Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Ciência da Informação
Metodologia da Pesquisa Histórica em Museus
Professor: Luiz Henrique Assis Garcia
Grupo: Bruna Ferreira, Erika Gonçalves, Maxwell Pego, Mayra Marques
O Teatro Popular nasce da necessidade de se discutir questões sociais e políticas de uma forma mais ampla e acessível. Portanto, forma-se comunicando principalmente com as camadas menos favorecidas da sociedade, além de ser organizado geralmente em espaços públicos, abertos e periféricos. A criação do CPC - Centro Popular de Cultura da UNE, em 1960, foi um marco do início dessa prática teatral no Brasil.
Durante a ditadura civil-militar diversos movimentos teatrais populares fortificaram-se, a exemplo de vertentes como o Teatro de Resistência e o Independente, que buscaram promover ideais revolucionários com as classes mais populares da sociedade, lutando contra a opressão. Sendo possível relacionar tais questões com o Teatro do Oprimido, surgido na década de 1950, com o objetivo de transformar o indivíduo enquanto ser social, protagonista de uma ação dramática em que se abordam diversas opressões vividas, proporcionando a esses sujeitos reflexões acerca das relações de poder, por meio da exploração de histórias entre oprimidos e opressores.
Já no momento de redemocratização do país, outros movimentos teatrais voltados às questões periféricas se intensificaram, como o Teatro Marginal e o de Rua, se ressignificando num novo contexto político do país. Nesse período as demandas culturais e as movimentações dos atores sociais partem agora mais de um lugar identitário do que de um partido político. Sendo assim, se faz interessante notar como todas essas vertentes do teatro se mesclam e comunicam muito entre si, no âmbito da democratização e descentralização cultural.
O trabalho de João das Neves é bastante marcado por essa popularização do teatro nos espaços e com grupos sociais marginalizados. É possível citar diversas de suas peças, como a “Primeiras Estórias” (1992), realizada no Parque Lagoa do Nado, que, além de ser situado na periferia de Belo Horizonte, teve muitas de suas cenas produzidas em ambientes abertos e com a participação do público. Na peça “Tributo a Chico Mendes” (1989), houve um intenso trabalho com seringueiros e ribeirinhos no Acre, promovendo um verdadeiro Teatro Comunitário, feito com o povo, buscando impulsionar importantes temas sociopolíticos em questão. Já com a peça “Yuraiá - O Rio do Nosso Corpo” (1990), ao dialogar com os Kaxinawá, reforça-se o caráter descentralizador da cultura em suas práticas teatrais. Outro exemplo é a peça “Galanga Chico Rei” (2011), em que o período escravocrata mineiro é denunciado. Além da peça “Madame Satã” (2015), da qual João trouxe à tona questões como o racismo, a homofobia e a cultura marginal.
A cultura em sua essência abrange tudo que diz respeito ao conhecimento, a arte, as leis, as crenças, a moral, o hábito e costumes da sociedade, assim como seus direitos e reivindicações. Nesse sentido, em suas diversas manifestações, como por meio das práticas teatrais, a cultura está sempre em constantes adaptações no meio em que está inserida e objetiva propor às pessoas novas maneiras de pensar, diretamente ligadas ao seu papel na sociedade. Dessa forma, democratizá-la em nosso país significa colocar em evidência todas as formas de manifestação sem subjugar classes em detrimento de outras e dar espaço a movimentos culturais que durante a história do nosso país foram e ainda são marginalizados socialmente.
Fontes das imagens:
https://www.itaucultural.org.br/ocupacao/joao-das-neves/sertao/?content_link=11#modal-figures
https://www.itaucultural.org.br/ocupacao/joao-das-neves/poronga/?content_link=8
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