terça-feira, 25 de novembro de 2025

Entre Memórias e Córregos: uma intervenção museológica no Museu Histórico Abílio Barreto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
GRADUAÇÃO EM MUSEOLOGIA
MUSEOLOGIA II
LUIZ HENRIQUE ASSIS GARCIA
FUNÇÃO SOCIAL DOS MUSEUS
DENISE GUIMARÃES FERREIRA
CARLOS HENRIQUE NUNES
RAFAEL DE OLIVEIRA
MADISON ALEX MARTINS SILVA
BELO HORIZONTE, MG
NOVEMBRO DE 2025

Entre Memórias e Córregos: uma intervenção museológica no Museu Histórico Abílio
Barreto

 
O Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB) abriu suas portas e sobretudo sua escuta para
receber uma ação museológica desenvolvida pelos estudantes do terceiro período do curso de
Museologia, numa parceria que reforça o vínculo entre formação profissional, instituições de
memória e a comunidade que as circunda. Sob coordenação de Ana Portugal, o museu
acolheu com entusiasmo a proposta acadêmica orientada pelo professor Luiz Henrique Assis
Garcia, consolidando um espaço de intercâmbio entre saberes, práticas e experiências.
A intervenção, realizada no mês de novembro e integrada à exposição de longa duração
“Belo Horizonte fora dos planos”, buscou reacender discussões sobre o Córrego do Leitão,
um dos importantes cursos d’água que marcaram não apenas a geografia, mas também o
cotidiano e a história afetiva de Belo Horizonte. Hoje quase invisível sob o asfalto da
Avenida Prudente de Morais, o córrego tornou-se ponto de partida para um diálogo mais
amplo sobre urbanização, memória e diálogo da população.



O processo de pesquisa e a construção da intervenção

Para desenvolver o trabalho, o grupo de estudantes realizou uma pesquisa que confrontou
imagens históricas e registros fotográficos contemporâneos, criando uma linha do tempo
visual capaz de evidenciar as transformações do território. Este procedimento, comum à
metodologia museológica, trouxe à tona questões sobre o planejamento urbano de Belo
Horizonte e suas consequências sociais, ambientais e culturais. Afinal, que cidade foi
projetada? Que cidade emergiu? E que cidade ainda desejamos construir?
Além disso, foram realizadas entrevistas com moradores que vivenciaram o período da
canalização do Córrego do Leitão. Muitos relataram a presença da água correndo a céu
aberto, as brincadeiras infantis, as dinâmicas dos bairros vizinhos e, sobretudo, o impacto das
obras que alteraram a paisagem de forma definitiva. Esses depoimentos constituíram um
patrimônio imaterial valioso, capaz de conectar diferentes gerações ao mesmo espaço urbano.
Todo esse conteúdo foi reunido em uma página digital acessível através de um QR Code
instalado no saguão do museu. Durante os meses de novembro e dezembro, visitantes podem
escanear o código e navegar pelos materiais da pesquisa, fotografias comparativas, relatos e
reflexões, ampliando sua compreensão sobre a cidade e sobre os elementos que se ocultam
sob sua superfície.


 

Link para o site: https://corregodoleitao.my.canva.site/inicio/

A Roda de Conversa: ativando o museu como espaço vivo
O ponto alto da intervenção ocorreu no dia 8 de novembro, quando foi realizada uma Roda de
Conversa aberta ao público. Estudantes, moradores, visitantes e equipe do museu se reuniram
no saguão para trocar percepções, lembranças e inquietações sobre as mudanças urbanas que
moldaram o bairro e o próprio córrego.
A dinâmica da conversa mostrou como o museu pode funcionar como um espaço de encontro
e escuta, no qual diferentes vozes se articulam para pensar a cidade. As falas revelaram não
apenas informações, mas afetos: histórias familiares, lembranças da infância, críticas ao
processo de urbanização e reflexões sobre como a população pode participar das discussões
que impactam seu cotidiano.


Para muitos participantes, a sensação era de reencontro com um passado que ainda vive,
mesmo que soterrado pelas camadas de concreto. Para outros, especialmente os mais jovens,
tratou-se de um primeiro contato com uma dimensão histórica da cidade que raramente
aparece nos discursos oficiais.

