quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Um museu para não esquecer o Terror

Matéria publicada na RHBN [completa] tratando do Museu do Terror [site oficial], em Budapeste. O texto da historiadora e pesquisadora do IBRAM Eneida Quadros Queiroz reflete sobre as contradições entre rememorar os efeitos do autoritarismo de outros tempos e as experiências políticas do presente. Um trecho:

"Um prédio, imponente como quase tudo em Budapeste, localizado numa das ruas mais famosas da cidade, foi sede do partido fascista húngaro durante a Segunda Guerra (o Cruz de Flechas), que lá torturou e matou inúmeras pessoas. Quando os soviéticos liberaram a cidade e tomaram o prédio, encontraram ali dentro todo um aparato para “interrogatórios” (leia-se torturas), encarceramento cruel e assassinatos já montado. Como a polícia soviética também faziam uso dessas práticas, acharam excelente instalar sua sede ali mesmo. Dessa forma, por mais que pareça difícil acreditar, esse prédio foi a sede tanto do partido fascista quanto da polícia soviética."



Finalmente, conclui provocativamente: 

"Um dia, com vergonha, Budapeste e demais capitais europeias talvez ergam mais um museu ou monumento aos sírios. É bonito, mas não ajuda ninguém."

Falávamos hoje na aula de Tipologia de Museus sobre a ideia do museu como asilo das perspectivas estáveis, do passado canônico, da arte consagrada, da ciência edificante. Ainda que agora tenhamos museus para expor as mazelas da civilização, será mesmo que estaremos condenados a vê-los como formas de expiação, mecanismos compensatórios erguidos a posteriori porque não estão prontos a intervir no momento de perigo, na hora em que a democracia e os direitos estão sob ameaça?

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