quarta-feira, 22 de junho de 2022

CENTRO DE ARTE POPULAR - Belo Horizonte

Ao fazermos algumas visitas ao Centro de Arte Popular, localizado na Rua Gonçalves Dias, próximo à Praça da Liberdade, ficaram para nós, do grupo de estudos Som e Museologia - SOMMUS, algumas impressões...


 
 - Casarão no estilo eclético projetado em 1928, na Rua Gonçalves Dias.
- Talhas em pedra o feitas por Mestre Juca, em Ouro Preto. Artista nascido em 1923.  

            Como uma das salas estava interditada, não conseguimos ver todo o acervo do local, o que certamente atrapalhou nossa experiência. Já nas salas em que pudemos observar as obras não conseguimos ver um uso do som enquanto um recurso museal bem trabalhado: ora os vídeos não estavam com um volume adequado, ora ruídos de outros equipamentos atravessavam a sala, desnorteando a escuta de algum objeto sonoro. Isso quando os aparelhos não estavam funcionando corretamente ou não possuíam legenda nenhuma que nos permitia identificar o que estava sendo reproduzido.


No primeiro andar, na exposição temporária, haviam caixas de sons que estavam desligadas, um silêncio...
Projeção em uma das paredes durante uma de nossas visitas...

Por não conhecermos nada de como era a vida da maioria dos artistas escolhidos - somente vemos raros depoimentos nas televisões usadas pela exposição - pouco podemos saber de suas particularidades e da originalidade em seus processos criadores. Uma grande perda da potencialidade ao exibir uma obra de arte é não sabermos nada sobre o processo artístico de cada um dos artistas. A exposição poderia ter  optado em ter dado um destaque maior para suas vivências individuais e para a oralidade. Se os ouvíssemos, ou a seus familiares, amigos, pessoas que os conheceram... seríamos capazes de entender melhor suas peças, dos locais onde viveram e seus contextos de vida.

- São Francisco com pombo (1983), de Mestra Zefa. Josefa Alves dos Reis nasceu em Poço Verde - SE, 1925.
- Cristo Crucificado (1978), de Maurino Araújo. Artista nascido em Rio Casca - MG, em 1923.

- Bilha Antropomorfa, de Dona Joana Batista, artista nascida no Vale do Jequitinhonha- MG.
-  Tropeiro de Caatinga (2006), do ceramista Ulisses Mendes, nascido em Itinga - MG, em 1955.


- Figura Zooantropomorfa, cerâmica do século XX, de autoria desconhecida.
- Reminiscência Africana (1978), de Maurino Araújo. 



Percebemos uma tentativa de “divulgar a pluralidade e a diversidade cultural mineira” e de “compartilhar os saberes sobre os modos de produção e suas autorias, assim como seus contextos históricos, econômicos e social”, que acaba por reduzir a riqueza das manifestações populares ao entendê-las a partir de uma chave de leitura que as equipara enquanto “arte regionalista” e não nos permite entendê-las como obras feitas por pessoas diferentes, em espacialidades e temporalidades diferentes.



- Figura, obra do ceramista Ulisses Pereira Chaves (1922-2006), nascido em Caraí - MG.
-  Congado (1970),  óleo sobre tela de Rodelnégio Gonçalves Neto.


As visitas ao CAP confirmam que a música e o som são utilizados na maioria das exposições dos museus de Belo Horizonte apenas como instrumento complementar e não como objeto a ser musealizado. Os elementos sonoros ali apenas compõem o contexto expositivo e não contribuem para criar novas narrativas.

Parte dedicada à arte maxacali, além de não sabermos qual o vídeo está passando, 
não ouvimos som nenhum, todas as obras expostas ali estão sem legenda.


Ao fim, restam alguns questionamentos: qual seria a implicação de relacionarmos inconscientemente a produção artística de determinadas culturas e partes do país com uma pressuposta “primitividade”, “pureza” ou “brutalidade” de suas manifestações artísticas? Por que quase sempre nós as encaixotamos em uma noção de tempo tradicional/passado/antigo/autóctone/não-moderno/parado no tempo? Como podemos pensar as artes feitas por artistas dito "populares" a partir de seus trabalhos poéticos, potencialidades estéticas e bagagens culturais sem perder em vista a originalidade em cada peça em que trabalham? Porque a “arte regionalista”, mesmo quando contemporânea, não pode ser considerada pelos museus como “arte contemporânea”? Porque as artes vindas dos Nordestes ou dos interiores mineiros quando estão sendo expostas, estão expostas normalmente em exposições de tonalidade mais antropológica que artística?

PARA SABER MAIS:

- Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidadeLivro de Néstor García Canclini. 
- Entre o folclore e o patrimônio: um estudo de caso sobre o Centro de Arte Popular-Cemig. Dissertação de Amanda Dabéss de Carvalho, defendida no PPGCI/UFMG em 2019. link: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/31397

VÍDEOS:

- Mestra Zefa 

- Família de Ulisses Pereira

Noemisa Batista Santos - artista que teve algumas obras na exposição temporária

Mulher moldando peças na mesa


 
Bolsistas IC: Lígia Dutra e Bernardo Campos
Orientador: Luiz H. Garcia

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