Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Ciência da Informação – Graduação em Museologia
Disciplina: Tipologia de Museus - Trabalho Final
Professor: Luiz Henrique Garcia de Assis
Autores: Ana Beatriz Fóscolo, Aléxia Thimóteo, Flávia Valença, Jonathan Moura, Nana
Albuquerque, Nara Santana e Olivia Babêtto
Escola de Ciência da Informação – Graduação em Museologia
Disciplina: Tipologia de Museus - Trabalho Final
Professor: Luiz Henrique Garcia de Assis
Autores: Ana Beatriz Fóscolo, Aléxia Thimóteo, Flávia Valença, Jonathan Moura, Nana
Albuquerque, Nara Santana e Olivia Babêtto
Os ecomuseus e museus comunitários surgem concomitante à Nova Museologia, que é um movimento consolidado na década de 80 e considerado um dos mais relevantes da Museologia Contemporânea. Este movimento, de militância a favor de uma museologia social e ativa, surge principalmente em consequência das demandas sociais reivindicadas num contexto imediatamente posterior aos conflitos, contestações e lutas revolucionárias ocorridas nas décadas de 60 e 70, visando incorporar a função social da instituição museu como caráter primordial e, por isso, contestador, criativo e transformador. Suas bases conceituais e filosóficas foram delineadas na Mesa Redonda de Santiago do Chile, em 1972. A partir daí o movimento foi se consolidando progressivamente, culminando com o surgimento oficial do Movimento Internacional para a Nova Museologia - MINOM - em 1985, em Lisboa, como resultado da união das forças divergentes, transformadoras e questionadoras da museologia convencional, pregando uma pedagogia libertadora, a descolonização e a definição de compromissos museais.
A Mesa Redonda de Santiago do Chile foi um evento de extrema relevância que evidenciou as contribuições das museologias nascidas na América Latina, promoveu, como mencionado, a Nova Museologia e construiu o conceito de “patrimônio integral”, além de também o difundir. Ao reconhecer o papel político e social exercido pelos museus e propor sua abertura às disciplinas que não estão em
seu âmbito tradicional, além de valorizar o meio científico, a Mesa de Santiago demonstra o seu apoio ao caráter didático dos museus, o que faz com que sejam fontes transformadoras, militantes e conscientizadoras. Vale frisar que este movimento possibilitou uma abertura voltada para as comunidades e menos para o âmbito de serem somente uma pura administração de coleções, o que os afasta do conceito clássico.
Reafirmando pontos tratados na Mesa Redonda de Santiago, a Declaração de Quebec (1984) e a Declaração de Caracas (1992) surgem como dois importantes documentos que auxiliaram na criação e consolidação dos ecomuseus e museus comunitários. Esses documentos, adotando conceitos da Nova Museologia, propuseram a implementação de uma museologia ativa dentro dos espaços museológicos, trazendo a discussão sobre pontos como a participação da comunidade dentro dos museus, uma pesquisa participativa e debates sobre patrimônio e território.
Fazemos um paralelo dessa ideia de uma Nova Museologia, que entende o espaço Museal como um campo político, ou seja, um espaço que influencia e é influenciado por escolhas internas e externas, com a pedagogia libertadora de Paulo Freire. Em síntese, ambas entendem que, a partir da tomada de consciência do ambiente que se está inserido, há a possibilidade do indivíduo alterar a sua realidade a partir dos seus objetivos e não aqueles oferecidos pelo sistema.
É importante salientar que tanto essa tomada de consciência quanto a alteração da realidade não podem ser romantizadas e embebidas num pensamento de salvação mundial, pelo contrário, há um processo detalhado, local e frágil, que depende de uma frequente manutenção por todas as partes envolvidas. Assim como Freire coloca a escola como um espaço de debate e construção de conhecimento, a Nova Museologia coloca o Museu como um canalizador de perspectivas e destrinchamento de histórias, sendo assim um parte viva da sociedade e não do Estado institucionalizado.
