alun@s/autores: Adriana Fregapani, Débora Chagas,
Lucas Vasconcellos e Tiago Cândido
Disciplina: Tipologia de Museus
Prof.: Luiz H. Garcia
Curso: Museologia/ECI-UFMG
O moderno emerge da
malha social com desejos de ruptura com a ordem posta, com vontades
transgressoras, de colocar-se fora das instituições e, assim, questioná-las;
contudo, tal relação mostra-se paradoxal na medida em que Lourenço (1999)
aponta que este moderno para se consolidar também deseja legado, também anseia
por tornar-se historicamente relevante e, em última instância também tem vontade
de “se pendurar” nas paredes dos museus, para perpetuar suas mudanças, sua
rebeldia.
Logo, ao acolher o
moderno, o museu amplia a sua missão, seu significado e o seu espaço, para além
de suas paredes fixas e das temporalidades, no exato momento em que dava ares
de estar asfixiado e condenado à morte; ou seja, o museal, ao abrir suas portas
e alargá-las para abarcar os desejos de ruptura do moderno reinventa-se e busca
adequar-se às novas demandas sociais.
É absorvida desses
anseios que Lina Bo Bardi projeta o edifício definitivo do Museu de Arte de São
Paulo, cujos vãos livres e transparências pontuam a leveza necessária para
contrapor a desilusão do pós-guerra, ao mesmo tempo em que inauguram um novo
modo de museu. Um museu que busca em sua concepção uma maior integração com a
cidade, materializando em sua arquitetura os meios para a proposta de um
programa formador de público.
Lina Bo
Bardi no canteiro de obras da construção do MASP, inaugurado em 1968.
Foto:
Lew Parrella
No ano em que se
comemora o centenário do nascimento da arquiteta italiana apaixonada pelo
Brasil, vale ressaltar principalmente a atualidade conceitual do seu trabalho (em
parceria com Pietro Maria Bardi) no campo da Museologia onde os anseios por um
viés social mais humanístico nas relações museais pautaram um importante
movimento para a dessacralização das artes e renovação cultural no Brasil das
décadas de 40, 50 e 60.
No
mês de outubro deste ano, foram anunciados os planos para as próximas
atividades a compor as programações do MASP com a chegada do curador Adriano
Pedrosa como novo diretor artístico do museu.
Entre
as propostas,está o retorno do projeto expográfico elaborado
para o MASP que possui um forte intuito didático ao apresentar obras de
diversos períodos e estilos na mesma exposição. Assim, para harmonizar a
inovadora proposta, Lina se valeu de cavaletes de cristal como suporte -
elemento que não se impõe no conjunto do salão e que, ao mesmo tempo, conversam
com a proposta de transparência do museu. O intuito é que a obra de arte seja
expandida extramuros e que o público possa se informar dos conteúdos
pertencentes às obras, expostos na parte traseira dos cavaletes de vidro.
O que pouco tem sido debatido
em todas as matérias de divulgação ou reportagens quanto aos significados deste
retorno (enaltecimento ou reconhecimento dos feitos da arquiteta), trata-se da
importância disto para a instituição em retratar e debater o contexto social de
seu surgimento no país, sua memória e história.
Para tanto, vale a pena
ressaltar que memória, segundo Pierre Nora (1993), é algo presente, corrente.
Trazer de volta os feitos de Bo Bardi é lembrar-se, trazer à tona a memória:
reavivar Lina por suas ideias, fazer presentes seus questionamentos – que não
devam ser esquecidos, por tão presentes serem.
Imagem
da expografia de Linas Bo Bardi para o acervo de obras do MASP.
Referências Bibliográficas:
LOURENÇO,
Maria Cecília França. Museus acolhem o Moderno. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 1999. (Acadêmica: 26)
NORA,
Pierra. Entre história e memória: a problemática dos lugares. Revista Projeto
História. São Paulo, v. 10, p. 7-28, 1993. Acesso em: 18 nov 2014. Disponível
em:
<http://www.pucsp.br/projetohistoria/downloads/revista/PHistoria10.pdf>
PINHEIRO,
Marcos José de Araújo. Modernidades e museus. In: ______. Museus, memória e
esquecimento: um projeto de modernidade. Rio de Janeiro: UFRJ/E-Papers, 2004.
p. 25-82. (Engenho & Arte: 7)
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