quarta-feira, 4 de julho de 2018

Audiovisual como forma de Arte [Metodologia da pesquisa histórica em museus 2018]

Alunas: Larissa Caroline de Oliveira Miranda e Letícia Ferreira de Carvalho 
Disciplina: Metodologia da pesquisa histórica em museus
Professor: Luiz H. Garcia
O seguinte texto tem por finalidade apresentar os resultados do trabalho final apresentado para a disciplina. A partir do tema explorado pela turma de Museologia do 6º período da UFMG, buscamos trabalhar algo que não fugisse muito a temática trabalhada pelo resto da turma mas buscamos algo que também nos instigasse e colaborasse com nossas pesquisas individuais da disciplina Vivência B. Para isso, pensamos trabalhar o audiovisual como arte e não apenas como recurso de suporte expositivo.
Nossos primeiros passos da pesquisa se deram a partir de visitas às bibliotecas da própria universidade, onde procuramos buscar por termos que se relacionassem com a nossa pesquisa, priorizando livros, teses e dissertações encontradas no acervo, porém para nossa surpresa pouquíssimos resultados se encaixavam em nosso recorte. Nessa parte da pesquisa encontrarmos o livro de autoria da pesquisadora Franciele Filipini dos Santos doutora em Arte na linha de pesquisa de Teoria e História da Arte, logo no princípio do texto, a autora escreve que é preciso repensar a arte e suas questões  pois “possui uma importância significativa em meio à diversidade de linguagens, materiais, técnicas, tecnologias e conceitos, que se aliam a ordem de liberdade instaurada pela arte contemporânea, principalmente a partir da década de 1960” (pág 11). O livro que é dividido em duas partes discute a questão da concepção/artística curatorial, como se dá a relação entre a arte contemporânea em diálogo com  as mídias digitais e como isso é tratado no campo da arte, ciência e tecnologia em seu primeiro momento e logo em seguida a autora faz uma série de entrevistas com diversos profissionais de áreas distintas sobre a atividade da curadoria e crítica. Após a leitura do livro constatamos que ele não seria de grande ajuda na pesquisa pelo fato do mesmo tratar as mídias digitais e o audiovisual apenas como recurso para a montagem e divulgação da exposição, a autora apresenta os recursos audiovisuais e suas diversas linguagens enquanto suporte dentro das artes visuais, usando distintas terminologias atuais para tratar o tema, mas de grande importância se levarmos em conta que foi um pontapé inicial para a definição do nosso trabalho onde pretendemos abordar o audiovisual como objeto museográfico/acervo. A autora menciona no texto que “em diálogo com as mídias digitais, as obras, em sua maioria, não se apresentam como trabalhos finalizados” (pg 15) pois, podem se modificar de acordo com as atuais possibilidades de serem atualizadas  cada acesso. Diante disso, podemos citar as obras que necessitam das mídias digitais para serem expostas no museu, como por exemplo um vídeo que em uma instituição  pode ser apresentado em telão e em outra ser exposto em uma televisão, vai depender da verba de cada exposição e neste sentido o artista tem que adequar sua obra. Santos também questiona os outros desafios que são apresentados ao artista diante os recursos digitais, entre eles ser capaz de lidar com profissionais de diversas áreas, conhecer os equipamentos utilizados, dominar alguns recursos de comunicação e edição, entre outros. Na segunda parte do livro a autora apresenta uma entrevista onde os profissionais respondem quais são as particularidades e dificuldades de envolver a arte e a tecnologia na curadoria, quais os parâmetros utilizados na realização da curadoria em uma exposição que ocorra somente em ambiente virtual, como os recursos digitais podem ajudar na curadoria entre outras perguntas que falam também sobre a crítica curatorial.
Em uma das entrevistas do livro de Santos, um dos entrevistados cita a arte a partir de sua perspectiva dialógica, lembrando também as possibilidades levantadas no artigo de Cordeiro. A vídeo arte ao trazer uma representação mais próxima do real, também se aproxima de seu público/espectador, as novas tecnologias utilizadas enquanto equipamentos expositivos surgem com o propósito de aproximar ainda mais a arte dos usuários destes equipamentos culturais, esteja esta arte dentro dos museus ou em outro ambiente, virtual ou físico.
A linguagem audiovisual pode ser lida enquanto uma representação mais próxima da experiência do real, ao contrário de outras ferramentas e equipamentos culturais como é o caso da fotografia, que reflete a uma evolução tecnológica, a produção audiovisual nas artes não se resume a uma linear histórica, mas sim seu foco surge a partir de um local um tanto quanto distinto.
Como Veronica Cordeiro defende em seu texto O audiovisual nas artes plásticas, outro texto lido durante o trabalho, a autora não entende a questão do crescimento do audiovisual no campo das artes a partir de seu surgimento, pois entende que isso seria reduzi-la a questões de espaço-tempo e evoluções tecnológicas históricas, mas faz sua análise a partir do entendimento de que o crescimento de sua utilização ocorre a partir de um contexto envolvendo crítica, artista e espectador.
A autora faz uma análise onde busca comparar os filmes e projeções direcionados a salas de cinema, sendo eles de longa ou curta e duração e os filmes e projeções artísticas destinados às exposições onde geralmente são exibidos em looping contínuo, onde fica a critério do espectador assistir a obra completa ou somente determinado fragmento da mesma, onde a autora ainda aponta a questão da despreocupação com a possibilidade da perda de parte da narrativa neste contexto. Neste momento Cordeiro cita algumas referências de artistas que baseiam sua narrativa de obra em modelos parecidos com os encontrados no cinema, levando em conta pequenas narrativas com começo, meio e fim, bem como, também cita alguns exemplos de possibilidades artísticas onde em algumas obras os artistas preferem usufruir desta liberdade artística aqui proporcionada pelo formato audiovisual para esta finalidade, onde não necessariamente necessita-se construir uma narrativa com começo, meio e fim, respaldada nos modelos encontrados nas narrativas de obras cinematográficas direcionadas a outro tipo de finalidade.
