Henrique Garcia de Assis

Autores: Bervely Oliveira, Elson Said, Erika Santos, João Pedro Gouvêa

     Os museus do Ocidente têm um passado mais ou menos comum. A maioria deles teve início com o que se denominou “colecionismo”, um agrupamento de objetos com características semelhantes, organizados de diferentes maneiras, por diferentes pessoas, geralmente aquelas que tinham melhores condições econômicas para adquiri- los.

     Acompanhar a trajetória das coleções é um ponto central para a compreensão de como colecionadores apropriaram-se de coisas exóticas, fabulosas, fatos e significados de outros. Logo, pode-se dizer que a preposição estrutural que emerge neste paradigma é, então, a de domínio. Domínio da Natureza, do Passado e do Outro.

     Segundo o ICOM “O museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, investiga, comunica e expõe o patrimônio material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite”.

     Por sua natureza própria o conceito de museu está diretamente atrelado ao universo do conhecimento, pois se não tiverem como referência o mesmo, tratar-se-á de mera doutrinação.

     Os museus expressam determinada percepção do mundo e comunicam mensagens. Portanto, evocam a idéia de um passado que pode exercer ação concreta no presente, com base em uma determinada linguagem. A compreensão em relação ao (re)conhecimento de um país, da sua história, das suas tradições, da sua população, do seu território, do seu patrimônio, das suas crenças e das suas sensibilidades fazem parte de uma concepção simbólica.



     Portanto, os sentidos e valores atribuídos aos objetos sejam eles cognitivos, afetivos, estéticos e/ou pragmáticos não são sentidos e valores das coisas em si, mas da sociedade que os gera, conserva, e detém o monopólio dos veículos de comunicação para sua circulação e consumo. Trazendo implicações sociais como a estetização do social e a transformação da História em espetáculo.

     O universo material em conjunto com toda sua significação simbólica tem a existência marcada pela necessidade de dar conta da apreensão sensorial. Temos desse modo seu valor de uso convertido em valor cognitivo. Ou seja, são mobilizados para afirmação ou reforço de identidades, transmutando-se num ícone cultural, de valor, agora, puramente emblemático (sujeitos a permanente transformação).

     O discurso que constitui o museu é uma representação construída. Dentro disto a memória é um importante fator, pois, é a partir dos testemunhos que as narrativas serão formuladas. Teremos, portanto, discursos específicos para um recorte do real. Há de se ter cuidado então com a criação interpretativa e a manipulação ideológica, tendo em conta que as memórias são atravessadas por sensações e afetos. A cada novo resquício de memória agregam-se novas emoções.




Referências:

BELLAIGUE, Mathilde. Memória, Espaço, Tempo, Poder. MUSEOLOGIA E PATRIMÔNIO - v.2 n.2 - jul/dez de 2009 http://revistamuseologiaepatrimonio.mast.br/index.php/ppgpmus

CLIFFORD, James. Quatro museus da costa norocidental: reflexões de viagem. In: Itinerarios transculturales.Barcelona: Gedisa, 1999.

DURAND, Jean-Yves. Este obscuro objecto do desejo etnográfico: o museu. in: Etnográfica, 2 (11). Revista do Centro de Estudos de Antropologia. Lisboa: CEAS / ISCTE. pp 373-385.

GOLDSTEIN, Ilana. Reflexões sobre a arte "primitiva": o caso do Musée Branly.Horiz.antropol. [online]. 2008, vol.14, n.29 [cited 2013-08-27], pp. 279-314.



Os gabinetes de curiosidades e a formação das coleções particulares [Tipologia de Museus 2019]

Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Ciência da Informação – Graduação em Museologia
Disciplina: Função Social dos Museus - Atividade: Trabalho Final
Professor: Luiz Henrique Garcia de Assis

Autores: Antonio Marcus, Beatriz Figueiredo, Carolina Rocha, Erika Mendonça, Karla Esther e Natália Rocha.

     O colecionismo é uma característica inerente à diversas sociedades ao longo da história. Entretanto, é a partir do século XVI que esse fenômeno começa a ser realizado de forma sistemática, ocasionado pela quebra do paradigma epistemológico dominante, tendo a racionalização medieval teocêntrica dado lugar ao antropocentrismo, onde o homem passou a ser considerado o detentor da razão e capaz de realizar suas próprias escolhas no mundo.

