segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O desafio da águia

A matéria Águia nazista continua sendo 'batata quente' no Uruguai [completa] evidencia bem a intensidade dos conflitos que se pode vivenciar quando o assunto é o patrimônio e a memória social:
"O conflito desta vez tem como motivo uma águia de bronze de quatro toneladas de peso e dois metros de altura que decorava a popa do Allmirante GrafSpee, o temido encouraçado alemão afundado na Baía de Montevidéu. Resgatada das águas em 2006, a águia é o símbolo de uma das embarcações mais notórias da Segunda Guerra, mas permanece trancada num armazém da Marinha uruguaia. Seu destino é incerto."
Enquanto governos, instituições, mídia e pessoas digladiam-se, penso se não seria melhor relegar o ornamento a uma apreciação menos espetacularizada, onde quer que fosse. Seria possível? 
E você leitor, qual solução iria propor?

6 comentários:

  1. Acredito que além das dimensões exorbitantes do artefato seu contexto histórico (que por mais que seja uma lembrança cruel no desenvolvimento social) é uma importante memória que deveria ser articulada mais frequentemente nas instituições de salvaguarda do passado. Afim de expor ao publico/usuário não só apenas os pontos negativos que ocorreram naquele determinado período, como também explorar assuntos novos que foram positivos para a humanidade. Devo salientar que não sou simpatizante dos movimentos nazifascistas, contudo devo admitir que algumas coisas boas surgiram nos desdobramentos dessa história. como por exemplo o tratamento "humanizado" de prevenção animal. Volto a dizer que não estou fazendo apologias, mais sim demostrando que seria mais vantajoso para os Museus, e/ou outras instituições que promovam o conhecimento, uma exposição dos fatos mais honesta mesmo que isso ponha em "xeque" todo seu trabalho. Afinal nosso dever enquanto profissionais da memória é promover o conhecimento afim de evitar que os erros do passado se repitam no futuro, pois como diria José Braga "Uma coisa é aprender com o passado; outra é ficar lá preso."
    Respondendo finalmente a pergunta eu faria exatamente o contrario, promoveria uma exposição onde o ornamento não exerceria sua função histórica nazista mais sim outra quem não tivesse nada a ver com o fato como por exemplo o trabalho de fundição do metal alemã no século XX.
    Deixo como curiosidade um vídeo que mostra o "Outro Lado do Nazismo" sem fazer apologia ao movimento. https://www.youtube.com/watch?v=v9TmjTEjzgw (acesso em junho/2015)
    Aproveito também para encerrar esse comentário com um poema de Paulo Leminski que por acaso relembrei ao ler a matéria.
    "Hieróglifo
    Todas as coisas estão aí
    para nos iluminar.
    Discípulo pronto,
    o mestre aparece
    imediatamente,
    sob a forma de bicho,
    sob a sombra de hino,
    sob o vulgo de gente
    como num livro, devagar.

    Mestre presente,
    a gente costuma hesitar,
    nem se sabe se o bicho sente
    o que sente a gente
    quando para de pensar."

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  2. Não podemos negar ao passado. Ele é de extrema importância para entender trabalhar no presente e logo no futuro. Não podemos nos negar ao passado mesmo que este tenha sido um fato ruim, pois se conhecermos o nosso passado podemos melhorar para um futuro. Assim concordo com o John e vejo que é necessário trabalhar este acervo Uruguaio. Eu faria uma exposição que fala-se da história do Uruguai onde colocaria o acervo encontrado na data certa e ela fala-se sobre a influência, erros causadas do nazismo no mundo e no Uruguai. Assim é necessário uma pesquisa real e profunda para que este trabalho seja feito de forma positiva;