Impactos e reflexões sobre a função social do museu
A experiência demonstrou como ações museológicas simples, porém bem estruturadas,
podem ativar a função social dos museus: promover o diálogo, estimular a consciência crítica
e valorizar memórias que pertencem à coletividade. O Museu Abílio Barreto, ao acolher esse
projeto, reafirmou seu papel como instituição que não apenas preserva a história de Belo
Horizonte, mas também cria pontes entre passado e presente.
O museu, neste caso, funcionou como catalisador de debates e como território de
convivência. Em uma cidade marcada por intensas transformações urbanas, pensar o espaço
público, os cursos d’água, a memória e a participação cidadã é fundamental para construir
formas de pertencimento e responsabilidade coletiva.


A intervenção, assim, extrapolou o âmbito acadêmico. Tornou-se um exercício de escuta e
diálogo, trazendo à tona a importância de se compreender que a história da cidade não está
restrita aos livros ou às vitrines das exposições lá está também escondida nos córregos
canalizados, nas lembranças de quem os viu correr e nas possibilidades de futuro que ainda
podemos imaginar.

CENTRO DE MEMÓRIA E DOCUMENTAÇÃO MANOEL HYGINO DOS SANTOS [Santa Casa]

UFMG - ECI - Curso de Museologia

MUSEOLOGIA II 

Prof.: Luiz H. Garcia

Grupo: Beatriz Fonseca, Clara, Julia, Karen, Viviane e Zaya.


CENTRO DE MEMÓRIA E DOCUMENTAÇÃO MANOEL HYGINO DOS SANTOS

Centro de Memória Santa Casa da Misericórdia


O Centro de Memória e Documentação Manoel Hygino dos Santos é o espaço responsável por salvaguardar a história da Santa Casa de Belo Horizonte , além de promover ações culturais, educativas e de preservação.

Reconhecido pelo Ibram

Espaço com temática Ciências Exatas, da Terra, Biológicas e da Saúde

Possui plano museológico

Participa de eventos museológicos que ocorrem em Belo Horizonte


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ROTEIRO


Você conhece… O Centro de Memória da Santa Casa?


Também conhecido como Centro de Memória e Documentação Manoel Hygino dos Santos, o Centro de Memória da Santa Casa é um espaço que propaga os anos de história do Hospital Santa Casa, localizado na área hospitalar de Belo Horizonte, onde também está situado o Centro de Memória da instituição.


A Santa Casa da Misericórdia é a instituição médica mais antiga de BH, sendo inaugurada juntamente com a cidade, em 1897.


São 127 anos de uma história que merece ser conhecida e reconhecida pela população belorizontina e que é honrosamente reavivada pelo Centro de Memória e Documentação Manoel Hygino dos Santos.


O Centro de Memória é localizado na Antiga Maternidade Hilda Brandão, prédio inaugurado em 1916 e a primeira maternidade de Belo Horizonte. A antiga maternidade é tombada pelo IEPHA-MG (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais), que reconhece sua importância devido a sua arquitetura e seu valor histórico-médico. Além do Centro de Memória, na Antiga Maternidade também funcionam a provedoria, a diretoria e os setores administrativos da Santa Casa BH.

 

Exemplar do folder proposto: 




Exposição – Teatro FELUMA / Centro de Memória da Faculdade Ciências Médicas

 Exposição – Teatro FELUMA



 

Como graduandas do curso de Museologia pela Universidade Federal de Minas gerais (UFMG), nos foi proposto na disciplina Museologia II, escolher uma instituição para a fazermos um projeto de intervenção, como uma das integrantes do grupo faz estágio na Faculdade Ciências Médicas a escolhemos para este trabalho. O grupo é composto pelas seguintes alunas do 3º período da graduação:

Helena Costa Vilela CecilioJaqueline dos Santos AlvesSofia Fernandes de Abreu PenidoRebeca Dias Alves.

