UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - UFMG
ESCOLA DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO - ECI
CURSO DE GRADUAÇÃO EM MUSEOLOGIA
DISCIPLINA: METODOLOGIA DA PESQUISA HISTÓRICA EM MUSEUS
PROFESSOR: LUIZ HENRIQUE ASSIS GARCIA
GRUPO: JOÃO LUCAS SALGADO MACHADO, SÂMELA CAMPOS MIRANDA ALVES ANDRADE
INTRODUÇÃO
O carnaval de Belo Horizonte tem vivido nas últimas duas décadas um processo de revitalização e de crescimento exponencial. Só no ano de 2025, foram 568 blocos de rua cadastrados para desfilar pelas ruas da cidade, número exorbitante mesmo se comparado ao período áureo carnavalesco do século anterior, que em 1985 contava com cerca de 17 escolas de samba e 23 blocos caricatos (Dias, 2015). Contrariamente, é perceptível que o samba, ritmo essencial do carnaval brasileiro, vem perdendo centralidade na folia belo-horizontina. O presente artigo busca se debruçar nos porquês desse fenômeno.
METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada através de leitura bibliográfica e de estudo comparativo entre blocos populares na década de XX e XXI. Para os blocos mais recentes, o levantamento de dados foi feito majoritariamente através da análise das redes sociais dos mesmos, enquanto que para os mais antigos contou-se com informações disponibilizadas pelos sites da prefeitura e do Blocos de Rua, além do material bibliográfico. Buscou-se analisar tanto perfis de blocos que valorizam o samba como seu ritmo principal quanto aqueles que privilegiam outros ritmos, além do perfil da prefeitura responsável por apurar o crescimento da festa ao longo dos anos. Por meio dessa pesquisa, foram levantadas algumas hipóteses. Em primeiro lugar, como a falta de investimento do Estado poderia ter influenciado a baixa no número de escolas de samba, e como isso resultou na descentralização dos blocos belo-horizontinos, tornando-os nichados e menos dependentes do Carnaval oficial. Em segundo lugar, como a própria indústria musical pode ter influenciado a adição de outros gêneros à folia, e com isso contribuído para a subalternização do samba enquanto ritmo.
A VIRADA DO SAMBA
Com a elevação do samba enquanto gênero símbolo nacional em 1930, e na tentativa de criar uma Belo Horizonte moderna e progressista, o Estado passa a investir em modelos de celebração bem parecidos com os da então capital do Rio de Janeiro, importando dali os blocos de rua e o modelo das escolas de samba. Surgem aí ritmos e melodias dos blocos mais populares da época, como também a “Escola de Samba Pedreira Unida” que foi, provavelmente, a pioneira do carnaval belo-horizontino. Fundada pela comunidade da Pedreira Prado Lopes, desfilou pela primeira vez em 1937.
Figura 1 – Vídeo do carnaval belo-horizontino de 1964
Fonte: CANAL MIS BH/Reprodução: Youtube
É possível perceber que muitos dos grupos que continuam mantendo o samba como ritmo principal são aqueles ligados aos grupos originais, como é o caso do bloco caricato Aflitos do Anchieta.
Figura 2 – Vídeo de um pós ensaio dos Aflitos do Anchieta, bloco caricato originalmente formado em 1965
https://www.instagram.com/reel/C_OLgguOhh2/
Fonte: Aflitos do Anchieta/Reprodução: Instagram
A partir da ascensão de outros ritmos como o funk e o sertanejo, é possível perceber em blocos mais recentes a tentativa de se mesclar o som tradicional carnavalesco com outros ritmos populares. Essa mescla pode indicar tanto uma tentativa de dialogar com as preferências musicais contemporâneas, ao se aproximar ao desejo da massa, como também enquanto um reflexo direto da lógica da indústria musical, que se adapta sempre visando maximizar o alcance e o lucro.
