terça-feira, 21 de outubro de 2025

As Escolas e a institucionalização do samba

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
ESCOLA DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
BACHARELADO EM MUSEOLOGIA
DISCIPLINA METODOLOGIA DA PESQUISA HISTÓRICA EM MUSEUS
DOCENTE: Luiz Henrique Assis Garcia
DISCENTES: Ana Clara Marques, Ana Clara Rios,Camila Amanda, Geovana De Souza, Luciana Almeida e Marcella Joana.



Vinícius de Moraes, um dos entusiastas da música e literatura brasileira, afirma: “O samba é a expressão mais sincera da alma brasileira, onde o povo transforma dor em alegria e resistência em arte”. Entretanto, o antropólogo e pesquisador Hermano Vianna (1960), em seu livro intitulado O Mistério do Samba, aponta que o processo de institucionalização do samba ocorreu por meio da organização dos chamados ranchos carnavalescos. Eles foram os primeiros grupos legalizados do samba, sendo criado e sediado na cidade do Rio de Janeiro, em meados do século XIX e início do século XX. O fato evidencia o quanto esse ritmo se fez através da comunidade, tornando-se não somente um ritmo ou uma prática, mas também, uma linguagem e um saber fazer carregado de memórias que permeiam a construção da identidade do Brasil.

A institucionalização do samba também passou pela fundação das Escolas de Samba, cujo papel foi moldado não somente como espaço de aprendizagem das singularidades do samba, mas também como um agente fomentador de produção cultural, de troca de conhecimentos e histórias. O próprio termo “escola de samba”, foi pronunciado primeiramente por Ismael Silva, fundador do Rancho Deixa Falar, que afirmava: “Nós somos os professores do samba” e também que “não somos um bloco qualquer, somos a escola de samba“, destacando o papel pedagógico e cultural dessa manifestação.


Vídeo 1 - Ismael Silva fala sobre o Samba (1977)




Nesse sentido, como espaço de fortalecimento de laços comunitários, surge a Escola de Samba Cidade Jardim, criada em 13 de abril de 1961, como dissidente da União Serrana. Sua participação ao longo dos seus 64 anos de existência, contou com enredos marcantes como o “As grandes Festanças das Gerais” em 1983, que lhe valeu o título de campeã e o “Cidade Jardim Canta as Flores” em 2018, que utilizou as flores como metáfora para a diversidade e a riqueza cultural no Brasil, além de ressaltar a conexão entre a natureza e a identidade nacional, mostrando como as flores estão presentes em festas, rituais e manifestações artísticas.


Vídeo 2 - História da Escola de samba cidade jardim e objetivos.




As Escolas de Samba, como destaca o atual presidente da Escola de Samba Cidade Jardim, Alexandre Silva Costa, durante entrevista realizada pelo grupo em abril (2025), são lembradas “apenas no carnaval”, período cuja efervescência não permite ver que antes do ápice da festa, houve tanto trabalho e inúmeras mãos participando para que o espetáculo ocorresse, e mais que isso, que o espaço na qual foi produzido o enredo carrega muito mais que tamborins, enfeites, adereços, purpurinas e grandes carros alegóricos; carrega em seu aspecto social a transformação daqueles que estão á sua volta.

Ao longo do ano, oficinas de balé, capoeira, percussão e tantas outras atividades proporcionam momentos de interação e identificação social, mostrando que as identidades culturais não são construídas de forma isolada, mas sim dentro de um contexto social e material, em constante interação entre indivíduos e lugares.




Figura 1 - Mosaico de fotos retiradas durante a entrevista com o Presidente da Escola de Samba Cidade Jardim Alexandre Silva na própria Sede.

Fonte: Acervo pessoal do grupo

Em suma, a valorização do Samba também foi impulsionada por intelectuais e músicos que buscavam legitimar essa expressão como parte da identidade nacional autêntica. Cantores como: Pixinguinha, Clara Nunes e Gonzaguinha, tiveram papel fundamental na difusão do samba para novos públicos. Além deles, figuras como Dona Jandira e Dona Elisa representam a força e a tradição do samba. A presença delas no cenário mineiro reforça a importância do samba como um patrimônio vivo que atravessa gerações e continua a inspirar novas histórias. Na ocasião, a história de Dona Elisa, a matriarca do samba, foi a abertura da exposição PRETAgonistas, exposição concebida pelos estudantes do 6º período do curso de Museologia da UFMG em junho deste ano (2025).


Vídeo 3 - História de Dona Elisa ,a matriarca do samba, na abertura da exposição PRETAgonistas.




Decerto, o samba é muito mais do que um ritmo ou uma dança: ele é um espaço de sociabilidade, onde se fortalecem os laços comunitários e se compartilham histórias e saberes. É nas rodas, nas festas e nas escolas de samba que o samba se mantém vivo, atravessando gerações e reafirmando a identidade cultural do Brasil. Reconhecer o samba como essa prática social é valorizar sua força de transformação e a importância de preservar essa memória que tanto inspira e conecta as pessoas.


REFERÊNCIAS

AUGRAS, Monique.O Brasil do samba-enredo.Rio de Janeiro Editora Fundação Getúlio Vargas 1998,p.15-25 ;p.107-199.

LIMA, Paulo. O Samba é a Alma do Povo. Portal Conteúdo Aberto, 2025. Disponível em: https://portalconteudoaberto.com.br/clique-literario/colocando-em-pratica/o-samba-e-a-alma-do-povo/. Acesso em: 23 jun. 2025.

LOPES, N. SIMAS, Luiz Antônio. Dicionário da História Social do Samba. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.

VIANNA, Hermano. O mistério do samba. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007. [1. ed. – 1995].



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