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  3. Adriana Amaral
    Enquanto “governos, instituições, mídia e pessoas digladiam-se” em relações a história de horror vivida em tempos passados que não voltam, mas que são parte indelével da história ou o valor monetário que foi avaliado este bem, esquecem o valor histórico e as diferentes visões e histórias que podem emergir a partir deste objeto.
    A imensa Águi nazista encontrada no Uruguai advém do encouraçado alemão, Allmirante GrafSpee, este foi o único vestígio da Segunda Guerra Mundial encontrado na região da América do Sul, este fato é muito instigante, por isso seria interessantíssimo fazer um levantamento histórico de como se deram estas batalhas, qual a finalidade de controle deste local, o que havia aqui para que estivesse ocorrendo esta disputa pela região? Além de ser possível por meio de pesquisas profundas, saber se há registro fotográfico desta encouraçado e fazer uma possível reconstrução virtual deste, pois de acordo com as gigantescas proporções da Águia, a embarcação a que esta estava presa seria enorme. Como seria a parte interna, suas divisões, como a tripulação viva neste local, a tecnologia de construção naval desta época utilizada para construir o encouraçado. Uma exposição próximo ao local onde foi encontrada ou em uma instituição de memória contextualizando o objeto, poderia levar a construção de espaços expositivos que buscam reconstruir os espaços internos da embarcação, levando o visitante a refletir como era a vida em um embarcação de guerra, a aflição e medo constante que a tripulação vivia diante de ataques e defesas, será que todas as pessoas que estavam nesta embarcação queriam estar ali? Será que existem registros, cartas das pessoas que viveram nesta embarcação?
    As práticas nazistas até hoje causam impacto e horror na vida de milhares de pessoas e este símbolos ligados a eles também exerce influência no imaginário popular, mas o local em que a Águia foi encontrada, nas profundezas, mostra que um mesmo objeto pode contar e guardar diferentes histórias que vão desde informações referentes à guerra, histórias pessoais e informações sobre a indústria naval deste período.

    http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/12/141214_aguia_nazista_fd

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  4. Fatos que ficam marcados na história da humanidade de tal maneira como o Nazismo ficou, considerado um dos períodos mais atrozes de todos, não podem e nem serão esquecidos, jogados "para baixo do tapete". Certamente, é uma parte da história que se deseja não ter acontecido nunca, porém, apenas tentar suprimí-lo não é o melhor caminho. Acredito que deve haver a problematização e a educação sobre o assunto, para que este nunca se repita, como é feito em vários museus, por exemplo, na própria Alemanha, onde antigos campos de concentração são abertos à visitação e lembram o horror ali acontecido.
    Em se tratando de um objeto histórico, acredito que a melhor saída seria esse mesmo tipo de problematização, que a peça cabe à esse tipo de instituição, que busca conscientizar acerca dos males profundos trazidos pelo fascismo e suscitar a humanidade que faltou naquele momento, onde a compreensão de que seres humanos são superiores a outros era aceitável. Por ser uma peça sobre esse período histórico e feito para enaltecê-lo, acredito que não seja mesmo objeto digno de apreciação simplesmente estética, por exemplo. Se realmente posto em exposição, em minha opinião, deveria ficar em um destes locais que se prestam à se solidarizar aos que com o nazismo sofreram e à mostrar esta parte da história de maneira crítica.

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  5. Marly de Fátima Franklin Ferreira2 de julho de 2015 às 18:26

    Já dizia Walter Benjamin no livro O Anjo da Historia “Não há documento de cultura que não seja também documento de barbárie” Nesse sentido, entendemos que a narrativa encerrada no acervo em questão está atrelada ao imaginário e não existe possibilidade de desprender-se dele. O nazismo foi um fato e hoje é memória que aguça os sentidos. Nossa razão o repudia, mas é uma história viva que deixou marcas profundas. A águia, segundo a mitologia grega simboliza o mais poderoso dos deuses e acredito que a utilização desse símbolo realmente quis exaltar o nazismo. Porem a musealização e exposição desse acervo poderá servir para relembrar um historia que não deve se repetir.

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  6. Pelo fato do símbolo apresentar uma conotação negativa, mostrando uma passagem obscura do século, dependerá de como será direcionado as pesquisas sobre o objeto, como será construído os discursos e quais serão as abordagens escolhidas por essa possível instituição que assumirá o acervo, não será uma tarefa fácil, mas é de suma importância trazer um assunto tão polêmico como esse para se promover discussões dentro das instituições, o museu pode exercer sua função social neste sentido, trabalhando com a memória através de relatos, recortes e imagem que retomam a mente das pessoas em todos esses aspectos, o horror e as devastações causados pela guerra e promover reflexões sobre questões de intolerância religiosa, para que tais fatos não se repitam. Através da memória estimulada por esses simples objeto, podemos produzir uma gama de possibilidades de estudos e analise do ponto de vista histórico, documental e independente para onde for destinado e de quem ficará sob responsabilidade desse acervo, o fato é que esse objeto tem um grande valor histórico para se limitar ao esquecimento entre quatro paredes.

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