terça-feira, 21 de outubro de 2025

O samba e as questões de gênero

DISCIPLINA: Metodologia da pesquisa histórica em museus
PROFESSOR: Luiz Henrique Assis Garcia
Discentes: Frederico Augusto João B. M. de Santana
                  Gabriela Guerra Fortunato
                  Lorena Eduarda da Silva Luz

 

A construção histórica do samba como um dos principais símbolos da identidade nacional
brasileira foi marcada por um processo seletivo de vozes, onde o protagonismo masculino
prevaleceu tanto nas narrativas quanto na valorização artística. No entanto, a atuação
feminina no samba é uma realidade incontestável, frequentemente deixada em segundo plano
ou subvalorizada. A partir das análises anteriores de Gomes (2013) e Augras (1998), é
possível compreender como esse apagamento se constituiu e, ao mesmo tempo, perceber as
estratégias de resistência das mulheres sambistas ao longo do tempo.
A partir da elaboração da exposição curricular da décima terceira turma de museologia
“PRETAgonistas”, surgiram inquietações e demandas, vindas das mulheres sambistas
escolhidas para integrar a expografia, que nos deram ideias para a elaboração do artigo. Hoje,
embora as marcas da exclusão ainda estejam presentes, é possível observar um cenário de
maior reconhecimento e abertura para a atuação feminina no samba.
Cada vez mais, mulheres têm ocupado espaços de destaque como compositoras, intérpretes,
dirigentes de escolas de samba e pesquisadoras, rompendo com os estereótipos que as
limitam e apagam. Essa mudança não acontece de forma espontânea, mas é resultado direto
das resistências e lutas acumuladas ao longo do tempo. O avanço das discussões de gênero e
raça, somado à valorização das narrativas silenciadas, tem contribuído para a construção de
um samba plural e representativo. Assim, celebrar a presença das mulheres no samba hoje é
também afirmar o direito à memória, à autoria e ao protagonismo que sempre lhes pertenceu.
Como disse a pesquisadora Adriana Facina: “O samba é um território de memória e
resistência negra, onde as mulheres são guardiãs de saberes que vão além da música [..] são
saberes do corpo, do cuidado, da oralidade e da vivência coletiva.”

É fundamental reconhecer o protagonismo das mulheres. Por meio das entrevistas realizadas,
pudemos ver que são elas que ocupam espaços como produtoras culturais, recepcionistas,
costureiras e organizadoras de eventos, entre outros papéis importantes. As atividades de
pesquisa que desenvolvemos estão inseridas no contexto de um trabalho coletivo para
compreender as mudanças no cotidiano de mulheres que vivem o samba. Nossa principal
função foi observar as entrevistas das mulheres para a produção do documentário e fazer um
levantamento de análise e organização de fontes que nos permitiram traçar comparativos
entre o passado e o presente dessas trajetórias femininas. Um dos eixos centrais da
investigação foi a análise de entrevistas realizadas em outra disciplina, nas quais mulheres
narram suas experiências, desafios e conquistas ao longo do tempo no ambiente do samba. A
partir desses relatos, buscamos perceber transformações em suas práticas, visibilidade e
papéis sociais. Além das entrevistas, realizamos uma etapa de observação mais ativa,
envolvendo a busca de biografias de sambistas mulheres, com o objetivo de aprofundar a
compreensão de suas trajetórias e contextualizar as informações fornecidas nas entrevistas. A
experiência de conversar diretamente com algumas das mulheres entrevistadas foi
enriquecedora e nos proporcionou uma dimensão viva e um olhar afetivo à pesquisa,
permitindo perceber detalhes que nem sempre se revelam nas fontes escritas ou visuais. Esses
diálogos nos ajudaram a compreender como essas mulheres percebem as mudanças no
ambiente do samba e nas suas próprias vidas, além de perceber como os papéis de gênero
estão presentes na estruturação dessa manifestação cultural.
A pesquisa realizada reafirma a importância de reconhecer e valorizar o protagonismo das
mulheres no universo do samba, rompendo com narrativas que, historicamente, priorizaram
as figuras masculinas. Ao longo do trabalho, foi possível perceber que, embora muitas vezes
invisibilizadas, são as mulheres que constroem, sustentam e mantêm viva essa expressão
cultural, ocupando múltiplos papéis, tanto nos bastidores quanto no protagonismo artístico e
organizacional. As análises das entrevistas, aliadas às pesquisas biográficas, revelaram
trajetórias de resistência, força e transformação, evidenciando como essas mulheres
ressignificam suas presenças no samba ao longo do tempo. A experiência prática,
especialmente os diálogos diretos com algumas das entrevistadas, proporcionou uma
compreensão mais profunda dos desafios e conquistas dessas mulheres, além de reforçar a
importância da escuta, do afeto e do olhar crítico nas pesquisas acadêmicas."

 


Exposição sobre o protagonismo feminino no samba de BH ficou em cartaz no Museu Mineiro 13/06-20/07/2025 crédito: Jameny Sarmiento/divulgação

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