     As coleções particulares representam, uma maneira de sobreviver até mesmo à própria morte. É a memória, do colecionador, seu legado. Tal fato se torna intrinsecamente essencial, principalmente por se tratar de um período no qual a medicina ainda não era tão avançada e as pessoas morriam muitas vezes, bastante jovens. É um fenômeno “Carpe Diem”, do Latim, termo que, em tradução livre significa tanto “aproveite o dia” no sentido belo do termo, viver cada dia para aproveitar bem, quanto aproveitar o dia pois este pode ser o último que você vive. Ou seja, a compreensão da efemeridade da vida faz com que o homem colecione. Com o tempo, este surto colecionista se espalha, deixando de fazer parte somente da rotina da nobreza.

     O período das coleções faz com que muitas pessoas passem a ter armários que abrigam coleções em suas casas (até mesmo as casas de boneca tinham tais móveis com pequenas conchas e objetos). Se destacaram na Holanda, em decorrência da ascensão do Calvinismo, onde era vista com maus olhos a ostentação de bens terrenos. Assim, esses proprietários expunham suas maravilhas em armários que se localizavam no interior de suas residências.

     As coleções surgem, portanto, do interesse humano pelo belo e pelo emblemático, a sede de conhecimento que foi alimentada pelas navegações. Contudo, o fenômeno da peste negra e o medo da morte fazem também parte do processo de consolidação dos chamados gabinetes de curiosidades, que ao contrário do que muitos acreditam possui sim um método lógico de organização (e possuía no modo de organização dos artefatos, a “assinatura do seu idealizador, de seu dono).

     A Europa foi o berço dessa faceta do colecionismo em decorrência das Grandes Navegações, causadas pelas inovações tecnológicas, que colaboraram na expansão do comércio, possibilitando assim a troca não só de bens, como tecidos e alimentos, mas também de objetos considerados como “maravilhas”, que representavam o “invisível”, ou seja, países exóticos e sociedades diferentes.

     Em decorrência desse fenômeno, a criação de novos espaços para abrigar essas coleções torna-se imperativa, iniciando assim o aparecimentos de locais como os gabinetes de curiosidades e os studiolos.

Studiolo que pertenceu a Francesco I de Medici, século XVI.

     Esses espaços surgiram como uma forma mais privada para a apreciação dos objetos, onde colecionadores, cada vez mais curiosos e desejosos de obter itens belos e emblemáticos, como também de objetos que para eles eram incompreensíveis, guardavam seus bens, que lhes serviam para a demonstração de seu poder aquisitivo e também intelectual.

     Contudo, com a expansão da atividade colecionista, os studiolos já não eram suficientes para abrigar todos os itens que eram coletados, e alguns colecionadores começaram a se especializar de acordo com suas preferências, formando coleções de naturalia e mirabilia. No século seguinte, essas divisões foram se alargando, fazendo surgir coleções artísticas, de numismática e medalhística, até o século XVIII, com o aparecimento de coleções arqueológicas.

     Com tudo isso, é possível discutir a importância do colecionismo para a formação dos museus, visto que essas primeiras coleções fazem parte do acervo de muitos deles, independente de suas tipologias. Entretanto, não se pode considerar os museus como uma evolução de gabinetes e studiolos, já que esses espaços possuíam sua própria organização e epistemologia, diferente do contexto de criação dos museus, usados para a criação das identidades nacionais no século XIX.

     Outro ponto importante se refere à possibilidade de haver fruição nos gabinetes de curiosidades, o que se confirma pela constatação de que a fruição seria a função primordial desses espaços. Os colecionadores os construíam justamente com a função de apreciação. Nesse aspecto, a estética era extremamente valorizada, visto que esses espaços eram expositores de objetos, pinturas, plantas, animais empalhados, com cada gabinete trazendo em si a característica de seu proprietário.

     Posteriormente, muitas destas coleções particulares são realocadas nos chamados museus modernos. Porém, é errôneo dizer que os museus são evoluções dos gabinetes, pois estes são instituições distintas que, muitas vezes, inclusive coexistiram. Com a passagem das coleções particulares para os museus, pelo menos, em teoria, com a abertura da instituição para o público e com a “perda das marcas do dono da coleção, da força de seu nome nesta”, as coleções ficam um pouco mais neutras. Porém, convém lembrar que nenhuma exposição é efetivamente neutra. A expografia, quem é o curador, o diretor, o tipo de coleção e as empresas ou o governo vigente, são alguns dos muitos fatores que acabam marcando as exposições. Deve-se, contudo, trabalhar com o ideal de museu polifônico, efetivamente democrático e representativo, para que as instituições museais cumpram sua missão de preservar e dar acesso público ao patrimônio não somente em um documento, também de forma efetiva.