Como um exemplo concreto dessa nova ideia que emergia no final da década de 90, como já citado anteriormente, temos o Museu Comunitário. Criado pela própria comunidade, no qual seus moradores tornam-se atores do processo de formulação, execução e manutenção do museu, além da construção de seu acervo, sendo ou podendo ser em algum momento, assessorados por um Museólogo. Os museus comunitários têm o objetivo de servir a comunidade e ao seu desenvolvimento, sendo um local colaborativo onde as pessoas possam “contar a sua própria história”.
Episódio MUQUIFU do canal Conhecendo Museus
Além disso, temos outro exemplo, os ecomuseus. Reconhecidos como espaços pensados para ser reflexo popular de um local, trazendo suas histórias e memórias para dentro do espaço expositivo. Diferente dos museus comunitários, eles não são construídos pela comunidade com 100% do acervo doado. Contudo, possuem uma proposta de participação local no funcionamento do museu que visa a
preservação do patrimônio cultural e também local. O ecomuseu busca se comunicar com os visitantes de forma que a população local se sinta representada e que os visitantes “de fora” possam entender e aprender sobre sua essência e suas narrativas.
[Site do Ecomuseu de Itaipu: https://www.itaipu.gov.br/meioambiente/ecomuseu]
Ao pensarmos sobre essa nova concepção de Museologia, precisamos refletir sobre quais são os desafios atuais para a conclusão dos objetivos propostos pelos eventos supracitados, bem como a partir de qual movimento tais espaços se consolidaram. Segundo Priosti (2007), Como experiência em estado de exploração, esses museus só poderão permanecer como instrumentos para o desenvolvimento comunitário se (e esses são os desafios contemporâneos):
● mantiverem as práticas comunitárias como metodologia de educação política;
● priorizarem a pedagogia libertadora de Paulo Freire aplicada à educação formal e não formal, promovendo a educação popular;
● usarem essencialmente os recursos do território (patrimônio e pessoas) para o desenvolvimento local;
● acompanharem as mudanças no território (culturais, identitárias, sociais e econômicas) para intervir nelas, recompondo os espaços; estimularem a pesquisa participativa para o autoconhecimento e o conhecimento do outro; contemplar a ética, a solidariedade , a partilha;
● fizerem interagir as gerações, preparando a transição; valorizem a cultura viva da comunidade ( material e imaterial);
● abrirem-se para as trocas/ intercâmbios;prepararem a sociedade para a libertação de suas forças criativas para a gestão do futuro, acreditando no seu potencial transformador, nos valores democráticos
e no seu papel de construtora da paz.
REFERÊNCIAS
BARBUY, Heloísa. A conformação dos ecomuseus: elementos para compreensão e análise. Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Ser. v.3
p.209.236 jan./dez. 1995.
CAMERON, Duncan F. The museum: a temple or the forum. Curator, New York:
American Museum of Natural History, v. 14, n. 1, p. 11-24, mar. 1970.
MATTOS, Yára. A Respeito do Conceito de Cultura. In: Cultura brasileira: aspectos gerais e instituições. Ouro Preto: UFOP, 2009.
Declaração de Quebec, 1984. DECLARAÇÃO DE QUEBEC, PRINCÍPIOS DE BASE DE UMA NOVA MUSEOLOGIA, 1984. Cadernos de
Sociomuseologia, v. 15, n. 15, 11
ICOM, 1992. DECLARAÇÃO DE CARACAS - ICOM, 1992. Cadernos de Sociomuseologia, v. 15, n. 15, 11.
PRIOSTI, Odalice Miranda. A dimensão político - cultural dos processos museológicos gestados por comunidades e populações autóctones.
SEMINÁRIO DE IMPLANTAÇÃO DO ECOMUSEU DA AMAZÔNIA E DO PÓLO MUSEOLÓGICO DE BELÉM/ PA, 8-10 de junho de 2007, 26p.
SANTOS, M. Capítulo IV - Reflexões sobre a nova museologia. Cadernos de Sociomuseologia. Centro de Estudos de Sociomuseologia,
América do Norte, 18, jun. 2009.
VARINE, Hugues de. O museu comunitário como processo continuado. Cadernos do CEOM - Ano 27, n. 41, 2014, p.25-35.
Nenhum comentário:
Postar um comentário