terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Conjunto Moderno da Pampulha

                                          Universidade Federal de Minas Gerais

 

Alunos: Julia Teixeira Reis;  Marina Quintiliano Vianna; Sâmmya Nicolle da Cruz Dias

Curso: Museologia 2018/2

Disciplina: Pesquisa Histórica em Museus

Prof. Luiz Henrique Assis Garcia

 

No mandato de Juscelino Kubitschek como prefeito de Belo Horizonte iniciou-se o plano de modernização na região da Pampulha para que o espaço fosse usufruído pelos citadinos. Kubitschek projetou a construção de quatro edificações modernas, idealizadas pelo Arquiteto Oscar Niemeyer, que seriam a Igreja São Francisco de Assis, a Casa do Baile, o Cassino e o Iate Golfe Clube, inauguradas em 1943, e que mais tarde configurariam como o Conjunto Moderno da Pampulha, tombado pelas três instâncias administrativas do país (municipal, estadual e federal) e listado como Patrimônio Cultural da Humanidade. Além da atuação de Niemeyer, o conjunto também contou com projetos do paisagista Burle Marx e do pintor Cândido Portinari.

 

Até os dias atuais o Conjunto passou por algumas mudanças, tendo boa parte de seus espaços não mais exercendo suas funções iniciais. A mudança mais expressiva veio com o fechamento do Cassino em 1946, que veio a se tornar em 1957 o Museu de Arte da Pampulha - atualmente fechado por tempo indeterminado.

 

As discussões sobre a elevação do Conjunto a Patrimônio Cultural da Humanidade são antigas, remontando à década de 1990. Porém, em meados de 2014, a proposta voltou com força, anunciando oficialmente a campanha de candidatura do Conjunto para a célebre lista da UNESCO. Durante esse processo que antecedeu a aprovação da candidatura em 2016, fica claro ao analisar documentos, relatos e notícias, a tentativa da Fundação Municipal de Cultura (FMC) de Belo Horizonte de construir sua narrativa oficial, considerando apenas aquilo que se encaixaria melhor na visão patrimonial abarcada pela lista, lançando mão para isso do conceito de paisagem cultural, com quase nenhum diálogo com a Região da Pampulha em si.

 

A campanha fez muitas promessas, como a despoluição da lagoa, mas poucas foram levadas a frente após atribuição oficial do título. Uma das grandes justificativas usadas pela FMC era de que aquilo seria um processo importante para a entrada de recursos, mas basta analisar a página do Conjunto no website da UNESCO para perceber que os “benefícios” não se tornaram realidade. 

 

Os problemas enfrentados pelo Conjunto Moderno da Pampulha acontecem há décadas, entre eles, as questões ambientais, o rompimento da barragem em 1954 e o descaso e sucateamento dos aparelhos culturais são algumas das adversidades enfrentadas. Dos aparelhos culturais que fazem parte do Conjunto, nenhum escapou da degradação e da falta de manutenção necessária para que se mantivesse em bom estado.

 

O Cassino, que era a estrela do complexo, fechou as suas portas e fez com que a Pampulha entrasse num período crítico, permeado pelo uso indiscriminado de seus equipamentos, alterações nas edificações e até mesmo abandono. O museu de arte da Pampulha (MAP) vem desde a década de 70 relatando a falta de investimentos por parte da Prefeitura, tendo, inclusive, sua existência ameaçada diversas vezes. As questões acerca do MAP se intensificaram de forma que, durante a visita de consultores, parte da exposição teve de ser desmontada, para que estes pudessem ver o espaço “verdadeiramente”, sem a “intervenção” das obras expostas. O descaso com o MAP aumentou de certa forma que em 2019 o Museu fechou suas portas para uma reforma que já dura quase 2 anos, subsidiada por um laudo da SUDECAP que apontava problemas elétricos e hidráulicos, além do excesso de peso decorrente dos acervos abrigados. Mesmo tendo completado cinco anos de título de Patrimônio Cultural da Humanidade, o MAP continua de portas fechadas, ansiando em uma longa espera pela restauração, sem previsão para reabertura.