     Deixaremos a título de aprofundamento e curiosidade sugestões de vídeos que ilustram o interior desses gabinetes, assim como uma outra modalidade desse fenômeno, os armários de curiosidades.

     Vídeos: https://youtu.be/_NDTSe4Y5JE; https://youtu.be/FM5xSyb5EP4. (Ressaltamos que esses dois vídeos são uma sequência, sendo que ambos foram produzidos em língua inglesa e a plataforma de streaming oferece legendas apenas em língua inglesa).

 



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BLOM, Philipp. O dragão e o carneiro tártaro. In: Ter e manter. Rio de Janeiro; São Paulo: Record, 2003, p. 29-42.

BRIGOLA, João Carlos Pires. O colecionismo joanino. In: Colecções, gabinetes e museus em Portugal no século XVIII.Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.

JANEIRA, A. L. A configuração epistemológica do coleccionismo moderno (séculos XV-XViii). Episteme, Porto Alegre, n.20, janeiro/junho 2005, pp 23-36.

YATES, Frances A. A memória no renascimento: o Teatro da Memória de Giulio Camillo. In: A arte da memória. Campinas: Editora da Unicamp, 2007, p.171-204.

VIAGGIOINBAULE. Studiolo di Francesco I de’ Medici in Palazzo Vecchio, 2019, Disponível em:<https://www.viaggioinbaule.it/studiolo-di-francesco-i-palazzo-vecchio/>. Acessado: em 11 de novembro de 2019 às 13:13 horas.

O Surgimento dos museus de ciências no Brasil e sua importância para a sociedade brasileira [Tipologia de Museus 2019]

Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Ciência da Informação – Graduação em Museologia
Disciplina: Função Social dos Museus - Atividade: Trabalho Final
Professor: Luiz Henrique Garcia de Assis

Autora: Camila Pinho

     A história da concretização da instituição museu no Brasil teve seu inicio, como já muito estudado na museologia, com a vinda da corte Portuguesa e da família imperial para as colônias no ano de 1808. Com intuito virado primeiramente para a corte, o Museu Nacional fundado no ano de 1818, também teve um imenso impacto para a documentação e estudo das Américas vinculado principalmente com o estudo das ciências naturais do novo mundo. O local desenvolveu uma série de pesquisas da fauna e da flora até então desconhecida pelos europeus, o que acabou auxiliando para o desenvolvimento da então colônia e também da América Latina onde se documentou grande parte da história de todo um novo continente através da ciência.

     Porém, é apenas após a segunda metade do século XIX, que se começa a debater a ideia a utilidade do museu para a sociedade. No caso dos museus de ciências, inicialmente a proposta era a divulgação para o grande publico de suas coleções e conhecimentos. Já no inicio do século XX, começou-se a trabalhar a ideia de democratização e de uma maior participação do público crescente.

     Com a chegada da década de 1980, começou a surgir no Brasil, as primeiras aparições de museus de ciências e tecnologias com um caráter voltado para se desenvolver uma comunicação com o indivíduo. A ideia de comunicação se soma com a ideia de promover a educação através do museu para assim, se alcançar uma difusão cultural para um público cada vez maior e diversificado.

     Olhando o contexto histórico dessa maior propagação de museus de ciências e tecnologias na década de 80, é visto que, após a grande guerra, o desenvolvimento tecnológico e científico no mundo atingiu um imenso impulso criando milhares de novas vertentes e formas de ciência. O mundo se viu desenvolvendo em massa, ideias e questões voltadas ao desenvolvimento científico no final do século XX. Um pouco antes, no período da década de 1960, o papel de muitos museus de ciências era difundir princípios científicos e tecnológicos para difundir princípios científicos e tecnológicos induzindo carreiras voltadas para a ciência.

     Voltando para a atualidade, se entende a importância desses locais para o registro histórico do continente. Mas, acima de tudo, levando em consideração todo o contexto atual e toda a conjuntura política que impacta o mundo inteiro, os museus de ciências e tecnologias tem sido de grande importância para se entender a grande crescente de agressões ecológicas que é visto por todos. Em um país vendo seu fim através de queimadas, barragens rompidas, secas e milhares de efeitos climáticos no cotidiano, é de extrema importância ter conhecimento na área da ciência para se pensar meios sustentáveis, pesquisas, estudos e formas de combater e “freiar” os impactos disso para o planeta.