Figura 3 – Duda Beat é a convidada do Então, Brilha! do carnaval de 2025
https://www.instagram.com/p/DGlsnpdS8Ri/
Fonte: Jornal Hoje em Dia/Reprodução: Instagram
O carnaval de Belo Horizonte sobreviveu durante todo o século XX e até cresceu, como no público da “Banda Mole”. Mas se desenvolveu chegando a receber milhões de turistas a partir dos anos 2009.
Figura 4 - Instagram da Prefeitura de Belo Horizonte sobre o carnaval
https://www.instagram.com/p/DIRWJdhx04G/
Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte/Reprodução: Instagram
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Hoje em dia, com as ruas do carnaval de Belo Horizonte tomadas por blocos, “que buscam misturar festa com política, carnaval com revolução, cidade com a mobilização, rua com luta, liberdade com negociação e democracia com amor”(Dias, 2015, p. 117) há também a tentativa da prefeitura de restabelecer alguns padrões para a festa e controlar e enquadrar as manifestações que surgiram de forma espontânea. Para tanto, se preocupa em organizar a festa, mas não em impor qualquer tipo de ritmo ou gênero musical. O grande atrativo do carnaval de rua de Belo Horizonte é justamente a diversidade de ritmos e estilos. Há blocos que tocam axé dos anos 90, outros que fazem versões carnavalescas de rock, blocos infantis, blocos com marchinhas tradicionais e, sim, blocos de samba. Essa pluralidade é vista por muitos como uma riqueza e um reflexo da própria identidade musical da cidade. Já no carnaval oficial, as escolas de samba - que em Belo Horizonte não têm a mesma representatividade que no Rio de Janeiro ou São Paulo, por exemplo -, como o nome diz, ainda preservam o ritmo e há valorização de figuras conhecidas de galpões de escolas, o que não acontece com o carnaval de rua, que é a grande vedete da festa em Belo Horizonte.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARRUDA, Gabriel. Comunidade Bigode: uma etnografia do samba e do sambista em Belo Horizonte. 2022. Orientador: Eduardo Rosse. 154 f. il. Dissertação (Mestrado em Música) – Escola de Música, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2022.
ANCHIETA, Aflitos do. Depois do ensaio, uma levada de samba pra descontrair. Belo Horizonte, 2025. Instagram: aflitosdoanchieta. Disponível em: https://www.instagram.com/reel/C_OLgguOhh2/. Acesso em: 19 jun. 2025.
CARNAVAL 1964 - Belo Horizonte. Belo Horizonte: Belotur, 2014. Disponível em: https://youtu.be/qUrsN_aZvzs?si=4k3IOwQJG75LVxKI. Acesso em: 22 jun. 2025.
DIA, Jornal Hoje em. Carnaval em BH: Duda Beat é a convidada do bloco então, brilha! para desfile de sábado. 27 fev. 2025. Instagram: jornalhojeemdia. Disponível em: https://www.instagram.com/p/DGlsnpdS8Ri/. Acesso em: 16 jun. 2025.
DIAS, Paola Lisboa Côdo. Sob a “Lente do Espaço Vivido”: a apropriação das ruas pelos blocos de carnaval na Belo Horizonte contemporânea. 2015. 201 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Escola de Arquitetura, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2015.
DOMINIQUE, João Paulo Mariano. Insurgências juvenis no carnaval de rua em Belo Horizonte: o bloco seu vizinho e a luta pela afirmação do território. 2019. 200 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2019. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/38166/4/Disserta%c3%a7%c3%a3o_Jo%c3%a3o_P_M_Domingues_Biblioteca%2c%202019..pdf Acesso em 20 jun. 2025.
HORIZONTE, Carnaval de Belo. #TBT daquele Carnaval que deixou saudade no coração e orgulho na memória. 10 abr. 2025. Instagram: carnavaldebh. Disponível em: https://www.instagram.com/reel/DIRWJdhx04G/. Acesso em: 20 jun. 2025.
TEM, Santa Tereza. Os Inocentes nos “Outros Carnavais”, Santa Tereza tem. Disponível em: https://santaterezatem.com.br/2019/03/24/os-inocentes-nos-outros-carnavais/. Acesso em: 20 jun. 2025.
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