terça-feira, 7 de dezembro de 2021

A Invisibilidade das mulheres artistas dentro do campus Pampulha da UFMG

 

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Metodologia da pesquisa histórica em museus

Professor: Luiz Garcia

Alunos: Erika Mendonça, Erika Santos, Jonathan Moura, Karla Santos, Natália Rocha

A Invisibilidade das mulheres artistas dentro do campus Pampulha da UFMG

 A invisibilidade da mulher na arte é uma questão que vem sendo discutida há alguns anos. Houve grandes artistas mulheres durante a história, mas a dificuldade em dar nomes e rostos se deve ao fato de que as mulheres não podiam frequentar uma Escola de Belas Artes. Elas sequer conseguiam frequentar uma escola de arte, pois o local era considerado impróprio para a “pureza feminina”.  Preconceitos da igreja, sociedade e família, também afetavam essas mulheres que acabavam desistindo de estudar sobre arte, e até mesmo seguir uma carreira para não ter que enfrentar a sociedade e evitar os problemas sociais que seriam gerados.

A história da arte (como disciplina) é contada de uma perspectiva masculina, branca e ocidental.  Essa narrativa patriarcal, não tinha olhos para os talentos nato dessas artistas, rotulando-as como amadoras, e o que era produzido por elas era  tachado como uma arte “feminina”, diferenciada, que pertencia a uma subcategoria dentro dos padrões antropocêntricos. A profissão “artista” foi, no final do século XIX e início do século XX,  dominada pelo gênero masculino onde o papel das mulheres foi exclusivamente o de “musas”, tendo os seus corpos pintados e esculpidos pelo olhar e desejo dos homens.

            Pensando nas obras que fazem parte do recorte escolhido para a exposição curricular do curso de Museologia em 2021, é possível notar a invisibilidade das mulheres artistas. Nas 26 obras expostas ao ar livre no campus Pampulha, apenas cinco foram produzidas por mulheres, sendo três produzidas por Yara Tupynambá e duas por Rachel Roscoe. Segundo a Revista Museu (2018), das quase 1.700 obras que constam na coleção do Acervo Artístico da UFMG (AAUFMG), menos de cem foram produzidas por mulheres, o que demonstra a dificuldade que as artistas encontraram para se inserir e serem reconhecidas nesse meio. Desse modo, é necessário conhecer mais a respeito da biografia das duas únicas artistas que fazem parte do recorte temático da exposição curricular “Arte (a) Caminho”,  Yara Tupynambá e Rachel Roscoe.

Yara Tupynambá Gordilho Santos nasceu em Montes Claros em 1932 e é uma pintora, gravadora, desenhista, muralista e professora. Se muda para Belo Horizonte em 1950 e inicia seus estudos com Guignard no período de onde aprende um pouco mais de desenhos e lirismo, a artista  estudou anos  também com Oswaldo  Goeldi em 1895 quando iniciou nas gravuras, e é a partir desses trabalhos como gravadora, que Yara passa a se interesse por murais. Em 1968, Yara começa a lecionar gravura na Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, onde havia estudado anos antes.  


Fonte: https://abreu.digital/yara-tupynamba-a-vida-retratada-em-fases/

 Seu primeiro painel foi o da Casa da Jornalista, até que surge o convite para a criação da obra “Inconfidência Mineira” de 1969, que representa os primeiros encontros  dos inconfidentes e se encontra no prédio da Reitoria da UFMG e faz parte do Acervo Artístico da AAUFMG  assim como a obra  “Desbravamento do Rio São Francisco” de 1968 localizado na  Auditório Neidson Rodrigues da Faculdade de Educação (FAE) da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, que representa a saga do Velho Chico e o desbravamento do território de Minas Gerais. O último painel que faz parte do AAUFMG é “O Trabalho Humano” de 1969  que fica localizado na Fachada do prédio da FUNDEP (Fundação de  desenvolvimento de Pesquisa) e narra o início da natureza, a criação da mulher e do trabalho e encerra com o ser humano colhendo palavras.

