UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
GRADUAÇÃO EM MUSEOLOGIA
MUSEOLOGIA II
LUIZ HENRIQUE ASSIS GARCIA
FUNÇÃO SOCIAL DOS MUSEUS
DENISE GUIMARÃES FERREIRA
CARLOS HENRIQUE NUNES
RAFAEL DE OLIVEIRA
MADISON ALEX MARTINS SILVA
BELO HORIZONTE, MG
NOVEMBRO DE 2025
Entre Memórias e Córregos: uma intervenção museológica no Museu Histórico Abílio
Barreto
O Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB) abriu suas portas e sobretudo sua escuta para
receber uma ação museológica desenvolvida pelos estudantes do terceiro período do curso de
Museologia, numa parceria que reforça o vínculo entre formação profissional, instituições de
memória e a comunidade que as circunda. Sob coordenação de Ana Portugal, o museu
acolheu com entusiasmo a proposta acadêmica orientada pelo professor Luiz Henrique Assis
Garcia, consolidando um espaço de intercâmbio entre saberes, práticas e experiências.
A intervenção, realizada no mês de novembro e integrada à exposição de longa duração
“Belo Horizonte fora dos planos”, buscou reacender discussões sobre o Córrego do Leitão,
um dos importantes cursos d’água que marcaram não apenas a geografia, mas também o
cotidiano e a história afetiva de Belo Horizonte. Hoje quase invisível sob o asfalto da
Avenida Prudente de Morais, o córrego tornou-se ponto de partida para um diálogo mais
amplo sobre urbanização, memória e diálogo da população.
O processo de pesquisa e a construção da intervenção
Para desenvolver o trabalho, o grupo de estudantes realizou uma pesquisa que confrontou
imagens históricas e registros fotográficos contemporâneos, criando uma linha do tempo
visual capaz de evidenciar as transformações do território. Este procedimento, comum à
metodologia museológica, trouxe à tona questões sobre o planejamento urbano de Belo
Horizonte e suas consequências sociais, ambientais e culturais. Afinal, que cidade foi
projetada? Que cidade emergiu? E que cidade ainda desejamos construir?
Além disso, foram realizadas entrevistas com moradores que vivenciaram o período da
canalização do Córrego do Leitão. Muitos relataram a presença da água correndo a céu
aberto, as brincadeiras infantis, as dinâmicas dos bairros vizinhos e, sobretudo, o impacto das
obras que alteraram a paisagem de forma definitiva. Esses depoimentos constituíram um
patrimônio imaterial valioso, capaz de conectar diferentes gerações ao mesmo espaço urbano.
Todo esse conteúdo foi reunido em uma página digital acessível através de um QR Code
instalado no saguão do museu. Durante os meses de novembro e dezembro, visitantes podem
escanear o código e navegar pelos materiais da pesquisa, fotografias comparativas, relatos e
reflexões, ampliando sua compreensão sobre a cidade e sobre os elementos que se ocultam
sob sua superfície.
Link para o site: https://corregodoleitao.my.canva.site/inicio/
A Roda de Conversa: ativando o museu como espaço vivo
O ponto alto da intervenção ocorreu no dia 8 de novembro, quando foi realizada uma Roda de
Conversa aberta ao público. Estudantes, moradores, visitantes e equipe do museu se reuniram
no saguão para trocar percepções, lembranças e inquietações sobre as mudanças urbanas que
moldaram o bairro e o próprio córrego.
A dinâmica da conversa mostrou como o museu pode funcionar como um espaço de encontro
e escuta, no qual diferentes vozes se articulam para pensar a cidade. As falas revelaram não
apenas informações, mas afetos: histórias familiares, lembranças da infância, críticas ao
processo de urbanização e reflexões sobre como a população pode participar das discussões
que impactam seu cotidiano.
Para muitos participantes, a sensação era de reencontro com um passado que ainda vive,
mesmo que soterrado pelas camadas de concreto. Para outros, especialmente os mais jovens,
tratou-se de um primeiro contato com uma dimensão histórica da cidade que raramente
aparece nos discursos oficiais.
Impactos e reflexões sobre a função social do museu
A experiência demonstrou como ações museológicas simples, porém bem estruturadas,
podem ativar a função social dos museus: promover o diálogo, estimular a consciência crítica
e valorizar memórias que pertencem à coletividade. O Museu Abílio Barreto, ao acolher esse
projeto, reafirmou seu papel como instituição que não apenas preserva a história de Belo
Horizonte, mas também cria pontes entre passado e presente.
O museu, neste caso, funcionou como catalisador de debates e como território de
convivência. Em uma cidade marcada por intensas transformações urbanas, pensar o espaço
público, os cursos d’água, a memória e a participação cidadã é fundamental para construir
formas de pertencimento e responsabilidade coletiva.
A intervenção, assim, extrapolou o âmbito acadêmico. Tornou-se um exercício de escuta e
diálogo, trazendo à tona a importância de se compreender que a história da cidade não está
restrita aos livros ou às vitrines das exposições lá está também escondida nos córregos
canalizados, nas lembranças de quem os viu correr e nas possibilidades de futuro que ainda
podemos imaginar.
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