domingo, 22 de fevereiro de 2015

A Transformação do Museu Paulista [Tipologia 2014]



Alun@s/autores: Aline Damasceno; Diogo Vieira; Haelton Junio; Marisa Dias; Paloma Magda



Curso: Museologia [ECI/UFMG]

Trabalho apresentado para a disciplina: Tipologia de Museus, ministrada por Luiz Henrique Assis Garcia



INTRODUÇÃO


Dentre os diversos assuntos dentro da temática dos museus históricos, modernidade e nação, o nosso grupo resolveu trabalhar com a questão da transformação do Museu Paulista, que passou da tipologia predominante das ciências naturais ao caráter histórico. Nossa escolha se justifica, não só por ter sido parte constituinte do nosso seminário, mas pela sua pertinência, pela transformação sofrida pela instituição em 40 anos, o que mudou completamente o modo de se tratar determinada tipologia de acervo, pelo objetivo desta transformação em constituir uma historiografia sob o ponto de vista paulista sobre os fatos históricos e heroicos, e também para exemplificar que os museus estão sempre em movimento, seja esse movimento, social ou tipológico.
A metodologia adotada para a construção do texto se deu por meio de leituras das referências bibliográficas da disciplina e também de textos pertinentes ao assunto. O artigo que norteou a construção de nosso texto foi “História nacional em São Paulo: O Museu Paulista em 1922” da autora Ana Cláudia Fonseca Brefe, e os outros textos servirão como complemento ás informações presentes no texto de BREFE.
            A leitura de artigos e o dialogo acerca da pertinência dos tópicos a serem abordados brevemente no texto para o blog, possibilitou a construção do texto a seguir. 



A TRANSFORMAÇÃO DA TIPOLOGIA DO MUSEU PAULISTA


            Por varias décadas, após a proclamação da Independência do Brasil por D. Pedro I em 1822, muitos intelectuais e políticos da época sentiram a necessidade de se erguer em um local próximo do famoso “Grito” - que se tornou um dos símbolos da independência brasileira- um monumento que enaltecesse este fato histórico. Diante de vários projetos falidos, no fim do século XIX inicia-se e conclui-se ainda no mesmo século, o projeto de construção de um prédio – conhecido como Palácio de Bezzi, devido ao nome de seu arquiteto- que abrigaria primeiramente uma escola, contudo, seu tamanho não era adequado para a instalação de uma instituição de ensino, instalando-se assim, o Museu Paulista no local. (ELIAS, 1995-1997, p.12-15),
            O primeiro acervo da instituição se constituiria em bens particulares, isto é, era composto de alguns objetos de caráter histórico á uma vasta gama de objetos do campo da história natural. Contudo, a primeiratipologia da instituição seria delineada por Von Ihering, que por ser formado no campo da zoologia, daria maior ênfase na aquisição de objetos das ciências naturais e sua pesquisa, organizando-os e expondo-os, possuindo como consequência a diferença exorbitante entre o tratamento dado aos objetos das ciências naturais em comparação com os objetos históricos, que acabavam sofrendo com o descuido do museu.O museu, em sua proposta e em sua construção, teve como objetivo construir um monumento histórico que enaltecesse a independência brasileira,entretanto, Von Ihering foi em contramão deste fato, segregando á exposição dos objetos históricos em apenas duas salas, sem uma organização ou critério, e também não adquirindo peças de características históricas suficiente para enaltecer todo este fato “histórico-nacionalista”, frisando que as escassas aquisições eram compostas por doações. (BREFE,2003,p.79-82).
             A posição tomada por Von Ihering de valorização da zoologia dentro do Museu Paulista fica claro quando analisado a quantidade de artigos sobre zoologia na revista do Museu, isto é, de 112 artigos escritos e enviados para a revista, 77 artigos era sobre a temática da zoologia. Contudo, também no período de 1917 á 1945 em que o diretor do museu era o Taunay, há tambémo predomínio de artigos sobre zoologia sob os demais temas. Ressaltando que a revista do Museu Paulista, era um dos meios de afirmação da existência de uma ciência Brasileira, apesar de, poucos artigos terem sido escritos por cientistas brasileiros (SCHWARCZ, 1993,p.82).


