segunda-feira, 12 de abril de 2021

Museus históricos, modernidade e nação - Tipologia de museus 2020

ESCOLA DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
CURSO: Museologia
DISCIPLINA: ECI 097 - Tipologia de Museus
PROFESSOR: Luiz Henrique Assis Garcia

Membros: Ingrid Ferreira das Dores Andrade / Isabelle Iennaco / Lara do Prado Cunha / Lucas Henrique de Souza / Mariana Oliveira Ferreira / Marina Ramos Isaias Vale / Raphaela Luiza Damato Lima


Com as várias transformações de ordem política e econômica do século XIX, foi possível a formação do museu público, que se direcionou para a afirmação de uma identidade nacional. Boa parte das coleções dos monarcas se converteu em museus nacionais, e muitos objetos advindos das colônias, ganharam seu lugar em museus de história natural, onde eram vistos como representação de sociedades em seus diferentes estágios civilizatórios. No Brasil, D. Pedro II procurou constituir uma ponte entre suas relações e sua representação ao expor os presentes que recebia durante viagens ao exterior ou que recebia de pessoas que visitavam seu museu: o Museu do Imperador (*), reproduzindo a sua imagem. Para o imperador, era preciso uma memória nacional unificada e harmônica para apresentar aos seus visitantes (escolhidos pelo próprio). Durante a fundação dos museus brasileiros já havia uma preocupação de quais memórias (quais histórias) estariam na instituição.


O que pode ser considerado nacional? Todas as identidades de uma nação estão ali representadas? No caso do Museu Nacional, fundado em 1818 no Rio de Janeiro, é visto um exemplo de instituição em que foi feita uma “nacionalização dos outros”, a narrativa do museu ia para além da história do povo brasileiro e incorporava elementos de outros países. Podemos dizer que o Museu Nacional(**) se apresentava como um “microcosmo” da nação, pois apresentava de forma muito rasa a riqueza do Brasil, resumindo sua diversidade natural e cultural às manifestações de outros continentes que não dialogam diretamente com a nossa nacionalidade.

No Museu Paulista, Affonso Taunay mudou o perfil do Museu de Ciências Naturais para de História, dando em pouco tempo de sua gestão um caráter de um lugar de memória nacional. Essa reformulação feita por Taunay fez da instituição mais que um lugar de exposição, e exemplifica a criação de um suporte que beneficia a comunicação dos objetivos de uma exposição ao público, de uma forma a atingir até os visitantes que apresentam menos imersão no assunto, onde certamente entra o papel da iconografia. 


 

Um ponto a ser notado nos museus históricos é a colocação de que estes são compostos unicamente por objetos históricos, porém um museu dessa tipologia também é responsável por comunicar um conhecimento histórico através do seu acervo. No caso do Museu Histórico Nacional, fundado em 1922, é possível identificar uma preocupação com a identidade nacional, para que fosse privilegiada a memória monárquica em detrimento da memória republicana, por parte de Gustavo Barroso, fundador e primeiro diretor do museu. Assim, o Museu Histórico Nacional representou uma tentativa de consagrar a construção de uma visão da história brasileira.

Como pode ser observado, os museus brasileiros constituíram-se na tentativa de estabelecer uma identidade nacional unificada, sem qualquer problematização e com apagamentos da memória de grupos minoritários. O Museu Histórico deve-se configurar não como instituição voltada para objetos históricos, e sim para propor problemas históricos. Os problemas históricos são as propostas de articulação de fenômenos que tornam possível o conhecimento de estruturas, funcionamentos e mudanças de uma sociedade, enquanto os objetos históricos seriam os objetos capazes de permitir a discussão de problemas históricos.

Bibliografia

BREFE, Ana Cláudia Fonseca. História nacional em São Paulo: o Museu Paulista em 1922. An. mus. paul., São Paulo, v. 10-11, n. 1, 2003, p. 79-103.

BREFE, Ana Cláudia Fonseca. O Museu Paulista: Affonso de Taunay e a memória nacional 1917-1945. São Paulo; Ed. da UNESP, 2005, 333 p.

COSTA, JF  - O “Culto da Saudade” nas Comemorações do Centenário da Independência do Brasil: A Criação do Museu Histórico Nacional, 1922. Em Tempo de Histórias Brasília: UnB, 2011, p.49-64.

L`ESTOILE, Benoît de. Museus nacionais como paradigma. In: NACIONAL (BRASIL). Museus nacionais e os desafios do contemporâneo. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2011, p. 32-51.

MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. Do teatro da memória ao laboratório da História: a exposição museológica e o conhecimento histórico. Anais do Museu Paulista. Nova Série, São Paulo, v.2, p. 9-42, jan./dez. 1994.

SANTOS, Myrian Sepúlveda dos. A escrita do passado em museus históricos. Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2006. 142 p.

SCHWARCZ, Lilia Moritz e DANTAS, Regina. O Museu do Imperador: quando colecionar é representar a nação. Rev. Inst. Estud. Bras. 2008, n.46, pp. 123-164.


Notas do editor:

(*) O “museu do Imperador” não era propriamente um museu, consistindo essencialmente nas coleções privadas de D. Pedro II, segundo Schwarcz e Dantas (2008). Também não confundir com o Museu Imperial, sediado em Petrópolis, RJ.

(**) Trata-se de um museu enciclopédico, aos moldes do Museu Britânico, posto em um contexto periférico, mas com a peculiaridade de ter instalado a partir da transferência da Coroa Portuguesa para o Brasil e adoção do Rio de Janeiro como capital do Império.


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