Alunas:
Larissa Caroline de Oliveira Miranda e Letícia Ferreira de Carvalho
Disciplina: Metodologia da pesquisa histórica em museus
Professor: Luiz H. Garcia
Disciplina: Metodologia da pesquisa histórica em museus
Professor: Luiz H. Garcia
O seguinte texto tem por finalidade apresentar os resultados do trabalho
final apresentado para a disciplina. A partir do tema explorado pela turma de Museologia do 6º período da
UFMG, buscamos trabalhar algo que não fugisse muito a temática trabalhada pelo
resto da turma mas buscamos algo que também nos instigasse e colaborasse com
nossas pesquisas individuais da disciplina Vivência B. Para isso, pensamos trabalhar o
audiovisual como arte e não apenas como recurso de suporte expositivo.
Nossos primeiros passos da pesquisa se deram a partir de visitas às
bibliotecas da própria universidade, onde procuramos buscar por termos que se
relacionassem com a nossa pesquisa, priorizando livros, teses e dissertações
encontradas no acervo, porém para nossa surpresa pouquíssimos resultados se
encaixavam em nosso recorte. Nessa parte da pesquisa encontrarmos o livro de
autoria da pesquisadora Franciele Filipini dos Santos doutora em Arte na linha
de pesquisa de Teoria e História da Arte, logo no princípio do texto, a autora
escreve que é preciso repensar a arte e suas questões pois “possui uma importância significativa em
meio à diversidade de linguagens, materiais, técnicas, tecnologias e conceitos,
que se aliam a ordem de liberdade instaurada pela arte contemporânea,
principalmente a partir da década de 1960” (pág 11). O livro que é dividido em
duas partes discute a questão da concepção/artística curatorial, como se dá a
relação entre a arte contemporânea em diálogo com as mídias digitais e como isso é tratado no
campo da arte, ciência e tecnologia em seu primeiro momento e logo em seguida a
autora faz uma série de entrevistas com diversos profissionais de áreas
distintas sobre a atividade da curadoria e crítica. Após a leitura do livro
constatamos que ele não seria de grande ajuda na pesquisa pelo fato do mesmo
tratar as mídias digitais e o audiovisual apenas como recurso para a montagem e
divulgação da exposição, a autora apresenta os recursos audiovisuais e suas
diversas linguagens enquanto suporte dentro das artes visuais, usando distintas
terminologias atuais para tratar o tema, mas de grande importância se levarmos
em conta que foi um pontapé inicial para a definição do nosso trabalho onde
pretendemos abordar o audiovisual como objeto museográfico/acervo. A autora
menciona no texto que “em diálogo com as mídias digitais, as obras, em sua
maioria, não se apresentam como trabalhos finalizados” (pg 15) pois, podem se
modificar de acordo com as atuais possibilidades de serem atualizadas cada acesso. Diante disso, podemos citar as
obras que necessitam das mídias digitais para serem expostas no museu, como por
exemplo um vídeo que em uma instituição
pode ser apresentado em telão e em outra ser exposto em uma televisão,
vai depender da verba de cada exposição e neste sentido o artista tem que
adequar sua obra. Santos também questiona os outros desafios que são
apresentados ao artista diante os recursos digitais, entre eles ser capaz de
lidar com profissionais de diversas áreas, conhecer os equipamentos utilizados,
dominar alguns recursos de comunicação e edição, entre outros. Na segunda parte
do livro a autora apresenta uma entrevista onde os profissionais respondem
quais são as particularidades e dificuldades de envolver a arte e a tecnologia
na curadoria, quais os parâmetros utilizados na realização da curadoria em uma
exposição que ocorra somente em ambiente virtual, como os recursos digitais
podem ajudar na curadoria entre outras perguntas que falam também sobre a
crítica curatorial.
