terça-feira, 21 de outubro de 2025

Coletividade e samba de terreiro


 

Universidade Federal de Minas Gerais
Curso de Graduação em Museologia
Disciplina: Metodologia da Pesquisa Histórica em Museus
Docente: Luiz Henrique Assis Garcia

Discentes: Aparecida Millena Rocha, Kamila Ferreira da Silva, Monaliza Melo, Sofia de Carvalho, Vitor Santos.



Fig. 1: Terreiro N’zo Kabila. Crédito: Kamila Ferreira.


Ao explorar os diferentes sentidos e significados do samba, passamos a entendê-lo como algo abrangente e amplo, que além de um gênero musical, pode também ser entendido como uma manifestação religiosa e de resistência. Estando presente de forma mais latente nas religiões brasileiras de matrizes africanas, vemos que o samba desenvolve um papel primordial que, para além de um ritmo que faz parte de rituais, também se entrelaça com a construção de identidades, de formas estéticas e de coletividades. A partir disso, o presente texto busca explorar as diversas reverberações do samba de terreiro, investigando as relações, vivências e processos de permanência. Pretende-se abordar nesse recorte as relações desenvolvidas nesse ambiente e como o samba é entendido como instrumento para permanência dos grupos abordados.

Para desenvolvimento da pesquisa, primeiro foram levantadas as fontes que estavam disponíveis on-line. Foram encontrados alguns textos sobre a temática, além do canal “CAMILO GAN OFICIAL”, do pesquisador e sambista Fabiano Paula Camilo, com material valioso, como o “Samba de Terreiro - Palestra Sambada”, onde o mesmo explorava vários tipos de samba diferentes e seus significados e “Festival Samba de Terreiro - Conversa de Sambadeira”, em que várias mulheres que tem relação como samba e terreiro conversam de forma livre sobre suas vivências. Após isso, foi usado muito das informações conseguidas durante as entrevistas e pesquisas de campo realizadas para a exposição. Alessandra e Mãe/Rainha Belinha foram entrevistadas em seus próprios terreiros, Ilê Ase Sapponon e N’zo Kabila, e também foi realizada uma conversa com Ekedi Kely, que colaboraram para nosso entendimento sobre o samba como instrumento de cura e parte da identidade dessas comunidades e espaços.

Alessandra aponta, como parte de sua fala, que as narrativas presentes nas letras das composições do samba de terreiro carregam em si, de forma lúdica, diversos princípios e conceitos que fazem parte da raíz dos terreiros de candomblé:


“Fazer samba é contar histórias sob uma ótica que vai além da dor e do sofrimento do povo negro — é também narrar suas memórias, experiências de resistências e afetos. Trata-se de um “estar junto” — um compartilhar — envolto na alegria característica do povo negro, onde o samba se conecta ao divino, ao sagrado do Candomblé. É esse o Samba de Terreiro, o Samba de Entidade, o Samba de Caboclo.”


A partir dessa reflexão, evidencia-se o samba como algo fundamental e indissociável da própria prática do terreiro, que age como forma de transmissão dos ensinamentos e tradições associadas ao sagrado, ocupando o papel um agente de construção de indivíduos e de relações entre eles, criando assim relações de territorialidade e pertencimento dentro desse espaço. Visto isso, como argumentam Nigri e Debortoli, os diversos elementos que rodeiam o universo do samba de terreiro e do candomblé, como a musicalidade, rituais e as relações estabelecidas ali dentro “[...] não possuem sentidos somente em si mesmos, fragmentados do contexto como é possível observar em práticas de sociedades que se constituem a partir de uma orientação ocidental”.

Diante do exposto, compreende-se que o samba de terreiro é muito mais do que uma expressão musical, trata-se de uma prática profundamente enraizada nas vivências, afetos e espiritualidades das comunidades de terreiro. Atuando como instrumento de resistência, cura e transmissão de saberes, o samba reafirma identidades, fortalece laços coletivos e conecta o sagrado ao cotidiano. Assim, reconhecê-lo em sua complexidade é também valorizar os territórios simbólicos e culturais das religiões de matriz africana e das histórias que sustentam sua permanência.



Fig. 2: Terreiro Ilê Ase Sapponon. Crédito: Eduardo Queiroga.


Referências:

CAMILO GAN OFICIAL. Canal de Fabiano Paula Camilo. YouTube, [s.l.], [s.d.]. Disponível em: https://www.youtube.com/c/camilogan. Acesso em: 22 maio 2025.

FESTIVAL Samba de Terreiro - Conversa de Sambadeira. Produção: Camilo Gan Oficial. Brasil: YouTube, 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jg1zGQcKOD0. Acesso em: 22 jun. 2025.

NIGRI, Bruno Silva; DEBORTOLI, José Alfredo Oliveira. O samba no contexto do candomblé: festa, mito e religiosidade como experiência de lazer. Licere, Belo Horizonte, v. 18, n. 3, set/2015, p. 276-290.

SAMBA de Terreiro - Palestra Sambada. Produção: Camilo Gan Oficial. Brasil: YouTube, 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eHeo37-oLFc. Acesso em: 22 jun. 2025.




















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