terça-feira, 7 de dezembro de 2021

A influência do modernismo na obra de Sylvio de Vasconcellos e na construção do mito do Aleijadinho





Universidade Federal de Minas Gerais

Escola de Ciência da Informação – Graduação em Museologia
Disciplina: Metodologia da Pesquisa Histórica em Museus - Trabalho Final
Professor: Luiz Henrique Garcia de Assis
Autoras: Anna Carolina Melo, Carolina Teixeira, Cristiane Lei, Núbia Gonçalves e Victória Brandão.



A influência do modernismo na obra de Sylvio de Vasconcellos e na construção do mito do Aleijadinho



O movimento modernista no Brasil surgiu no início do século XX e decorreu da busca por uma identidade nacional após a implantação da República (1889). “O modernismo, no Brasil, foi uma ruptura, foi um abandono de princípios e de técnicas consequentes, foi uma revolta contra o que era a Inteligência nacional” (ANDRADE, Mário de, 1974, p. 235).

A ideia de modernização da cidade de Belo Horizonte surgiu no mandato de Juscelino Kubitschek como prefeito (1940-1945), e, como consequência, surgiram as novas construções modernas dos arquitetos locais. Entre estes estava Sylvio de Vasconcellos (1916 - 1979), arquiteto e urbanista, professor e historiador da arquitetura.

O estudo e o encanto pela arquitetura colonial mineira também marca fortemente seus trabalhos, como é o caso dos textos “A arquitetura particular em Vila Rica”, de 1951, e “Arquitetura colonial mineira", de 1956. Para Sylvio, a localidade um pouco afastada das regiões portuárias, a relação com a produção lusófona e a incorporação dos saberes dos artistas mineiros foram responsáveis pela criação de um movimento ufanista, que era dotado de um caráter de originalidade em relação à produção brasileira do período.

 


Imagem 1 - Professor Sylvio de Vasconcellos (1960)

Fonte: Laboratório de Fotodocumentação da Escola de Arquitetura da UFMG (LAFODOC)

 
Sylvio de Vasconcellos defendia o Barroco como expressão popular e democrática, e almejava validar a maturidade dos trabalhos produzidos na região. Em 1968, ele defende a continuidade das concepções culturais do Barroco mineiro no espaço da modernidade, através de um paralelo entre a produção de Antônio Francisco Lisboa e a obra de Niemeyer. Para ele, a cultura das Minas Gerais desenharia o cenário no qual, mais uma vez, “a arte brasileira se libertaria das amarras rígidas da tradição europeia, perseguindo caminhos próprios.” (BAETA & NERY, 2018, p.163).


Durante o processo de análise da bibliografia uma relação paradoxal evidenciou-se entre os dois artistas mineiros, Sylvio e Aleijadinho. Ambos estão intrinsecamente ligados ao modernismo, todavia, um como símbolo do projeto nacionalista do movimento e o outro como construtor dessa imagem, uma vez que é um dos biógrafos de Aleijadinho.

A figuração do artista genial e disforme tem sua origem na publicação da biografia escrita por Rodrigo Ferreira Bretas e utilizada como base para um projeto romântico e nacionalista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), tendo sido posteriormente retomado pelo modernismo.

Mário de Andrade, precursor do modernismo brasileiro, foi um grande divulgador do artista como fonte para a atualização do discurso sobre o passado para respaldar a criação de uma ideia de cultura nacional, fundamentada na compreensão da arte colonial como verdadeira tradição artística brasileira e o Aleijadinho como o ícone de uma brasilidade genial e mestiça. Como ele mesmo descreve “Já se distingue das soluções barrocas luso-coloniais, por um tal ou qual denguice, por uma graça mais sensual e encantadora, por uma delicadeza tão suave, eminentemente brasileiras” (ANDRADE, 1965, p.34).


Imagem 2 - Obra “Monumento ao Aleijadinho”, em frente à Reitoria UFMG
Fotografia: Érika Mendonça




A partir dessa reflexão veio a percepção da confluência na escolha do autor e do homenageado do “Monumento ao Aleijadinho”, criado em 1970 e localizado à frente da reitoria da UFMG. A obra tem em sua constituição a pedra-sabão e o concreto armado, dois elementos característicos do barroco mineiro e do modernismo. Além de biógrafo do artista barroco, Sylvio de Vasconcellos foi diretor do IPHAN em Belo Horizonte e da Escola de Arquitetura da Universidade, e um dos modernistas que acreditavam em Aleijadinho como um precursor da brasilidade, assim como também, de uma representativa mineiridade.



Vídeo 1 - Sugestão de vídeo sobre atribuição exacerbada de autoria de Aleijadinho em obras

MÁFIA DO ALEIJADINHO | O QUE É O BRASIL? | GUIA POLITICAMENTE INCORRETO | HISTORY

 



Referências:

ANDRADE, M. de. Aleijadinho. In: Aspectos das Artes Plásticas no Brasil. São Paulo: Martins, 1965, p. 34.

BAETA, Rodrigo; NERY, Juliana. Sylvio de Vasconcellos: a influência de Lúcio Costa e a crítica modernista à arquitetura colonial em Minas Gerais. Figura, v. 6, n. 2, p. 129-164, 2018.

BRETAS, Rodrigo José Ferreira. Traços bibliográficos relativos ao finado Antônio Francisco Lisboa, distinto escultor mineiro, mais conhecido pelo apelido de Aleijadinho. Editora UFMG, 2013.\

Roteiros arquitetônicos da Casa do Baile. Sylvio de Vasconcellos: Moderno e mineiro. Carlos Henrique Bicalho e Guilherme Maciel Araújo (orgs.) – Belo Horizonte: Fundação Municipal de Cultura: Casa do Baile, 2015.

VASCONCELLOS, Sylvio de. Vida e obra de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Brasiliana, 1979.

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