quarta-feira, 4 de julho de 2018

PROJETORES PRESTWITH E SIMPLEX: Marcos da tecnologia de projetores cinematográficos [Metodologia da Pesquisa Historia em Museus 2018]

Disciplina: Metodologia da Pesquisa Historia em Museus 
Aluno: Boris Christoff
Prof.: Luiz H. Garcia

Quando iniciamos os trabalhos para a montagem de uma exposição, matéria curricular do curso de museologia da UFMG, optei pelo trabalho de escolha e pesquisa do acervo tridimensional a serem expostos, que incluía equipamentos cinematográficos e suas tecnologias.
O tema da exposição, escolhido pelos professores e alunos, foi os primórdios e a evolução do cinema em Minas Gerais até os anos 60.
Até então, era um tema que não me agradava porque não sou muito interessado por esta 7ª arte. Para combater esse bloqueio inicial, passei a estudar a tecnologia aplicada nos projetores e acabei me entusiasmando, não somente pelos equipamentos, como também pela evolução do cinema em si.
Os equipamentos escolhidos por mim foram localizados no acervo da Escola de Belas Artes (EBA) da UFMG, na Faculdade de Ciências Econômicas (FACE) da UFMG e no Museu da Imagem e do Som (MIS).
Aqui falarei, em especial, sobre dois equipamentos: o projetor Prestwich do acervo da EBA e do projetor Simplex do acervo da FACE (infelizmente este projetor não pode ir para a exposição.
Para a investigação desses equipamentos foi aplicado o “método morelliano”, tal como descreve Ginzburg em seu livro: Mitos, Emblemas, Sinais, no capítulo Raízes de um paradigma indiciário. Pequenos detalhes, como: letras quase apagadas, tipo de material, qualidade de confecção de algumas peças e tipo de polimento, com esses indícios pude visualizar uma perspectiva que se abre no campo da investigação intelectual: características que até então não eram observadas por serem “insignificantes” podem oferecer todo um leque de possibilidades no desenvolver de uma investigação destinada a encontrar no diminuto, no micro, um panorama macro, envolto de detalhes significativos e simbólicos sobre o que ele mesmo se propõe a fornecer.

O projetor Prestwich (Fig. 1)
Esse projetor estava identificado como um equipamento artesanal fabricado por Bonfiolli, um dos precursores do cinema em Minas Gerais.
Tendo em vista a qualidade do mecanismo, algumas letras impressas e o tipo de madeira usada passei a pesquisar e estudar esse equipamento, chegando à conclusão que, na verdade, é um projetor fabricado na Inglaterra entre 1898 e 1906, denominado Genesis Prestwith “Kine Kamera” 4 para películas de 35mm, quando foram fabricados cerca de 1000 unidades.

Esse projetor foi um dos primeiros que foram produzidos para o uso comercial. É de grande raridade, nas lojas especializadas em equipamentos cinematográficos antigos, somente 3 destes foram disponibilizados a venda nos últimos 10 anos.
Os projetores Prestwich “Kine Kamera 4” estão integrados no início do cinema. Elas vieram antes do pensamento no conceito de filmes de longa-metragem. Na época em que foi produzido um longo filme, não passava de dez minutos. Por exemplo, o emblemático filme "The Great Train Robbery", de Edison, de 1903, foi de apenas 12 minutos.
Os primeiros projetores, que se tem conhecimento, foram produzidos por Lumière Brothers e, durante alguns anos foram considerados “os melhores projetores”, porém só conseguiam projetar 15 metros de filme. Já o modelo Prestwich Model 4, tendo o rolo de filme na parte exterior ao projetor foi o primeiro que conseguia projetar 122 metros de filme. Assim que foi lançado no mercado, os modelos 4 passaram a ser os melhores projetores em fabricação, enquanto os fabricados por Lumiere perdiam espaço. A concorrência fez com que a Lumiere Brothers vendesse seus direitos de fabricação de projetores para a Pathe Brothers.
Alguns projetores Prestwith tiveram a lente original substituída pela lente Williamson (produzidas por James Williamson). A lente Williamson apresentava melhor óptica o que proporcionava uma projeção mais limpa e clara, principalmente nos detalhes menores da película, e, proporcionava o foco no plano do filme, que era um dos problemas encontrados na época.

O projetor Simplex (Fig. 2)

Em 1908, Edwin S. Porter e dois engenheiros projetistas do Eden Musée, Francis B. Cannock e Mike Berkowitz começaram projetar, o que viria a ser o Simplex, nos fundos do O’Keef’s Saloon em Nova York.
O projetor Simplex introduzido entre 1909-1910 fez sucesso imediato, vendendo milhares e milhares por ano em todo o mundo. Parte de sua popularidade girava em torno de suas características práticas, que foram constantemente desenvolvidas, adicionadas e refinadas durante todo o período do cinema mudo.
A fonte de luz de projeção dos projetores Simplex era formada por dois eletrodos de carvão que gerava alta potência luminosa o que proporcionava projetar o filme a longa distância com total nitidez. Devido aos custos e a dificuldade de importação, alguns projetores tiveram as suas fontes luminosas substituídas por lâmpadas Xenon, piorando a qualidade de projeção. 

Depois que a International Projector Corporation (IPC) foi formada, em 1925, a Simplex tornou-se a uma marca superior, facilitando a transição para a era do cinema sonoro. Já em 1930, o modelo Super Simplex foi introduzido no mercado com a unidade sonora. No Brasil, os projetores Simplex, foram os equipamentos mais utilizados nas salas de cinema durante o período entre 1950 e 1980. A escolha desses projetores, se deu pela sua robusteza e confiabilidade.
Cada projetor Simplex recebia um carretel com 600 metros de filme, o que permitia um pouco mais de 1 hora de projeção, portanto, os cinemas tinham pelo menos duas unidades e o funcionamento era uma máquina projetando e a outra em espera, a passagem de máquinas era automática, quase imperceptível aos olhos dos espectadores.
Os projetores Simplex, ao longo dos anos, foram recebendo melhorias tecnológicas e foram fabricados até o início dos anos 2000, na mesma época quando encerrou a produção comercial de filmes em películas de 35mm.

Referências:
Elias, Paulo Roberto. @Paulo_roberto_elias
Film Tech – www.film-tech.com
George Easteman Museum, NY.
GINZBURG, Carlo. Sinais: Raízes de um paradigma indiciário. In: _________. Mitos, Emblemas, Sinais: morfologia e história. Trad.: Federico Carotti. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 143-179.
Grauman’s Chinese.org
Sam Dodge, Antique Motion Picture Studio Cameras
Simplex Projector Museum
Simplex Projector Manual

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