Alun@s/autores: Alexandre G.de M.A.Menezes; Dayana Priscila dos Santos Mesquita; Fernanda Helena Evaristo Rodrigues;Leticia Alves Martins;Maria Tereza Paulino Leal;Marilza de Oliveira Alves; Wagner Lucas Pereira
Disciplina: Tipologia de Museus
Prof.: Luiz H. Garcia
Curso: Museologia (ECI/UFMG)
Gabinetes de Curiosidades por Coletivo Gambiologia
Nos Gabinetes de Curiosidades dos séculos
XV ao XVIII guardava-se tudo, uma maneira de apreensão do mundo que levava ao
colecionismo para se chegar ao conhecimento universal.
Hoje, os Gabinetes de Curiosidade não têm
a mesma representatividade que tinha nos tempos de seu auge, muito devido à
solidificação de uma fronteira entre a ciência, a arte e a magia. Mas até os
dias de hoje, a prática dos Gabinetes é comum entre colecionadores e desperta
novos interesses junto a prática de salvaguardar objetos.
Com esses novos interesses surgiram também
novos objetos a ser guardados, hoje, por exemplo, há um grande montante de
coisas que são cobiçadas por colecionadores compulsivos, como brinquedos,
figurinhas, selos, canetas, cartões de telefone, vídeo games etc. Agora, e além
de colecionar essas coisinhas, fazer delas objetos utilizáveis? E Além disso,
propor uma nova forma de sustentabilidade através da arte? Foi isso que três
criativos artistas de Belo Horizonte fizeram, e começaram a catar tudo que é
considerado obsoleto pela maioria da população e revolucionaram o jeito de
reciclar. Esses loucos criaram o Coletivo Gambiologia, e propuseram criar uma
ciência de algo que o brasileiro está bem habituado a fazer, A Ciência da
Gambiarra.
O Coletivo Gambiologia, formado por três
artistas mineiros – Fred Paulino, Lucas Mafra e Paulo Henrique Pessoa “Ganso”,
que juntos propuseram uma ciência da gambiarra, e dessa forma eles salientam
pesquisar a tradição brasileira de adaptar, improvisar, encontra soluções
simples e criativas para pequenos problemas do dia a dia (não tem uma lanterna?
faça uma com uma caixinha de chiclets), criando assim artefatos multifuncionais
que podem ser esculturas, objetos decorativos e/ou eletrônicos.
Os três artistas já fizeram várias exposições
com o tema, e a ideia da gambiologia já transcendeu fronteiras, chegando a
outros países. Os três também tem espírito colecionador que ajudou a aproximá-los
após um trabalho juntos em 2008 e quando a ideia começou a crescer. Um dos
sucessos do grupo é a obra Gabinete Jean Baptiste 333, sendo exposta na
exposição GAMBIÓLOGOS, exibida em 2010, em BH, e foi criada pelo mais
compulsivo colecionador do grupo segundo eles mesmo, Paulo Henrique “Ganso”
(não é o do futebol, esse é craque na criatividade).
Gabinete Jean Baptiste 333.
A obra ganhou esse nome por causa do patrono
fictício do grupo, Jean Baptiste Gambierre, e sua intenção foi criar um
ambiente inspirado nos gabinetes na qual tinha uma espécie de cadeira elétrica
feita com a combinação de vários itens de seu acervo e que interagisse com as
pessoas, criando um ambiente ao mesmo tempo com coisas memoráveis (já que
muitas delas já fizeram parte do cotidiano de alguns) e também com entorno
surreal.
O trabalho desses três cria uma inovação
sustentável de colecionar e fabricar artefatos com utensílios muitos das vezes
reciclados demonstrando uma nova concepção de arte que é ligada a esses novos
Gabinetes de Curiosidade da contemporaneidade. O Coletivo Gambiologia ainda
está na ativa e tem até revista, a FACTA- Revista da Gambiologia. Esse gabinete
realmente desperta uma curiosidade de ver coisas que muitas vezes vemos sem
utilidade e que provavelmente na nossa atual sociedade irá para o lixo, virar
arte e se transformar em um trabalho magnífico, vale a pena conferir.
(trecho da entrevista realizada pelos alunos com os componentes)
Alunos: Vocês são jovens
pertencentes a “ era tecnológica “e como dizem na Revista de Gambiologia nr 2:
“ nossas memórias estão digitalizadas nas galerias das redes sociais...” Seria,
então, um dos objetivos do Coletivo Gambiologia, mostrar ao público que é importante
o resgate de nossas memórias?
R: Na verdade somos de três gerações
distintas, o Ganso é nascido na década de 60, eu na década de 70 e o Lucas na
década de 80. Eu acho que a Gambiologia resgata as memórias na medida em que
lida com tecnologias já consideradas obsoletas, mas que não necessariamente
são, ou eram, piores ou menos eficientes do que as tecnologias de hoje. De
certa forma as tecnologias antigas paradoxalmente exigiam um envolvimento maior
de quem as utilizava. Hoje em dia vivemos em uma situação de hiper comunicação
e hiper interação, mas a virtualização é tão grande que as pessoas não fazem a
mínima noção do que está por trás disso, tecnicamente. A operação das
tecnologias antigas exigia uma aproximação mais intensa de quem as utilizava, até
de uma forma tátil... Hoje em dia é tudo tão “clean” e liso... A Gambiologia,
em sua “sujeira” e “bagunça” técnica e estética acaba resgatando um tipo de
manualidade que foi sendo esquecido.
E a memória das pessoas está, muitas vezes, relacionada a essa experiência
sensorial mais próxima entre homens e objetos técnicos.
Alunos: O que levou Paulo
Henrique “ Ganso “, a ter um olhar especial para os Gabinetes de Curiosidades?
A obra do Ganso “ Gabinete de Curiosidade Jean Baptiste 333 “ foi apreendida
pelo público?
Gabinete Jean Baptiste 333 (detalhe)
R: O Ganso é um colecionador
compulsivo, se auto intitula “colecionador de coleções”. Ele sugeriu realizar
esse trabalho fazendo uma “assemblage” de parte do acervo dele. A ideia era,
inspirado visualmente pelos gabinetes de curiosidades, criar um ambiente que
sugeria uma ateliê de nosso patrono (fictício), o Jean Baptiste Gambièrre.
Voltando à pergunta anterior, é muito interessante esse uso das antiguidades
recombinadas, pois as pessoas acabam se reconhecendo nos objetos, a partir de
memórias do que utilizavam em cada época. No caso dessa instalação, havia uma
cadeira – espécie de “trono”, segundo o Ganso sugerindo uma “cadeira elétrica”
– em que o público podia se sentar. E isso aconteceu inúmeras vezes, com as
pessoas querendo ser fotografadas naquele ambiente plasticamente repleto de
referências e meio surreal. PS: sobre essa compulsão do Ganso sugiro assistir o
vídeo que fizemos com ele para nossa revista Facta: http://www.youtube.com/watch?v=C7lJUEX_kS0
Bibliografia:
Revista de Gambiologia nº 01 e 02
Gontijo,Juliana, Distopias Técnologica
1º ed. Editora Circuito 2014
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