Subi João Pinheiro e me ocorreu ir ao
CCBB ver a exposição Paul Klee - equilíbrio instável. Numa primeira
visita, deixando de lado implicâncias com exposições "empacotadas", há
qualidades a ressaltar, para além da óbvia relevância da arte de Klee.
Gostei dos textos concisos, claros e consistentes, e da perspectiva
didática assumida, com uma abordagem eminentemente cronológica que
assume sem drama o caráter monográfico. Num bem bolado nicho, alia-se um
vídeo bem produzido a alguns textos e uns poucos instrumentos de
trabalho para elucidar as técnicas usadas pelo artista, de forma
bastante compreensível para quem não lida com pintura ou conhece
história da arte. Foge da marmota de reproduzir ateliê ou de usar
interações digitais que se convertem em boas distrações lúdicas mas em
si não são capazes de revelar a técnica em aplicação, como o vídeo logra
razoavelmente bem – mais que isso, só praticando mesmo. Ali, talvez até
mais do que no contato direto com as obras – aliás um problema é que
várias que surgem nos vídeos, bem impactantes, não se encontram na
exposição – revela-se ao olhar menos treinado a forma como um pintor é
um investigador e um inventor. A mostra se ressente de ser centrada num
único acervo, por mais que o Centro Paul Klee tenha 4 mil obras, das
quais ali vemos pouco mais de uma centena. Esse porém se revela
sobretudo na decisão que julgo equivocada de incluir a solitária cópia
fac-símile de Angelus Novus, como um pedágio pago à expectativa do
admirador de Benjamin que já decorou mentalmente aquela famosa tese
sobre o “anjo da História”. Uma tremenda “auto-armadilha” dar um
destaque todo especial justamente a uma obra que está ali apenas como
pálida cópia. Essas exposições empacotadas, ainda que milionárias,
muitas vezes não trazem as “joias da coroa” e tentam compensar no
volume, muitas vezes com trabalhos preliminares ou redundantes, que
podem interessar aos muito especialistas mas dificilmente captam a
imaginação do grande público.
As obras que mais me cativaram foram
“Jovem proletário” e “Equilibrista”, esta última porque ressoou O
trapezista de Kafka, inspiração de outros carnavais. Destaco justo aí as
seções Fantoches e O mundo como palco, que trazem trabalhos que remetem
figurativamente ao núcleo conceitual da exposição, com acrobatas,
marionetes, palhaços e outros personagens que dizem da instabilidade e
dos altos e baixos da vida de artista. Muito revelador aí o pequeno
trecho de entrevista de seu filho Felix e outro vídeo contíguo que
mostra uma das encenações dele com fantoches que ironiza o tempo de Klee
na Bauhaus, tendo sido muitas vezes o pai e seu gato a sua única
plateia. Uma última consideração cabe ante a insistência dessas
curadorias empacotadas com o percurso linear. Nesta em especial será
particularmente difícil voltar de trás pra diante, criando situações
chatas junto a guardas de galeria, que não tem culpa do treinamento que
recebem.
Depois, ainda deu tempo de uma corrida à
Casa Fiat de Cultura para ver “Beleza em Movimento”, outra onda,
exposição de design, especialmente de carros. Vou me permitir aqui
sintetizar que curiosamente a sensação predominante foi de nostalgia, e
nem tanto pelo inescapável DeLorean de De volta para o futuro (conto do
nosso passado nos primórdios da globalização) mas por outros carros que
me deram a nítida sensação de estar dentro do meu Supertrunfo de carros,
em que inclusive muitos automóveis de salão, apresentados ali como “do
futuro”, agora são exibidos como testemunhos do design do pretérito.
Ainda deu tempo de encontrar uma querida colega de trabalho de meus
primeiros tempos de prefeitura. Nesse ramo aqui, quando não vamos de
encontro ao passado, é ele que vem em nossa direção.
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