terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Monumentos na cidade de BH: o Busto de Anita Garibaldi e o Monumento ao Expedicionário



Universidade Federal De Minas Gerais
Escola de Ciência da Informação
Metodologia de Pesquisa Histórica em Museus
Professor: Luiz Henrique Garcia
Grupo: Camila Pinho, Raphael Cassimiro

Monumentos na cidade de BH: o Busto de Anita Garibaldi e o Monumento ao Expedicionário

A pesquisa em questão busca entender a relação da cidade com seu patrimônio através de dois monumentos na cidade de BH: o Busto de Anita Garibaldi e o Monumento ao Expedicionário (popularmente conhecido por monumento do pracinha). Ambos são estátuas que representam conflitos históricos e ambas foram movidas fisicamente de seu local original e, com a realização da pesquisa, buscamos entender o motivo que foram foram movidos de lugar, como foi a integração de seus antigos e novos espaços com a cidade e como principalmente o cidadão belorizontino vê e percebe essa mudança.

O busto em bronze de Anita Garibaldi, heroína brasileira que lutou bravamente na Guerra dos Farrapos, é de autoria do italiano João Bassi. Em 1913 foi instalado na praça Rui Barbosa, uma das principais da cidade. Houve um caso de perseguição contra a imagem de Anita por conservadores que não aceitavam o destaque dado a uma mulher guerrilheira que tinha se separado do marido. O busto transitou sem lugar pelo parque municipal até 1929, onde foi instalado em sua atual residência a Ilha dos Amores, projetada especificamente para abrigar o monumento.


Idealizado por Antônio Nascimento, um ex - pracinha, o Monumento ao Expedicionário foi erguido em memória dos mineiros que durante a II Guerra Mundial perderam a vida nos campos da Itália. Sua inauguração ocorreu em 1952, na Praça Rio Branco, popularmente conhecida por Praça da Rodoviária. No ano de 1981, em razão das modificações efetuadas na praça, foi transferido para a Praça Carlos Chagas. Posteriormente, devido os protestos dos ex- pracinhas que reclamaram da estátua estar fora do centro da cidade onde poderia ser vista por um número maior de pessoas, foi transferida para a Praça Afonso Arinos em 1986 e, em 2012, também questões de manifestações contra o monumento, foi movido para canteiro central da avenida Francisco Sales, no bairro Floresta, em frente ao museu das Força Expedicionária Brasileira onde ficou por um tempo até ser movido para dentro do museu. Atualmente o museu encontra-se localizado na Rua dos Tupis onde o monumento foi integralizado como parte do acervo.



Devido à pandemia, decidimos fazer uma pesquisa de público com os moradores através de dois grupos de Facebook sobre a cidade, o “Fatos e Fotos da Antiga Belo Horizonte” e “Fotos Antigas de Belo Horizonte”. Definimos quatro perguntas que englobam o tema, que foram: 1- No seu dia-a-dia, você costuma passar por algum monumento? Sabe a história dele ou tem algum laço afetivo próprio para nos contar? 2- Você já viu um dos dois monumentos citados acima? Conhece sua localização? 3- O que você acha das mudanças de localização? 4- Você acredita que a mudança de sua localização interfere no seu significado? Como?. As perguntas renderam uma série de comentários que foram de extrema ajuda para descobrir não só a percepção dos moradores como também informações que não foram possíveis de achar de forma online como a atual localização do monumento do pracinha.

Pela análise dos comentários feitos na publicação foi percebida uma relação bem próxima dos moradores com a cidade que não tardaram a dizer o quanto apreciam a existência dos monumentos e que gostariam principalmente de contar com mais informações e placas de identificação no qual fosse possível se informar sobre a história por trás da imagem. Sobre o busto de Anita o morador Paulo Rimsa definiu que “colocar o busto da Anita no meio de uma lagoa é o mesmo que escondê-lo” o que fica provado no comentário de Ramiro Gomes de Faria que disse que “o busto eu nunca vi e nem sabia que existia, apesar de ter morado no centro por anos”.

O Monumento ao Expedicionário foi muito comentado pelos moradores, que relataram com desgosto as depredações da estátua enquanto ela residia na praça Afonso Arinos. Wellington Fernandes relatou que “passava quase que diariamente por ele, à caminho do colégio. Já tive o desprazer de vê-lo desrespeitado das piores formas possíveis. Já vi essa estátua com sutiã, com boca breada de batom vermelho, com um cigarro colado com chicletes, também na boca e com um rato morto pendurado com barbante na baioneta”. A questão financeira como um impedimento de acesso à informação e como isso cria uma barreira entre o morador e o monumento também foi ressaltado nos comentários como o de Carlos Gilberto Queiroz que disse “me desculpe pela sinceridade, mas nos dias atuais com tanta diferença social só quem tem tempo para símbolos históricos são os ricos que ostentam nomes de parentes que foram importantes no passado, a classe de maior necessidade de sobrevivência interessa é com a própria sobrevivência de seus familiares.”

É visto que as pessoas da cidade se identificam com os elementos da paisagem urbana e criam uma relação com o patrimônio ao passar e conviver com os monumentos, que contam uma história de um determinado local a partir das memórias que ele evoca e o ambiente que ele se instala. Os significados de um monumento e os significados atribuídos a ele podem tomar rumos imprevisíveis de acordo com as mudanças ocorridas na sociedade e nas gerações e, durante essa mudança, podem haver uma série de manifestações que marcam um monumento como a depredação, uma pixação, uma restauração e também sua mudança de localização. Esses fatores são percebidos e sentidos pelos moradores que são peças fundamentais para se entender a história do monumento.


Referências Bibliográficas:

CRUVINEL, Eduardo Henrique de Paula. Monumentos, memória e cidade [manuscrito]: estudos de casos em Belo Horizonte. Dissertação (Mestrado em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável) Escola de Arquitetura, UFMG, Belo Horizonte.

GARCIA, Luiz Henrique A. Possibilidades abertas: relações entre pesquisa e acervo em uma exposição de museu histórico. Cadernos de Pesquisa do CDHIS. Uberlândia: UFU, V. 23, N. 1 , 2010, pp. 23-39.

MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. Memória e cultura material: documentos pessoais no espaço público. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 11, n. 21, p. 89-104, 1998.

WENDERS, Wim. “A Paisagem Urbana” In: Revista do Patrimônio Histórico. Rio de Janeiro: IPHAN, n. 23, 1994, p.181-189.



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