     E é o papel do museu divulgar esse conhecimento científico para a nação, principalmente para a grande maioria que tem pouco ou nenhum conhecimento sobre. Logo, a organização e expografia de um museu de ciências, a dedicação e o olhar para a cenarização, o uso de esquemas e dioramas, fotografias e outras ferramentas, é de extrema importância para conseguir passar um conhecimento coeso e eficiente para se atingir o máximo de público possível como se é o objetivo.

     Pensar sobre os museus de ciências do Brasil, é reconhecer o quanto ele impactou e impacta na construção, na documentação e na preservação do país e como este é um dos maiores mecanismos de se passar uma informação extremamente essencial para o nosso futuro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LOPES, Maria Margaret. O Brasil descobre a pesquisa científica: os museus e as ciências naturais no século XIX. São Paulo: Hucitec, 1997

O Monarca Cientista: Reflexões sobre D. Pedro II e seu museu particular [Tipologia de Museus 2019]

Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Ciência da Informação – Graduação em Museologia
Disciplina: Função Social dos Museus - Atividade: Trabalho Final
Professor: Luiz Henrique Garcia de Assis

Autores: Álisson Valentim, Ana Lúcia Andrade, Camila Valentoni Guelfi, Débora Amaral e Natiele Souza.

      Não é segredo o fato de que há algo de essencialmente humano no ato de colecionar, assim como há um ato essencialmente colecionador em ser humano. Entretanto, há um notável período da história humana em que a arte de colecionar se destaca e ganha proporções inimagináveis. Este período é o século XIX e a explosão de colecionadores, que vinha mostrando suas caras desde o início do iluminismo, acontece, principalmente na Europa, de maneira entrelaçada a explosão do paradigma científico. A reputação da forma científica de se pensar e o ato de colecionar crescem unidos e apoiados entre si. Alguns foram os principais atores nesta explosão. Entre eles, vale a pena se citar os monarcas e suas grandes coleções principescas - a mais famosa delas, originou o acervo do Louvre. Esses monarcas colecionadores eram vistos no mundo como grandes mecenas na arte e na ciência e, no Brasil, não foi diferente. O Brasil Império também contou com a sua própria versão de um monarca-colecionador-mecenas, o Imperador Dom Pedro II.

      Entre outras contribuições que a personalidade tem no século XIX no fomento das artes e das ciências no Brasil, em especial a etnografia, é válido abordar aqui uma importante e hipotética “instituição” particular, O Museu do Imperador. Não há registros oficiais que atestem a sua existência, mas por meio de notas de viajantes e do próprio Dom Pedro II a respeito de compra de artefatos em leilões, se construiu a ideia da existência do Museu, que embora seja conhecido por esse nome, era coleção particular não aberta a quem não fosse convidado pelo Imperador. É de grande conhecimento que Dom Pedro II gostava de se apresentar e ser visto como um mecenas da ciência. Tinha claramente um lado colecionista, e se envolvia com a ciência através da seleção e da acumulação de artefatos.


      A expressão “Museu do Imperador”, ao invés de “Gabinete de Curiosidades”, está vinculada ao uso do tempo e do próprio imperador. D. Pedro ll costumava denominar o lugar como museu, nos documentos oficiais do Museu Nacional, alguns objetos são identificados como fazendo parte do museu do ex-imperador e no inventário de 1890, por exemplo, surge o termo “Muzeu”. O Museu foi iniciado com a junção de um gabinete de mineralogia e numismática, um herbário, todos herdados da mãe de d. Pedro, a imperatriz Leopoldina (1797- 1826). Leopoldina quando tinha 13 anos de idade, foi presenteada por seu pai – o rei Francisco I (1768-1835) –, com um gabinete de minerais, em 1817 veio ao Brasil, não só para uma pesquisa científica, como, durante o tempo em que viveu no país, enviou pedras, objetos empalhados, plantas secas ou borboletas a seu pai e a sua irmã.

