domingo, 22 de fevereiro de 2015

Gabinetes de Curiosidades por Coletivo Gambiologia [Tipologia 2014]




Alun@s/autores: Alexandre G.de M.A.Menezes; Dayana Priscila dos Santos Mesquita; Fernanda Helena Evaristo  Rodrigues;Leticia Alves Martins;Maria Tereza Paulino Leal;Marilza de Oliveira Alves; Wagner Lucas Pereira 


Disciplina: Tipologia de Museus
Prof.: Luiz H. Garcia
Curso: Museologia (ECI/UFMG)

Gabinetes de Curiosidades por Coletivo Gambiologia
 
Nos Gabinetes de Curiosidades dos séculos XV ao XVIII guardava-se tudo, uma maneira de apreensão do mundo que levava ao colecionismo para se chegar ao conhecimento universal.
Hoje, os Gabinetes de Curiosidade não têm a mesma representatividade que tinha nos tempos de seu auge, muito devido à solidificação de uma fronteira entre a ciência, a arte e a magia. Mas até os dias de hoje, a prática dos Gabinetes é comum entre colecionadores e desperta novos interesses junto a prática de salvaguardar objetos.
Com esses novos interesses surgiram também novos objetos a ser guardados, hoje, por exemplo, há um grande montante de coisas que são cobiçadas por colecionadores compulsivos, como brinquedos, figurinhas, selos, canetas, cartões de telefone, vídeo games etc. Agora, e além de colecionar essas coisinhas, fazer delas objetos utilizáveis? E Além disso, propor uma nova forma de sustentabilidade através da arte? Foi isso que três criativos artistas de Belo Horizonte fizeram, e começaram a catar tudo que é considerado obsoleto pela maioria da população e revolucionaram o jeito de reciclar. Esses loucos criaram o Coletivo Gambiologia, e propuseram criar uma ciência de algo que o brasileiro está bem habituado a fazer, A Ciência da Gambiarra.
O Coletivo Gambiologia, formado por três artistas mineiros – Fred Paulino, Lucas Mafra e Paulo Henrique Pessoa “Ganso”, que juntos propuseram uma ciência da gambiarra, e dessa forma eles salientam pesquisar a tradição brasileira de adaptar, improvisar, encontra soluções simples e criativas para pequenos problemas do dia a dia (não tem uma lanterna? faça uma com uma caixinha de chiclets), criando assim artefatos multifuncionais que podem ser esculturas, objetos decorativos e/ou eletrônicos.
Os três artistas já fizeram várias exposições com o tema, e a ideia da gambiologia já transcendeu fronteiras, chegando a outros países. Os três também tem espírito colecionador que ajudou a aproximá-los após um trabalho juntos em 2008 e quando a ideia começou a crescer. Um dos sucessos do grupo é a obra Gabinete Jean Baptiste 333, sendo exposta na exposição GAMBIÓLOGOS, exibida em 2010, em BH, e foi criada pelo mais compulsivo colecionador do grupo segundo eles mesmo, Paulo Henrique “Ganso” (não é o do futebol, esse é craque na criatividade). 


Gabinete Jean Baptiste 333.

A obra ganhou esse nome por causa do patrono fictício do grupo, Jean Baptiste Gambierre, e sua intenção foi criar um ambiente inspirado nos gabinetes na qual tinha uma espécie de cadeira elétrica feita com a combinação de vários itens de seu acervo e que interagisse com as pessoas, criando um ambiente ao mesmo tempo com coisas memoráveis (já que muitas delas já fizeram parte do cotidiano de alguns) e também com entorno surreal.
O trabalho desses três cria uma inovação sustentável de colecionar e fabricar artefatos com utensílios muitos das vezes reciclados demonstrando uma nova concepção de arte que é ligada a esses novos Gabinetes de Curiosidade da contemporaneidade. O Coletivo Gambiologia ainda está na ativa e tem até revista, a FACTA- Revista da Gambiologia. Esse gabinete realmente desperta uma curiosidade de ver coisas que muitas vezes vemos sem utilidade e que provavelmente na nossa atual sociedade irá para o lixo, virar arte e se transformar em um trabalho magnífico, vale a pena conferir. 

(trecho da entrevista realizada pelos alunos com os componentes)

Alunos: Vocês são jovens pertencentes a “ era tecnológica “e como dizem na Revista de Gambiologia nr 2: “ nossas memórias estão digitalizadas nas galerias das redes sociais...” Seria, então, um dos objetivos do Coletivo Gambiologia, mostrar ao público que é importante o resgate de nossas memórias?

R: Na verdade somos de três gerações distintas, o Ganso é nascido na década de 60, eu na década de 70 e o Lucas na década de 80. Eu acho que a Gambiologia resgata as memórias na medida em que lida com tecnologias já consideradas obsoletas, mas que não necessariamente são, ou eram, piores ou menos eficientes do que as tecnologias de hoje. De certa forma as tecnologias antigas paradoxalmente exigiam um envolvimento maior de quem as utilizava. Hoje em dia vivemos em uma situação de hiper comunicação e hiper interação, mas a virtualização é tão grande que as pessoas não fazem a mínima noção do que está por trás disso, tecnicamente. A operação das tecnologias antigas exigia uma aproximação mais intensa de quem as utilizava, até de uma forma tátil... Hoje em dia é tudo tão “clean” e liso... A Gambiologia, em sua “sujeira” e “bagunça” técnica e estética acaba resgatando um tipo de manualidade que foi sendo esquecido. E a memória das pessoas está, muitas vezes, relacionada a essa experiência sensorial mais próxima entre homens e objetos técnicos.
 
Alunos: O que levou Paulo Henrique “ Ganso “, a ter um olhar especial para os Gabinetes de Curiosidades? A obra do Ganso “ Gabinete de Curiosidade Jean Baptiste 333 “ foi apreendida pelo público?


Gabinete Jean Baptiste 333 (detalhe)
R: O Ganso é um colecionador compulsivo, se auto intitula “colecionador de coleções”. Ele sugeriu realizar esse trabalho fazendo uma “assemblage” de parte do acervo dele. A ideia era, inspirado visualmente pelos gabinetes de curiosidades, criar um ambiente que sugeria uma ateliê de nosso patrono (fictício), o Jean Baptiste Gambièrre. Voltando à pergunta anterior, é muito interessante esse uso das antiguidades recombinadas, pois as pessoas acabam se reconhecendo nos objetos, a partir de memórias do que utilizavam em cada época. No caso dessa instalação, havia uma cadeira – espécie de “trono”, segundo o Ganso sugerindo uma “cadeira elétrica” – em que o público podia se sentar. E isso aconteceu inúmeras vezes, com as pessoas querendo ser fotografadas naquele ambiente plasticamente repleto de referências e meio surreal. PS: sobre essa compulsão do Ganso sugiro assistir o vídeo que fizemos com ele para nossa revista Facta: http://www.youtube.com/watch?v=C7lJUEX_kS0

Bibliografia:

Revista de Gambiologia    nº 01 e 02
Gontijo,Juliana, Distopias Técnologica 1º ed. Editora Circuito 2014
 

 

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