 

Foto 1: Aspecto externo da Casa do Baile, em 1983

Foto de Mana Coelho.

Fonte: Livro Pampulha Múltipla

  

Foto 2:Aspecto externo da Casa do Baile, em 1983. 

Foto de Mana Coelho.

Fonte: Livro Pampulha Múltipla

 

Foto 3: Situação da Casa do Baile na década de 1980.

Fonte: Dossiê da Casa do Baile, Ricardo Lana, 2002

 

A Igrejinha da Pampulha passou por sucessivas intervenções nos anos de 1954 a 2005, com o objetivo principal de solucionar os danos associados à degradação física das superfícies e estrutura de concreto armado, mas infelizmente até hoje ainda sofre com problemas ligados à conservação e vandalismo. Já a Casa do Baile já foi até considerado o prédio mais abandonado do Conjunto, com péssimo estado de conservação e descaso registrados por fotos de Mana Coelho em 1983. Por último, o Iate Tênis Clube enfrentou diversas modificações desde sua privatização em 1960 e foi parcialmente descaracterizado em 1984 com a construção de um anexo de 4 mil metros quadrados. Anexo este que também desarmonizou a paisagem idealizada por Niemeyer, em que seria possível ter a vista de pelo menos dois outros equipamentos de cada um dos edifícios, já que a construção impede a visualização do Iate de quem observa da Igrejinha.

 

Foto 4: detalhes da má conservação na Igrejinha


Legenda: Trinca no painel de azulejo que reveste o degrau na lateral da nave.

 Fonte: Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte.

 

 

Foto 5: detalhes da má conservação na Igrejinha

Legenda: Azulejo com manchas, abrasões e sujidades aderidas.

 Fonte: Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte.

 

Foto 6: detalhes da má conservação na Igrejinha

Legenda: Na primeira imagem é possível perceber que os azulejos estão com descolamento parcial por perda de aderência e teias de aranha no beiral. A imagem do meio mostra fungos nas placas de madeira da nave. E na última podemos perceber fissuras no encontro entre a parede do fundo do presbitério e a cobertura.

 

 

Foto 7: vandalismo na área externa da Igrejinha

Legenda: Pichação na lateral esquerda da nave.

Fonte: Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte.

 

Foto 8: vista aérea do Iate Tênis Clube


Fonte: Arquivo O Cruzeiro/EM - 1/4/1950)




Foto 9: atual vista aérea do Iate Tênis Clube




Fonte: http://portal.iphan.gov.br/

 

 Referências:

AGUIAR T. F. R. D. ., GARCIA, L. H., Rodrigues, R. ., RUOSO, C., TAVARES, D. ., COSTA, D., VEIGA, J. M., & MOURA, M. T. (2021). A autenticidade como conceito chave: uma reflexão a partir da inscrição do conjunto moderno da pampulha na lista do patrimônio mundial da UNESCO. Revista FÓRUM PATRIMÔNIO: Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável, [S. l.], v. 11, n. 2, 2021

FABRIS, Annateresa. A batalha de Pampulha. In:Fragmentos urbanos: representações culturais. São Paulo: Studio Nobel, 2000, p.183-210.

GARCIA et. alli. Conjunto Moderno da Pampulha: uma análise do processo de atribuição do título de patrimônio da Humanidade. 2018, Anais do II Simpósio Científico do ICOMOS BRASIL.

PIMENTEL, Thais Velloso Cougo (Org). Pampulha Múltipla: uma região da cidade na leitura do Museu Histórico Abílio Barreto. Belo Horizonte: Museu Histórico Abílio Barreto, 2007.

SILVA, Marco Antônio; SILVA, Alessandra Valadares Alves. Pampulha: Patrimônio Cultural da Humanidade em uma Cidade Educadora. E-hum: As Dinâmicas do Patrimônio Cultural da Materialidade a Imaterialidade!, Belo Horizonte, v. 12, n. 2, p. 90-103, 2 dez. 2019. 

 

 

 

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