      A mania colecionista fez com que seu pai organizasse um museu brasileiro devido à constante remessa de animais, aves empalhadas, plantas, flores, borboletas, peles e minerais. Dando início a Leopoldina, seria completada por d. Pedro II, que daria, maior abrangência à coleção. Na segunda metade do século XIX, o rei foi adicionando ao herbário, ao gabinete mineralógico e numismático de sua mãe muitos objetos armazenados e recebidos em visitas que fazia ou que recebia. Chefes de Estado, naturalistas brasileiros, viajantes ou estrangeiros traziam sempre presentes ao imperador. Essa não era portanto uma instituição pública e aberta ao público, aos poucos, o local foi sendo conhecido e denominado, até pelo próprio imperador, como museu. O Museu do Imperador era, como veremos, uma espécie de cartão de visitas, que gostava de se apresentar como homem de ciências e absorvido por elas. Seu Museu era assim um bom espelho que reproduzia a sua imagem. Reproduzia, o que lhe ofertava a imagem com que pretendia se fazer reconhecer: o cientista, o mecenas. Invertia, quando mostrava que dentro do Museu havia muito de representação – coleções pequenas ou apenas o resultado do conjunto dos presentes aleatórios que ganhava. De toda maneira, o imperador fazia de sua coleção uma espécie de teatro do seu poder. E determinava aqueles que faziam parte desse seu mundo teoricamente privado.

      O Museu foi distribuído em um total de quatro salas. A antigüidade clássica e a oriental figuravam lado a lado com as heranças advindas das populações andinas, nesse recinto também igualadas às contribuições do Brasil. Os objetos podem ser divididos entre antropologia, botânica e geologia/paleontologia.

Imperatriz Maria Leopoldina (Foto: domínio público, https://www.bbc.com/portuguese/brasil-42186974)

      O local foi definido pelo próprio imperador como um espaço público, mesmo tendo sido um espaço de acesso restrito. Portanto, por meio da análise desse pequeno estabelecimento, é possível pensar de que maneira o monarca manipulava sua imagem, ao mesmo tempo em que a conectava a determinados locais que acabavam por destacar imagens específicas, prontamente veiculadas. É por isso que seu museu, além de portar e acumular todos os presentes que recebia, também servia como espelho da feição que mais admirava apresentar.

      No museu do monarca os visitantes eram selecionados, sendo os naturalistas viajantes seu público-alvo dileto. Interessante é que nem todos que visitavam o imperador tinham acesso ao museu. Políticos e curiosos pareciam ficar restritos às áreas sociais do Paço de São Cristóvão, não galgando os degraus do segundo andar, que levavam à área considerada íntima. Afinal, o Museu do Imperador ficava na parte reservada do Palácio e era sujeito ao arbítrio de seus próprios moradores. É preciso lembrar que museus são objetos de memória e que esta é sempre um exercício de seleção. No museu não só entravam aqueles que o Imperador desejava, como d. Pedro guardava apenas os objetos que gostaria de reservar à posteridade. Nesse caso, o Estado surgia associado à sua própria pessoa, e o soberano soube, como poucos, cuidar da sua lembrança.

No Museu Nacional era possível encontrar objetos que fizeram parte do “Museu do Imperador”. Foto do edifício do Museu Nacional e seu entorno, antes do incêndio que o destruiu. Foto por Roberto da Silva. Fonte: http://www.museunacional.ufrj.br/dir/omuseu/omuseu.html

      D. Pedro II soube cuidar de sua memória mesmo após o exílio. Destinou os objetos de seu museu a instituições que ficariam responsáveis por guardar e preservar, dividindo sua coleção de acordo com áreas de conhecimento: etnografia, mineralogia e botânica.

      O que mais caracterizava seu museu eram os objetos de ciências naturais, tanto que, vários relatos relacionam o local com essa tipologia, evidenciando a imagem do imperador como um “homem das ciências”.

      É importante compreender que a prática de colecionar é também uma atividade de seleção, diz sobre quem somos, o que queremos lembrar e o que queremos esquecer. Essa construção de significados por meio da coleção, servia para apresentar a imagem que D. Pedro II gostaria de manter memorável, o monarca representante da nação, amigo de viajantes e cientistas, que bradava, “a ciência sou eu”. No que diz respeito ainda à coleção de D. Pedro II, é possível constatar seu papel no desenvolvimento de uma identidade e imaginário nacional. O colecionador classifica seus objetos, indicando regras e interesses dele próprio, e, na coleção em questão, essas premissas podem ser observadas. D. Pedro II colecionou objetos indígenas, de botânica, pedras, antiguidades entre várias outras categorias. Para o exterior, de acordo com as Exposições Universais que ocorriam, o Brasil de D. Pedro II era “um país europeu e indígena”. O imperador não colecionou objetos oriundos da população negra, negando assim a existência da escravidão, indicando toda uma estratégia de esquecimento e silenciamento.