A escolha da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais como foco para nossa proposta inicial, nos deu liberdade para iniciar a delinear o que gostaríamos de fazer. Inicialmente visamos fazer um estudo de público, analisar o perfil dos visitantes buscando melhorias no Centro de memória, tanto na exposição como nas mediações que são ministradas. Entretanto, esse tipo de pesquisa/avaliação já é realizada pelas instituições Feluma, assim, optamos por um caminho diferente.

Após analisar a CPA e os comentários feitos ao Centro de Memória, um se destacou, já que o denominava como “um lugar morto”, o que na visão dos que vivem cercados de história não fazia sentido, a memória representa a vida, o acervo carrega a vida de muitas pessoas que auxiliaram na estruturação da faculdade e da própria medicina mineira. Portanto, com o desejo de levar toda essa vida que enxergamos no interior da exposição e da Reserva Técnica, decidimos que a nossa intervenção social e missão, seria externalizar e resignificar esse acervo para os alunos, colaboradores e visitantes da Fcmmg.



Todos os cursos representados através do acervo do Centro de Memória:

 

Medicina

Fisioterapia

Enfermagem

Psicologia

Odontologia

Fonoaudiologia

- Laboratório Portátil de Urina

(Exposição)

- Aparelho Coluna Cervical

(Armário entrada)

- Pote de Algodão

(Exposição)

- Livro de Diagnósticos

(?)

- Conjunto 5º Cúpula

(CM Odonto)

- Audiômetro 

(Exposição)

- Caixa com equipamentos de Otorrino

- Bolsas Quentes

(Armário Entrada)

- Seringas e Agulhas 

(Reserva Técnica)


- Casinha de Boneca 

(Reserva Técnica)

- Livros 

(CM Odonto)

- Orelha ou Laringe; (Modelo Anatômico)

- Estojo de Ampolas

(Caixa A4h)

- Ultrassom

(Armário Entrada)

- Talas de madeira 

(Reserva Técnica)

- Família Terapêutica

(Exposição) 

- Tampo e pia 

(Reserva Técnica)


  

TOTAL: 17 Itens do Acervo e 2 Itens anatômicos sintéticos (empréstimo pendente).
 

Com o auxílio do nosso Professor Luiz Henrique Assis Garcia e da Museóloga Paola Andrezza Bessa Cunha, conseguimos entrar em contato com os participantes/supervisores do Instituto Cultural Ciências Médicas e apresentar nossa proposta. A exposição de curta duração: De Volta Para o Futuro Ciências Médicas, teria como objetivo principal mostrar a evolução nos modos de se praticar e aprender dos cursos oferecidos pela faculdade. O acervo selecionado seria separado em 6 cúpulas, emprestadas do Centro de Memória do Campus II da Fcmmg, utilizando cada uma delas para representar os respectivos cursos de Medicina, Fisioterapia, Enfermagem, Psicologia, Odontologia e Fonoaudiologia.

Os expositores seriam transferidos até o Foyer do Teatro Feluma e organizados na parede lateral, em frente às paredes de vidro. As legendas seriam feitas através de um sistema de enumeração, em que se posiciona o número à frente do objeto e na cúpula a legenda completa sobre seu nome, época, curso e utilidade, para que assim não houvesse uma poluição visual. À frente de tudo, no início da exposição haveria um Banner para contextualizar os visitantes sobre tudo.

No período que a exposição estivesse disponível deixaríamos uma urna para que os visitantes pudessem expressar sua opinião, além de sugerir para que visitassem ao Centro de Memória (localizado no primeiro andar da instituição). Com o auxílio da planilha de visitantes, já utilizada no CM, e a urna, faríamos a análise para ver se o projeto atingiu seu objetivo de trazer mais pessoas para dentro do Centro de Memória e formar esse vínculo com o passado, entendendo a participação deles nessa história. Toda essa pesquisa seria disponibilizada à Fcmmg.

Gostaríamos de transmitir que um dia tudo que a Faculdade possui no acervo, já foi o cotidiano de muitos alunos e profissionais, e fazer com que percebam como hoje constroem a história que será admirada pelos futuros alunos, colaboradores, visitantes e familiares. A memória se torna viva quando se tem a oportunidade de participar dela e é perpetuada por aqueles que a admiram.


