quarta-feira, 4 de julho de 2018

Ontem e hoje: o relato oral como fonte de pesquisa sobre a história do cinema em Belo Horizonte. [Metodologia da Pesquisa Histórica em Museus 2018]

Disciplina: Metodologia da Pesquisa Histórica em Museus
Alunas:Aline Melo, Daniela Barbosa, Elizabeth Moreno, Isabella Proença
Prof.: Luiz H. Garcia

“A história oral é uma metodologia de pesquisa que consiste em realizar entrevistas gravadas com pessoas que podem testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea. ”(CPDOC, 2018)

Compreender a capacidade informacional da oralidade enquanto meio de construção de uma perspectiva de passado permite ao historiador, principalmente se vista como uma metodologia de consulta, ampliar suas fontes disponíveis. Dessa forma, permite que o profissional que busca elaborar uma exposição tenha em mãos ferramentas que possibilitam a concepção de um projeto que se conecte com diversas visões do determinado assunto para além do documento escrito. Partindo do princípio de que o passado não se retoma, não se revive e não se restabelece (ALBERTI, 2004), ou seja, não é possível estabelecer um resgate desta memória, assumimos como objetivo da pesquisa a investigação de um relato oral para refletir algumas questões levantadas durante o processo de elaboração da questão investigativa e da própria exposição curricular realizada no primeiro semestre de 2018 abordando o cinema em Minas Gerais e seus diferentes contextos e transformações como tema.

Definindo este método a fim de refutar as principais críticas direcionadas ao uso da oralidade enquanto fonte informacional no que tange sua credibilidade, Selau (2004) aponta: a afetividade e memória, onde define a memória como seletiva uma vez que se relaciona afetivamente com o ambiente por ser construída através de acontecimentos; a subjetividade, definida uma vez que a memória é seletiva, ela reserva elementos da espontaneidade que não são acessíveis nos documentos escritos, assim como sua construção também depende da intencionalidade do pesquisador; e as dúvidas emergentes que demandam do pesquisar a leitura e análise crítica de todos os dados, aproximando as complicações do método à outras tipologias de fontes históricas.

Diante disso, como metodologia para a compreensão do contexto sócio histórico do cinema em Belo Horizonte sob a perspectiva do público frequentador, recorremos à aplicação de uma entrevista semiestruturada com uma residente da cidade de Belo Horizonte desde a década de 1930. Tal entrevista consistiu de um roteiro especialmente desenvolvido para esse estudo onde exploramos algumas hipóteses previamente definidas e toda a conversa foi realizada na casa da entrevistada, gravada e posteriormente transcrita para análise (disponível neste link). É importante apontar que antes de iniciarmos a entrevista, os objetivos da pesquisa foram explicados de maneira informal à entrevistada, sendo solicitado que assinasse um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (disponível neste link) dando ciência do estudo, cessão de imagens e divulgação das informações prestadas.


Para a análise da informação coletada através da entrevista, abordamos todas as questões levantadas previamente no roteiro. As principais perguntas foram: Cinema era programa de elite? Os "trabalhadores" tinham acesso às salas de cinema? Os figurinos da época eram inspirados no cinema? Os homens iam mais ao cinema que as mulheres? As famílias frequentavam os cinemas de bairro, perto de casa, ou em todo o entorno da cidade? Os filmes estrangeiros, os atores e diretores eram mais conhecidos que os brasileiros? Os cineastas mineiros são desconhecidos do público (representado pela entrevistada)?

A entrevistada, uma senhora 91 anos que, como previamente estabelecido, residiu por toda sua vida na cidade de Belo Horizonte se mostrou à vontade ao responder todas as questões da entrevistadora. Em tempos sugerindo tópicos que não prevemos, a senhora evidenciou o interessante da aplicação deste método, que é justamente essa oportunidade de interação entre o entrevistado e as questões elaboradas, onde a condução do entrevistador dialoga diretamente e de maneira rica com o processo de relato do entrevistado. No que tange as questões levantadas podemos afirmar que foi possível discutir todas e validar a maioria delas através da entrevista. 


Com a presente pesquisa, abarcamos pelo menos três resultados: Primeiramente, foi possível, a partir da história oral, descortinar o cinema em Belo Horizonte nas décadas de 30 e 40, o imaginário e as representações da sociedade da época, sobre o passado do entrevistado, desde que estávamos cientes das armadilhas resultantes da oralidade e da memória. Segundo, as hipóteses investigadas foram retificadas pelos relatos orais, muito pelo viés de uma seleção adequada de questões e de imagens, que possibilitaram o emergir das lembranças da entrevistada e por fim, foi possível discutir e complementar a pesquisa realizada pela turma para a exposição curricular através do relato oral, assim como perceber as diversas limitações e vantagens do método. A análise mais extensa da entrevista pode ser acessada através deste link. O conteúdo audiovisual produzido a partir da entrevista também pode ser acessado através deste link.

 Deste modo, entendemos que o trabalho de pesquisa oral é laborioso e nunca atinge uma completude, pois não é somente ligar o gravador e registrar uma entrevista, um depoimento, ou uma história de vida. Nosso trabalho se iniciou justamente no momento em que se tornou necessário organizar, relacionar a textos e analisar o relato fornecido pela entrevistada para que nossos resultados fossem satisfatórios.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
O que é história oral. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/acervo/historiaoral> . Acesso em: 30/04/18.
ALBERTI, Verena. O lugar da história oral: o fascínio do vivido e as possibilidades de pesquisa. In: Ouvir Contar: textos em história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. p.13-31.
________________. O acervo de história oral do CPDOC: trajetória de sua constituição. Rio de Janeiro: Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) 1998. 18f. Disponível em: <cpdoc.fgv.br/producao_intelectual/arq/863.pdf>
SELAU, Mauricio da Silva. História Oral: uma metodologia para o trabalho com fontes orais. In: Esboços – Revista de Pós – Graduação em História da UFSC: Dossiê Cidade e Memória. Santa Catarina: v. 11, n. 11, 2004


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