Universidade Federal de Minas Gerais
Alunos: Julia Teixeira Reis;
Marina Quintiliano Vianna; Sâmmya Nicolle da Cruz Dias
Curso: Museologia 2018/2
Disciplina: Pesquisa Histórica em Museus
Prof. Luiz Henrique Assis Garcia
No mandato de Juscelino Kubitschek como prefeito de Belo
Horizonte iniciou-se o plano de modernização na região da Pampulha para que o
espaço fosse usufruído pelos citadinos. Kubitschek projetou a construção de
quatro edificações modernas, idealizadas pelo Arquiteto Oscar Niemeyer, que
seriam a Igreja São Francisco de Assis, a Casa do Baile, o Cassino e o Iate
Golfe Clube, inauguradas em 1943, e que mais tarde configurariam como o
Conjunto Moderno da Pampulha, tombado pelas três instâncias administrativas do
país (municipal, estadual e federal) e listado como Patrimônio Cultural da
Humanidade. Além da atuação de Niemeyer, o conjunto também contou com projetos
do paisagista Burle Marx e do pintor Cândido Portinari.
Até os dias atuais o Conjunto passou por algumas mudanças,
tendo boa parte de seus espaços não mais exercendo suas funções iniciais. A
mudança mais expressiva veio com o fechamento do Cassino em 1946, que veio a se
tornar em 1957 o Museu de Arte da Pampulha - atualmente fechado por tempo
indeterminado.
As discussões sobre a elevação do Conjunto a Patrimônio
Cultural da Humanidade são antigas, remontando à década de 1990. Porém, em
meados de 2014, a proposta voltou com força, anunciando oficialmente a campanha
de candidatura do Conjunto para a célebre lista da UNESCO. Durante esse
processo que antecedeu a aprovação da candidatura em 2016, fica claro ao
analisar documentos, relatos e notícias, a tentativa da Fundação Municipal de
Cultura (FMC) de Belo Horizonte de construir sua narrativa oficial, considerando
apenas aquilo que se encaixaria melhor na visão patrimonial abarcada pela
lista, lançando mão para isso do conceito de paisagem cultural, com quase
nenhum diálogo com a Região da Pampulha em si.
A campanha fez muitas promessas, como a despoluição da lagoa,
mas poucas foram levadas a frente após atribuição oficial do título. Uma das
grandes justificativas usadas pela FMC era de que aquilo seria um processo
importante para a entrada de recursos, mas basta analisar a página do Conjunto
no website da UNESCO para perceber que os “benefícios” não se tornaram
realidade.
Os problemas enfrentados pelo Conjunto Moderno da Pampulha
acontecem há décadas, entre eles, as questões ambientais, o rompimento da
barragem em 1954 e o descaso e sucateamento dos aparelhos culturais são algumas
das adversidades enfrentadas. Dos aparelhos culturais que fazem parte do
Conjunto, nenhum escapou da degradação e da falta de manutenção necessária para
que se mantivesse em bom estado.
O Cassino, que era a estrela do complexo, fechou as suas
portas e fez com que a Pampulha entrasse num período crítico, permeado pelo uso
indiscriminado de seus equipamentos, alterações nas edificações e até mesmo
abandono. O museu de arte da Pampulha (MAP) vem desde a década de 70 relatando
a falta de investimentos por parte da Prefeitura, tendo, inclusive, sua
existência ameaçada diversas vezes. As questões acerca do MAP se intensificaram
de forma que, durante a visita de consultores, parte da exposição teve de ser
desmontada, para que estes pudessem ver o espaço “verdadeiramente”, sem a
“intervenção” das obras expostas. O descaso com o MAP aumentou de certa forma
que em 2019 o Museu fechou suas portas para uma reforma que já dura quase 2
anos, subsidiada por um laudo da SUDECAP que apontava problemas elétricos e
hidráulicos, além do excesso de peso decorrente dos acervos abrigados. Mesmo
tendo completado cinco anos de título de Patrimônio Cultural da Humanidade, o
MAP continua de portas fechadas, ansiando em uma longa espera pela restauração,
sem previsão para reabertura.
Foto 1: Aspecto externo da Casa do
Baile, em 1983
Foto de Mana Coelho.
Fonte: Livro Pampulha Múltipla
Foto 2:Aspecto externo da Casa do
Baile, em 1983.
Foto de Mana Coelho.
Fonte: Livro Pampulha Múltipla
Foto 3: Situação da Casa do Baile na
década de 1980.
Fonte: Dossiê da Casa do Baile,
Ricardo Lana, 2002
A Igrejinha da Pampulha passou por sucessivas intervenções
nos anos de 1954 a 2005, com o objetivo principal de solucionar os danos
associados à degradação física das superfícies e estrutura de concreto armado,
mas infelizmente até hoje ainda sofre com problemas ligados à conservação e
vandalismo. Já a Casa do Baile já foi até considerado o prédio mais abandonado
do Conjunto, com péssimo estado de conservação e descaso registrados por fotos
de Mana Coelho em 1983. Por último, o Iate Tênis Clube enfrentou diversas
modificações desde sua privatização em 1960 e foi parcialmente descaracterizado
em 1984 com a construção de um anexo de 4 mil metros quadrados. Anexo este que
também desarmonizou a paisagem idealizada por Niemeyer, em que seria possível
ter a vista de pelo menos dois outros equipamentos de cada um dos edifícios, já
que a construção impede a visualização do Iate de quem observa da Igrejinha.
Foto 4: detalhes da má conservação na
Igrejinha
Legenda: Trinca no painel de azulejo
que reveste o degrau na lateral da nave.
Fonte: Memorial da Arquidiocese de Belo
Horizonte.
Foto 5: detalhes da má conservação na
Igrejinha
Legenda: Azulejo com manchas,
abrasões e sujidades aderidas.
Fonte: Memorial da Arquidiocese de Belo
Horizonte.
Foto 6: detalhes da má conservação na
Igrejinha
Legenda: Na primeira imagem é
possível perceber que os azulejos estão com descolamento parcial por perda de
aderência e teias de aranha no beiral. A imagem do meio mostra fungos nas
placas de madeira da nave. E na última podemos perceber fissuras no encontro
entre a parede do fundo do presbitério e a cobertura.
Foto 7: vandalismo na área externa da
Igrejinha
Legenda: Pichação na lateral esquerda
da nave.
Fonte: Memorial da Arquidiocese de
Belo Horizonte.
Foto 8: vista aérea do Iate Tênis
Clube
Fonte: Arquivo O Cruzeiro/EM - 1/4/1950)
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