Casa do Baile: preenchendo o espaço em branco

 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS GRADUAÇÃO EM MUSEOLOGIA
DISC.: MUSEOLOGIA II 

PROF. LUIZ HENRIQUE ASSIS GARCIA

CURSANTES: ANA SOPHIA NUNES SILVA, FERNANDA VEIGA DIAS, KETTY MARA GOMES, LAISA DANIELLA XAVIER DA CUNHA, MARIANA HELLEN DE JESUS, RENATA CABRAL MORAES

BELO HORIZONTE, 2025

Casa do Baile: preenchendo o espaço em branco


INTRODUÇÃO


A Casa do Baile, projetada por Oscar Niemeyer e inaugurada em 1942, integra o conjunto arquitetônico da Pampulha e chama atenção pela leveza das curvas e pela relação com a lagoa. Ao longo do tempo, o espaço ganhou diferentes usos e hoje continua despertando curiosidade em quem passa pela orla, seja para visitar a exposição, descansar ou apenas observar a paisagem. Estudos sobre a Casa do Baile destacam justamente essa variedade de percepções, mostrando como a arquitetura moderna se combina com experiências afetivas e espontâneas dos visitantes, que se apropriam de diferentes formas do edifício. Essa ideia serviu como ponto de partida para pensarmos nossa proposta de intervenção.




PROPOSTA DE INTERVENÇÃO NA CASA DO BAILE

A intervenção “Casa do Baile: Preencha o Espaço em Branco” nasceu do desejo de criar um momento de escuta dentro da própria visita. Queríamos oferecer ao público a chance de se expressar livremente, registrando sensações, críticas, lembranças ou interpretações pessoais sobre o espaço, ou seja, algo que fosse simples, mas que colocasse o visitante no centro da experiência. Nosso objetivo principal era compreender como diferentes pessoas constroem significado para o lugar e de que forma a Casa do Baile é vivida.

Para isso, no dia 7 de novembro de 2025, realizamos a ação na entrada da Casa, próximo à saída da mostra. À medida que as pessoas finalizavam a visita, nós as abordávamos e entregávamos um pequeno bloco de notas e uma caneta. O convite era direto e aberto: escrever ou desenhar qualquer impressão que a passagem pela Casa do Baile tivesse despertado. Não havia perguntas orientadoras nem expectativa de resposta específica, a proposta era justamente permitir que cada pessoa preenchesse o espaço em branco a partir de sua própria vivência.





ANÁLISE DAS RESPOSTAS

As mensagens recolhidas mostram como a Casa do Baile é percebida de formas múltiplas e afetivas. Algumas respostas revelam encantamento pela paisagem e pela arquitetura, outras apontam questões de uso, horário de funcionamento ou sensação de pouca ocupação do espaço. Aparecem também lembranças pessoais, memórias familiares e comentários sobre a exposição visitada. Entre as respostas, destacam-se:

“Bela obra arquitetônica, mas o espaço é mal utilizado.”


“A Casa do Baile lembra minha família.”


“Gostei da história do lugar.”


“Entrei para usar o banheiro, mas o lugar é bonito.”


“A experiência que eu mais gostei foi de tocar nos livros.”


“Uma experiência fantástica. Eu e minha família sempre viemos ver essa obra de arte.”


 






CONSIDERAÇÕES FINAIS


A intervenção mostrou que gestos simples de escuta podem fortalecer a relação entre visitante e instituição. Ao convidar as pessoas a deixarem suas impressões, abrimos um espaço de diálogo que complementa a mediação tradicional e aproxima o público do patrimônio. Afinal, a Casa do Baile não é apenas um ícone arquitetônico, é um lugar que ganha sentido a partir das pessoas que passam por ele todos os dias.



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SOUZA, Carolina Pimentel; TAMEIRÃO, Daniela; FARIA JUNIOR, Evandro José; MACHADO, Giovanna Maria de Paula; MELO, Thays Lucas de. Que lugar é esse? Visitas espontâneas e seu público na Casa do Baile. In: Museus, Educação e Território: experiências educativas na Pampulha. Belo Horizonte: Fundação Municipal de Cultura; Instituto Lumiar, 2024. p. 121-125.