segunda-feira, 12 de abril de 2021

Os museus comunitários: seus ideais e suas dificuldades - Tipologia de museus 2020

Universidade Federal de Minas Gerais
Escola da Ciência da Informação
Curso de Museologia
Disciplina: Tipologia de Museus
Professor: Luiz Henrique Garcia de Assis

Alunos: Bárbara da Silva, Camila Bueno, Lígia Dutra, Maíra Gil, Sâmara Rebeca.

Algumas das primeiras experiências de museus comunitários ocorreram no México(*), local onde o conceito foi estabelecido, esse tipo de museu tem sua base de criação fundamentada no movimento da nova museologia. O museu comunitário é considerado um processo, que deve estar em constante mudança, se adaptando de acordo com a realidade de seu ambiente. Diferentemente dos museus mais tradicionais, ele é criado pela própria comunidade, a partir de uma curadoria coletiva utilizando suas próprias referências culturais, o que possibilita o reconhecimento e um sentimento de pertencimento coletivo.

Tomemos como exemplo o Museu do Índio Luiza Cantofa. Localizado no Rio Grande do Norte, é considerado o primeiro museu indígena do estado, e foi inaugurado e idealizado pela liderança indígena Lúcia Maria Tavares em conjunto com os povos indígenas da região em fevereiro de 2013.

O Museu tem como objetivo principal resgatar e recontar a história dos Tapuias Paiacus (grupo indígena que habitava a região compreendida entre o rio Açu, na Chapada do Apodi e o baixo Jaguaribe no Ceará). É um Museu que tem em seu cerne honrar as dificuldades passadas por seus antepassados, suas lutas e suas glórias, assim como demarcar seu lugar de existência e ancestralidade, num triângulo perfeito de museu-corpo-território. Ele existe pois os Tapuias Paiacus ainda existem, apesar de sofrerem constantes apagamentos.
Imóvel atual do Museu do Índio Luiza Cantofa - Rio Grande do Norte


Museu do Índio Luiza Cantofa-Rio Grande do Norte: Antes e Depois

Fonte: Twitter


Fonte: Facebook/somsemplugs
 
Apesar dos ideais e das propostas dos museus comunitários, eles também carregam potenciais desafios, como os idealizadores do museu não serem imparciais em relação a seus gostos, crenças e ideologias pessoais, o que pode refletir no processo de criação do museu, que deveria se tratar dos interesses da comunidade; além dos museus comunitários muitas vezes acabarem enfrentando dificuldades relacionadas à área financeira, como falta de verba, que dificulta na conservação de seu acervo e na realização de projetos com a comunidade; ou ocorrerem conflitos de gerações, se um museu não se modificar com tempo, futuramente as prioridades, necessidades e os problemas da comunidade que ele está inserido não serão contemplados. Com relação a este último desafio, o Museu do Índio Luiza Cantofa se destaca por dar prioridade à narrativa de suas histórias através das gerações, o que cria um senso de intimidade entre a comunidade e o museu. Dessa forma, é importante que os museus comunitários se mantenham atentos a essas possíveis adversidades e busquem combatê-las, para que eles não se tornem equivalentes às instituições que contradizem os seus objetivos.


Referências bibliográficas

PRIOSTI, Odalice Miranda. A dimensão político - cultural dos processos museológicos gestados por comunidades e populações autóctones. SEMINÁRIO DE IMPLANTAÇÃO DO ECOMUSEU DA AMAZÔNIA E DO PÓLO MUSEOLÓGICO DE BELÉM/ PA, 8-10 de junho de 2007, 26p.

RUSSI, Adriana; ABREU, Regina. “Museologia colaborativa”: diferentes processos nas relações entre antropólogos, coleções etnográficas e povos indígenas, Horizontes Antropológicos [Online], n.53, p.17-46, jan./abr. 2019. Posto online no dia 18 maio 2019, consultado o 22 maio 2019.

Nota do editor:
(*)Há experiências iniciais em vários cenários museológicos diferentes, que merecem ser citadas, como nos EUA, Canadá e França. O Anacostia Neighborhood Museum em Washington, D.C., abriu em 1967, até antes da Mesa Redonda de Santiago do Chile, em 1972.


 


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