REFERÊNCIAS:

SCHWARCZ, Lilia Moritz e DANTAS, Regina. O Museu do Imperador: quando colecionar é representar a nação. Rev. Inst. Estud. Bras.. 2008, n.46 , pp. 123-164.

BLOM, Philipp. Ter e manter. Rio de Janeiro; São Paulo: Record, 2003. 303 p

Colecionismo e a formação do acervo do Museo Nacional de Bellas Artes da Argentina [Tipologia de Museus 2019]

Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Ciência da Informação – Graduação em Museologia
Disciplina: Função Social dos Museus - Atividade: Trabalho Final
Professor: Luiz Henrique Garcia de Assis

Autores: Anna Carolina Thomaz de Melo Dias,Julia Teixeira Reis, Marina Quintiliano Vianna, Sâmmya Nicolle da Cruz Dias , Victoria Caroline de Souza Brandão


     A cidade de Bueno Aires, na década de 1870, passou a ser conhecida como a “cidade em obras” que indicava o processo de revitalização urbana, dentro de um parâmetro de valorização eurocêntrico. Este modelo, além de influenciar na arquitetura de casas e prédios, acompanhou a formação das primeiras coleções particulares, que posteriormente incorporaram o Museo Nacional de Bellas Artes, da capital Argentina. Tais coleções tinham como fator primordial a ideia de se juntarem diferentes escolas ou vertentes em linhas e modelos.

Vista frontal da entrada principal do Museo de Bellas Artes – Argentina

     Neste período, o principal point na cidade para artistas e colecionadores de arte era a Rua Flórida, onde se encontravam as principais lojas de objetos e os primeiros comércios de arte - e em 1896, a primeira sede do Museo Nacional de Bellas Artes (MNBA).

     Nesta rua, no início do século XX se instalaram as primeiras galerias com aspecto profissional, algumas foram derivadas de bazares, os quais alternavam exposições temporárias, publicavam catálogos e eram motivos de revistas culturais.

     Nesse sentido,a criação das primeiras coleções de arte deve ser entendida como parte do processo de profissionalização do campo artístico, que foi lentamente instituído na Argentina no final do Século XIX e início do século XX.


Vista de um dos corredores do Museo de Bellas Artes – Argentina

     Entretanto, embora visasse a valorização do mundo artístico, os primeiros colecionadores privilegiavam a arte europeia em detrimento da arte local, logo, este instrumento de prestígio social não conversava com a arte local em produção.

     Na maioria das coleções, o desígnio final para as obras não era permanecer na casa dos colecionadores, mas sim, nas salas de um repositório público. Dessa forma, a subjetividade das opções estéticas dos colecionadores acabou determinando o perfil inaugural de um patrimônio nacional, ou seja, que não valorizava a produção Argentina mas sim a representação da arte europeia como ideal.

     Criado em 1895 por decreto presidencial e aberto no ano seguinte, as doações ao MNBA cresceram durante o século XX, constituindo as décadas de 1930 e 1970 dois movimentos intensos de afluência de coleções particulares. Essas novas incorporações também contribuíram para reafirmar em seu patrimônio o lugar central da arte europeia do século XIX, o qual constitui uma das marcas distintivas de seu acervo até os dias de hoje.

     Percorrendo seus corredores, percebe-se a presença de legendas que informam “coleção de…” , mostrando assim, de forma clara, que a procedência do acervo ali presente, é fruto das doações dos colecionadores que com seu empirismo artístico, colaboraram para a formação de um dos maiores museus de arte da América Latina.


LINKS CORRELACIONADOS COM O TEMA:


https://turismo.buenosaires.gob.ar/br/otros-establecimientos/museu-nacional-de-belas-artes (esse site mostra as pricipais atrações turisticas da cidade de Buenos Aires, eventos e conteúdos relacionados à cidade)

https://www.bellasartes.gob.ar/ (site oficial do Museu Nacional de Bellas Artes).

https://aguiarbuenosaires.com/museu-belas-artes-de-buenos-aires/ (site de uma agência de viagens acerca do Museo Nacional de Bellas Artes).

https://www.youtube.com/watch?v=hRDTR_tmZfc (vídeo sobre o Museo Nacional de Bellas Artes)