Em uma das entrevistas do livro de Santos, um dos entrevistados cita a
arte a partir de sua perspectiva dialógica, lembrando também as possibilidades
levantadas no artigo de Cordeiro. A vídeo arte ao trazer uma representação mais
próxima do real, também se aproxima de seu público/espectador, as novas
tecnologias utilizadas enquanto equipamentos expositivos surgem com o propósito
de aproximar ainda mais a arte dos usuários destes equipamentos culturais,
esteja esta arte dentro dos museus ou em outro ambiente, virtual ou físico.
A linguagem audiovisual pode ser lida enquanto uma representação mais
próxima da experiência do real, ao contrário de outras ferramentas e
equipamentos culturais como é o caso da fotografia, que reflete a uma evolução
tecnológica, a produção audiovisual nas artes não se resume a uma linear
histórica, mas sim seu foco surge a partir de um local um tanto quanto
distinto.
Como Veronica Cordeiro defende em seu texto O audiovisual nas artes
plásticas, outro texto lido durante o trabalho, a autora não entende a questão
do crescimento do audiovisual no campo das artes a partir de seu surgimento,
pois entende que isso seria reduzi-la a questões de espaço-tempo e evoluções
tecnológicas históricas, mas faz sua análise a partir do entendimento de que o
crescimento de sua utilização ocorre a partir de um contexto envolvendo
crítica, artista e espectador.
A autora faz uma análise onde busca comparar os filmes e projeções
direcionados a salas de cinema, sendo eles de longa ou curta e duração e os
filmes e projeções artísticas destinados às exposições onde geralmente são
exibidos em looping contínuo, onde fica a critério do espectador assistir a
obra completa ou somente determinado fragmento da mesma, onde a autora ainda
aponta a questão da despreocupação com a possibilidade da perda de parte da
narrativa neste contexto. Neste momento Cordeiro cita algumas referências de
artistas que baseiam sua narrativa de obra em modelos parecidos com os
encontrados no cinema, levando em conta pequenas narrativas com começo, meio e
fim, bem como, também cita alguns exemplos de possibilidades artísticas onde em
algumas obras os artistas preferem usufruir desta liberdade artística aqui
proporcionada pelo formato audiovisual para esta finalidade, onde não
necessariamente necessita-se construir uma narrativa com começo, meio e fim,
respaldada nos modelos encontrados nas narrativas de obras cinematográficas
direcionadas a outro tipo de finalidade.
Cordeiro ainda aponta a questão da utilização do vídeo por alguns
artistas como registro de obra performática, onde acabam surgindo várias
videoinstalações artísticas, a multiplicidade da linguagem audiovisual
artística pode ser entendida como um atrativo ainda maior nesse sentido, a
autora cita alguns exemplos de artistas que utilizam do vídeo enquanto
‘registro, como suporte final da obra e ainda como elemento constitutivo de uma
instalação "multimídia"’ reforçando ainda mais essa pluralidade
encontrada nessas plataformas enquanto
linguagem expositiva.
A autora ainda aborda algumas questões referentes às diferenças entre o
vídeo artista e o cineasta, até que ponto e quem/como se decide o que/quem é o
que?! Onde se insere o artista neste momento e várias outras questões
pertinentes para a pesquisa, quando pensamos o assunto a ser trabalhado.
A partir destas e de outras leituras, conseguimos perceber que quando se
tratava de audiovisual em exposições, falava-se mais a respeito de mídias
digitais enquanto suporte do que de fato enquanto arte. Foi então que decidimos
buscar direto nas fontes e passamos a etapa das entrevistas, onde procuramos
tratar das vantagens e dificuldades de se expor a arte audiovisual.
Buscar opiniões de pessoas que trabalham na área para responder e nos
auxiliar a esclarecer dúvidas específicas a respeito de do audiovisual dentro
do espaço expositivo, como os prós e contras, bem como nos apresentar soluções
museológicas e como estes profissionais lidam com estas questões no dia a dia
foi algo fundamental.
