sábado, 13 de abril de 2019

Museus Identidade e poder - Tipologia de museus 2018



UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
ESCOLA DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

Curso de Graduação em Museologia
Disciplina: Tipografia de museus

Docente: Luiz Henrique Assis Garcia
Alunos: Amanda Marzano, Bernardo Novaes Fonseca.




Museus Identidade e poder

“Onde há poder, há resistência, há memória e há esquecimento” Mário Chagas


Para contextualizar todo o viés de poder e identidade em museus sobretudo nos museus etnográficos e necessário voltarmos um pouco na história para compreendermos como se deu a formação do contexto dos estudos antropológicos evolucionistas que estavam sendo desenvolvidos, nos quais delimitavam a cultura dos estudiosos que estavam observando como mais evoluída, e as do que estavam sendo observados como primitivos. Com a visão etnocentrista europeia, sendo baseada nas expedições colonizadoras, visando buscar encontrar o primitivo e atraído pelo exótico “Nas últimas décadas do século XIX, foram organizadas as Exposições Universais, verdadeiras justificativas encenadas do empreendimento colonizador. Ao lado das conquistas coloniais – agrícolas, florestais, minerais –, havia espaço para mostrar tradições locais das colônias. A principal finalidade era enfatizar a "barbárie" dos povos exóticos, justificando a intervenção européia (Degli; Mauzé, 2006, p. 62)”

Na verdade, desde o século XX, a noção de arte "primitiva" vem sendo usada como um guarda-chuva semântico, que engloba manifestações tão distintas como colagens feitas por pacientes psiquiátricos, pinturas pré-históricas e artefatos produzidos por cidadãos ocidentais sem instrução artística. É importante apresentar rapidamente cada um desses fenômenos: a arte bruta, a arte naïf ou popular, a arte pré-histórica e as artes indígenas. Embora sejam completamente diferentes, as quatro recebem ou receberam o rótulo de "primitivos". (GOLDSTEIN, 2008, p. 303)

Com esse efeito toda a carga pejorativa foi exportada para os museus, criando alguns campos de tensão, como no modo em que se estabelece as relações de poder e dominação entre os então povos chamados de primitivos e o modo como se adquire este acervo. Ainda como detentor deste conhecimento tido como maior usando desse status para alterar e criar como julgar necessário as autorias e datações, nas legendas.




Representando o modo ocidental de enxergar o mundo, os Museus em territórios imperiais adotavam um ‘olhar branco’ e ofertavam uma memória como um recurso de poder que compreende o presente e divide o futuro. As tribos nativas eram apenas como paisagens do estado em subjetividade do poder britânico. Mas há evidências de que os nativos tiveram algum esforço para controlar as formas que eram representados, mas isso só foi feito em uma situação de desigualdade de poderes dada a ascensão de certos representantes dessas tribos na alta política e, só assim, as identidades nacionais foram iluminadas nos museus de uma forma mais extensa que anteriormente.





A arte é uma forma de expressão, poder e conhecimento, por isso essa fixação que a Europa tinha em acumular tudo que encontravam nos países nos quais a ela chegava para colonizar, a nação que detém obras de arte nas suas mais variadas formas também detém o poder. O mais desrespeitoso em relação a Europa é pegar para si todas as obras dos países que foram por ela colonizados, está no fato que os colonizadores nunca respeitaram a individualidade e a cultura dos outros países. Um exemplo disso, são os índios brasileiros e também os índios que viviam no norte da Califórnia eram e ainda são vistos como selvagens, sem cultura, sem civilização. Ishi, índio que quando criança viu o seu povo Yahi ser massacrado por colonizadores brancos como está citado no texto “Reflexões sobre a arte "primitiva": o caso do Musée Branly” de Ilana Goldstein.

Outros continentes que não fossem o continente europeu, eram vistos como povos primitivos, a palavra primitiva pode significar um povo que veio primeiro, como também em seu sentido figurado é aquele que age de maneira brutal, seria povo primitivo o contrário de um povo civilizado, que só cabia a europa ser um povo civilizado. O diferente era estranho, exótico e “primitivo”.


Como explica a professora Marta Dantas da Universidade Estadual de Londrina em seu texto “Arte primitiva e arte moderna: afinidades eletivas”, no campo da etnografia, “primitivo” designa os povos que se encontram ainda num grau menos avançado de civilização; no campo das Belas Artes, refere-se aos artistas, pintores e escultores que antecedem os grandes mestres, a saber, os renascentistas italianos.


É importante estarmos sempre atentos para não cairmos nessa herança construída pelo pensamento europeu de um passado não muito distante, a ideia de povos inferiores surge a cada momento em que a uma disputa de poder e representatividade e colocada à tona, a deslegitimação gerada pela necessidade de um revisionismo histórico calcado em meias verdades científicas, onde o museu se tornou mais um instrumento de espetacularização e manutenção deste grupo dominante pelo dominado.


Somente quando os oprimidos descobrem, nitidamente, o opressor, e se engajam na luta organizada por sua libertação, começam a crer em si mesmos, superando, assim, sua “conivência” com o regime opressor. Se esta descoberta não pode ser feita em nível puramente intelectual, mas da ação, o que nos parece fundamental, é que esta não se cinja a mero ativismo, mas esteja associada a sério empenho de reflexão, para que seja práxis. (FREIRE, 2011, p.29)



Referencias:
AMES, Michael M. Cannibal tours and glass boxes: the anthropology of museums. Vancouver: UBC Press, 1992.

 
CLIFFORD, James. Quatro museus da costa norocidental: reflexões de viagem. In: Itinerarios transculturales.Barcelona: Gedisa, 1999.

 
DURAND, Jean-Yves. Este obscuro objecto do desejo etnográfico: o museu. in: Etnográfica, 2 (11). Revista do Centro de Estudos de Antropologia. Lisboa: CEAS / ISCTE. pp 373-385.
 
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 50. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

GOLDSTEIN, Ilana. Reflexões sobre a arte "primitiva": o caso do Musée Branly.Horiz.antropol. [online]. 2008, vol.14, n.29 [cited 2013-08-27], pp. 279-314.


MACKENZIE, JohnM. Museums and empire: natural history, human cultures and colonial identities .Manchester: Manchester University Press, New York: distributed exclusively in the USA by Palgrave Macmillan, 2009, 286 p.



SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Espetáculo das Raças – cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.







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