            Taunay, foto do Arquivo do Museu Paulista
 Em 1917, por questões investigativas Von Ihering é afastado do cargo, e seu substituto seria Taunay – ressaltando que antes dele, Armando Prado dirigiu o museu por um período breve, contudo essa passagem não houve modificações na instituição- que, quando presenciou a supremacia da ciência natural sob o campo da história, pôs-se a criticar a gestão de Von Ihering que não cumpriu, de certo modo, o papel de monumento da instituição. Apesar disto, o trabalho realizado por Taunay se iniciou imediatamente para a transformação do caráter de ciências naturais ao histórico, salientando que o processo não se deu rapidamente.  Sua primeira ação foi à abertura de salas para a exposição de objetos históricos, sua classificação de forma histórica (linear) e pedagógica, não abandonando o caráter enciclopedista da instituição, e a aquisição de peças de valor histórico para a instituição. Frisando que em 1917, Taunay abriu uma nova exposição dedicada exclusivamente à história paulista. (BREFE, 2003,p.79-84)
               Cabe salientar que, sob a tônica da Comemoração do Centenário da Independência Brasileira, o caráter histórico da instituição se consolida e triunfa sobre as ciências naturais. Dentro desta ótica, Taunay teve por objetivo retratar não só os fatos ligados à Independência Brasileira, mas também o desbravamento paulista e seus feitos. Para essa construção, ele utilizou de sua influência para adquirir para o museu diversos documentos e mapas sobre a história brasileira e o desbravamento paulista, que se encontravamespalhadas pelo mundo, e também de construções iconográficas –seja por meio da pintura, miniatura ou escultura- de personagens pertinentes a esse período brasileiro. Ressaltando, que ele permitiu o campo epistemológico histórico ascender dentro da instituição, por meio de fortes pesquisas documentais para se construir tanto a iconografia quanto o novo discurso da instituição. (BREFE, 2003,p.85-100)
             Contudo, os objetos de ciências naturais continuavam sendo salvaguardados pelo museu, até que em 1939, por meio de muita insistência de Taunay e cartas trocadas, o estado de São Paulo e seus Órgãos decidem construir um novo prédio anexo para abrigar a coleção montada por Ihering dentro do Museu. Ressaltando que após 1945, período em que Taunay saiu da direção, houvediversas transferências de acervos para outras instituições como o Instituto Biológico e o Instituto Botânico de São Paulo (MARANCA,1984).
             Pode-se dizer que o maior objetivo de Taunay na direção do Museu Paulista segundo Ana Cláudia Fonseca Brefe: “...era a organização de um museu histórico dedicado a conservar, colecionar e expor os documentos e objetos históricos de interesse para a reconstituição da história nacional do ponto de vista de São Paulo” (BREFE, 2003, pp. 101)”, fato que só se consolidou pouco tempo antes da saída de Taunay da direção do Museu Paulista.


REFERÊNCIAS

AFONSO, Ana Paula. Isto é gente. Retrievedon 2008-01-11.

BREFE, Ana Cláudia Fonseca. História nacional em São Paulo: o Museu Paulista em 1922. Anais do Museu Paulista, v. 10-11, n. 1, 2003, p. 79 – 103. Universidade de São Paulo.

ELIAS, Maria José. Museu Paulista: nem Museu do Ipiranga, nem palácio do Imperador In: Museu Paulista: Novas Leituras. São Paulo: USP, s/d. p. 12-15.

MARANCA, Silvia.  BANCO SAFRA. O Museu Paulista da Universidade de São Paulo. [São Paulo]: Banco Safra, c1984, 319p.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Os Museus Etnográficos brasileiros “Polvo é povo, molusco também é gente”. In:____O espetáculo das Raças: Cientistas, Instituições e Questão Racial no Brasil 1870-1930. 199.p.82.


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