quarta-feira, 22 de junho de 2022

Museus Históricos, Modernidade e Nação

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
ECI – ESCOLA DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
MUSEOLOGIA
DISCIPLINA: TIPOLOGIA DE MUSEUS
GRUPO:  BRUNA CAROLINE, JOSIANE LIMA, MARCELO HENRIQUE, MARCO DIAS, MAXWELL PÊGO E MAYRA MARQUES


Quando apresentamos a ideia de um Museu Histórico, a primeira coisa que nos vem à mente é um ‘local de memória’. Não sem um motivo, pois os museus nacionais brasileiros devem se portar como locais que guardam a história da nação e traçam a narrativa de uma sociedade. Ulpiano (1994, p.34) considera que “um museu histórico é aquele capaz de coletar, de preservar, de estudar e comunicar os documentos históricos ou objetos históricos presentes dentro desses museus e, que são capazes de inferir sobre um passado e sobre as dinâmicas e movimentos das sociedades.” Posto isso, tanto o Museu Histórico Nacional, quanto o Museu Paulista, devem possuir acervos e narrativas capazes de exibir momentos relevantes para a história nacional, ao mesmo tempo que possibilitem a reflexão acerca dos temas abordados. 

Analisando o contexto de criação das duas instituições, é possível traçar, desde a concepção inicial dos museus, a finalidade que receberiam. Inclusive nos prédios escolhidos para receberem as coleções. Enquanto o prédio utilizado pelo MHN já havia sido utilizado militarmente (à serviço da nação), o Palácio de Bezzi (que abriga as coleções do MP) fora construído como um monumento em homenagem à independência. Ademais, desde a inauguração das instituições, foi declarado por meio de decretos e leis que a finalidade dos museus seria a de documentar, classificar e expor objetos de relevância histórica e nacional, bem como a de celebrar o centenário da independência, que se aproximava. E foi isso que os diretores Taunay e Barroso buscaram realizar. Através da escolha de uma narrativa, os líderes das instituições construíram acervos que pudessem expor não somente a visão dos líderes sobre os acontecimentos na história, mas que refletissem uma versão dos fatos aceita por parte da população e, assim, criar um imaginário coletivo.

De certa forma, os dois museus buscam cumprir esta função. Mas em que ponto eles se desviam?

À época em que foram criados, num momento em que os museus buscavam firmar as tradições conservadoras e apresentar uma visão elitista dos fatos, era inteligível imaginar que a narrativa apresentada só retratasse um lado da história pátria. Entretanto, atualmente é incabível conceber que os Museus não apresentem outras versões sobre os fatos narrados, como dos povos originários ou dos negros escravizados. Afinal, os vultos históricos tão exaltados ao longo dos anos realmente eram heróis nacionais? Se apagarmos as narrativas daqueles que sofreram todos os processos de construção do país, quão autêntica será a narrativa apresentada nos museus históricos?

Enquanto a preleção destes povos estiver restrita às instituições etnográficas e fora das instituições nacionais de grande porte, os museus nacionais e históricos não conseguirão fruir de seu objetivo primário como museus nacionais: preservar e transmitir a história da sociedade.


Bibliografia:

BREFE, Ana Cláudia Fonseca. História Nacional em São Paulo o Museu Paulista em 1922. Na. Mus. Paul., São Paulo, v. 10-11, n. 1, 2003, p. 79-103

MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. Do teatro da memória ao laboratório da História a exposição museológica e o conhecimento histórico. Anais do Museu Paulista. Nova Série, São Paulo, v. 2, p. 9-42, jan./dez. 1994

Museus e indígenas: saberes e ética, novos paradigmas em debate/ Marília Xavier Cury, organizadora. -- São Paulo: Secretaria da Cultura: ACAM Portinari: Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, 2016. 169 p.

SANTOS, Myrian Sepulveda dos. A escrita do passado em museus históricos. Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2006, p. 16-54.

SANTOS, Myrian Sepulveda dos. Os museus Brasileiros e a constituição do imaginário nacional. Rio de Janeiro, 2010.


Imagem 1: Estátua de Raposo Tavares no Museu Paulista. Raposo Tavares foi um bandeirante paulista, reconhecido pelo trabalho de colonização no interior do Brasil. Também foi responsável pela morte de milhares de indígenas. Ainda assim, sua imagem é exaltada como patrono brasileiro.



Imagem 2: Juntamente a Raposo Tavares, Fernão Dias ficou conhecido como um dos mais famosos bandeirantes paulistas. Com o apelido de “Caçador de Esmeraldas”, Fernão Dias desbravou o litoral nordestino em busca de mão de obra indígena para arrebata-los como escravos.

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