Disciplina: Metodologia da Pesquisa Histórica em Museus
Alunas: Eliana
Rodrigues, Jéssica
Tôrres, Letícia
Zignago, Maria Celina
Machado,
Viviane Ferreira
Prof.: Luiz H. Garcia
O Cine Brasil foi inaugurado em 1932, possuindo
arquitetura no estilo art déco, muito difundido no período. Ir ao prédio era um
evento por si só, já que era a construção mais alta da cidade e o terraço
permitia o vislumbre de toda a Serra do Curral. Acompanhou a grande revolução
cinematográfica do cinema mudo para o falado, do preto e branco ao colorido. O
espaço foi concebido para receber várias formas de arte, como a ópera, música,
teatro e o “carro chefe”, o cinema. Este tinha salas de espera e muito luxo em
todas as instalações. Espaço importante de sociabilidade e tornou-se ponto de
encontro e recebia até mesmo bailes de carnaval. Frequentar um cinema era um
acontecimento social, e não somente diversão, era fonte de conhecimento. Celina
Albano diz sobre a assiduidade dos freqüentadores: “Em bando, assistíamos à
maioria dos filmes em cartaz, bons e ruins. Nós víamos o mundo por meio do
cinema. Ele era nossa religião.” (ALBANO, 2008, p.51).
A pesquisa histórica nos permite conhecer e
refletir sobre as relações da História com o tempo, com a memória e com o
espaço, ampliando possibilidades para a construção do conhecimento, nesse caso,
de um bem cultural, que engloba além da pesquisa, a preservação e a
comunicação. No texto “Possibilidades abertas: relações entre pesquisa e acervo
em uma exposição de museu histórico” o autor Garcia cita Mario Chagas, propondo
os seguintes questionamentos:
“O que fazer com o objeto preservado? A preservação por si só não lhe confere, ou mesmo não lhe restitui, o caráter de documento. A preservação não justifica a si mesma, ela é um meio e não um fim. É necessário que ao lado da preservação se instaure o processo de comunicação. (...) Em contra partida, o processo de investigação amplia as possibilidades de comunicação do bem cultural e dá sentido à preservação. A pesquisa, compreendida como produção de conhecimento.” (p.24)
Podemos direcionar todas essas questões para o
Cine Brasil enquanto patrimônio cultural: Por que preservá-lo? O que fazer com
um monumento preservado? Em qual contexto social, político, econômico e
cultural ele foi construído e utilizado? Qual relação que manteve com as
diversas conjunturas sociais? Para conduzir essas interrogações, Garcia diz que
a cidade, seu tempo e espaço devem ser problematizados. Um bem cultural tem
valores culturais, simbólicos, financeiros e estéticos. O Cine Teatro Brasil é um monumento histórico local, um testemunho vivo, um “lugar de memória”. Faz parte de uma herança cultural da cidade, na época áurea do cinema de rua. Foi muito representativo para a sociedade belorizontina, “dos bons costumes” e ao mesmo tempo foi um espaço de diferenciação social, e não de inclusão. Faz parte de uma memória coletiva, e segundo Le Goff
(1990), a memória é a propriedade de conservar informações a partir de um
conjunto de funções psíquicas que nos permitem acessá-las e reinterpretá-las.
Essas informações não são nada menos do que nossas lembranças.
“O historiador, ocupado em compreender e fazer compreender, terá como primeiro dever recolocar em seu meio, banhados pela atmosfera mental de seu tempo, face a problemas de consciência que já não são exatamente os nossos” (BLOCH, 2001, p.64).
O Cine Brasil é
um monumento histórico local, um “lugar de memória” que guarda uma herança
cultural da cidade e da população belo horizontina. Faz parte de uma memória
coletiva, que, conforme Le Goff, é constantemente reinterpretada e
ressignificada. Assim, é certo que tanto o uso quanto a importância do prédio
mudaram para a sociedade contemporânea, mas é inegável a história dos cinemas
de rua de Belo Horizonte que o Cine Brasil carrega.
“Para
interpretar os raros documentos que nos permitem penetrar nessa brumosa gênese,
para formular corretamente os problemas, para até mesmo fazer uma ideia deles,
uma primeira condição teve que ser cumprida: observar, analisar a paisagem de
hoje. Pois apenas ela dá as perspectivas de conjunto de que era indispensável partir.
Não, decerto, que se trate — tendo imobilizado, de uma vez por todas, essa
imagem — de impô-la, tal qual, a cada etapa do passado sucessivamente
encontrado, da montante à jusante” (BLOCH, 2001, p. 67).
ALBANO, Celina. “Cine Pathé”.
Belo Horizonte; Conceito, 2008.
BLOCH, Marc. Apologia
da História. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
CHAGAS, Mário de Souza. Em busca do Documento
Perdido: a problemática da construção teórica na área da documentação. Novos rumos da Museologia. In: Cadernos de museologia. Lisboa: Centro
de estudos de Sociomuseologia. U.L.H.T.v.2.1994, pp.29-47.
GARCIA, Luiz Henrique A. Possibilidades abertas:
relações entre pesquisa e acervo em uma exposição de museu histórico. Cadernos de Pesquisa do CDHIS.
Uberlândia: UFU, V. 23, N. 1 , 2010, pp. 23-39.
Site do Cine Brasil:
https://cinetheatrobrasil.com.br
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