Rachel Roscoe nasceu em 1976 na cidade de Belo Horizonte, a artista estudou Arquitetura e Urbanismo na instituição de ensino PUC-MG durante dois anos, e Artes plásticas, escultura, pintura e várias técnicas na instituição de ensino Escola de Belas Artes - UFMG no ano de 2002. A artista criou a sua técnica chamada “Circunscritos” e vem trabalhando com a mesma desde então, explorando suas diversas possibilidades. A técnica consiste no uso de círculos como conjuntos que constroem a imagem e geram a sensação de movimento, aliada ao uso de cores intensas que tornam suas telas vibrantes.

Fonte: https://www.obrasdarte.com/o-poder-da-arte-em-momentos-de-crise-por-edson-siquara/rachel_roscoe/

Em 2004 ela realizou a pintura do painel “Palas Athena” para a FAE/UFMG e participou da exposição coletiva “Retratos” que aconteceu na Galeria de Artes da Escola de Belas Artes/UFMG. Pela realização do painel, ela recebeu um diploma de Honra ao Mérito pela UFMG pelas contribuições artísticas à instituição em 2005. Cinco anos mais tarde, Rachel inaugura seu segundo trabalho na UFMG, o painel "Transmutação", uma doação dela e de seu tio, Eduardo Roscoe, para a Escola de Engenharia da UFMG, em comemoração ao centenário de nascimento de seu avô paterno. 

 

                Ainda assim, é preciso considerar que ambas vieram de ambientes privilegiados, uma vez que o contexto social não deve ser deixado de lado. Elas estariam expostas na universidade se vissem de outras regiões da cidade? Se fossem pertencentes a outros cenários, das classes menos privilegiadas da sociedade, ainda veríamos suas obras? Decerto que não, assim como não vemos artistas negras, periféricas ou transexuais. A universidade, mesmo sendo um lugar de conhecimento, democracia e pluralidade, ainda traz consigo resquícios da sociedade que a permeia. Tais aspectos também são percebidos no recorte produzido para a exposição curricular, não é preciso apenas ter mais mulheres, mas, que qualquer mulher tenha a possibilidade de se expor ao mundo da arte, se ela assim o quiser.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E LINKS

NOCHLIN, Linda. Por que não houve grandes mulheres artistas? In: Edições Aurora, isbn 978-85-5688-003-1 Tradução autorizada pela autora. São Paulo, maio de 2016. Disponível em: http://www.edicoesaurora.com/ensaios/Ensaio6.pdf

REVISTA MUSEU, Exposição reúne obras do acervo da UFMG produzidas por mulheres. Revista museu. Disponível em: https://www.revistamuseu.com.br/site/br/noticias/nacionais/4323-08-03-2018-exposicao-reune-obras-do-acervo-da-ufmg-produzidas-por-mulheres.html. Acesso em: 19 de Julho de 2021.

RODRIGUES, Rita Lages. ROSADO, Alessandra. SOUZA, Luiz. A.C 22 Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas.Conservação-Restauração e transposição dos murais Do Descobrimento do Brasil ao Ciclo Mineiro do Café de Yara Tupynambá. 2013. (Encontro).

SOUZA, Françoise Jean de O et al. Conjunto de Murais da artista Yara Tupynambá, 2009, 416 p. (Dossiê)

Disponível em : Notícias da UFMG - Paineis de Yara Tupinambá no campus Pampulha são tombados pelo patrimônio municipal Acessado em : 10 de julho de 2021 às 09:45

Disponível em: https://www.obrasdarte.com/o-poder-da-arte-em-momentos-de-crise-por-edson-siquara/rachel_roscoe/ Acessado em 17 de maio de 2021 às 10:30

Disponível em https://acaradorio.com/exposicao-preludio-da-artista-rachel-roscoe-no-centro-cultural-correios-no-rio/  Acessado em 17 de maio de 2021 às 11:17

Disponível em :<https://rachelroscoe.weebly.com/retratos---portrait.html> Acessado em 17 de maio de 2021 às 11:17

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