sábado, 13 de abril de 2019

OS MUSEUS HISTÓRICOS NO BRASIL E A IDENTIDADE NACIONAL - Tipologia de museus 2018

Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Ciência da Informação
Graduação em Museologia - Disciplina Tipologia de Museus
Professor: Luiz Garcia
Artigo para o blog Metamuseus
Alunos: Danieli Di Mingo, Débora Calixto, Gui Rodrigues, Laís Flor e Walmira Costa.

OS MUSEUS HISTÓRICOS NO BRASIL E A IDENTIDADE NACIONAL

Museus de História Natural, de Artes, de Ciências. De Museus Comunitários à
Museus Virtuais, atualmente o Brasil possui 3801 museus de acordo com a plataforma
MuseusBr, desenvolvida pelo Ministério da Cultura e IBRAM, sendo 832 destes, museus
históricos (22%). Os museus históricos, de norte a sul, apresentam ao público acervos
variados que traduzem a rica e múltipla cultura e história brasileira. Mas nem sempre foi
assim, desde de sua institucionalização no século XIX, os museus passaram por diversas
transformações alterando com o tempo a forma de representar a nossa história e
identidade.

É impossível dissociar a criação dos museus dos ideais modernos, e conceituar
modernidade não é um trabalho fácil, uma vez que promove e alimenta uma multiplicidade
de discussões. Porém, é sabido que o século XIX foi o período em que o mundo pode
enxergar a modernidade mais nitidamente. Cria-se a partir do século XIX um novo modo
de experiência vital - experiência do espaço e do tempo, de si mesmo e dos outros, das
possibilidades e perigo da vida - que é hoje em dia compartilhada por homens e mulheres
em toda parte do mundo. Marshall Berman apresenta a modernidade como uma multidão
de processos sociais e enumera entre eles as descobertas científicas, as revoluções da
indústria, as transformações demográficas, as formas de expansão urbana, o formação
dos Estados Nacionais, os movimentos de massa - todos impulsionados, em última
instância pelo mercado mundial capitalista. E dentro desse mix de processos em
transformação surgem os museus modernos.

O museu, como instituição administrada pelo Estado, surgiu no início do século
XIX, ganhado força e se consolidando em meados do mesmo século. O espaço surgiu
como equipamento de cultura para instrução e edificação de um povo, ainda não
consolidado nos recentes Estados-Nações. No entender de Stuart Hall este
Estado-nação, que está a se formar a partir do fim do século XVIII, não é simplesmente
uma entidade política mas é igualmente uma concepção simbólica - um sistema de
representação que produziu uma “ideia” de nação como “comunidade imaginada”
(re)produzindo significados em relação aos quais os seus membros se podiam identificar
através dos quais (através da identificação imaginada) constituía seus cidadãos como
“sujeitos” (em ambos os sentidos de sujeição utilizados por Foucault: sujeitos de e sujeitos
à nação. Os museus se tornam o principal polo de representação da ideia de nação,
reproduzindo e produzindo significados amalgamadores de uma população diversificada,
educando para a ideia de nação dentro dos princípios já ditados pela Modernidade.
Muitos autores, como Alice Semedo, enxergam os museus modernos como
disciplinadores e doutrinadores, uma que vez, apesar de apresentarem ideias liberais e
democráticos, ainda o eram conservadores e pouco progressistas.

No Brasil vivemos essa experiência ainda durante o Império com D. Pedro II, o
monarca, junto ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro - IHGB desenvolveu um
projeto de estruturação cultural brasileira a partir dos anos 1850, no qual, Influenciados
pelo romantismo e nacionalismo, características marcantes da modernidade, não
mediram esforços na construção e manutenção da Identidade Brasileira, sendo esta
difundida por meio da literatura, pintura e trabalhos científicos. De meados do séculos XIX
aos dias atuais, muitas foram e são, as formas de representação do “ser brasileiro” dentro
dos museus. Em cada período histórico a modernidade nos apresentou ideias e
ferramentas que nos fez mudar a forma de ver o mundo e encarar a nossa história. Se
tratando da criação dos museus históricos brasileiros a modernidade delineou
concepções diversificadas no decorrer dos anos, dando a cada período da história dos
museus características próprias diretamente vinculadas à conjuntura e exigências da
época.

É o caso do Museu Histórico Nacional, fundado em 1922 como parte das
comemorações do centenário da Independência do Brasil, foi criado em um tempo em
que discursos sobre a modernidade e progresso eram suscitados no país, momento em
que o governo arquitetava a imagem da nação brasileira baseada nos feitos oficiais,
militarista e de grandes heróis, representando assim uma parte da história nacional. Esta
concepção se manteve forte durante os seus primeiros 40 anos de vida, sendo substituída
por uma expografia que apresenta evolução linear da história e acompanhando uma
concepção moderna da historiografia, priorizando a razão e aspectos para além do
caráter político, utilizando o patrimônio musealizado como documento de representação.
Ao longo do século XX muitas foram as narrativas escolhidas pelos museus
históricos para contar a “nossa história”, porém, ainda hoje, percebemos que as
representações se mantém branca, conservadora e oficial. É necessário que os museus
passem a dar voz à outras leituras da história brasileira, incorporando agentes antes
esquecidos, narrativas distintas e culturas antes desprezadas.

Atualmente o debate acerca dos museus históricos já não gira em torno de qual o
melhor caminho a ser seguido na forma de apresentação do patrimônio musealizado, mas
sobre como, nas palavras de Myryan Sepúlveda Santos, mas sim em reconhecer que a
“ciência histórica” está na base dos museus, determinando as melhores formas de
estudar objetos que ilustrem a evolução econômica, social, política e cultural segundo as
leis da história. P recisamos encarar os museus como espaços que propiciam a ampliação
do campo de possibilidades para construção identitária e a percepção crítica da realidade.
E a realidade hoje é a compreensão da multiplicidade étnica e cultural brasileira, que deve
estar representada dentro dos Museus Históricos, como parte integrante e formadora da
identidade nacional.

REFERÊNCIAS

BREFE, Ana Cláudia Fonseca. História nacional em São Paulo: o Museu Paulista em
1922. An. mus. paul., São Paulo, v. 10-11, n. 1, 2003, p. 79-103.

MUSEUSBR. Disponível em:<http://museus.cultura.gov.br/>. Acesso em: 20/11/2018

SANTOS, Myrian Sepúlveda dos. A escrita do passado em museus históricos. Rio de
Janeiro: Garamond Universitária, 2006. 142 p.

SCHWARCZ, Lilia Moritz e DANTAS, Regina. O Museu do Imperador: quando
colecionar é representar a nação. Rev. Inst. Estud. Bras. 2008, n.46 , pp. 123-164.

SEMEDO, Alice L., Da invenção do museu público: tecnologias e contextos. Revista da
Faculdade de Letras, Ciências e Técnicas do Património , Universidade do Porto, vol.
III, Porto, 2004, pp. 129-136.

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