domingo, 22 de fevereiro de 2015

Memória Expográfica de uma Modernidade [Tipologia 2014]



alun@s/autores: Adriana Fregapani, Débora Chagas, Lucas Vasconcellos e Tiago Cândido
Disciplina: Tipologia de Museus
Prof.: Luiz H. Garcia
Curso: Museologia/ECI-UFMG
O moderno emerge da malha social com desejos de ruptura com a ordem posta, com vontades transgressoras, de colocar-se fora das instituições e, assim, questioná-las; contudo, tal relação mostra-se paradoxal na medida em que Lourenço (1999) aponta que este moderno para se consolidar também deseja legado, também anseia por tornar-se historicamente relevante e, em última instância também tem vontade de “se pendurar” nas paredes dos museus, para perpetuar suas mudanças, sua rebeldia.
Logo, ao acolher o moderno, o museu amplia a sua missão, seu significado e o seu espaço, para além de suas paredes fixas e das temporalidades, no exato momento em que dava ares de estar asfixiado e condenado à morte; ou seja, o museal, ao abrir suas portas e alargá-las para abarcar os desejos de ruptura do moderno reinventa-se e busca adequar-se às novas demandas sociais.
É absorvida desses anseios que Lina Bo Bardi projeta o edifício definitivo do Museu de Arte de São Paulo, cujos vãos livres e transparências pontuam a leveza necessária para contrapor a desilusão do pós-guerra, ao mesmo tempo em que inauguram um novo modo de museu. Um museu que busca em sua concepção uma maior integração com a cidade, materializando em sua arquitetura os meios para a proposta de um programa formador de público.


Lina Bo Bardi no canteiro de obras da construção do MASP, inaugurado em 1968.
Foto: Lew Parrella




No ano em que se comemora o centenário do nascimento da arquiteta italiana apaixonada pelo Brasil, vale ressaltar principalmente a atualidade conceitual do seu trabalho (em parceria com Pietro Maria Bardi) no campo da Museologia onde os anseios por um viés social mais humanístico nas relações museais pautaram um importante movimento para a dessacralização das artes e renovação cultural no Brasil das décadas de 40, 50 e 60.

No mês de outubro deste ano, foram anunciados os planos para as próximas atividades a compor as programações do MASP com a chegada do curador Adriano Pedrosa como novo diretor artístico do museu.
Entre as propostas,está o retorno do projeto expográfico elaborado para o MASP que possui um forte intuito didático ao apresentar obras de diversos períodos e estilos na mesma exposição. Assim, para harmonizar a inovadora proposta, Lina se valeu de cavaletes de cristal como suporte - elemento que não se impõe no conjunto do salão e que, ao mesmo tempo, conversam com a proposta de transparência do museu. O intuito é que a obra de arte seja expandida extramuros e que o público possa se informar dos conteúdos pertencentes às obras, expostos na parte traseira dos cavaletes de vidro. 
O que pouco tem sido debatido em todas as matérias de divulgação ou reportagens quanto aos significados deste retorno (enaltecimento ou reconhecimento dos feitos da arquiteta), trata-se da importância disto para a instituição em retratar e debater o contexto social de seu surgimento no país, sua memória e história.
Para tanto, vale a pena ressaltar que memória, segundo Pierre Nora (1993), é algo presente, corrente. Trazer de volta os feitos de Bo Bardi é lembrar-se, trazer à tona a memória: reavivar Lina por suas ideias, fazer presentes seus questionamentos – que não devam ser esquecidos, por tão presentes serem.


Imagem da expografia de Linas Bo Bardi para o acervo de obras do MASP.



Referências Bibliográficas:
LOURENÇO, Maria Cecília França. Museus acolhem o Moderno. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1999. (Acadêmica: 26)
NORA, Pierra. Entre história e memória: a problemática dos lugares. Revista Projeto História. São Paulo, v. 10, p. 7-28, 1993. Acesso em: 18 nov 2014. Disponível em: <http://www.pucsp.br/projetohistoria/downloads/revista/PHistoria10.pdf>
PINHEIRO, Marcos José de Araújo. Modernidades e museus. In: ______. Museus, memória e esquecimento: um projeto de modernidade. Rio de Janeiro: UFRJ/E-Papers, 2004. p. 25-82. (Engenho & Arte: 7)

 

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