Cordeiro ainda aponta a questão da utilização do vídeo por alguns artistas como registro de obra performática, onde acabam surgindo várias videoinstalações artísticas, a multiplicidade da linguagem audiovisual artística pode ser entendida como um atrativo ainda maior nesse sentido, a autora cita alguns exemplos de artistas que utilizam do vídeo enquanto ‘registro, como suporte final da obra e ainda como elemento constitutivo de uma instalação "multimídia"’ reforçando ainda mais essa pluralidade encontrada nessas plataformas enquanto  linguagem expositiva.
A autora ainda aborda algumas questões referentes às diferenças entre o vídeo artista e o cineasta, até que ponto e quem/como se decide o que/quem é o que?! Onde se insere o artista neste momento e várias outras questões pertinentes para a pesquisa, quando pensamos o assunto a ser trabalhado.
A partir destas e de outras leituras, conseguimos perceber que quando se tratava de audiovisual em exposições, falava-se mais a respeito de mídias digitais enquanto suporte do que de fato enquanto arte. Foi então que decidimos buscar direto nas fontes e passamos a etapa das entrevistas, onde procuramos tratar das vantagens e dificuldades de se expor a arte audiovisual.
Buscar opiniões de pessoas que trabalham na área para responder e nos auxiliar a esclarecer dúvidas específicas a respeito de do audiovisual dentro do espaço expositivo, como os prós e contras, bem como nos apresentar soluções museológicas e como estes profissionais lidam com estas questões no dia a dia foi algo fundamental.
Nesta primeira etapa da pesquisa entrevistamos dois artistas plásticos com intuitos diferentes, primeiramente entrevistamos a artista Sara Não tem Nome, a entrevista foi realizada na sala do educativo no Museu de Arte da Pampulha no dia 07 de Maio de 2018, em âmbito de outra disciplina, onde aproveitamos para já esclarecermos algumas dúvidas. Sara que é uma artista contemporânea plural, nos explicou suas experiências ao expor nas instituições e dentre algumas dificuldades ela mencionou a falta de verba, o espaço que nem sempre esta preparado para receber este tipo de obra, a falta de suporte, bem como, algumas curiosidades imediatas como a necessidade de se alterar determinada obra de última hora para que se adeque ao espaço, entre outras coisas.
Posteriormente entrevistamos o diretor do Viaduto das Artes, Leandro Gabriel, responsável pela montagem e expografia da MADA – Mostra AudioVisual de Arte, onde o mesmo nos indicou algumas dificuldades encontradas ao expor a arte audiovisual mesmo em um determinado espaço preparado para este fim, bem como outras complexidades específicas a respeito de equipamento necessário, a busca por soluções expográficas de baixo custo, etc.
As duas entrevistas seguintes nos deram um panorama ainda mais interessante a respeito das escolhas do que expor, como expor e pra quem expor como também nos foi melhor ilustrado a respeito das dificuldades encontradas durante todo este processo desde a falta de estudos teóricos voltados para a temática e reconhecimento da videoarte como forma de arte contemporânea assim como as outras.
A curadora Bruna Finelli, idealizadora da MADA, junto com Bruna Carvalho, nos contou a respeito da mostra, como surgiu a proposta da exposição, como ela foi pensada, compartilhou conosco sua visão a respeito da dificuldade de separação encontrada  na utilização do audiovisual como equipamento, nos apresentou conceitos a respeito do que é a arte audiovisual, dificuldades na montagem da mesma, algumas soluções mais baratas para a expografia, entre outras questões interessantíssimas, a entrevista foi muito rica e de grande valor para nossa pesquisa, assim como as outras, mas nos apresentou uma perspectiva mais ampla e diferente daquelas anteriormente colocadas.
Por fim, mas não menos importante entrevistamos o artista visual Victor Galvão, criador da obra de destaque exposta na mostra MADA, construida a partir de fragmentos de video do ir e vir. Victor que se considera um artista pesquisador nos contou a respeito de suas construções enquanto artista e quando o pedimos para que nos contasse um pouco a respeito de sua trajetória, o mesmo nos esclareceu algumas questões a respeito de sua relação pessoal com cinema e videoarte,  pedimos também para que ele contasse um pouco sobre a obra e as maneiras de exposição de suas obras, dentre outros esclarecimentos.


A partir das entrevistas e de nossas leituras podemos comprovar que a dificuldade em tratar o audiovisual enquanto forma de arte e não somente enquanto suporte trata-se de uma inquietação presente em meio aos profissionais da área. A falta de material teórico produzido a respeito do tema, mostrou-se um desafio a parte. Para concluir devemos ressaltar que estamos falando de um recorte muito pequeno que não serve como base para comprovar o que acontece em todos os museus, instituições e campos da arte, mas pode vir a servir como base para pesquisas futuras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CORDEIRO, Verônica. O audiovisual nas artes plásticas. Revista Trópico- Ideias de Norte a Sul. julho de 2005.
GARCIA, Luiz Henrique A. Possibilidades abertas: relações entre pesquisa e acervo em uma exposição de museu histórico. Cadernos de Pesquisa do CDHIS. Uberlândia: UFU, V. 23, N. 1 , 2010, pp. 23-39.
SANTOS, Franciele Filipini dos. Arte contemporânea em diálogo com as mídias digitais- concepção artística/curatorial e crítica, 2009. 110p.








Nenhum comentário:

Postar um comentário