Nesta primeira etapa da pesquisa entrevistamos dois artistas plásticos
com intuitos diferentes, primeiramente entrevistamos a artista Sara Não tem Nome, a entrevista foi
realizada na sala do educativo no Museu de Arte da Pampulha no dia 07 de Maio
de 2018, em âmbito de outra disciplina, onde aproveitamos para já esclarecermos
algumas dúvidas. Sara que é uma artista contemporânea plural, nos explicou suas
experiências ao expor nas instituições e dentre algumas dificuldades ela
mencionou a falta de verba, o espaço que nem sempre esta preparado para receber
este tipo de obra, a falta de suporte, bem como, algumas curiosidades imediatas
como a necessidade de se alterar determinada obra de última hora para que se
adeque ao espaço, entre outras coisas.
Posteriormente entrevistamos o diretor do Viaduto das Artes, Leandro
Gabriel, responsável pela montagem e expografia da MADA – Mostra AudioVisual de
Arte, onde o mesmo nos indicou algumas dificuldades encontradas ao expor a arte
audiovisual mesmo em um determinado espaço preparado para este fim, bem como
outras complexidades específicas a respeito de equipamento necessário, a busca
por soluções expográficas de baixo custo, etc.
As duas entrevistas seguintes nos deram um panorama ainda mais
interessante a respeito das escolhas do que expor, como expor e pra quem expor
como também nos foi melhor ilustrado a respeito das dificuldades encontradas
durante todo este processo desde a falta de estudos teóricos voltados para a
temática e reconhecimento da videoarte como forma de arte contemporânea assim
como as outras.
A curadora Bruna Finelli, idealizadora da MADA, junto com Bruna Carvalho,
nos contou a respeito da mostra, como surgiu a proposta da exposição, como ela
foi pensada, compartilhou conosco sua visão a respeito da dificuldade de separação
encontrada na utilização do audiovisual
como equipamento, nos apresentou conceitos a respeito do que é a arte
audiovisual, dificuldades na montagem da mesma, algumas soluções mais baratas
para a expografia, entre outras questões interessantíssimas, a entrevista foi
muito rica e de grande valor para nossa pesquisa, assim como as outras, mas nos
apresentou uma perspectiva mais ampla e diferente daquelas anteriormente
colocadas.
Por fim, mas não menos importante entrevistamos o artista visual Victor
Galvão, criador da obra de destaque exposta na mostra MADA, construida a partir
de fragmentos de video do ir e vir. Victor que se considera um artista
pesquisador nos contou a respeito de suas construções enquanto artista e quando
o pedimos para que nos contasse um pouco a respeito de sua trajetória, o mesmo
nos esclareceu algumas questões a respeito de sua relação pessoal com cinema e
videoarte, pedimos também para que ele
contasse um pouco sobre a obra e as maneiras de exposição de suas obras, dentre
outros esclarecimentos.
A partir das entrevistas e de nossas leituras podemos comprovar que a dificuldade em tratar o audiovisual enquanto forma de arte e não somente enquanto suporte trata-se de uma inquietação presente em meio aos profissionais da área. A falta de material teórico produzido a respeito do tema, mostrou-se um desafio a parte. Para concluir devemos ressaltar que estamos falando
de um recorte muito pequeno que não serve como base para comprovar o que
acontece em todos os museus, instituições e campos da arte, mas pode vir a
servir como base para pesquisas futuras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CORDEIRO, Verônica. O audiovisual nas artes plásticas. Revista Trópico-
Ideias de Norte a Sul. julho de 2005.
GARCIA, Luiz Henrique A. Possibilidades abertas: relações entre pesquisa
e acervo em uma exposição de museu histórico. Cadernos de Pesquisa do CDHIS.
Uberlândia: UFU, V. 23, N. 1 , 2010, pp. 23-39.
SANTOS, Franciele Filipini dos. Arte contemporânea em diálogo com as
mídias digitais- concepção artística/curatorial e crítica, 2009. 110p.
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