terça-feira, 27 de junho de 2023

A oralidade como reafirmação da cultura de povos originários no mundo acadêmico

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS


ECI - Escola de Ciência da Informação

DISCIPLINA: Metodologia em pesquisa histórica em museus

PROFESSOR: Luiz Henrique Assis Garcia

ESTUDANTES: Alinne Damasceno; Juliane Martins; Kézia Amaral; Lígia Dutra; Lucas Souza e Marina Ramos.



“Sem memória não há história. E sem história não há referência. Por isso é tão importante a memória de nossos antigos e antigas, por isso é tão importante a oralidade pelo próprio poder que ela carrega em transmitir as nossas raízes e as nossas referências.”


A oralidade é uma das metodologias de pesquisa histórica, onde o relato oral é a fonte e a pessoa é o arquivo vivo. Para muitos povos originários, a oralidade é uma das principais ferramentas de comunicação e preservação da história das suas culturas. Com o processo de inserção de pessoas indígenas no meio acadêmico, é perceptível a existência de duas práticas, a oralidade e a escrita. Onde a primeira é um dos principais pilares da cultura dos povos indígenas e a segunda é habitualmente valorizada no âmbito acadêmico. Dessa forma, se faz necessário compreender como essas duas fontes de pesquisa se interagem e coexistem no âmbito da Universidade Federal de Minas Gerais.

As principais fontes de registros que guardam vestígios de manifestações da oralidade humana como as entrevistas, gravações de vídeo ou musicais se constituem como um documento oral. As entrevistas foram utilizadas como materialização da oralidade debatida nesta pesquisa. Foram entrevistados Guigui Pataxó da Aldeia Mãe Barra Velha do extremo sul da Bahia, estudante de odontologia pela UFMG; Txawã Pataxó, bacharel em Ciências Biológicas pela UFMG, atua como apoiador técnico de saneamento ambiental na Secretaria Especial de Saúde Indígena; Adana Omágua Kambeba, do povo Kambeba, formada em Medicina pela UFMG e multiartista e Pablo Lima, professor da Formação Intercultural para Educadores Indígenas (FIEI) da Faculdade de Educação (FAE-UFMG).

De acordo com o indígena Guigui Pataxó, a oralidade dentro do meio acadêmico é importante porque diversos grupos da sociedade poderão ter acesso ao outro lado da história, que é diferente da versão oficial abordada por anos nos livros didáticos utilizados nas escolas. Ao mesmo tempo que é necessário se ter cuidado com o que é mostrado sobre os povos indígenas, segundo Guigui, alguns saberes devem ser resguardados dentro da comunidade indígena. O graduando em Odontologia defende que a cultura está em tudo que fazemos, é quando estamos em comunidade com nosso povo e conhecemos a nossa história, é sentar e ouvir um ancião.

Érika Guesse (2011) defende que a escrita foi usada como um instrumento de poder dos colonizadores para criar suas articulações quanto a dominação do território, os recursos da escrita junto a descaracterização da oralidade como fonte legítima foi o que contribuiu para a colonização do território.

Com a colonização os povos originários, foram sentindo novas necessidades quanto a passagem de suas histórias e seus testemunhos, aderindo à escrita como uma ferramenta contemporânea de reafirmação da sua cultura e seu povo.

A oralidade é uma herança, e é uma das principais condições para interação dos povos, através dela compartilhamos saberes, costumes e tradições. Na universidade, a oralidade é uma das principais ferramentas para a discussão e por conseguinte a formação de conhecimento. Pode-se dizer que a oralidade é uma fonte histórica rica a ser valorizada e destacada, principalmente no que diz respeito aos povos originários e seus meios de inserção na sociedade.


Referências

BARBOSA, J. M. A.; MEZACASA, R.; FAGUNDES, M. G. B. A oralidade como fonte para a escrita das Histórias Indígenas. Tellus, [S. l.], v. 18, n. 37, p. p. 121–145, 2018. DOI: 10.20435/tellus.v18i37.558. Disponível em: https://www.tellus.ucdb.br/tellus/article/view/558. Acesso em: 31 mar. 2023.

FÉLIX, R. Da voz à letra: oralidade, ancestralidade e resistência. In: Volta miúda: quilombo, memória e emancipação [online]. Ilhéus, BA: Editus, 2020, pp. 147-162.

GUESSE, Érika B. Vozes da floresta: a oralidade que (re)vive na escrita literária indígena. Boitatá, [S. l.], v. 6, n. 12, p. 104–121, 2011. DOI: 10.5433/boitata.2011v6.e31196. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/boitata/article/view/31196. Acesso em: 31 mar. 2023.


Outras referências

Página do Professor Pablo Lima no Somos UFMG: Professor » Pablo Luiz de Oliveira Lima » Faculdade de Educação » Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino » Somos UFMG

Participação de Adana Omágua Kambeba no Programa Rolê nas Gerais: Danielle Soprano Adana Omágua Kambeba no Instagram: “Programa: Rolê nas Gerais- Globo (10.06.23) Agradeço aos jornalistas Zu Moreira, Renata do Carmo e a toda a equipe da Globo, por mostrar…”



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